Minha jornada... escrita por eduarda14


Capítulo 6
Esperança


Notas iniciais do capítulo

Frase do capítulo: “Não existem barreiras intransponíveis. A não ser as que você mesmo cria”; “Ter fé é acreditar na vida, mesmo quando tudo é adverso.” (Roberto Shinyashiki)



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— Malu! Abre esta porta!  

— Quero ficar sozinha David! 

— Eu tenho que conversar com você!  

— Já disse que quero ficar sozinha! 

         Não acredito. Olha o que eu me tornei... Uma pessoa depressiva. Minha mente está sendo alimentada por um tremendo arrependimento e por pensamentos de ódio e mágoa. 

— Tudo bem... O que quer? 

— Malu, você não pode continuar assim! Isolando-se de tudo!  

— Você pensa que é fácil para mim? 

— Não! Mas não é assim que você vai mudar isso! Tenha bom ânimo Malu... 

— Você não faz ideia das coisas que estão falando de mim... 

— Não importa o que dizem, e sim o que você pensa sobre si mesma... Você vai ficar melhor... Tá tomando os remédios corretamente? 

— Não. Eu não tomei nenhum hoje. 

— O quê?? Mas e aquele... 

— Eu menti, não tomei nenhum medicamento! Não quero remédio!  

— Mas você deve tomar os medicamentos todos os dias, na dose certa e na hora certa! Para evitar que o vírus fique mais forte! 

— Eu não quero tomar e pronto! 

— Olha, tem uma frase que é assim: A sabedoria é o melhor guia, e a fé, a melhor companheira. Deve-se, pois fugir das trevas da ignorância e do sofrimento deve-se procurar a luz da iluminação.  

Ele tinha razão... Se não fiz o correto e agora tenho... Tenho AIDS, não posso ficar lamentando... Devo mesmo é deixar esta ignorância de lado, e buscar seguir em frente. Pelo menos tentar... 

— Você está certo David. Quero tomar meus remédios, colaborar com os tratamentos, porque a mudança tem que vir de mim... 

— Obrigado por entender Malu... Tenha esperança tá legal? 

— Sim, esperança...  

TRILILIM!! Era o telefone. Tomara que não seja uma ligação para mim! 

— Filha, tem uma amiga sua no telefone. Ela disse que quer muito falar com você.  

— Não mãe! Fala para a Isadora que não estou em casa. 

—Por que não quer falar com sua amiga? 

— Fale que não estou. Por favor... 

— Ela não está. Quer deixar um recado? 

— Eu sei que ela está aí... Diz que... Fico muito triste por não querer falar comigo. E que, eu e o Gérson estamos muito preocupados com ela... 

— Minha filha, acho que você não fez bem... Sua amiga ficou triste por não querer falar com ela... 

— É que eles dois são meus únicos amigos. 

— O que tem isso? Fala o que está acontecendo para eles!  

— David eles não podem saber! Porque quando souberem, vão querer se afastar de mim! 

— São seus amigos filha! Eles gostam de você, porque iriam agir desta forma? 

— Todos são assim! Por que eles não seriam? 

— Se você quer ter um amigo leal, você também terá que ser assim. Os amigos trazem alegria e esperança aos nossos corações, se não fazerem isso, não são amigos. Você não vai poder esconder para sempre minha filha. 

Neste momento eu quis gritar para o mundo inteiro: EU TENHO AIDS! E O QUE VOCÊS MENTES VAZIAS TÊM HAVER COM ISSO?!! PODEM ME JULGAR E PENSAREM O QUE QUISER... EU NÃO LIGO!! 

Se eles são como os outros e me olhem estranho ou se afastarem de mim, não importa! Meus amigos vão ficar sabendo...  

          Fui imediatamente à casa da Isa. Não posso ter vergonha de mim. Tenho que ser valente!  

          Naquela mesma tarde eu conversei com meus amigos... 

— E por que não disse antes Malu? 

— Fiquei com medo de vocês dois me abandonarem... 

— Como pode pensar uma coisa dessas Malu... Eu e Isa gostamos muito de você. E amigos verdadeiros não importam com essas coisas. 

— Mas Malu... Como pôde? Como pôde brincar com uma coisa tão séria... Sexo não é brinquedo mana... 

— Eu me faço essas mesmas perguntas... 

Dias depois 

          Malu estava emagrecendo muito. E com  febres cada vez mais persistentes. As fortes dores na cabeça e nos músculos eram mais constantes, além do surgimento de algumas manchas vermelhas... 

No quarto do hospital 

 Estou muito preocupada com ela David...  Anteontem nós duas, voltando de um tratamento, passamos na casa da Sílvia... 

— Bom dia prima. 

— Bom dia Gessy. Essa é sua filha? Nem parece. Tá tão magra! Quem manda desobedecer! Se fosse minha filha eu a teria mandado pra fora de casa! Quem vê você não imagina que você é como estes jovens vagamundos por aí! 

— Já chega Sílvia! Nem você nem ninguém têm direito de falar assim da minha filha! 

A Malu estava chorando muito... A vontade que eu tive era enfiar minha mão na boca dela! 

— Agora essa menina se faz de inocente. Só se faz... Porque de inocente não tem nada! 

— Cala essa boca sua arrogante! Vamos embora minha filha... 

— Não fica brava... Ela só disse a verdade... Eu sou mesmo uma... 

— Não! Não dê ouvidos para aquela babaca!  

Mas você sabe que minha filha coloca as coisas na cabeça facilmente... 

Gessy estava falando quase sussurrando para não acordar sua filha. Os amigos de Malu também estavam presentes no quarto. 

— Mas a culpa é minha! Não era para termos vindo para este lugar. Queríamos vir para cá buscando estar perto da família, todos unidos... Não recebo nem um pingo de apoio deste povo "unido"! Senti-me muito magoada com as palavras de minha prima... 

— Não acredito que esta mulher possa ser tão fria assim! Gérson disse tão alto acordando Malu. 

— Mãe? David?Amigos? São vocês? 

— Sim minha filha... 

— Fico feliz por estarem aqui comigo. 

— Quer alguma coisa filha? 

— Não sendo AZT, DDI, DDC e D4T, eu aceito... 

— Vou trazer um copo de água. 

— Vou com você Gessy. 

 Ao virar o corredor, Gessy se surpreende ao ver uma pessoa indesejada. 

— O que quer aqui?! 

—  Nossa! Depois de tanto tempo, é assim que você me trata? 

— Não merece nem que eu fale com você Sérgio! O que faz aqui? 

— Vim ver minha filha! Que boa mãe você é em? Agora a minha filha não terá uma vida normal e nem esperança para viver! Está com AIDS! 

— Sua filha? Depois de abandoná-la tem coragem de falar isso! Eu a eduquei corretamente sim! Pois sempre tive amor, carinho e paciência com ela, o que os pais que amam seus filhos fazem, ao contrário de você! Sinceramente, depois que foi embora nos tornamos mais felizes. É claro que  minha filha pode ter uma vida normal e esperança para seu futuro, pois tem ao seu lado, pessoas que a ama de verdade! A Malu é uma pessoa forte, e nem uma doença vai fazê-la cair! 

— Futuro? Tá querendo se convencer ou me convencer? O que você fala não faz sentido! Essa menina só me envergonha. Mas também... Olha a educação que deu para ela! De prostituta! O que mais ela poderia aprender com você!  

Quando ouviu isto, David não se conteve ao ver Gessy chorar e deu um soco na cara daquele que proferira palavras tão duras a respeito de sua amada. Este por sua vez, revidou com outro soco. A briga parecia interminável, até aparecer alguns seguranças exclusivos do hospital. 

— E quem é você? Deve ser mais um namoradinho desta daí! Mais um, entre os vários! 

— CALA ESSA BOCA ENQUANTO AINDA TEM DENTES! 

— Ele é meu futuro esposo e... 

— Não quero saber Gessy! Vou ver aquela garota. 

— Você não vai vê-la!  

Aquele homem empurrou os dois e foi direto ao quarto onde Malu estava. 

— Minha filha? Sou eu, seu pai, Sérgio. E vocês dois... Saiam! 

— Pai? Eu não tenho pai, pois o cara que era pra ser meu pai, sabe o que ele fez? Me abandonou. E sabe o que mais? Depois de 6 anos, ele finge que nada aconteceu! 

— Não fale isso Malu! Eu tive motivos! Foi culpa de sua mãe! 

— Um pai verdadeiro não faz isso! Um homem muito importante disse um dia: "Um dos maiores presentes que um pai pode dar para seus filhos, é amar a mãe deles", não me lembro de que você tenha feito isso! Não me lembro de que tenha feito nada! 

— Você é muito arrogante e mal-agradecida, também, olha de quem você é filha, daquela inútil! 

— Não! Minha mãe é uma das pessoas mais maravilhosas que existem no mundo! E eu não sou arrogante, só odeio humanos injustos como você!  

— Acorda garota! Olha aonde e como você foi parar, no hospital e com AIDS! É uma qualquer! Uma qualquer, assim como sua mãe! 

— Não fala assim da minha mãe! Seu infeliz!  

— Você me envergonha garota! Pegou essa doença de gente homossexual e... 

— Cala a boca! Você não entende nada. É igual estas pessoas preconceituosas por aí! É um cretino. Tinha que ter vergonha era de você mesmo! Eu sei que eu errei, não precisa me ofender e muito menos culpar minha mãe, sai daqui! 

— Vou sair mesmo! Estou com nojo deste lugar!  Vai que eu me contamino - Sérgio saiu rapidamente do quarto, ao ver Gessy, sorriu - Quer saber? Fique com a "sua filha", Adeus! 

— A senhora ouviu o que meu pai disse mamãe? 

— Não fica assim minha filha, esse homem é um mau caráter... 

— Ele disse que tem nojo de mim mamãe... 

— Não chore Malu - David não resistia ver Malu chorar - Esse homem não merece que você sofra por causa dele. 

— David, ele é meu pai! Não acredito que ele pensa aquelas coisas de mim! 

— Filha, nunca ouviu dizer que não podemos exigir o que as pessoas não podem dar? Esse homem não pode ter bons sentimentos... 

— Gente, eu quero ficar sozinha.                             

— Mas filha... 

— Por favor. 

— Tudo bem. Mas pense que por mais que seu caminho pareça que tenha acabado por aqui, você pode continuá-lo optando sempre por ter esperança, depende da sua vontade. 


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Notas finais do capítulo

Obs.: Alguns medicamentos utilizados para o tratamento medicamentoso da AIDS.
AZT: Zidovudina
DDI: Didanosina
DDC: Zalcitabina
D4T: Estavudina



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