O sol vindo da janela foi a única coisa que impediu Lydia de dormir o dia todo.  
 
Ela grunhiu, semicerrando os olhos ao olhar para a luz forte e desejando desenvolver algum poder mental que fizessem as cortinas se fecharem sem que precisasse se levantar. Ela rolou nos lençóis, colocando um travesseiro em cima da cabeça e tentado voltar a dormir. Ela quase conseguiu, até que foi atingida por um forte enjoou que a fez abrir os olhos.  
 
Ela rolou de novo, deitando nas suas costas, respirando fundo e esperando o enjoou passar. Talvez fosse uma espécie de enjoo matinal, já que não lembrava ter comido nada diferente. Foi atingida de novo, dessa vez com mais força, e ela podia sentir o vômito subindo pela sua garganta.  
 
— Merda, - disse, cobrindo a boca com a mão e correndo para o banheiro. Ela caiu de joelhos, levantou a tampa da privada e vomitou tudo que tinha no estômago. Quando acabou, desabou no chão, suando e tremendo, a cabeça doendo como nunca. Não precisava de um médico para descobrir a causa daquilo tudo: uma ressaca. Toda aquela bebida tinha que ir para algum lugar, ela pensou.  
 
Ela vomitou mais uma vez até ter certeza que havia acabado, depois se levantou com os joelhos fracos e tirou a roupa devagar, com medo da náusea voltar. Entrou no chuveiro e deixou a água fria bater em sua pele suada, o que era incrivelmente bom. Lydia suspirou. Lembrou-se das tantas vezes que ficou em pé nesse mesmo local, sentindo vontade de chorar enquanto seu coração doía. Ela sorriu, porque dessa vez era tão diferente. Toda a tristeza havia ido embora, e fora substituída pela forma mais pura de alegria. Lydia tocou seus lábios, pensando nos beijos que trocaram na noite anterior, quando sentindo-os. Sim, dessa vez era diferente. Ela sabia que agora eles significavam algo. Algo novo, grande e, ela ousava dizer, épico.  
 
Depois que terminou o banho, ela se secou e vestiu roupas folgadas que combinavam com a ressaca de domingo de manhã. Seu estômago roncou, lembrando-a de que precisava comer alguma coisa, e segundo o relógio, já era quase uma da tarde. Lydia pegou o celular e desceu as escadas. No balcão da cozinha encontrou um copo d'água, uma cartela de aspirinas e um bilhete da sua mãe: 
 
Você chegou bem tarde essa noite, então achei que precisasse disso. Você sabe onde tem comida, então coma e beba muita água.  
Ressaca é uma merda.  
Te amo:) 
p.s: se alguma coisa boa aconteceu ontem a noite (você sabe do que estou falando) você vai me contar tudo depois. Sou sua mãe.  
 
Lydia sorriu para o bilhete. Amava a mãe e com certeza contaria tudo para ela depois. O que a lembrou que não havia conversado do Allison ainda. Perguntou-se onde a amiga estaria, em casa ou em outro lugar com Scott? Nesse caso, era melhor esperar pela ligação.  
 
Ela abriu a geladeira e pegou ingredientes para um sanduíche, mas quando começou a montá-lo, seu celular tocou. Ela pegou o aparelho e seu coração acelerou quando leu "Stiles" escrito na tela. Sorriu e apertou o botão verde.  
 
— Hey, - disse, animada como uma garotinha no natal.  
 
— Um fato interessante: eu não me lembro de ter bebido tanto ontem, - ele disse numa voz meio rouca.  
 
Lydia riu, o que era tudo que ele precisava ouvir para melhorar seu dia. Stiles havia acordado com uma dor de cabeça horrível, que não passava mesmo depois de ter tomado um número quase preocupante de aspirinas.  Ele havia deitado em sua cama com a cabeça enterrada no travesseiro até perceber o que ele precisava de verdade.  
 
E, meu deus, era tão bom saber que ele podia simplesmente ligar para ela.  
 
— Está tão ruim assim? - ela perguntou.  
 
— Estou bem, - ele disse, rolando na cama e encarando o teto. - Apesar da sensação de ter mil homenzinhos tentando perfurar meu crânio.  
 
Lydia riu de novo.  
 
— Sorte sua. Eu acabei de jogar meu estômago descarga abaixo.  
 
— Que merda. Está melhor agora? 
 
— Ah sim, bem melhor, - ela respondeu, dando um pulo para sentar no balcão. - Como você saiu dessa só com uma dor de cabeça? 
 
— Acho que tenho uma alta tolerância ao álcool, - ele disse, e ela quase pode ouvir seu sorriso convencido em sua voz.  
 
— Assumo que essa tolerância vem da prática? - Lydia perguntou, erguendo uma sobrancelha.  
 
— Correto.  
 
— Está me dizendo que posso encontrar uma foto sua rodeado de garrafas vazias em algum bar? 
 
— Hm, duvido. Eu sempre evitei as câmeras, senão você me encontraria na parede de todos os bares de Beacon Hills.  
 
Lydia franziu a testa.  
 
— Você está brincando, não é? Não posso saber se está brincando.  
 
Ele riu brevemente.  
 
— Eu disse que fiz algumas besteiras na minha vida. Sou uma lenda.  
 
— Lenda, certo. Soa mais como um babaca, - ela disse. - Como vou dizer à minha mãe que estou namorando um babaca? 
 
— Enquanto você descobre isso você pode dizer a ela que está namorando o cara mais legal que você já conheceu, - ele disse.  
 
Lydia sorriu e mordeu o lábio. Ficaram em silêncio por um tempo curto, apenas deixando as palavras pesarem. Era a confirmação que não precisavam: estavam namorando. Sem precisar de momentos embaraçosos ou jantares chiques. O sentiam um pelo outro era o suficiente.  
 
— É estranho querer tanto te beijar agora? - Stiles perguntou.  
 
Ela corou, rindo.  
 
— Não, não mesmo.  
 
O momento foi interrompido pela campainha tocando, seguido por batidas insistentes na porta.  
 
— Que barulho é esse? - ele perguntou.  
 
— Só um segundo, - ela disse, deixando o celular no balcão e pulando para o chão. Foi até a porta, mas antes olhou pela janela, por onde viu Allison sorrindo de orelha a orelha, acenando para ela. Revirando os olhos e sorrindo, ela abriu a porta.  
 
— Você não vai acreditar na noite que eu tive, - a morena disse animadamente, dando um abraço de urso na amiga.  
 
Lydia riu e a abraçou de volta.  
 
— Ok, estou mesmo louca para ouvir os detalhes. Mas me dê um minuto, eu estava no celular.  
 
Allison assentiu.  
 
— Tudo bem.  
 
Lydia foi até a cozinha e pegou o celular.  
 
— Voltei.  
 
— Alguém invadiu sua casa ou algo assim? - Stiles perguntou.  
 
— Hm... não. Era só a Allison, ela quer me contar sobre a noite dela com Scott.  
 
— Ok... Ela está andando de um jeito estranho? 
 
Lydia franziu o nariz.  
 
— Não, jesus, Stiles! 
 
Allison, que esperava pacientemente do outro lado do balcão, quase engasgou com a água que bebia.  
 
— Stiles? Você está... Lydia, o que...? - a garota se embolou com as perguntas.  
 
— Hm, tenho que ir, - ela disse.  
 
— Ela está pirando? - ele perguntou num tom divertido.  
 
— Mais ou menos, - ela respondeu. - Falo com você depois? 
 
— Ok. Me ligue se precisar sair dessa.  
 
— Não vou precisar. Tchau! - disse e desligou rapidamente porque Allison a olhava de um jeito estranho.  
 
— Por favor, me diga o que foi aquilo, - disse a morena.  
 
Lydia respirou fundo, preparando-se.  
 
— Bem... Nós estamos namorando.  
 
Os olhos de Allison ficaram ainda mais arregalados, se era possível.  
 
— Vocês... Namorando como namorado e namorada? Tipo namorando, namorando? Como um casal? 
 
— Você acabou de descrever um namoro de três formas, mas sim, estamos.  
 
— Lydia Martin! - a garota quase gritou. - Vinte e quatro horas atrás você odiava esse cara, e agora você me diz que está namorando com ele? Que loucura é essa? 
 
— Allison, acalme-se, - Lydia disse, colocando as mãos nos ombros na amiga e a levando para a sala de estar. - Deixe-me explicar.  
 
— Por favor, explique, - ela murmurou.  
 
— Nos encontramos ontem na Casa do Lago, pura coincidência, - começou a contar calmamente. - Nós conversamos e eu descobri que tudo que ele me disse era mentira, e que ele achava que não era bom para mim. Eu o mandei calar a boca, porque nunca parei de gostar dele de verdade. Acontece que ele também gosta de mim, então vimos que não havia razão ficar separado.  
 
Allison pegou a mão da amiga e a olhou nos olhos.  
 
— Olha, se você está feliz, eu estou feliz. Mas se ele te machucar de novo... 
 
— Não acho que será necessário, mas obrigada, - Lydia revirou os olhos. - Agora me conte como foi a sua noite.  
 
A morena sorriu largamente.  
 
— Ok, por onde eu começo... 
 
— Bem do começou, - ela disse, dobrando as pernas embaixo de si.