—Último ano em...

—É.

—Está ansiosa?

—Não.

—O que vai fazer na faculdade?

—Não sei.

— Sentiu saudades daqui?

—Nem um pouco.

—Nossa, como você está ogra. –Comenta Adrian em tom de brincadeira.

—Você que está estranho, o que são todas essas perguntas irritantes? 

Meu velho amigo dá uma risadinha enquanto eu rolo os olhos. A manhã estava irremediavelmente estranha, porem eu não esperava por menos.

—Mais um dia de aula...-Adrian comenta.

Eu sigo ao seu lado no corredor sem falar nada, apenas observo as pessoas me lançando olhares e cochichos, muitos ao qual eu nem mesmo sei o nome acenam em minha direção.

—Oh Rose. – Cumprimenta-me na porta a professora Martinez. – Bem-vinda de volta.

Professora Martinez sempre fora uma de minhas professoras prediletas, talvez sua matéria influenciasse algo – filosofia- eu adorava. Aparentemente ela continuava a mesma, o mesmo corte de cabelo, as mesmas roupas de tons claros e floridos e os mesmos óculos de armação duvidosa, ela parecia uma hippie, todavia, sua voz harmoniosa parecia cantar quando ela resolvia falar – o que ela fazia muito- pelo que me lembrava.

—É muito bom te ter de volta. –Ela diz.

Eu poderia responder facilmente algo como “Não estou tão feliz” mas decidi me manter calada quanto a meus verdadeiros sentimentos, eu não estava perfeitamente bem, duvidava que algum dia ficaria, gostaria de estar fazendo algum drama, mas naquele momento eu sabia exatamente o que era se sentir quebrada.

A classe não estava nem totalmente lotada, uma passada rápida com meus olhos pela classe fez eu identificar meu lugar de costume, ou que antigamente costumava ser meu. A primeira carteira em frente ao professor parecia bem convidativa, eu deveria voltar a me sentar lá? Naquele momento me senti um pouco deslocada, algo não se encaixava naquele meio do turbilhão adolescente, e aquele algo era eu. Mesmo assim caminhei em direção a carteira e me sentei lá, Adrian sentou na fileira ao lado e imediatamente me lançou com brilhante sorriso.

—Parece como antes não é. –Ele comenta.

—Não tanto, tem alguém no meu lugar. – Uma voz fina e melodiosa responde.

Eu desvio meus olhos do rosto sorridente de Adrian para encarar a figura brilhante de uma garota ao qual eu não me lembrava de conhecer.

—Tati, esse é o lugar da Rose. – Adrian fala para a garota de cabelos castanhos escuros.

Meus olhos avaliaram a garota de cima a baixo, eu realmente pude identificar com alguma surpresa que a garota se parecia comigo, cabelos castanhos escuros, quase a mesma altura, e seus olhos pareciam ser mais escuros, ferozes e amigáveis ao mesmo tempo.

—Quem é você mesmo? –Pergunto apoiando meu queixo em minha mão enquanto continuo a olhar a garota.

Surpreendentemente a garota sorri.

—Sou Tati. –Ela diz, imediatamente seu sorriso some. – E você está no meu lugar.

—Eu não vi o seu nome aqui em nenhum lugar. –Digo.

— Isso porque você acabou de chegar. – Ela rebate. – Mas esse lugar é meu.

— Uau. –Digo. –Quem é ela mesmo? – Viro perguntando a Adrian que solta uma risadinha antes de me responder.

—Ela sempre estudou com a gente, não se lembra?

—Hum...- Tento me lembrar da garota. – Acho que não, você é nova?

O rosto da garota parece fica instantaneamente vermelho e ela bate os pés irritada, penso ser um tique muito engraçado, realmente, éramos diferentes.

—Eu sentava lá no fundo, uma vez fizemos um trabalho de física juntas. – Ela responde.

—E isso foi quando mesmo?

A garota parece que vai ter um colapso.

—Na oitava série.

—Meu Deus menina, eu esqueço das coisas rápido, como ainda espera que eu me lembre? – Pergunto. –Tudo bem.

—Tudo bem o que? – Ela diz.

—Se esse é o seu lugar, eu vou sair. –Digo.

A expressão da garota rapidamente se transforma para uma total confusão.

—Não precisa disso Rose. –Intervém Adrian. –Tati pode se sentar lá no fundo.

—Tudo bem Adrian, é só uma carteira. –Comento enquanto me levanto pegando minha mochila.

A garota nem sequer agradece, senta em seu lugar – antigamente meu – e com um amplo sorriso em seu rosto começa a arrumar seus materiais na carteira. Eu rolo os olhos achando realmente engraçada tal cena, antigamente eu me parecia com ela? Mesquinha e frescurenta? Não posso deixar de pensar isso enquanto ando para a última carteira da fileira.

—Lissa! – A voz animada de Tati alegremente grita. –Que bom que você chegou!

Meu corpo se tenciona por completo enquanto eu giro em meus calcanhares para dar de cara com os brilhares e loiros cabelos de Lissa, seus olhos verde esmeralda me encaram e um amplo sorriso se abre em sua face.

—Rose! –Ela diz.

Minha mochila cai em cima da carteira, percebo que as classes agora lotadas por pessoas curiosas espionam o nosso reencontro. Lissa dá alguns passos em minha direção e eu continuo incapaz de dizer qualquer coisa, me sinto feliz por vê-la e morrendo de saudades, é como se parte de meus sonhos se tornassem realidade, como se seu enterro e tudo pelo qual passei fossem apenas fragmentos de um pesadelo infernal, mas infelizmente não era bem assim.

Vendo –a em minha frente fez com que a parede de vidro ao meu redor ruísse, novamente eu estava entregue aos sentimentos perturbadores de solidão, me afogando em um mar de magoas traiçoeiras.

O quanto temos que lutar para provar o qual forte somos? Eu estava cansada disso tudo, o que eu deveria fazer nesse momento? Abraçar Lissa, chorar ou sair correndo? A sala pareceu girar ao meu redor, sentei-me na cadeira e encarei a parede ao meu lado.

—Lissa, já chega. –Ouvi Adrian intervir por mim.

Lissa permaneceu em pé, podia sentir seus olhos em mim, mas o que eu poderia fazer? Eu já estava machucada demais para outra tentativa, naquele ponto eu só queria voltar ao espaço conhecido de meu quarto na pequena cidade junto a meus irmãos e mãe. Respirei fundo, eu já tinha passado por etapas piores, aquela era somente mais uma etapa difícil que desafiava minha coragem, se eu teria que lutar para ficar bem então eu já estava vestindo a armadura.

A professora bateu na lousa e imediatamente Lissa voltou a seu lugar, ao lado de Tati, seu antigo lugar. Fechei meus olhos fortemente enquanto ouvia as palavras da professora.

— Bem classe, hoje temos o prazer de ter nossas dedicadas e queridas alunas de volta após o incidente passado. – A professora continua. – E aproveitando essa linda vibe de boas-vindas, gostaria que vocês fossem gentis com o novo colega de vocês. Se apresente querido.

Eu abro meus olhos para ver sobre o que a professora falava.

—Oi pessoal, sou Dimitri Belikov.

Imediatamente nossos olhares se cruzam e um pequeno sorriso se abre na lateral de sua boca. Meu coração se acelera descompensado, o que ele estava fazendo aqui? Novamente as borboletas começavam a se misturar em meu estomago, meu corpo imediatamente se pôs nervoso e leve ao mesmo tempo, mas o que diabos estava acontecendo? Por que eu não conseguia me controlar quando o assunto era ele?