—Desculpe se me preocupo com você! –Ele diz irritado.

—Hey, não pedi pra se preocupar comigo! –Ralho- Não pedi pra ser meu amigo, eu só queria ficar em paz e olha onde estou agora!

Meu coração bate acelerado com as palavras cuspidas por minha boca, já não sei se posso mais voltar atrás com o que disse e me sinto frustrada por não poder fazê-lo.

—Você não é obrigada a estar aqui.

—Você não sabe nada sobre mim, não aja como se me conhece a toda uma vida.

Dimitri levanta sobressaltado e passa a mão por seu cabelo em um evidente sinal de nervosismo, eu levanto junto pronta para abandona-lo e seguir para um lugar vazio, mas seu braço me agarra impedindo que eu continue.

—Eu gosto de você. – Ele sussurra.

Suas palavras fazem minha cabeça girar. De repente sinto-me alheia a todos os problemas perturbadores de minha vida, apenas sobra o pó de suas palavras que se impregnam em minha mente. Sinto o calor de seu aperto em meu braço e um leve formigamento presente no local, minha respiração falha mais de uma vez e rezo para que não seja percebido por ele.

—Te deixei sem palavras? Isso é um Recorde! – Ele diz com humor como se não houvesse acabado de balançar todo o meu mundo.

Eu gostaria de poder virar as costas e sair, mas minhas pernas não se moviam. Eu me sentia falha e não conseguia pensar em nada coerente o suficiente para responder, como dizer para ele que não deveria gostar de mim? Meu coração já fora pisoteado o suficiente para ser encharcado de amor.

—Não goste de mim.

—O que?

Eu respiro profundamente.

— Não goste de mim, por favor. –Peço me soltando de seu braço.

Meus pés se movem rapidamente para o lado oposto de Dimitri, o lado da rua, e quando percebo já é tarde demais para parar. As luzes me cegam a ponto de meus olhos arderem enquanto a buzina alta que assombra meus sonhos à noite, agora me apavora na realidade. Será que ela se sentiu assim? Será que antes do carro bater ela pensou em como as pessoas que ela amava ficaria?

Esperei pelo impacto iminente e ele veio.

Meu corpo passou ralando pelo chão, mas eu não tinha sido atingida. Algo quente e forte me segurava me mantendo presa ao gelado asfalto.

—Você está bem?

—Você tem me perguntado muito isso hoje. –Murmuro para Dimitri.

Seu corpo de frente para o meu causa-me arrepios profundos. Ouço uma batida de porta alta e logo um homem está ao nosso lado levantando – ou melhor- tentando levantar Dimitri.

—Vocês estão bem? Crianças! Não deveriam ficar na rua essas horas, você tem que ter mais cuidado. –Disse o homem esbaforido. – Vocês querem ir para o hospital?

Dimitri me levanta sem nem eu mesmo pedir e rapidamente me vejo de pé sendo sustentada por ele. Meus olhos passam por seu corpo e respiro aliviada quando não identifico nenhum machucado, no entanto, meu vizinho me encara em desaprovação.

—Vamos para o hospital sim. – Ele diz para o homem ainda sustentando meu peso.

—Não, estou bem. –Digo.

Mas não tenho certeza absoluta.

Dimitri me solta e imediatamente minhas pernas falham e eu fraquejo em direção ao chão, Dimitri me pega antes que eu possa cair.

—Você está em choque. –Ele diz. – Tudo bem, não vamos para o hospital, mas eu vou cuidar de você.

Eu reviro os olhos.

—Jura? Vamos brincar de médico agora?

Dimitri levanta uma sobrancelha em minha direção de forma maliciosa e rapidamente dou-me conta do que acabara de falar.

O homem do carro parece aliviado que não vamos a policia ou algo do tipo.

—Desculpem. –Ele diz prazeroso. –Eu já vou indo se está tudo bem.

Dimitri assente confirmando e não espera o homem se retirar, apenas continua a carregar a maior parte de meu peso enquanto caminhamos de volta para a barulhenta festa.