O solo arenoso recebia repentinamente os joelhos flexionados do homem de porte atlético que, estático, tinha seu rosto inundado pelas gotas de lágrima que escorriam com rapidez de ambos os olhos, pingando no solo. No reflexo das lágrimas havia imagem da grande fumaça negra que cobria a região onde a nave caiu. Um toque suave no ombro despertava o homem do transe em que lhe acometera a cena vista há poucos segundos atrás.

— Alex... Alex... Fala comigo. – Dizia Rosie.

— Rosie, deixa ele. – Pediu Uric.

Alex levantou-se e foi andando em direção a mata.

— Ei, Alex! – Gritou Claire – Aonde pensa que vai?

— Acabou, Claire, acabou. – Respondeu Alex com uma voz baixa e serena.

— Não diga isso.

— Aden foi destruído, o portal é inútil, não há co...

— Nós dois sabemos que as lágrimas que deixaram seu rosto assim não são pelo portal.

Alex se calou por alguns segundos.

— Olha, eu sei que ela era sua amiga e que...

— Amiga? Não, a Luna era mais do que isso. Ela nunca desistiu de mim, nunca. A Luna tinha aquilo que eu perdi há anos: bondade.

Raysha, Ian, André e Uric se aproximaram e Uric disse:

— Então é assim? Vai desistir?

— Não temos mais motivos para insistir nisso, já era. – Respondeu Alex.

— Ah é? E faremos o que agora? O nosso passaporte de volta pode estar lá, vamos até a nave e...

— E procurar destroços de robô? Perda de tempo. – Falou o capitão, dando as costas, dando de frente com Raysha – Pocahontas, por favor...

— Alex, para com isso. Eu sei que ela significava muito para você e que com todo isso as coisas podem estar perdidas, mas olha para trás. Olha para todas essas espécies, olhe para os humanos que vocês precisam levar de volta, você não pode abrir mão assim senão a morte de Luna terá sido em vão.

— E o que você sugere, gênio?

— O capitão aqui é você, você que deve lidera-los.

— Olhe para mim, dá só uma olhada. Eu pareço um capitão?

— Olhe para Rosie, ela parece que consegue ficar invisível? Olhe para Foster, ela parece que consegue transformar uma faca em um míssil? Aparência não importa, o que importa é o que está aqui dentro. – Falou Raysha tocando o peito de Alex – Seu povo precisa de você, vocês são a única esperança de retorno e você, Alex, deve liderá-los.

Alex abaixou a cabeça e em seguida olhou para os humanos que ali estavam. Seus olhos então fitaram na grande fumaça que ainda emanava da nave destruída.

— Tudo bem. – Disse Alex sendo abraçado pelos companheiros.

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Assentados ao redor de uma grande fogueira, os jovens e alguns sobreviventes saboreavam algumas iguarias da terra de Raysha.

— Agradeça seu pai por nos receberem novamente. – Agradeceu Uric a Raysha.

— Sem problemas. – Disse Raysha indo até seu pai.

— No que está pensando? – Perguntou André para Alex.

— Em uma maneira de retornar. – Respondeu o capitão – Tem que ter uma maneira.

— Sem o Aden, o portal não funciona. – Comentou Claire.

— Se me permitem, eu pensei em algo, mas é arriscado. – Disse Ian – O pôr do sol já vai acontecer e eu preciso falar rapidamente.

— Prossiga. – Disse Alex.

— Aquelas coisas vieram de outro planeta para cá, não é? Então eles devem tem algum dispositivo de viagem interplanetário ou então alguma nave que consegue viajar por várias dimensões. Quando estávamos na nave a mesma ia até Lupus-V2 e tivemos que lutar contra o tempo para que não saíssemos de órbita, senão já era.

— Espera aí, então seu plano envolve irmos até uma nave deles e a utilizarmos para voltarmos a Terra? – Perguntou Foster.

— Exatamente.

— Isso é muito arriscado. – Comentou Uric.

— Eu também acho. – Concordou Claire e André.

— Sim, eu sei, mas é a única opção até o presente momento. A conexão entre Preato e a Terra está fraca, mas ainda é existente, se conseguirmos traçar uma rota que utilize a conexão Terra-Preato pode dar certo, mas temos pouco tempo. – Falou Alex.

— Essa é mais uma hora em que Neo faz falta. – Comentou Rosie.

— Mas, capitão, como levaremos cerca de trezentas pessoas para uma nave em segurança? – Perguntou Uric, precisaríamos de um exército.

Alex olhou para Raysha que estava conversando com seu pai, foi até ela e disse:

— Raysha, precisamos da ajuda do seu povo.

— Meu povo? Do que precisa? – Perguntou Raysha.

— Preciso de um exército. Temos um plano para retornar ao nosso planeta, mas é muito arriscado para irmos sozinhos.

— Que plano é esse?

— Temos que entrar em uma da nave deles e pe...

— Não, pare por aí. Você enlouqueceu? De jeito nenhum, Alex.

— Não temos outra opção, é tudo ou nada agora.

— Isso é loucura.

— Preato também e olhe onde estamos.

— Para que precisa do meu exército?

— Preciso escoltar todas essas pessoas até a nave conosco.

— Meu pai nunca vai permitir isso. E nem eu quero pedir isso a ele. É loucura.

— Por favor, precisamos muito da ajuda de vocês, sem soldados não há como chegar até a nave. Ig seria abatido rapidamente assim como todos em cima dele e não dá para carregar trezentas pessoas em um dragão. Escapamos por sorte daquela vez.

— Isso é suicídio, Alex.

— Não foi você que disse que eu tinha que liderá-los, é isso que estou fazendo, liderando. Toda liderança requer sangue frio e ajuda e tudo que eu preciso agora é ajuda. Nós vamos de um jeito ou de outro, mas saiba que se formos sozinhos e fracassarmos, cada gota de sangue, cada vida que for assassinada, a culpa será inteira e exclusivamente sua.

Raysha se calou, pois percebeu que, de certa forma, Alex estava certo.

— Eu vou falar com meu pai, mas com uma condição: se ele permitir ou se ele não permitir, eu irei com você. – Disse a guerreira bestial.

— Raysha, não inventa. – Disse Alex – Não posso te deixar...

— Deixar? Não, Alex, eu estou me prontificando a ir e acho que você não tem escolha.

— Isso é chantagem.

— O que é chantagem?

— Esquece. Ok então.

Raysha foi pedir seu pai enquanto Alex voltava para a fogueira para perto dos jovens e notou a ausência de Ian.

— Onde está o Ian? – Perguntou o capitão.

— Ele disse que subiria a montanha. – Respondeu André apontando para um monte a alguns metros dali.

Alex voou até o monte e viu Ian se acorrentando a uma árvore. Alex se aproximou e conversou com o jovem.

— Não precisa disso. – Disse o capitão.

— Eu já machuquei várias pessoas erradas por conta disso. Não quero machucar as certas dessa vez. – Respondeu Ian.

— Eu entendo sua preocupação, mas você se controlou bem da última vez.

— Mas não é sempre assim. Se eu sair de controle, vocês não me reconhecerão mais, pode ter certeza.

Alex abaixou a cabeça.

— Ah merda, a dor está vindo. Pode me ajudar com as correntes?

Alex ajudou o jovem a se acorrentar, prendendo-o pelas mãos e pés a outras árvores e soldando as correntes.

— Obrigado.

— Quer alguma coisa? Água, comida? – Perguntou o capitão.

— Não, estou bem. Apenas cuide de Tama, por favor.

— Tudo bem, nos vemos amanhã de manhã.

Alex retornou para o pessoal. Raysha estava de pé, olhando para ele. Assim que o capitão se aproximou, ela disse:

— Estaremos prontos amanhã de manhã, cap            itão.

Alex sorriu e Raysha o abraçou.

— Pessoal, partiremos amanhã, vamos vasculhar cada canto e achar uma maneira de adquirirmos uma nave para casa.

As pessoas vibraram, mal sabiam elas sobre os perigos de Preato.