Meu cabelo está bonito. Não deveria, não depois deu quase ter colocado meus órgãos pra fora após vomitar tanto. Eu havia perdido a noção do tempo, havia bebido demais, não conseguia nem mesmo teclar um número no meu celular, os números estavam embaçados. Droga, onde estava Lissa quando eu precisava dela? Claro, ela havia viajado pra casa da tia em uma cidadezinha apagada do mapa, havia me abandonado pôr um longo mês.
Tropecei em meus próprios pés enquanto tantava andar por mim mesma, o som alto da música indicava que a festa estava longe de acabar. Suspirei e então um rosto apareceu na minha frente.
Olhos estranhamente castanhos claros me encararam.
— Bebeu demais em Rose.

—-

Acordei sobressaltada e decidi permanecer parada enquanto o coração se acalmava dentro do peito. Outro sonho, outra lembrança, droga, nenhum remédio parecia fazer mais efeito.
Já começava a anoitecer quando decidi levantar, eu havia caido em um bom cochilo enquanto minha irmã mechia no meu notebook, aliás, onde está Jade?

Corro meus olhos pelo quarto e não a encontro e então a porta se abre abruptamente.

—Eu estou aqui querida, Mamãe está aqui.

Os braços de minha mãe me rodearam forte, suspirei surpresa.

— O que foi? - Perguntei absorta.

Ela não precisou falar pra que eu soubesse, eu havia me rebelado durante os sonhos outra vez. Meu último piscicologo falou que isso ia acontecer, que as lembranças voltariam com mais força e com gritos, gritos de angústia.
"As lembranças não morrem, elas se escondem, muitas vezes tão bem que lembrar delas não é tão doloroso, outras vezes ela se coloca no repetir, e faz você reviver isso tão intensamente quanto a primeira vez." - Lembro do piscicologo ter dito.

— Você está com fome?

— Não. - Respondi

Uma grande bola se desmanchando em minha garganta.
Sabe, minha mãe nem sempre foi tão boa. Ouve uma época, tempos não tão distantes, onde a única coisa com que ela se preocupava era manter um fabuloso casamento com meu pai. Foi nessa mesma época que meu irmão Jaspe andou curtindo uns baseados e Jade andou com más companhias, que irônia, eu era a má companhia.
Mamãe era cega surda e muda, nosso pai a traía e todos nós sabíamos, inclusive ela própria, mas sua preocupação em desfazer a família perfeita passava por cima de tudo.

— Que música é essa? - Perguntei quando comecei a escutar um tique alto e ritmado.

— Nosso vizinho está fazendo uma reuniaozinha com uns amigos, e levou Jade e Jaspe para irem se enturmando com o povo da escola.

***

Tudo bem, respira Rose, É só respirar tudo vai dar certo. Posso enxergar as pessoas dentro da casa, o barulho continua e parece aumentar cada vez mais.
Respiro fundo mais uma vez, minhas pernas tremem mas me recuso a ser uma covarde.
Fico assustada em entrar em uma casa com adolescente bebendo, se divertindo e curtindo suas vidas perfeitas, não estou pronta pra isso e não quero encarar meu vizinho idiota. No entanto Creio que não há muita escolha pra mim já que minha irmã Jade e meu irmão Jaspe foram convidados para essa pequena reunião.
Não me engano, tenho certeza que minha mãe me enviou aqui na esperança de que eu de alguma forma me socializase.
Bato na porta.
Ouço passos e algumas falas animadas, risadas, a porta se abre. A garota de cabelos ruivos me encara, seus olhos são claros, no entanto, não posso identificar a cor deles, ela possui um sorriso travesso no rosto enquanto me encara. Minhas roupas simples parecem não agrada-la, pois ela torce o nariz em reprovação.

—Olá, sou a cassie. - Diz a Ruiva. - Veio pra festa?

—Vim buscar meus irmãos. --Digo sem ver a necessidade de me apresentar a garota.

Ela torce o nariz em reprovação novamente e ergue as sobrancelhas.

—E você é? - Pergunta.

Coloco as mãos dentro do bolso de minha jaqueta preta e a encaro, em seguida Escuto uma voz por trás dela que se aproxima.

— Quem está aí Cassie?

Não houve tempo para Ruiva responder, pois meu belo vizinho de olhos caramelo me encarava surpreso.

—Rose? - Ele Perguntou como se para ter certeza. - Não esperava ter ver.

Dou de ombros e seu sorrisinho se alarga. A garota Ruiva passa o braço ao redor dele e sorri.

— Então você é a Rose.

—Vim buscar meus irmãos. --Digo de supetao.

—Eles não estão aqui Lindinha, vai ter que esperar. - Disse a Ruiva.

—Como assim não estão aqui? -Perguntei

Dimitri se apressou em responder:

—Eles foram até a pizzaria da esquina com alguns de nossos amigos comprar algumas pizzas.
— Não é pra isso que servem entregadores? - Pergunto

Dimitri sorri cheio de humor, algo em seus olhos beirando a diversão, e por algum motivo eu tinha certeza que parte disso ele guardava para mim.

— Estão sem entregadores hoje. -Respondeu a Ruiva. - Você pode entrar e esperar aqui.

Balanço minha cabeça negativamente.

—Não obrigada, eu espero aqui mesmo.

A Ruiva dá de ombros e não insiste, é bem típico de seu jeito já conhecido por mim, ela não se importa, sou apenas a garota nova que nesse instante está atrapalhando sua festa, sei disso porque costumava ser exatamente igual a ela.

— Não precisa esperar aqui fora, está frio. -Insiste Dimitri.

Eu não o respondo.

— Deixa ela Dinka, vamos entrar. -Chama Cassie puxando seu braço.

Delicadamente Dimitri se desfaz de seu braço e lhe encara com um sorriso terno.

—Vá indo na frente e ligue o vídeo game, vou lhe dar sua revanche. - ele diz.

Cassie sorri tão largamente que posso ve-la soltando fogos de artifício, jogar vídeo game? Eles eram namorados? Possivelmente sim. Quando Cassie está fora de vista Dimitri dá mais alguns passos pra frente e fecha a porta atrás dele, está tão frio está noite que posso ver fumaça saindo da respiração de meu vizinho.

—Então...- ele começa. - Desculpe por hoje mais cedo.

Minha mente sôfrega retorna as memórias de minha gloriosa manhã. Um suspiro escapa por meus lábios.

—Tudo bem.-Digo.

Dimitri se aproxima aínda mais de mim e em um reflexo rápido pega minha mão, assustada pelo ato me Afasto imediatamente.

—O que pensa que está fazendo?

Dimitri parece assustado com minha reação.

—Eu só peguei na sua mão.

—Não encoste em mim. -Digo. - Eu nem te conheço.

E nem se conhecesse - penso.

— Pensei que você quisesse isso. -Ele diz. -Quer dizer, você vem fazendo toda essa pose de durona.

Fico estática, mas do que diabos esse garoto estava falando?

—Você é um idiota. - Digo o encarando mortalmente.

Ele sorri.

—Já me chamaram de coisa pior. -Diz.

—O que tá acontecendo?

Me viro aliviada ao escutar a voz conhecida de meu irmão Jaspe.

—Não é nada. -Digo. -Vim buscar vocês para irem pra casa.

—Mas já? -reclama Jaspe.

—Diga a mamãe que não precisamos de babá. - Interfere Jade com a voz irritada.

Rolo os olhos.

—Parem de chorar,vamos logo. -Digo me virando e começando a andar na direção de nossa casa.

—E quem é você? - Pergunta uma garota de cabelos bem cacheados ao lado de minha irmã.

Rolo os olhos e não respondo, não era da conta dela, mas ainda sim escuto Jade responder "Minha irmã mais velha."