Don't Waste It escrita por Sugar High Unicorn


Capítulo 2
Therapy


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 2/4 :)

espero que gostem...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/674536/chapter/2

— Sherlock, você sabe que me ignorar fará sua estadia ser ainda mais longa, certo?

Sherlock franze as sobrancelhas para o psiquiatra. Ele estava começando a o enervar.

— Certo, podemos nos sentar em silencio pela próxima meia hora se é o que quer. Somente lembre que cada minuto que desperdiçar, vai gradualmente acrescentar ao tempo que ainda vai passar comigo, o que significa que vai passar mais tempo aqui – Dr. Weaver comenta – Mas esse pensamento com certeza já passou pela sua mente.

— Como pensa que pode saber o que estou pensando? – Ele retruca, irritado. Pessoas não o entendem. Elas nunca o entenderiam. Ele não sabia por que este homem achava que sucederia no que todos falham.

— Vejam, ele fala! – O psiquiatra caçoa. Sherlock só faz uma careta – É meu trabalho tentar pensar como você e o que se passa em sua cabeça.

— Vá em frente então, no que estou pensando agora?

— Vou chutar que seja algo próximo de “por que esse cara insuportável está tentando ler minha mente?”.

— Não, eu estava tentando me lembrar da raiz quadrada de pi.

— 1.772453851 – O doutor responde após um segundo.

— Muito tarde, já te dei a chance de adivinhar.

O psiquiatra ri.

— Bem, essa é a raiz quadrada de pi.

— Parabéns – Sherlock diz, sarcasticamente.

— Ao menos estamos nos comunicando agora – Ele fala – Há algo sobre o qual queira falar? Algo que queira tirar do peito?

Sherlock não respondeu. Ele não diria nada a este homem. Ele estava ali para que seu irmão saísse do seu pé e o deixasse em paz. O doutor só estava ali para ser pago. Ele não se importava. Ninguém se importava com ele ali.

— Por que não começamos com sua família? – Weaver sugere

— Entediante.

— Por que diz isso?

— É um assunto entediante sobre o qual falar.

— Ok... – ele escreveu algo em sua prancheta – E seus amigos? Eles sabem que está aqui?

— Eu não tenho amigos.

— Por que?

— Você gosta de dizer isso, não é? – Sherlock comenta, incomodado.

— É para que elabore suas respostas – O doutor suspira – Deixe-me fazer isso simples para você. Você está passando por um período difícil. Tudo que quero fazer é com que responda “estou me sentindo ótimo” quando eu perguntar como você está. Eu posso ver que está triste e com raiva.

— Realmente não estou – Sherlock murmura

— Eu estou tentando simplificar.

— então complique.

— Por que eu faria isso?

— Porque isso é tedioso!

— Bem, não é para te entreter, Sherlock – O doutor responde – É para te ajudar.

— E como falar vai me ajudar? – Ele pergunta com escárnio

— Você ficaria surpreso.

— Você acha?

— Certo... – O Doutor suspira, levando a mão à testa em exasperação – acho que isso é suficiente por hoje. Vou adicionar mais tempo na próxima cessão. Esperançosamente você estará mais pronto para falar.

— Continue com esperança – Ele caçoa

— Não se esqueça que têm uma sessão em grupo amanhã – Weaver o lembra, o fazendo grunhir – Nada de evitar suas atividades mais, Sherlock. Se seguir a programação talvez se sinta menos entediado.

O doutor revira os olhos enquanto saia pela porta, deixando Sherlock em paz.

Sessões em grupo soavam terríveis. Seria só um bando de adolescentes reclamando sobre como a vida deles era uma merda e então eles começaram a usar drogas. Isso o entreteria por no máximo dez minutos enquanto ele deduzia coisas sobre a vida de cada um, alguns teriam talvez algo interessante, mas depois disso, seria um inferno de tédio.

Eu preciso sair daqui.

...

Ele resolveu que após o almoço voltaria ao jardim, não querendo passar mais que o tempo necessário perto das enfermeiras que pareciam o olhar com ódio. Bem, ele nunca disse que facilitaria o trabalho delas.

Sem notar, seus pés o levam novamente ao centro do labirinto onde havia visto a garota Zoe/Lucy. Ele fica lá por um tempo, mas ela não reaparece. Ele nem sabe o motivo de querer que ela apareca, talvez porque seja mais interessante que os outros viciados na instituição que ficam fazendo ridículo, ou talvez ele só esteja curioso para saber por que exatamente ela estava mexendo as mãos no céu, se não aparentava ser louca.

Ele resolve que então aproveitaria a pequeno período de tempo fechando os olhos e respirando o ar puro, tirando alguns minutos para ficar em paz e fingir que não estava em uma clínica de reabilitação e sim no jardim de sua mãe na casa de campo.

 

— Sherlock, minhas flores! – A mulher correu até o garoto de cinco anos, o pegando pelo braço e o afastando de seu canteiro de margaridas que acabara de ganhar um belo buraco – Garoto incorrigível.

— Mas mamãe, estou procurando um tesouro! – Ele exclama, a espada de madeira em sua mão indo para cima com o seu entusiasmo.

A mulher ri levemente, pegando algo em seu bolso e entregando para ele. Era o tapa-olho que ele havia esquecido na mesa de almoço algumas horas antes. O garoto sorri, a janelinha em seus dentes o deixando mais adorável.

— Por que não vai brincar por ali, querido? – ela sugere, apontando algumas ervas-daninhas que podiam muito bem ser arrancadas – Talvez encontre seu tesouro. Não se esqueça de lavar as mãos quando entrar e deixar suas botas do lado de fora.

— Tudo bem mamãe – Ele assente várias vezes e corre para cavar do outro lado do jardim.

Ele estava cavando arduamente até que suas mãos encontraram algo. Ele cavou mais em volta do que quer que fosse.

— Sherlock? – A voz de Mycroft soou atrás dele, mas ele não se distraiu de sua tarefa – O que está...

— Eu tesouro, Mikey! – Ele exclama, sem tempo para explicar, e finalmente agarra com as mãozinhas algo duro e puxa para fora do buraco, caindo de costas quando a terra cede e ele arranca o que queria.

Encarando sua mão, ele faz uma careta e joga o pedaço de osso para longe.

— Acho que encontrou o tesouro do Barba Vermelha – Mycroft comenta, entretido.

— Eca – Sherlock murmura, revirando os olhos, e então se vira para o irmão – Você não deveria estar na escola?

— Hoje é feriado, Sherlock – Mycroft o corrige – Que tal lavar essas mãos e podemos ver um daqueles seus... filmes?

Sherlock pula para ficar de pé e sorri para o irmão, as mãos sujas indo em sua direção para o abraçar. Mycroft ri do garoto, mas o impede de encostar em sua roupa com as mãos daquele jeito. Sherlock entende e logo corre para lavar as mãos, feliz por seu irmão ter resolvido ver um filme com ele.

Mycroft andava cada vez mais distante, cercado de livros quando estava em casa e recusando brincar de piratas com o menor, então os olhos de Sherlock brilharam quando viu que o mesmo queria passar um tempo com ele no feriado. Talvez ele não tivesse perdido completamente seu irmão.

— O que vamos ver? – Mycroft questiona, do sofá.

— Peter Pan!

 

Sherlock abriu os olhos, saindo do flash de memória que tivera. Não fora a intenção dele se imergir em pensamentos, muito menos se lembrar da infância, então não sabia o que o havia levado a essa memória.

Ele sentia falta de como as coisas eram, claro, mas não admitiria isso para ninguém. Ele e seu irmão eram muito teimosos para isso, é a verdade. Seria bobeira tentar reconciliar, ainda mais com as drogas no caminho.

Enquanto voltava para o quarto, ele percebe que não está mais em tão mau humor, o que por consequência o irrita, e ele decide simplesmente dormir.

...

No dia seguinte, ele só saiu do quarto para ir ao local da terapia em grupo porque foi obrigado por dois guardas que se recusavam a o deixar em paz. Aparentemente eles realmente iriam se esforçar para que ele cumprisse seus compromissos dali em diante. O que Mycroft havia prometido a eles, Sherlock só podia imaginar.

— Que bom que finalmente resolveu se juntar a nós, Sherlock – Quem falou foi um Doutor que ele ainda não conhecia, ele estava sentado em uma das cadeiras organizadas em um círculo no centro da sala.

— Não tive muita escolha – Sherlock murmura se jogando em uma das cadeiras e continuando a parecer entediado – E vocês pareciam bem sem mim.

O doutor franziu a sobrancelha.

— Muito bem, pode continuar, Donna – Ele incentiva uma das garotas.

— Er... ok – Ela olha de lado para Sherlock, levemente temerosa, antes de continuar – Meu nome é Donna e...

— Já sabemos isso – Sherlock diz impacientemente.

— Por que não se apresenta, Sherlock? – O Doutor que ele não se importaria em aprender o nome sugere

— Porque você já fez isso – Sherlock responde obvio. O Doutor bufa e então olha em volta.

— Certo... Então que tal escutar o que os outros tem a dizer. Se quiser falar algo, levante a mão – O Doutor sugere e então sinaliza para que Donna continue.

Sherlock então se desliga do som de fundo que é o relato sem graça da garota para prestar atenção nas pessoas. Ele normalmente não deduzia muita coisa dos residentes, visto que eles todos usavam a mesma roupa e eram negados a maior parte dos pertences pessoais a não ser coisas essenciais para a melhora deles, e a dedução então teria de se basear em comportamento e aparência, coisas que exigiriam mais que alguns segundos de observação e ele não se indignava a observar aquelas pessoas por tanto tempo.

Para o seu entretenimento, algumas pessoas do grupo de terapia já haviam saído da clínica, mas continuavam vindo às reuniões, então elas tinham mais dicas sobre suas vidas fora dali.

Em alguns segundos ele pode deduzir que um dos homens havia ‘usado’ outra vez e estava tentando compensar a culpa vindo à reunião. Ele tinha um cachorro pequeno e era recém divorciado, provavelmente por culpa das drogas. Ele, como a maioria das pessoas naquela sala, tinha bastante dinheiro. Tinha o cabelo tratado, sobrancelhas feitas e pele hidratada, roupas de marca e bem passadas, até as unhas... não, reformulando, a mulher se divorciou dele porque ele usava drogas e era gay.

Seu olhar passou por algumas pessoas da sala, sem notar nada muito interessante, e então pararam num casaco azul. Subindo o olhar, ele encarou o rosto conhecido que vira no jardim dois dias atrás. Ela parecia distraída, olhos no chão e mãos se movendo na frente de si, ela observava algo que aparentemente a entretinha, já que portava uma postura mais relaxada.

— Que bom, Donna – A voz do Doutor o puxa de volta ao local, mas ele não tira os olhos da garota – Obrigada por compartilhar e continue assim. Alguém mais?

Ninguém fala nada por um momento, e ele vira seu olhar para Zoe/Lucy, que começara a rir baixo.

— Algo de interessante que queira compartilhar, Lucy? – O Doutor questiona

Ela não parece ter ouvido, continuando a olhar para algo no chão que era invisível a todos.

— Lucy? – Ele estala os dedos, e ela é tirada do que quer que fazia para olhar para ele. Alguns dos residentes murmuram coisas como “a louca não deveria estar no quarto?” ou “por que deixam ela entrar aqui se só fica no mundo imaginário”, mas o doutor não percebe que todos estão incomodados com ela.

— Zoe – Ela corrige, e o Doutor suspira, exasperado.

— Certo, Lu...Zoe – Ele se corrige – Algo que queira compartilhar com o grupo?

— Não – ela diz sinceramente

— E por que estava rindo? Podemos saber? – Ele sorri para ela – Eu gosto de piadas.

— Não era uma piada – ela franze o cenho – Mas ela não sabia a diferença entre Hardware e Software.

— Ela quem? – O Doutor parece confuso e os outros incomodados.

— A garota do programa de informática das quatro, obviamente – Ela revira os olhos para o homem, e então parece se cansar do diálogo e voltar para seu mundo interior.

O silencio reina por alguns segundos antes de o doutor bater uma palma e sorris para todos.

— Que tal formarmos algumas duplas, han? – Ele incentiva, e logo as pessoas seguem para se juntar com as outras. Sherlock fica onde está, sem se incomodar em se juntar com alguém para ouvir sobre a vida miserável deles.

— Oi Sherlock – Uma voz lhe chama atenção atrás de si, e no segundo seguinte há alguém se sentando de frente para ele. Zoe o observa de modo curioso.

— Eu não quero conversar, então é uma perda de tempo – Ele resolve afastar a garota.

— Eu também não, então nós dois ganhamos – Ela sorri para ele – E ninguém iria fazer dupla comigo mesmo.

Ele assente para ela, e a mesma olha para algo um pouco acima de si e faz um movimento com a mão como se puxasse algo, e então alguns movimentos como se estivesse passando coisas em sua frente, como alguém faria se usasse um tablete e quisesse mudar a tela para a seguinte. E então ela para, fazendo um movimento com as duas mãos as juntando e então afastando.

Ele a olha, intrigado.

Ela realmente não parece louca, não no sentido que os outros estavam dizendo. Talvez os remédios a deixassem delirante? Ou algo totalmente diferente.

— O que está fazendo? – Sherlock resolve perguntar.

Leva alguns segundos para Zoe/Lucy perceber que ele falou com ela, e ela então faz um movimento de abano com a mão e olha para ele.

— Desculpe, o que perguntou? – Ela questiona

— O que estava fazendo – ele repete – Com... as mãos, e os movimentos. O que exatamente é isso?

Ela o olha, arregalando levemente os olhos, e então olha para suas mãos, parecendo envergonhada.

— Nada – ela responde rápido demais – Não é... nada.

Sherlock sai da terapia em grupo altamente decepcionado naquele dia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Coments? :D

kisses!

—Unicorn



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Don't Waste It" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.