Lydia odiava admitir, mas não podia ignorar seu coração acelerando quando viu apoiado em seu Jeep.  
 
Na noite passada, ela ficou deitada na cama ruminando tudo que havia acontecido durante o dia. Ela pensou e pensou até que caiu no sono, xingando-se de idiota durante todo o processo. Odiava que se importava tanto com ele, mas não podia evitar sentir-se aliviada quando o viu. Sem ossos quebrados. Lydia colocou sua melhor expressão casual, quase de quem não ligava, e foi até ele.  
 
— Hey, - disse ela, casualmente. Stiles apenas assentiu. Com seus braços cruzados sobre o peito, ele até parecia intimidador. Seus lábios não formaram o sorriso que ela amava. - Está tudo bem? 
 
Ele apenas assentiu de novo, o que era uma prova de que tinha algo errado. O garoto em frente a ela a lembrava do garoto que conhecera meses atrás: frio, impassível, até um pouco assustador. Não parecia ser a mesma pessoa que a beijou duas noites atrás. O alívio que sentia foi embora.  
 
Lydia ajustou a alça da bolsa no ombro nervosamente.  
 
— Tem certeza? 
 
— Estou bem, Lydia, - disse ele, finalmente. Sua voz era tão fria que ela se arrepiou. Ela normalmente gostava de ouvi-lo dizer seu nome, mas não daquela vez. Algo não estava certo, ela não estava errada sobre isso. Ele não podia ter mudado assim tão de repente. E se ela não estava louca para descobrir o que havia acontecido, agora ela definitivamente estava.  
 
— Eu estava preocupada com você. Você sumiu por um dia inteiro, ninguém sabia onde você estava... 
 
— Eu sei.  
 
— Eu tentei ligar, mas... 
 
— Eu sei, ok? - ele a cortou. Lydia calou a boca e olhou para ele com olhos espantados. - Você ligou umas cem vezes. Da última vez que chequei, não devia explicações sobre o que faço á ninguém. 

Lydia o encarou, paralisada, sua mente vazia de palavras. Stiles a encarou de volta, sua face feita de pedra. Suas palavras doeram nela mais do que deveriam, fazendo seus olhos ficarem cheios de lágrimas. Mas ela não as deixou cair - não iria chorar por tão pouco. Olhando no seus olhos âmbar, ela achou ter visto alguma coisa que não combinava com sua expressão dura, mas sumiu depressa. 

— Bem, me desculpe se me importo com você, - ela disse com uma voz controlada. - Só pensei... 

— Você pensou errado, - ele a cortou novamente. - Não somos um casal. Não estamos namorando. Nos beijamos uma vez, não significa nada. 

Mais uma vez, suas palavras a atingiram como um tapa. As mãos de Lydia tremiam com o esforço de lutar contra as lágrimas. 

— Eu ia dizer que pensei que algo ruim tinha acontecido com você. - Uma lágrima conseguiu cair do seu olhos, mas ela foi rápida ao secá-la com os dedos. Stiles franziu a testa de leve, sua expressão se suavizando minimamente. - Mas você tem razão, eu não devia me importar tanto. 

Lydia deu as costas e foi andando para longe dele, mas virou-se depois de alguns passos, seu sangue borbulhando de raiva. 

— Sabe de uma? Vai se foder! - ela disse, alto o suficiente para que ele e todos em volta ouvissem. Stiles a encarou com os olhos ligeiramente arregalados. Ela deu as costas novamente, desta vez correndo para dentro, sem conseguir mais segurar as lágrimas. 

XXXXX 

Você a fez chorar. Você a fez chorar seu desgraçado!, ele gritava consigo mesmo. A mente de Stiles estava em chamas. Estava sufocando por dentro, e o corredor cheio não ajudava. Ele nunca se odiou tanto, e não era ódio que sentia; ele estava com nojo de si mesmo. Ele entrou no banheiro, andando até uma das pias e lavando o rosto com agua fria. Não melhorou em nada. Ele não podia lavar a expressão dela da sua mente, assim como não podia secar as lágrimas que havia tirado dela. 

Stiles era terrivelmente bom nisso, esconder qualquer sentimento que ele deva ter por dentro. Configurou sua mente para manter as pessoas longe, e quando alguém chegava perto demais... ele fugia. Velhos hábitos são difíceis de morrer, mas desta vez ele não fez isso por ele. Foi por ela. Stiles sabia que devia mantê-la longe agora, porque assim ele não teria a chance de ferrar com tudo depois. Ele não queria machucá-la mais, sabia que tinha feito a coisa certa. 

Mas saber disso não fazia doer menos. 

— MERDA! - berrou, atingindo o espelho com seu punho, assustando um calouro que saiu do banheiro com o cinto aberto. Havia sangue no buraco feito no espelho, e ainda mais sangue saindo dos cortes na sua mão. Abrindo a torneira, ele deixou a água levar o sangue e o vidro. Alguns pedaços poderiam estar embaixo da pele, mas ele não ligava. Não doía. Não tanto quanto saber que havia perdido a garota que amava. 

XXXXX 

A boca da professora continuava abrindo e fechando, provavelmente formando palavras, mas Lydia não estava escutando. Encarava as letras em seu caderno, mas não lia nada. Ela apenas sentava lá, patética, em sua mesa. 

Stiles não a queria. 

Ela nunca havia tido seu coração partido deste jeito. Ela tinha namorado alguns caras em sua vida, mas os términos eram sempre fáceis, mutuais. Ela já havia se machucado em um desses relacionamentos, mas não deste jeito. Lydia sentia que, enquanto encarava o nada, pequenos pedaços do seu coração caíam do seu peito. Doía. 

— Srta. Martin? 

Lydia ergueu seu olhar lentamente, percebendo que toda a turma agora olhava para ela. 

— Sim? - disse com uma voz fraca. 

— Está se sentindo bem? Quer ir a enfermaria? - a professora perguntou.  

— Eu, hum... Quero sim, obrigada. -Ela juntou suas coisas da mesa, pegou a bolsa e saiu da sala. Andou em passos largos pelos corredores, cobrindo a boca com a mão para evitar os soluços. Ela agradeceu silenciosamente pela falta de pessoas em seu caminho – não queria que ninguém a visse assim. 

Lydia andou direto para o estacionamento, onde entrou em seu carro e dirigiu direto para casa. Não ligava se fosse perder um dia inteiro de aula, ela só queria ficar sozinha. Quando finalmente chegou em seu quarto, as lágrimas começaram a cair, e desta vez ela as deixou rolar pelas suas bochechas. Ela fechou e porta e foi deslizando até o chão com as costas contra a madeira, soluçando. Idiota, idiota, idiota. Nunca deveria ter se apaixonado tão rápido. Quando isso funcionou? Alguém sempre acaba se machucando. Ela não sabia porque achou que seria diferente com ela. Stiles estava certo. Foi só um beijo. Pessoas se beijam o tempo todo, nem sempre significa alguma coisa. Lydia desejou que não fosse muito tarde para ela, que seu amor por ele fosse como cola fresca, algo que se possa limpar sem causar muito estrago. 

Se era verdade, ela ia fazê-lo ir embora. 

Ela sentou ali por horas, mas nem percebeu até que alguém bateu na porta. 

— Lydia? - Era a voz de Allison chamando. A garota se levantou e abriu a porta. Devia estar com uma aparência horrível, por que no momento que a viu, Allison logo a abraçou. E ela não percebeu o quanto precisava de um abraço até começar a chorar de novo.  

— O que aconteceu? - A morena perguntou, levanto a amiga à cama. 

— Eu... Eu... - Lydia tentou falar, mas os soluços dificultavam. Allison acariciou seus cabelos, murmurando "shh, shh" até que a amiga se acalmasse. - Tudo bem agora? 

Lydia acenou com a cabeça e suspirou. 

— Falei com Stiles hoje. 

— E? 

— E ele está bem, - disse, e começou a chorar de novo. - Sinto-me tão estúpida, Ally. Eu estava tão preocupada com ele, ele não liga nem um pouco. Ele não liga para mim. 

Allison franziu a testa. 

— Ele te disse isso? 

— Ele deixou bem claro, - respondeu, secado as lágrimas. - Mas ele disse que o beijo não significou nada, então dá no mesmo. 

— Que filho da mãe! - a morena exclamou. 

— Não é? - Lydia disse no mesmo tom. - Não acredito que estava me apaixonando por ele. Foi idiota, ele é um otário, e eu o odeio. 

— E o que você vai fazer? 

— Vou esquecê-lo, - ela respondeu firmemente. - Se ele não me quer, também não quero ele. 

— Boa, garota! - Allison sorriu. - Já que é assim, vamos para a Casa do Lago. 

— O que é isso? 

— É uma casa noturna, mais conhecida como o melhor lugar para esquecer seus problemas. Você vai amar. E, - Allison sorriu maliciosamente, - aposto que você vai arranjar um cara até o final da noite. 

Lydia sorriu. 

— Não era bem isso que eu tinha em mente, mas parece divertido.  

— Claro que é! - Allison estava quase pulando na cama. - Hey, eu liguei para Scott, e ele disse que talvez pudesse vir! Mal posso esperar... 

Lydia revirou os olhos. 

— Allison... - murmurou, o que não impediu a amiga de continuar falando.