Minha jornada... escrita por eduarda14


Capítulo 5
As consequências


Notas iniciais do capítulo

Aqui tem muito diálogo!
Frase do capítulo: “Todas as misérias verdadeiras são interiores e causadas por nós mesmos.” (Jacques Anatole France)



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        No outro dia não tive coragem de dizer para ela... Uma semana depois, estava muito cansada. Não tinha conseguido dormir. Só pensando em como dizer para minha mãe. Ai caramba! Nem acredito sobre aquele dia... 

— Minha filha? Não vai comer? 

— Não quero tomar café da manhã... Não estou com fome... 

— Você está triste? 

— Não... É que... E-Eu q-quero te dizer algo... 

— Pois fale.  

— Naquele dia à noite... Na festa... É... E-eu... 

— Você está me assustando! 

                                 ... 

        Eu contei tudo, tudo. Minha mãe ficou desesperada, ainda mais quando eu falei que não me preservei. 

— Foi tudo muito rápido mamãe! 

— Jura pra mim que essa é mais uma de suas brincadeiras! 

— Desta vez não é não... 

— O tanto que te avisei e aviso Malu! 

— Desculpe-me é que... 

— Estou decepcionada com você... 

Por que não me deu um tapa, ou me esmagou na parede... A coisa mais horrível que ela poderia fazer era falar isso para mim... A pior decepção é aquela que vem de quem a gente mais ama.  

        Não saí de casa o dia todo e nem quero mais sair. Só quero estudar e só! 

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— Mãe. Ainda está com raiva de mim? 

— Não estava com raiva de você. Só fiquei triste. Você foi se preocupar com o que essa tal garota estava falando, ao invés de escutar a mim, que sou sua mãe. 

— Eu já pedi desculpa. 

— Mas e agora? 

— E agora o quê? 

— Você sabe quem é esse rapaz? 

— Só sei que se chama Dantes. Por quê? 

— Nada. Você disse que ele ficou nervoso e saiu às pressas. Deve ser porque reconheceu que tinham feito algo errado... 

 Algumas semanas depois 

       A Bia ligou para mim. Ela tinha me chamado para um almoço na casa de um amigo, com piscina e não sei mais o quê... 

— Não quero Bia! 

— Mas por quê? Vai ser divertido. 

— Estou cansada... 

— Faz um esforço.  

— Não estou muito legal para lhe acompanhar... 

— Tudo bem. Então tchau. 

Desligou o telefone na minha cara. Droga! Era isso que eu deveria ter feito antes. Recusado. Falado que não estava muito bem, ou sei lá. Se bem que agora estou cansada de verdade. 

— Minha filha. Por que não aceitou? É por causa de mim? 

— Não mãe. É por causa de mim! Naquele dia não era para eu ter ido também. E ainda por cima, estou muito cansada. 

— O que você fez ontem para estar tão cansada? 

— Nada. Só fui para a faculdade mesmo... Eu vou para o meu quarto... Deitar... 

— Vai filha. Eu vou levar um chá. Para essa sua tosse. 

— Não precisa. Mas pode ser... 

— Qualquer coisa grita que eu vou correndo minha filha! 

Minha mãe sempre se preocupou demais comigo, mesmo que seja uma tosse ou um simples resfriado... 

— Ah que mal-estar! 

— Aqui, minha filha, seu chá. 

— Valeu mãe. 

— Olha, eu acho que você está com febre Malu. Não iria poder sair mesmo... 

TIRILIIIIM! Era o telefone. 

— Alô.  

— Oi! Gessy? 

— Sim? 

— Aqui é o David. 

— David! 

— Você gostaria de irmos jantar no restaurante que abriu recentemente? 

— Mãe, mãe. Ele tá te chamando para algum lugar?? Se for, pode ir que eu estou  bem! 

— David... É que... 

— Mãe! Pode aceitar! 

— Tudo bem. A Malu vai com a gente tá? 

— Sim. Que legal! Vai ser um verdadeiro jantar em família... 

Minha mãe ficou imóvel. - Desculpe... Não gostou do que eu disse? 

— Não é isso. Na verdade eu adorei o que disse - Ela ficou toda vermelha. 

— Então até o jantar meu amor... 

— Por que disse que eu também iria? 

— Porque não quero te deixar sozinha.  

— A Gessy ficou vermelha! A Gessy ficou vermelha! 

— Para! É porque ele disse que seria um "verdadeiro jantar em família"... 

Ui... Ei espera! Então ele tá me chamando de filha?? Hum... O que mais que ele disse? 

— Nada. Me chamou de meu amor... 

— Tomara que vocês casem logo. Já tem que pensar nisso em! 

— Deixa disso... 

— Mas mãe, eu não queria ir. Estou cansada. Não quero ficar de vela! E se eu estragar o clima de vocês. Imagina se forem se beijar? Eu não quero ficar vendo isso... 

— Vai ser só um jantar. 

— Seeeei...  

19h: 30min 

...Dlim, dlom... Ele chegou. Minha mãe ficou inquieta. 

— Calma mãe! Você tá super elegante... 

...Dlim- Já vou... 

— Olá David. 

— Olá Malu. Boa noite. 

Quando ele a viu, ela o viu. Ficaram se olhando... E eu pensei, vai ser a noite toda assim... Eu tive a impressão que ficaríamos ali mesmo. 

— Então vamos... 

Sério? Eu pensei que iríamos ficar aqui! E eu não ia cozinhar nada! 

       Aquele restaurante parecia o mais elegante que eu já vi na minha vida! Ai caramba. Eu ainda estou me sentindo mal. Mas não quero estragar este momento... Um garçom se aproximou. 

— Boa noite, o que desejam? 

— Nós vamos querer o prato especial. E você Malu? 

— Não quero nada.  

— Tem que comer algo minha filha. 

— Quero somente tomar alguma coisa - Neste momento, parece que tudo estava girando e girando. Eu comecei a ficar tonta. E PUF

— Malu?? Ela desmaiou Gessy! 

                                 ... 

— Minha filha? Malu? Acorda, por favor... 

— O quê? Onde eu estou? 

— Na sua casa - O David estava tão preocupado comigo... Parecia ser o pai que eu nunca tive. 

— Minha filha, eu vou te levar em um médico. 

— Mãe, está tudo bem comigo. Só não me alimentei corretamente... 

— Está bem Malu. Mas se isso voltar a acontecer, eu e sua mãe vamos ter que te levar ao hospital. 

— Ok - Eu concordei. Mas não tenho nenhuma vontade de ir para este lugar - Desculpa gente. Eu estraguei o jantar de vocês... 

— Que isso Malu. O que importa é que você está melhor. Não está? 

— Sim David - Eu não tinha melhorado, ainda estava meio zonza, e estou tão cansada. Parece que eu capinei o dia todo e a noite toda. 

        A minha noite foi pior que aquela  noite depois daquilo, naquela festa, daquela sexta... 

      Estava suando muito. Minha febre tinha aumentado. 

— Maaaaaãeeee! 

— O que foi meu amor?? Estou aqui. 

— Mãe... Eu estou pior. Essa febre tá me matando.  

— Ai filha... Eu não sei o que fazer... Olha, tome um banho que vai te fazer bem. E amanhã vamos ao médico! 

       TRIC, TRAC! Era o despertador. Amanheceu finalmente! Que noite horrível. O cansaço tinha passado, mas a febre não. 

— Doutor. Será que é a mudança de clima? 

— Não dona Gessy. Senhorita Malu, você está sentindo mais alguma coisa? 

— É só minha garganta que dói um pouco... 

— Vamos fazer alguns exames, para ver se é passageiro ou se é algo mais grave. 

        Ui,  esse médico me assustou. Por isso que eu não gosto deles. Na verdade da maioria. 

        Depois de um tempo o médico voltou. 

— Senhora, os exames não indicam nada de mais... 

— Ufa... 

— Eu não disse mãe.  

      Aquilo foi um alívio. Mas depois de alguns dias eu não estava muito convencida que era algo normal não... Eu estava emagrecendo muito. Eu não estava tendo mais fome. O suor à noite não estava normal. E também não era normal aquela febre. E pior era a minha dor na garganta... Passei alguns dias sem ir estudar e minha mãe insistia em não ir trabalhar. Voltamos ao hospital.  

          Os exames foram feitos. Tudo outra vez. Ele também viu a questão da minha garganta, que estava muito dolorida. O doutor estava um pouco inquieto. 

— Não pode ser! 

— Algum problema doutor? 

— Vou ter que fazer novamente os exames - O doutor estava um pouco alterado. 

                                  ... 

— Senhora Gessy, eu preciso falar com você... 

— Alguma coisa com a minha filha?? 

— Sim. A senhora precisa se acalmar... 

— Dr. Alfredo, fala logo! 

— É que sua filha apresenta sinais da doença causada pelo vírus da imunodeficiência humana, a AIDS. 

— O quê?? Não acredito! Isso não é verdade! E agora? O que vai ser da minha vida? O que vai ser da nossa vida? O que eu vou fazer! 

— Você deve se acalmar, vai ser importante para sua filha. Ela deve perceber que pode confiar em você e na família.  

— É claro que ela pode confiar em mim. Mas... Apoio da família?  

— Quem é um soropositivo precisa de muito afeto para responder bem aos exames. 

— Ai Doutor Alfredo! Não sei se consigo ter calma. Eu avisei pra ela. Sempre estive aconselhando. Os preservativos Malu, os preservativos! 

— Os exames anteriores não diagnosticaram a AIDS, pois o vírus passa despercebido pelos exames nos primeiros 14 dias.  

— Mas como descobriu doutor? 

— É que eu examinei o esôfago de sua filha, por causa da dor na garganta. Nele eu encontrei cândida. 

— Candidíase? 

— Sim. A candidíase não é considerada uma DST (doença sexualmente transmissível), mas um de seus principais causadores é a relação sexual desprotegida. Você sabe se sua filha teve uma relação com algum rapaz? 

— Sim, ela me disse. Dr. Alfredo, minha filha vai morrer?? 

— Não. Um portador da AIDS/HIV pode ter uma vida normal e saudável, mas muitos sofrem por causa do preconceito das pessoas. Ela precisa do máximo de apoio possível senhora Gessy... 

     Depois da conversa minha mãe parecia um pouco nervosa.  

— Entra no carro filha. 

— Mãe algum problema? Tem algo que preciso saber? 

— Ma-Malu... É-é q-que... é - Já sabia que era uma coisa séria, minha mãe tremia, estava tão nervosa que quase atropelou uma senhora que passeava com um cãozinho... 

— Mãe, vamos chegar em casa primeiro, tá legal? 

— Tudo bem... 

Em casa 

— Está mais calma? Pode falar... 

Minha mãe não disse nada, só chorava. Foi quando me entregou um panfleto, destes de hospital. Não entendi. Mas comecei a ler...  

“... a vida dos portadores de HIV pode ser saudável e tudo varia de caso para caso... O paciente contaminado pelo vírus PODE e DEVE levar uma vida normal..." 

O silêncio tomou conta do ambiente. Comecei a suar frio. E minha mãe chorava muito. 

— Mãe? A senhora quer dizer que... Que... 

— Sim, minha filha. Sim... 

— O quê?? 

— Malu, não se preocupe você é uma pessoa forte, sempre foi! 

— Não! E agora? Como vai ser!? O que eu vou fazer mamãe! 

— Minha filha, juntas iremos conseguir. Você vai continuar com seus estudos... vai pensar em... 

— Mãe! Não tente me animar! É inútil! Como eu posso pensar no futuro assim! Como posso querer estudar! Fazer planos para um futuro que não vai durar algumas semanas?? 

— Minha filha, não fale essas coisas. Temos que ser otimistas... 

— Otimismo não vai me curar mamãe!  

— Você não sabe o que fala! 

— Eu não sei o que falo! Não sei o que faço! Por isso tenho que sofrer!  

— Malu não fale isso, pense em sua mãe que também sofre! 

— Mãe... Eu preciso conversar com o David. Vocês precisam se casar logo! Assim, não vai ficar sozinha quando eu não estiver mais aqui... 

— Meu amor, existem avanços em medicamentos e tratamentos! 

— Não quero saber! Não quero saber de nada! Maldito Dantes! Maldita vida! Maldita seja eu! 

No colégio 

— Isadora, você sabe o que está acontecendo com a Malu? 

— Não... Ela tá bem estranha não é? 

"Eu esperava um resultado melhor neste trabalho dela" - pensava a professora - Pessoal! Agora vamos fazer um exercício de síntese... Quero duplas diferentes!  

A professora ia falando os nomes... 

— Malu e... Miguel. 

Isadora pareceu contente quando ouviu esta dupla. Ela sempre tentou que existisse algo entre os dois, nunca obteve bons resultados. Malu não se importava, sempre dizia: Garotos não têm lugar na minha lista de prioridades!  

— Malu? Você prefere o tema sobre soluções para evitar os desequilíbrios ecológicos? É bem mais fácil na prática... Malu? 

Tudo está tão diferente. Agora o que me resta é só vir para assistir as aulas... Só assistir... É inútil. Nada vai mudar esta realidade. 

— Malu? 

— Oi. Desculpa, estava pensando alto. Eu prefiro o que você quiser... 

— Algum problema com você? 

— N-não... E com você? 

— Sim. Acho que você está esquisita... 

— Por quê? 

— Porque sim. Está distraída, parece não quer nada, não conversa com ninguém, não está se alimentando... 

— Hum, como sabe? 

— É que... É que...  

— Por acaso está me espionando? 

— Eu? Por que estaria te espionando?  

— Eu que te pergunto. 

— Deixa pra lá.  

Um tempo depois de os serem apresentados o sinal toca avisando o término da aula.  

— A aula foi interessante não é Malu? Principalmente os exercícios de síntese..  

— Não, não foi. 

— Vai me dizer que não gosta do Miguel. Você não me engana... Admite que ele é... 

— Não enche Isadora! 

— Desculpa amiga, não é para tanto! Não estou te entendendo. 

— Não queira entender! 


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