Eu apertei meus olhos para claridade que adentrava o quarto. O sol parecia maravilhoso e esquentava minha face sem eu nem me mexer.

— O que aconteceu?

Eu abri meus olhos completamente procurando a voz familiar, até que encontrei meu pai sentado em uma cadeira próxima a porta.

—Foi você que abriu a janela? Deixa eu dormir mais um pouco. –Digo voltando a fechar os olhos.

Rapidamente as imagens dos acontecimentos recentes voltando a minha mente.

—Eu voltei né? – Pergunto mesmo sabendo a resposta.

Não precisava ser tão inteligente para contatar algo tão obvio, aquele não era meu quarto, e na noite passada eu havia visitado o tumulo de Lissa durante a madrugada, parando agora para pensar, Deus, eu deveria parecer patética, havia chorando a noite inteira e conversado com uma pedra, sem levar em conta dirigir perturbada no meio da noite.

—Precisamos conversar com Rose. –Ele diz.

Eu solto um gemido frustrado enquanto me cubro até a cabeça.

— Como soube que eu estava aqui?

—Sua irmã me ligou. –Ele diz. – E sempre que estava triste procurava Lissa...

Ele não precisava me lembrar dessa parte. Um cheiro de pão quentinho invadiu minhas narinas e lembrei-me que minha “madrasta” deveria estar em casa.

—Comida? –Perguntei.

—Sei que você não está bem filha, vamos conversar.

—Tem todinho aqui? Estou com vontade.

— Rose...

— Você comprou pão de queijo? Sabe que eu adoro né?

—Rose, pare de tentar desviar o assunto, precisamos conversar.

—Mas eu não quero. –Digo. –Eu não quero falar nada, eu não quero voltar para lá, então só me deixa está, por favor.

— O que te deixou assim? Eu nunca te vi assim, a não ser no enterro de Lissa. –Ele diz relutante.

Momentos de silencio se instalam no quarto e eu me sento na cama me espreguiçando e tentando tirar a atenção de cima de mim.

—A audiência foi remarcada para amanhã. – Ele diz.

Eu engulo em seco.

—Tão rápido?

—Eles conseguiram uma testemunha filha. –Ele diz. –Aquele cretino vai estar na cadeia por um bom tempo depois disso.

Eu fecho os olhos por alguns instantes com um peso saindo de minhas costas.

26 de março de 2014

As coisas estavam quentes.

Adrian tinha suas mãos em lugares impróprios, e não posso dizer que as minhas estavam diferentes.

—Rose...

—Hum?

—Você tem certeza?

A palavra piscou em minha mente em vermelho, o que estava acontecendo? Eu definitivamente estava pronta, mas algo apitava em alerta para que eu parasse, meu corpo ficou tenso e imediatamente Adrian parou e se afastou.

—Não vamos fazer isso. –Ele diz. –Temos que fazer isso com alguém que gostamos.

Eu suspiro profundamente.

—Você está caidinho pelo Sidney né.

Um sorriso sem graça escapa por seus lábios e eu rio esquecendo que a segundos atrás estávamos em um super amasso prestes a transar.

—Tudo bem Adrian. –Digo. –Vai atrás da sua donzela.

Adrian rola os olhos e dá um último beijo em minha bochecha.

—Ainda vai encontrar o seu príncipe Rose.

—Está mais para vagabundo. –Comento.

Adrian ri antes de sair. A música continua bombando e eu retorno para a pista de dança lotada que foi montada na casa de uma garota ao qual não me lembro o nome.

—Uma bebida?

Me assusto com a aproximação inusitada e dou de cara com Christian, ele ri e me estica a bebida, eu rio já meia bêbada e aceito o copo de sua mão tomando o liquido imediatamente.

—Onde está Lissa? –Pergunto varrendo a sala com os olhos.

—Foi pegar um ar. –Ele diz. –Daqui a pouco estará aqui.

Eu começo a dançar na batida, num momento está tudo bem, no outro as cores parecem se misturar, a música parece estranha e divertida, eu rio.

—Rose? – Alguém chama.

Eu estou dançando estranho, meus passos estão leves, sinto que posso voar e fazer qualquer coisa, no entanto, meu corpo cede e alguém me pega no colo.

—O que foi? –Pergunto.

Eu já estava completamente bêbada? Mas eu não havia bebido tanto assim, o que estava acontecendo?

—Lissa? –Eu chamo.

—Shiii. Está tudo bem Rose. –Diz Christian.

Seus braços quentes me confortam. Não sei para onde estou sendo levada, apenas que meu corpo vai ficando pesado e que minha mente volta a girar. Sinto uma superfície macia abaixo de mim, meus olhos se abrem e eu tento levantar, no entanto, alguém me impede.

Christian.

Estou sem meu vestido, sem sandálias, apenas de calcinha e sutiã, foi tudo arrancado de mim.

—O que você está fazendo? Me solta!

Christian me empurra e com uma de suas mãos prende minhas duas mãos acima de minha cabeça, ele bate em meu rosto e eu fico tonta. Ele arranca minha calcinha.

—Christian para por favor, porque você está fazendo isso? Para, por favor.

Christian parece não me ouvir, me sinto tonta e agoniada, fraca demais para lutar.

—SOCORRO! POR FAVOR, ALGUÉM ME AJUDA!

Christian me penetra fortemente de uma só vez, eu grito de dor, uma lágrima escorre de meu rosto, eu me debato e continuo gritando até que a porta é aberta.

—Socorro, por favor alguém me ajuda! – Eu grito com a visão turva tentando me soltar.

Christian recua.

—Lissa. –Ele sussurra.

Eu me ajeito na cama me encolhendo toda dolorida vendo no lençol claro uma enorme mancha vermelha.

Lissa sai correndo, Christian mal me encara e sai correndo atrás delas após abotoar as calças. Lágrimas escorrem por meu rosto, estou dolorida e tonta, sinto que vou vomitar e cair no chão. Meu cérebro pensa rápido, e se Christian voltar? Reúno forças e troco-me rapidamente, saio do quarto e corro em direção a saída.

Caminho descalça pelo escuro da rua sozinha, a cada passo uma lágrima. Não sei onde foram parar meus sapatos, ou celular, cambaleio para lá e para cá, sentindo-me um pedaço de merda.

Quando chego em casa não há ninguém para me receber, papai está “trabalhando” ou melhor, jantando em algum lugar chique com a amante, mamãe deve ter saído com as amigas, e meus irmãos deviam ter saído com seus amigos. A empresa se assusta quando eu entro em casa.

—Senhorita, o que houve, porque está sangrando?

Eu não respondo, apenas subo para meu quarto e caio na cama sem forças.