Renegados escrita por Elentiya


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá, sejam muito bem vindos a minha história! É um prazer te ter por aqui. Este pequeno prólogo é a introdução para a real trama. É necessária essa parte para uma maior evolução de enredo.
Espero que tenham uma ótima leitura!



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Um cheiro fétido pairava nas proximidades do calabouço real; o mesmo cheiro repugnante, indescritível e inigualável da degeneração humana. Todos os guardas reais designados à ala sudeste da cidade costumavam ter um odor característico encravado em suas roupas e pele. Era um cheiro insuportável o que vinha dos confins do calabouço. Era o cheiro da morte, da podridão e da escória humana.

Dentro do enorme complexo, haviam dezenas de celas. Cada uma portando mais prisioneiros do que deveria realmente suportar. Eram normalmente dez prisioneiros por cela em uma capacidade de apenas cinco. Quando a prisioneira mais nova havia chegado, haviam duas celas sem prisioneiro algum, mas a mulher fora jogada dentro de uma cela com outras sete pessoas e o motivo disto, ela logo percebera.

Seis meses após sua prisão, a mulher havia emagrecido mais do que poderia sequer imaginar e o cheiro de sangue, fezes e esgoto a tomaram completamente. Sozinha em sua cela e com cadáveres apodrecendo do outro lado da parte na qual repousava, um barulho irritante a incomodou. O barulho de respingos, fossem eles de água ou de sangue, não cessava fazia minutos. Ou talvez horas. Estava muito escuro para descobrir a origem do ruído, mesmo que meses no escuro tivessem aguçado a visão noturna da mulher. O soar de cada pingo entrava em seus ouvidos como uma agulha, perfurando seu interior. Ela quase podia sentir o sangue quente escorrendo através de suas orelhas.

Uma pausa.

Os ruídos contínuos cessaram ao dar lugar a um outro tipo de barulho, algo mais agudo e espalhafatoso. Como se a poça tivesse sido desfeita.

Ao notar a aproximação de alguém, a mulher esboçou um enorme sorriso. E quando o brilho de uma lamparina iluminou sua vista, ela se levantou do chão e foi para perto das grades de sua cela.

— Poderia jurar que era um rato. Talvez seja pela semelhança que vocês da guarda tenham com um.

O homem que estava do outro lado das grades não esboçou reação alguma à provocação. Mesmo assim, a mulher continuou.

— O que é uma pena. Ratos dariam uma bela refeição! Estou enjoada de carne humana. Você também não concorda que esse tipo de carne é muito enjoativa?

O homem continuou com a mesma expressão fria e desinteressada de antes, mas finalmente abriu a boca.

— O que ganha neste calabouço é mais do que merece, e limpe esta boca imunda pra falar comigo ou sua língua virará comida de rato — Ela não retrucou desta vez. Havia uma diferença entre os guardas que visitavam o calabouço. Os que vigiavam os sentenciados e passavam seus dias inteiros dentro daquele buraco infernal, e os que traziam consigo sentenças de morte e de liberdade vindos do castelo. Os do primeiro tipo já estavam muito acostumados a pouca quantidade de luz para usar uma lamparina naquele lugar. Então ela já tinha em mente o que a esperava, o destino que estava apenas a aguardando.

O homem continuou.

— Por decreto de Vossa Majestade e dos interesses pessoais do mesmo, você será liberta em sete dias após seis meses de retenção. Um dos capatazes de seu antigo senhor virá busca-la. E ainda por decreto de Vossa Majestade, a próxima vez que um verme imundo como você for pego pela guarda real, o decreto de morte será sem aviso. Isso é tudo.

O guarda estava remoendo as palavras que havia acabado de dizer. O maior ódio de sua vida era o de anunciar a alforria de algum prisioneiro. Era como perder uma batalha. A sensação de derrota estampando sua face e escrevendo a sangue em sua testa a derrota era uma das piores sensações para o homem. Mas algo nessa prisioneira em especial o enchia de expectativa. Ela era uma mulher, uma praga colocada no mundo, e a espera pelo choro da redenção o deixava ansioso. Ele queria ver as lágrimas de alegria da mulher descerem ao saber que seria liberta. Queria sentir todo o sofrimento e a dor que ela passou durante todos esses meses na prisão descerem pelo seu rosto. Ele queria ver o modo que a liberdade era vista por ela. Ele queria saber o quanto de dor ela suportou. Surpreendentemente, após segundos e segundos encarando-a sem nenhuma reação exagerada acontecendo, ele a viu voltar quieta para onde antes estava sentada e se jogar no chão sujo e grudento. Tudo sem esboçar qualquer reação.

O homem cerrou as mãos até que a que não segurasse a luminária doesse com a pressão das unhas contra a pele. Ele jogou toda a sua frustração para dentro, virou-se na direção contrária a da mulher e começou a caminhar pesadamente para a saída daquele inferno.

— Eu vou achar você e vou te matar. Não sobrará parte alguma de seu corpo para mim ou para os corvos comerem. Seus restos mortais não passarão de cinzas e você pode ter certeza de que sentirá cada parte sua apodrecendo enquanto morre. Eu te caçarei no inferno se preciso. Esteja preparado.

O homem parou seus passos quando ela começou a falar. Aquele som gélido e direto e isento de emoções ecoava em seus ouvidos. Não parecia a mesma voz que ele havia ouvido antes. Não havia emoção, não havia dor, não havia alegria, não havia nada naquela voz além de uma frieza indescritível.

O homem virou sua cabeça em direção a cela já sem iluminação alguma, voltou-se novamente para as escadas da saída e continuou a andar sem preocupação aparente enquanto deixava murmúrios saírem de sua boca.

— Estarei esperando.

Com a saída do homem e sua iluminação, o complexo voltou a ter a total falta de claridade de antes. O silêncio impregnado com o prelúdio da morte era algo que imediatamente havia retornado; os únicos ruídos que o quebravam eram os de um barulho incessante de gotas batendo no chão de pedra dura e o ressoar de uma risada oca feminina.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler até aqui, sinto-me honrada! Qualquer dúvida, crítica, conselho ou elogio, fique a vontade em comentar! Opiniões são importantes!Até mais!