A Morte Também Salva escrita por TiaSebastiana


Capítulo 13
O começo da jornada sem rumo.




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Desci as escadas, encontrando Lunna na cozinha. Ela estava fazendo café.

— Bom dia. Vamos fingir para a nossa segurança e bem estar que nada daquilo aconteceu, ok?

— Você prometeu contar tudo.

Ela respirou fundo enquanto empurrava uma pilha de panquecas e uma xícara de café.

— Vamos ter bastante tempo pra conversar enquanto viajamos. Coma, eu vou arrumar minhas coisas.

Mal tive tempo de responder. Ela já tinha subido. Meti garfadas e mais garfadas de panquecas na boca, jogando geléia e mel por cima. Parecia o tipo de coisa que minha mãe faria. Suspirei tomando o café e mordiscando o último pedaço de panqueca. Eu... Nós iríamos salva-la de algum jeito.

— Agora... Só faltam as bombas... Três galhos de arruda, terra de cemitério... Acho que isso vai servir. Ninho de pássaros, corda de forca...

Lunna resmungava, colocando uma variedade enorme de coisas e potes dentro de uma bolsa.

— Pra que tudo isso?

— Você deve vencer um inimigo dentro do seu próprio terreno. Não se vence uma bruxa sem usar magia.

— Como você sabe tudo isso?

Agora ela colocava livros na bolsa, resmungando algo sobre decorar portais.

— Ah... Sua mãe me ensinou a maior parte das coisas... O resto peguei de livros. Por quê?

— Minha mãe sabia magia? O que mais eu devo saber? Você é imortal por acaso?

— Sim e sim. Sua mãe era do conselho, ela ajudava jovens ceifadores a começar na magia. Somos imortais, até completar nossos serviços. Quanto você come por dia?

— Isso não tem nada a ver! - Ela colocava comida na bolsa também.

— Maravilha! Vamos sair. Pegue a suas coisas. Temos que sair da cidade.

— Pra onde?

— Onde mais? Vamos salvar a alma da Marta!

Ela sorriu e saiu correndo pra fora, a chuva dançava a sua volta, sem tocar um fio de seu cabelo. Quando ela andava, parecia estar em baixo d‘água tudo tremulava lentamente a sua volta, como em câmera lenta. Mal conseguia acompanhar seus passos e sua explicação simples sobre o que faríamos. Eu viajava em cada curva de seu corpo.

— Vamos primeiro até a igreja de São Miguel, lá uma Guia vai abrir um portal pra nós e vamos ir até o submundo. Depois vamos procurar pela bruxa que invadiu o hospital e levá-la até a Ordem. Ela será julgada e queimada pelos seus crimes. Ai é só voltar.

— Por que eu vi uma memória sua Lunna?

Ela ficou em silêncio por longos minutos, encarando seus pés enquanto saiamos da cidade.

— Eu não sei. São fragmentos de memória. Não foi bem assim que aconteceu. Foi diferente, mas ao mesmo tempo. Igual um dejavú. Sabe?

— Acho que sei. É como os sonhos, sempre iguais, mas sempre diferentes.

Ela deu os ombros e continuamos nossa caminhada. A chuva tinha diminuído para uma garoa fina, o único som que eu podia ouvir era o chapinhar dos meus tênis no cascalho molhado. Os passos de Lunna não faziam som. Eu queria começar uma conversa, abafar aquele “climão“, mas tudo que eu conseguia pensar era na cena do meu sonho, Lunna nua ao meu lado. Eu estava indo para uma viagem ao submundo, sem rumo aparentemente, achar uma bruxa, para salvar a alma da minha mãe e eu só conseguia pensar em peitos. Eu queria abrir um buraco e...

— Cuidado com o que você pensa. Cada pensamento pode materializar matéria.

— Ham? Como... Eu não estava pensando em nada demais...

— Estava sim, seu rosto está vermelho.

Eu virei o rosto, fingindo estar lendo uma placa. Tínhamos chegado a Port Ville, a cidade vizinha.

Port Ville era tão fim de mundo quanto Huldalle, minha cidade. Todas as casas eram de uma mesma cor velha e chata, disputando espaço com várias e várias lojinhas que pareciam vender a mesma coisa. Lunna ia à frente, eu seguia seus passos. Olhares curiosos nos acompanhavam de janelas e sacadas. Eu sentia meu rosto corar. Será que parecíamos um casal?

— É aqui.

Eu tropecei nos meus pés antes de conseguir prestar atenção. Olhei a igreja que se impunha a nós, alta e silenciosa, cheia de segredos e de rachaduras.

— É meio... Velha não?

Eu ri da minha própria piada, meio sem graça. Lunna se limitou a olhar para mim, sem expressão alguma no rosto. Ela arqueou uma sobrancelha, provavelmente me julgando.

— Vamos entrar. Leaf logo chegará aqui, ela precisará de um tempo para preparar tudo. Eu a segui, passando pela porta imensamente velha e escura. Lá dentro o silêncio reinava, e as únicas luzes eram de velas que estavam no altar.

Lunna foi até o altar da lateral, onde uma grande imagem de Maria tinha uma bancada de velas só para si. Ela pegou um fósforo e começou a acender, uma a uma.

— Me conte sua história Lunna. O que fez você chegar até aqui? - Eu perguntei sem jeito.

Ela sorriu, sem tirar os olhos das velas.


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