Eu não fazia ideia do porquê Dimitri me irritava tanto, mas ao mesmo tempo me sentia reconfortada com sua atenção, o que me deixava meio perplexa com meus próprios pensamentos e confusa quanto a todos meus sentimentos.

Batuquei com meus dedos na tela do celular enquanto mordia a bochecha indecisa, eu deveria responder? Mas e se no caso eu respondesse e ele achasse que temos algum tipo de relação de amigos? Eu não queria envolve-lo nisso, eu não queria traze-lo para esse buraco negro que havia se tornado a minha vida.

Decidida, coloquei o celular sobre a cama e sai do quarto tentando manter a maior distância possível do celular tentando manter minha vontade de responder controlada. Após descer as escadas fui pega de surpresa por Jaspe dançando ao som de Bruno Mars na sala. Jade se dobrava de rir no sofá e mamãe observada tudo sentada no sofá oposto.

—Estão dando uma festa sem mim?

Jade para de rir e se vira em minha direção.

— Jaspe está dando um show! –Ela diz empolgada.

Jaspe corre em minha direção oferecendo-me a mão e eu recuso.

—Acabei de acordar, não quero dançar. – Digo.

Jaspe revira os olhos me puxa mesmo contra a minha vontade. Jade com o controle remoto muda a música novamente e quando percebo eu e Jaspe já estamos dançando ao som de fifth harmony como dois loucos. Desta vez, mamãe está rindo enquanto nos observa, e percebo a grande quantidade de tempo que faz que não danço divertidamente daquela forma.

Eu giro pela sala abrindo meus braços, a preocupação some como se nunca houvesse realmente existido e eu pego-me sorrindo. A bolha que me cercava e afastava das pessoas parecia mais frágil agora, perto de estourar, e eu não sabia ao certo se isso deveria me deixar aliviada ou temerosa.

Quando finalmente sento-me no sofá e relaxo minha mãe fala:

—Vocês vão sair hoje para jantar com o pai de vocês.

A música parece alta e barulhenta agora para o novo silencio que se estabelece no local.

—Eu não quero ir. –Diz Jade.

Eu respiro fundo.

—Vai ser meio ruim, mas eu acho que a gente consegue. –Diz Jaspe olhando para Jade.

Não sei muito o que pensar, meu pai havia estado aqui a não muito tempo e me avisado que uma audiência havia sido marcada, eu não tinha escolha, o passado sempre volta para detonar o nosso presente. Creio que fugir não seria a melhor das hipóteses, eu deveria me mostrar forte e recuperada, se eles por acaso percebessem que eu estava com medo minha ruina começaria ali.

—Hum... vamos as notícias boas. –Diz minha mãe quebrando o silêncio incomodo. – Nossos vizinhos nos chamaram para almoçar. 

Levanto minha cabeça para encara-la e levanto uma das sobrancelhas de forma questionadora, ela dá de ombros.

—Eles foram tão educados, não havia como recusar o pedido, principalmente sendo feito por alguém tão cavalheiro como Dimitri.

Penso que Jade vai falar algo, no entanto, ela permanece muda.

—Cavalheiro onde? – Pergunto.

Jaspe ri.

—Eles não se suportam mãe, tem que ver como Rose o trata na escola. –Ele diz.

—Rose!

—Que é? –Pergunto. –Ele me irrita.

Minha mãe solta um longo suspiro exasperado e se levanta.

—Comam alguma coisa, o almoço é ás duas.

****

O dedo de Jade aperto a campanhia como em um filme de câmera lenta, nos instantes seguintes tudo pareceu como em um perfeito filme de família. A senhora belikov nos recebeu com um lindo sorriso e nos convidou a entrar, a casa deles era belíssima, e possuía diversos porta retratos nas paredes.

—Quantas fotos. –Murmuro observando a parede.

As fotos não eram somente de pessoas, haviam diversas delas que eram de paisagens sem igual, belíssimas.

—Ele adora fazer isso. – Senhora belikov comentou em tom de admiração.

—Ele? –Pergunto.

—Dimitri. –Ela diz como se fosse obvio.

Dou um sorriso amarelo e sigo o resto de minha família para a sala, na mesma, algumas malas estão no canto fazendo aguçar minha curiosidade.

—Vai viajar senhora Belikov?

A mulher me sorri docemente.

—Não querida, são apenas as malas de minha irmã. Ela foi dar um passeio e acabou que nem mesmo guardou suas coisas. –Ela se explica com um tom de desculpas. –DIMITRI! – Ela chama.

Trajado com calças de moletom e uma blusa branca colada Dimitri emerge de um dos corredores da casa com um livro em mãos. Eu nunca pensaria que meu vizinho fazia do tipo de garotos intelectuais, mais puxa vida, ele parecia a coisa mais sexy e fofa que eu já tinha visto. Ele tirou seus olhos do livro e nos encarou, em seguida seus olhos repousaram em mim e eu os desviei.

—Oi gente, desculpem a minha falta de educação, nem mesmo escutei a campahia tocar. –Ele diz.

—Tudo bem. –Digo. –Não viemos para ver você, viemos pela comida.

Jaspe cai na gargalhada e minha mãe me dá um leve beliscão no braço confirmando que eu havia pego um pouco pesado.

—Desculpe Olena, Rose só está brincando, ela é uma ótima piadista, não é filha?

—A melhor de todas. –Respondo ironicamente.

Mamãe me encara meio chocada, meio irritada. Percebo que Olena sorri divertida e Dimitri também, o mesmo cruza os braços fazendo alguns de seus músculos se tencionarem obrigando-me a encara-lo. Respiro fundo e pisco, olho para longe.

—Tudo bem então espertinha, vou te dar comida. –Ele diz enquanto me chama com um dedo.

Me sinto nervosa. Olena ri e me incita a seguir Dimitri, enquanto o resto de minha família se acomoda na sala.

—Não tenho o dia todo Roselinda. –Diz Dimitri.

—É Rosemarie.-Digo.

Ele revira os olhos e eu o acompanho.

Vamos pelo corredor contrário a que ele veio e paramos em uma enorme cozinha, com uma grande mesa de centro de vidro. Dimitri indica uma cadeira para que eu me sente, e eu o faço. Em seguida ele abre a geladeira e tira de lá uma linda torta de limão. Eu pisco encantada com a beleza torta enquanto ele a coloca na minha frente.

Meu vizinho parte um pedaço e coloca em meu prato, não estava com tanta fome mais ao sentir o maravilhoso doce em minha boca, meu estomago mudou completamente de ideia. Dimitri observa-me calado, e eu finjo ignorar o desconforto que isso me causa. Quando acabo ele sorri e pergunta:

—Estava boa?

Eu assinto positivamente.

—Tão boa, que eu poderia comer umas três sozinha. –Comento.

Ele ri.

—Não sei não, acho que você não aguentaria. – Ele zomba me olhando de cima a baixo.

—O que? –Pergunto perplexa. – Claro que aguentaria!

Ele dá de ombros.

—Então prove.

—O que?

Ele aponta na direção da torta.

—Vamos fazer uma aposta. Se está tão confiante, vai topar. –Ele diz. – Coma a torta toda e eu vou realizar um desejo seu.

—Um desejo? –Pergunto.

—Sim, o que você quiser.

—Qualquer coisa?

—Qualquer coisa.

Penso momentaneamente na proposta.

—E se eu perder? – Questiono.

Ele sorri malicioso.

—Vamos dormir juntos.

—O QUE? – Levanto-me de supetão.

Ele cai na risada.

— O que foi? Não está mais tão confiante senhorita Rosemarie?

Nego com a cabeça.

—O que você está propondo é ridículo!

Ele ri.

— Estou propondo algo semelhante a uma festa do pijama, filmes, sorvete, essas coisas de menininhas frescas que vocês fazem.

Enrugo minhas sobrancelhas confusa e ele me encara malicioso.

—Por que senhorita Rosemarie? Você por acaso tinha pensando em alguma coisa maliciosa? O que se passa dentro dessa sua mente poluída? 

Eu o bato e ele cai na risada novamente como se houvesse acabado de escutar algo muito engraçado. Me sinto envergonhada por ter pensamentos tão íntimos com Dimitri, mas também não tenho certeza se sua ideia de “Dormir juntos” é realmente correta. Penso e chego a uma conclusão, eu iria conseguir comer aquela torta, e no final, o cretino me deveria um favor, eu sairia ganhando.

—Eu aceito. – Digo.