— Como você está?

—Você sabe como me sinto, não vejo a necessidade de ter que lhe explicar isso todas as vezes que nos encontramos.

O homem de cabelos já grisalhos não sorri, ignora minha fala como se nunca a tivesse escutado e prossegue.

—Como anda a nova escola?

É irritante ser ignorada, sentir que minha voz não possui qualquer poder significativo, mas respiro fundo e me controlo. Sinto-me presa a essa cadeira como nunca mas torno a lembrar que minha liberdade condicional está próxima, e qualquer vacilo poderia mandar-me de volta para o exilio. Creio que não tenho escolha, mas não é como se algum dia já tivesse dito. Meu piscicologo não é tão ruim, o problema não é ele, sou eu. 

—A escola é normal. -Respondo com um tom de monotomia na voz.

Dr.Júlio me observa, gostaria tanto de poder ler sua mente e decifrar por trás daqueles olhos escuros cheios de significado, mas não posso, e retorno novamente a meu caso seu rumo. 

—Fez algum amigo?

—Não.

— Gosta das suas aulas?

—Não tenho certeza, tive meu primeiro dia hoje.

—Entendo. -Ele murmura. - É muito satisfatório ver como você evoluiu em tão pouco tempo. 

Eu não chamaria de evolução, talvez uma aceitação precoce seria o termo mais adequado para minha real situação, talvez aceitar que eu era um caso perdido havia me ajudado a superar os fantasmas que me assombravam enquanto eu dormia.