Pelas próximas duas semanas, era como se eles nem se conhecessem. 

Mesmo que fosse como se eles tivessem voltado a se odiar, Stiles sabia que era diferente. Naquela época ele não continuava procurando por seus cabelos laranja no refeitório lotado. Mesmo que eles não se falassem, ele simplesmente tinha que saber se ela estava ali. Tinha que olhar para ela, de qualquer jeito. E se seus grandes olhos verdes por acaso se encontrassem com os dele, ela desviava o olhar rapidamente, determinada a ignorá-lo, mas ele continuava olhando até seu coração não aguentar mais. Stiles saia do refeitório e se escondia em outro lugar, mantendo sua distância, fumava um cigarro ou dois, mas só até o sinal tocar, para ele poder ir até o corredor e vê-la ir para a próxima aula. Lydia Martin andava como uma rainha. O som do seu salto alto batendo no chão ecoava em sua cabeça, como se tudo parasse para vê-la passar. 

Os dias que ele sorria era quando ele a ouvia rir. 

Tinham vezes, quando ele sentia que ia desmoronar, que ele fechava os olhos e segurava-se àquele momento como uma droga. E tinham vezes que ele simplesmente saía de perto, porque era demais. Parecia que o mundo estava jogando em seu rosto tudo que ele havia perdido, tendo certeza de que ele soubesse o quão linda ela era, e de que ele poderia ser a pessoa que a fazia rir. Talvez segurar sua mão, beijá-la. Até ele ferrar com tudo. Por isso ele não se arrependia do que fez. Ele se conhecia bem demais.  

Ele simplesmente não era bom o suficiente para fazê-la feliz. 

XXXXX 

Lydia não deixou cair nenhuma lágrima depois daquele dia. 

Ela se forçou a mudar por dentro. Reuniu todos os sentimentos ruins - rejeição, tristeza, e tantos outros que ela nem se importava em nomear – e os prendeu bem no fundo da sua mente. O ideal seria apagá-los, mas ela sabia que era muito cedo para isso. Ela ainda estava muito machucada. Tinha que esperar que o tempo sarasse os machucados, e então tudo seria mais fácil. Ela não teria que fingir que estava bem, sorrir para tudo mundo, agir como se fosse confiante e forte. Ou talvez ela tivesse que usar essa máscara por tanto tempo que apenas se acostumasse com isso. 

Apenas á noite, embaixo do chuveiro, sem maquiagem e roupas, onde não tinha que manter sua máscara perfeita, ela se permitia sentir. Era fácil fazer com que os sentimentos ruins se libertassem e a atingissem, mas ela não chorava. Mesmo que seu peito doesse tanto que parecia que ia estourar, ela não deixava cair uma lágrima, porque ela sabia que se chorasse, ia ficar muito mais difícil controlar os sentimentos depois. Então, depois de alguns minutos, ela ia para a cama e adormecia esperando por um dia bom. E se não fosse, ela o faria ser bom. 

XXXXX 

— Meu deus, Allison, você vai fazer Scott largar a faculdade, - Lydia brincou. Ela havia ficado pronta meia hora atrás, e só estava esperando a amiga terminar de se checar no espelho, procurando alguma falha em seu cabelo ou maquiagem. Ela usava um vestido preto justo, que mal chegava ao meio das coxas, e salto alto.  

— É a primeira vez que nos encontramos em séculos. Quero que ele se lembre de mim, - ela disse, checando a bunda pela centésima vez. - E também quero que ele tire tudo isso, então...  

— Safada, - Lydia riu. Levantou-se da cama e foi até o espelho para checar se estava mostrando decote suficiente. 

— Não fale como se não quisesse conseguir alguma coisa hoje á noite, - Allison disse, erguendo uma sobrancelha cética. Lydia mostrou a língua para ela.  

— Nenhuma de nós vai conseguir alguma coisa se não sairmos daqui, - ela disse, pegando a bolsa e indo para a porta. - Você bem? 

— Ah, sim, - a morena respondeu, correndo para seguir a amiga. 

XXXXX 

— Eu não vou. 

— Stiles... 

— Não vou. 

— Mas... 

— Não seja idiota... 

— Vai se foder, eu não vou. 

Scott soltou uma respiração pesada e correu as mãos pelo rosto. 

— Vamos cara, você não pode simplesmente ficar aqui esperando o  mundo acabar. 

— Ficaria feliz se acabasse hoje, - Stiles murmurou, deitado em sua cama, jogando uma bolinha de tênis para cima e para baixo. 

— Olha, eu sei que você está chateado com... basicamente tudo, - disse Scott, fazendo o irmão erguer as sobrancelha. - Mas é uma festa pelo amor de deus! Você precisa tirar sua cabeça de dentro dessa bolha de tristeza por uma noite, pelo menos. 

— Ok, primeiramente, vai se ferrar, - o garoto respondeu, sentando-se. - E segundo, você sabe que eu não gosto de festas. Eu só vou para esses lugares quando quero ficar bêbado, ou transar, ou os dois. 

— E você precisa de mais motivos para ir? Vamos, Stiles, você precisa disso. 

— Pare de dizer o que eu preciso, - ele murmurou. 

— Bom, já que você está sendo estúpido demais para ver do que precisa, é meu dever como irmão mais velho te dizer isso. 

— Você é um idiota, sabia? 

Scott deu de ombros. 

— Já me disseram isso uma vez ou outra. 

— Acho que agora vou ter que tirar sua idiotice do meu sistema bebendo, - Stiles disse, levantando-se. 

— Ótimo! - Scott bateu as mãos. - Agora vá tomar um banho, você está fedendo. 

— Vai se foder. 

XXXXX 

— Ah cara, senti falta desse lugar, - Scott disse, olhando para a grande e iluminada casa em frente à eles. 

A Casa do Lago era de longe o lugar preferido de todos os jovens de Beacon Hills. Foi encontrada abandonada por alguns adolescentes doze anos atrás e foi se transformando devagar até virar uma casa enorme cheia de álcool, adolescentes excitados, selvagens e histéricos, e deus sabe o que mais. Stiles havia ido lá umas duas ou três vezes, e aquelas noites nunca seriam esquecidas, principalmente pela parte do deus-sabe-o-que-mais. 

— Vamos entrar, - o mais velho disse, andando para a casa. A música alta atingiu os ouvidos de Stiles com força, e ele levou alguns minutos para se acostumar com ela. Eles fizeram seu caminho pela multidão com Scott constantemente esticando o pescoço e olhando em volta. Stiles estava quase perguntando pelo o que ele estava procurando ele sorriu. 

— Lá está ela. 

Stiles virou o corpo e viu Allison em pé ao lado de uma mesa, não tão distante de onde estavam, conversando com algumas pessoas. Ele revirou os olhos. 

— Devia ter adivinhado que você só veio aqui... - Suas palavras se perderam quando a viu. Lydia segurava uma taça com um líquido rosa, rindo abertamente. O coração do garoto perdeu o ritmo porque ela estava dolorosamente linda, o que, em sua opinião, não era justo. - Que merda, Scott. 

— Que foi? - ele perguntou. 

— Por que você não me disse que veio encontrar com a Allison? - Stiles perguntou, de repente irritado com o garoto. 

— Achei que fosse um pouco óbvio, - Scott disse. - Quer dizer, temos festas como essa o tempo todo no campus. Ela é a razão de eu ter vindo aqui. 

— Você devia ter me dito. 

— Por que isso importa? 

— Porque ela está aqui, - ele respondeu, abaixando a voz olhando para seus tênis. Nem sabia se podia dizer o nome dela sem querer se dar o soco. 

— Ai, merda... - Scott murmurou. 

— Pois é, - Stiles suspirou. Ele sabia que devia ir para casa. Lydia estava se divertindo e ele não queria estragar isso. Mas, por outro lado, o lugar estava tão lotado que ela podia passar a noite inteira sem encontrá-lo. Ele juntou esse pensamento que o desejo do álcool e decidiu ficar. - Sabe de uma, vá ficar com sua garota. Não quero estragar sua noite. 

— Tem certeza? - Scott perguntou, mas não pôde esconder a alegria na voz. 

— Claro, cara. Vou ficar bem, - disse. O irmão deu um tapinha em seu braço e correu para encontrar Allison. Stiles fez seu caminho pela multidão até chegar no bar, onde sentou em uma das cadeiras e chamou pelo barista. Quando o homem perguntou o que ele queria, o garoto simplesmente respondeu: - Só me dê algo forte, ok? 

XXXXX 

Lydia não estava bêbada, mas com certeza estava começando a sentir os efeitos de álcool. 

Ela deixou Allison e Scott para trás, parte porque não queria segurar vela – e ficar perto de um casal feliz era a última coisa que ela queria, - mas também porque queria muito dançar. A garota percebeu que não dançava havia séculos, o que era uma pena, porque amava deixar a música controlar seu corpo. Então ela foi para a pista sozinha, dançando consigo mesma e com quem quer que viesse dançar com ela. Não lembrava a última vez que se sentiu tão livre de preocupações e feliz. 

Muitos caras flertaram com ela, e ela até deve ter flertado de volta, mas não estava com pressa para escolher um. Ela aproveitou a pista até seus pés doerem, depois foi ao bar beber alguma coisa. Antes que percebesse, estava rindo e conversando com um cara alto e bonito.  

Stiles não conseguia parar de observá-los. Não importava o que fazia, era como se houvesse um holofote em cima deles, chamando sua atenção. Lydia conversava com Derek Hale, jogador número um de lacrosse até se formar no ano anterior. Ele ainda tinha aqueles bíceps que eram duas vezes a grossura do braço do garoto e ainda usava aquelas blusas ridiculamente justas. Lydia parecia estar se divertindo, e Stiles devia estar bem em relação á isso. Deus, ele devia estar agradecido. 

Mas a mão do cara estava muito abaixo da cintura dela. 

Ela não sabia o tempo que ficou lá olhando para os dois. Ele encarou a mão do rapaz como se pudesse queimá-la só com o olhar. Stiles segurou o copo com mais força quando ela inclinou a cabeça para trás, rindo de algo que ele havia dito. E foi assim que seus olhos se encontraram pela primeira vez naquela noite. 

— Ai meu deus... - Lydia murmurou, olhando para baixo rapidamente e quase derrubando sua taça. 

— Que foi? - Derek perguntou, bebendo da sua própria bebida. 

— Nada, é só que... - Ela se apressou para colocar um sorriso no rosto. - Essa bebida é deliciosa! 

— Essa é sua quarta taça, - ele disse, rindo. 

— E fica melhor a cada gole! - ela riu também, entornando todo o conteúdo da taça na boca. 

Lydia se apressou para mudar de assunto, qualquer coisa para distraí-la da presença dele. Mas seus olhos a traíram, e ela constantemente se pegava procurando por ele. Ajudaria muito se ele não ficasse em pé lá, agindo como um perseguidor, o que estava definitivamente a incomodando. Ela quase podia sentir seus olhos furando sua pele. 

Quando Derek se curvou para dizer algo no ouvido dela, Stiles perdeu a cabeça. 

Ele quase não sentiu quando o copo explodiu em sua mão. A raiva era muito maior que a dor. Algumas pessoas olharam para ele, mas ninguém prestava muita atenção. Lydia o encarou com olhos arregalados, e ele a encarou de volta antes de correr para a saída. 

— Pode me dar licença por um segundo? - Lydia disse, e saiu em esperar por uma resposta. Andou o mais rápido que pode pela multidão, empurrando as pessoas para que saíssem do seu caminho. Não tinha certeza fazendo, mas sua mente estava clara. Ela queria respostas e queria dizer algumas coisas, e aquele parecia ser o momento perfeito. Ela iria confrontá-lo e fazê-lo ouvir, talvez até bater nele, se tivesse sorte. 

O vento frio a atingiu quando ela chegou do lado de fora. Ela o encontrou andando com passos largos até o estacionamento e correu atrás dele, tirando o salto para não torcer o tornozelo na grama. 

— O que você está fazendo? - ela perguntou, alto o suficiente para ele ouvir. 

— Não sei do que você está falando, - ele disse, friamente, sem olhar para trás. 

— Estou falando de você me assistindo como a porra de um psicopata! - Ele não disse nada. Lydia esticou o braço e segurou o dele. - Ei, para! 

— Por que? - ele perguntou com raiva, virando-se para ela. - Para você gritar comigo? Não, obrigado, - disse, e continuou sua caminhada. 

— Você não tem o direito! - ela gritou, indo atrás dele. - Não tem o direito de me julgar, Stiles. 

— Não estava te julgando. 

— Então o que estava fazendo? - perguntou, fazendo-o parar novamente. - Por que começou a se importar com o que eu faço? 

Stiles suspirou e correu a mão pelo rosto. 

— Lydia... 

— Por que, Stiles? - ela perguntou, olhando-o nos olhos. Ele sabia que ela não estava mais falando do que aconteceu na festa. Ele podia ver a dor que ela sentia, algo que ela escondia de todo mundo.  

Ele abaixou o olhar para seus tênis, incapaz de olhar para ela. 

— Sinto muito, - murmurou. 

— Você sente muito? - Lydia deixou escapar uma risada incrédula e balançou a cabeça.  - Você me machucou, seu filho da mãe. Existem tantos modos de dizer que não estava interessado, e se você ligasse só um pouquinho para mim, você teria... 

— Eu menti! - ele desabafou, jogando os braços no ar. 

A garota piscou. 

— O que? 

— Eu menti... quando disse aquelas coisas para você, - ele disse numa voz cansada. Ver a dor dela deixava tudo cem vezes mais difícil. Ele não podia mais fazer isso. - Eu só... - ele balançou a cabeça. 

— Por que você mentiu, Stiles? - ela perguntou numa voz baixa. 

— Eu... Eu tinha que mantê-la longe de mim, - disse ele, levantando os olhos para ela. Lydia o encarou de olhos arregalados, com perguntas aparecendo em sua mente mas sem encontrar o caminho para sua boca. - Não sou bom para você, Lydia. 

Lydia balançou a cabeça. De todas as vezes que ela procurou uma razão para a atitude dele, ela nunca, nunca pensaria nessa.  

— Você não pode saber disso. 

Stiles deu uma risada sem humor. 

— Eu me conheço melhor que você. Eu fiz algumas coisas... bem ruins na minha vida. E eu não queria deixar as coisas acontecerem entre nós só para ferrar com tudo depois. Me importo demais com você... Achei melhor parar antes que ficássemos sérios. 

— Está falando de nós? - ela perguntou com o coração apertado e os olhos cheios de lágrimas. - Você queria que nós ficássemos sérios? 

Stiles sorriu de leve. 

— Ah, sim, queria. Mas do que qualquer coisa... - Seu sorriso desapareceu e ele voltou a olhar para baixo. - Mas já disse que não sou bom para você. 

— Para de dizer isso, - ela murmurou. 

Ele a olhou com olhos tristes. 

— Você não quer ficar comigo, Lydia. 

— Quero sim! - ela quase gritou, sua voz quebrando. - Para de falar como se soubesse de tudo, porque não sabe. Eu... Eu gosto de você, Stiles. Gosto mesmo. E não estou nem aí se você acha que não é bom para mim. 

— Lydia... 

— Não estou nem aí, Stiles! - Ela deu dois passos na direção dele e o olhou diretamente nos olhos. - Também não ligo para quem você era ou para o que você fez no passado. Só ligo para o que está acontecendo agora. E agora tudo o que eu quero ficar com você, nada mais. 

Stiles sorriu, tocado por suas palavras. 

— Não mereço você... 

Lydia sorriu e balançou a cabeça. 

— Só cale a boca e me beije. 

Ele não hesitou. Segurou seu rosto entre suas mãos e colou seus lábios nos dela.  

Stiles havia beijado muitas garotas em sua vida, mas nenhuma delas se comparava com Lydia. Talvez fosse porque ele não sentia por elas o que sentia por Lydia, ou talvez beijar Lydia Martin fosse uma experiência inesquecível para qualquer pessoa. Qualquer que fosse o motivo, ele já estava viciado em seus lábios. Aquele beijo gritava todos seus sentimentos, o queimava de dentro para fora. 

Quando se afastaram, ambos arfando levemente, deixaram as testas encostadas. Stiles acariciou a bochecha dela de leve com deu dedão, fazendo Lydia sorrir e suspirar. 

— Á propósito, você está linda, - ele disse.  

O sorriso dela se alargou e ela enterrou o rosto no pescoço dele. Stiles colocou seus braços ao redor dela, prometendo nunca deixá-la ir embora, não importava o quê.