InFamous: Sombras do Passado escrita por Stravinsky


Capítulo 8
Nos telhados de Seattle




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/673907/chapter/8

Delsin acorda em um salto do sofá de seu apartamento, praticamente caindo no chão ao ouvir o seu toque de celular. O condutor esfrega o rosto, apanha a touca caída no chão e a colocando de volta na cabeça, tentando se situar. Quem o ligava pelo celular era um número que o condutor não conhecia e mesmo com receio, ele atendeu, mostrando sua voz de cansaço.

         - Sim? Quem é?

         - Não me diga que você recém acordou!

         - Sim, eu acabei de... Hã... - cansado, o condutor tenta pensar com quem ele estava falando. - Quem... Quem está falando?

         — Quem você acha que é, seu idiota?

O condutor se deu conta. Pelo jeito como a pessoa havia o chamado...

         - Tess? - ele se senta no sofá. - Tess, é você?

         — Quem mais, idiota? - a garota parecia ter dado uma risada no outro lado do celular.

         - Como conseguiu meu número? E porque está me ligando tão cedo?

         — Tão cedo?! - Tess suspirou negativamente. - Primeiro, Ben me deu seu número ontem, depois daquilo que podemos chamar de festa, e segundo... Já passa das 10 horas. Quase 11 horas!

         - Onze horas?! - Delsin olha o relógio que havia em cima da porta e vê o horário. Eram 10:48. O condutor estava atrasado em quase duas horas. - Maldição, meu despertador não funcionou! Tess, me dê 10 minutos! 10 minutos e eu estou ai!

         — Não precisa se apressar. Os caras estão colocando os novos vidros aqui no apartamento, então não precisa correr.

O condutor desliga a ligação e percebe o estado do apartamento. Garrafas de cerveja por todo o lugar, assim como os móveis bagunçados e caídos no chão, sendo que ele estava dormindo no sofá e coberto pelo casaco de Fetch. O perfume daquela filha da mãe era muito bom e ele não lembrava de quase nada. A única coisa que veio da sua cabeça foi o fato de ele ter perdido os poderes.

         - Será... Será mesmo que eu perdi todos os poderes?

Ele se levanta, cambaleando e cai no sofá novamente, arrumando a touca. Finalmente ele consegue se manter de pé e coloca o telefone no bolso, se espreguiçando. Ainda querendo saber como o despertador não havia funcionado, o condutor apenas soltou um profundo suspiro e olhou para Seattle, pela janela.

         - Só tem um jeito de saber e como eu estou atrasado, melhor usar um sistema de transporte mais rápido do que a fumaça.

Delsin abre a porta do apartamento, recebendo o ar frio de Seattle no seu rosto e a visão da torre do canal seis. Ele corre as escadas abaixo e ao chegar no térreo do prédio, encontra um letreiro de neon no bar que havia do outro lado da rua.

         - É melhor que isso funcione.

Ele vai até o letreiro, espera que a rua ficasse completamente limpa e erguendo a mão, absorveu o neon que havia na placa, sentindo o poder que percorria seu corpo. Não, ele não havia perdido os poderes.

         - É isso ai, garoto! Delsin Rowe está de volta! E agora, ver a minha garota...

Assim, o condutor sobe o prédio com o neon e indo já em direção do centro de Seattle, onde Tess o esperava para mais um dia. O que poderia acontecer de mal?

Tess observa os homens trabalhando para colocar os vidros no apartamento e vai para a rua, onde percebe que o carteiro havia recém colocado algumas correspondências na caixa de sua casa. Ao carteiro ir embora, a garota observa o que havia lhe deixado, incluindo o jornal do dia atual. Entre os pertences, acaba encontrando o jornal do dia passado, que seu pai havia esquecido de pegar ao sair para o trabalho e o pega, querendo o levar para a lixeira da frente. Enquanto leva o velho jornal, ela abre o jornal de hoje e lê alguma noticia nova que tinha, vendo que não havia nada novo. Ao colocar o velho jornal na lixeira, ela abaixa o jornal e enxerga alguém vindo em sua direção.

         - Ei! Você ai! - disse o ser. - Você, garota ruiva!

Era um soldado. Um soldado militar. Haviam militares em Seattle. Sabendo do perigo que isso poderia levar, a garota acaba abaixando o jornal e começa a andar para trás, com medo do soldado.

         - Espere ai! - dizia o soldado. - Eu preciso conversar com você!

Ela derruba o jornal no chão e coloca as placas de identificação para dentro da camiseta, tentando impedir que ele as visse. Acaba que Tess vai indo cada vez mais para trás e sem querer, bate em alguém e assustada, ela começa a caminhar, rapidamente, de costas em direção a rua.

         - Tess? - havia sido em Delsin que a garota havia batido.

         - Ei! - o soldado continuava a vir em sua direção. - Garota, pare!

Sem que Tess perceba, ela já estava no meio da rua e com um carro muito próximo a ela. O soldado percebe que a garota iria ser atropelada e tenta correr até Tess, que percebe o carro e a única coisa que pode fazer foi gritar e tentar se proteger. Do nada, um raio de neon a salva, a levando para o outro lado da rua, deixando o soldado confuso. Delsin, com Tess em seus braços, observa a cara do soldado, que ao perceber que ele era um condutor sai correndo, longe do apartamento da garota.

         - Bom, isso vai o manter afastado por um bom tempo. - disse o condutor. Delsin olha Tess, vendo que a garota tremia e não abria os olhos. - Tess? Tess? Pode abrir os olhos, você está segura.

A garota, respirando rapidamente, abre os olhos e percebe que estava nos braços de Delsin, começando a surtar.

         - Me larga, seu... Seu... - Tess se debatia contra Delsin.

         - Ei! Ei! - Delsin a segurava, enquanto a garota tentava escapar dos braços do condutor. - Fui que eu te salvei! Isso é algum agradecimento?

         - Me coloca no chão que eu penso sobre isso!

Delsin a coloca no chão e imediatamente, a garota começa a se ajeitar, arrumando os longos fios ruivos que estavam completamente bagunçados e percebendo que realmente eles estavam no outro lado da rua de seu apartamento. Ela suspira profundamente e se acalma, vendo que Delsin ria dela.

         - Ok, eu não estou morta. Eu não estou morta. - Tess repetia para si mesma várias vezes, enquanto Delsin a encarava. - Eu não estou...

         - Se acalme, por favor. - Tess encarou o condutor. - Onde está meu agradecimento por ter salvado sua vida?

         - Olha, eu realmente agradeço por você ter feito isso, mas...

         - Espera ai, quero te mostrar algo.

         - O que? - Tess perguntou, sem entender.

Rapidamente, Delsin a pega no colo novamente e usando o neon, a leva por toda Seattle, subindo em um dos grandes prédio, que era menor que o Obelisco e parou para olhar a vista, enquanto Tess descia de seus braços e se agarrava na parede. O condutor foi até a ponta do prédio, observou Seattle e respirou a forte correnteza de ar que passava por ali.

         - Não é uma linda vista, Tess? - Delsin riu e olhou para a garota, que assustada, estava agarrada a parede. - O que foi? Você tem medo de altura? Pensava que militares não tinham medo de nada!

         - Posso ser militar, mas sou um ser humano e qualquer um tem seus medos! Me tira daqui agora, Delsin! - gritou Tess, vendo que estava tremendo e com medo.

         - Eu te tiro, mas quero te mostrar mais um lugar que tem uma vista linda, ai depois eu te levo de volta para casa. - o condutor cruzou os braços.

         - Ficou maluco?! Me tira daqui agora!

         - Ok, fique ai e eu venho te buscar mais tarde.

         - Não ouse me abandonar aqui, Delsin Rowe! - Tess gritou ao perceber que Delsin se preparava para descer o prédio.

         - Então, vai vir comigo ou não?

Sentindo o forte vento no seu ouvido e ainda tremendo, Tess observa Delsin esticar a mão para ela e hesitando, a garota aceita a proposta do condutor.

         - Ok, se segure no meu pescoço. - Delsin colocou os dois braços de Tess ao redor de seu pescoço, sentindo que a garota apertava forte. - Feche os olhos se quiser, mas não solte suas mãos de jeito nenhum!

Tess fecha os olhos e sente que Delsin havia se transformado em neon, andando pelos prédios de Seattle. O neon vai se afastando do apartamento de Tess, indo em direção ao Obelisco Espacial e subindo a grande estrutura. Ao chegar no topo, Delsin olha para a garota, que de olhos fechados, não percebe aonde estava.

         - Tess? Chegamos. Abre os olhos.

Devagar, a garota abre os olhos, percebendo que conseguia ver toda a ilha Sul de Seattle e o resto da cidade, sendo que estava no topo do Obelisco Espacial.

         - Nossa... - Tess solta o pescoço de Delsin e dá alguns passos para a frente, observando a bela vista. - Que lindo...

         - Não disse que você ia gostar?

         - Nunca pensei que Seattle pudesse ser tão linda...

         - Vem aqui, aqui em cima é melhor ainda. - Delsin sobe em uma grande elevação aonde ficava o poste com a bandeira do D.U.P. e agora não havia nada, ajudando a garota a subir. - O que acha?

         - Acho que consigo ver Portland daqui.

         - É bem possível. - ele riu. - Quer ficar aqui um pouco mais ou já quer voltar para casa?

         - Os caras devem estar lá ainda, acho melhor ficar aqui. E além do mais, quero observar mais um pouco dessa vista.

Tess se senta, junto com Delsin, sendo que ambos estavam um pouco afastados. A garota cruza os braços e se apoia nos joelhos, enquanto o condutor a observa e pensa em tudo que eles haviam passado até agora. Ele podia mal conhecer Tess, podia a ter conhecido fazia alguns dias, mas aquela garota havia mexido tanto com ele que parecia que eles já se conheciam fazia tempos. Seja qual fosse seu problema, ele queria estar perto dela e a ajudar. Será que ele havia se apaixonado por aquela militar chata e irritante?

         - Então... Você gostou da Fetch? - Delsin arriscou.

Tess riu ao ouvir a pergunta.

         - Acho que foi ela quem não gostou de mim.

         - Ela é legal, perde o controle muito rápido, mas é legal. - o condutor ri. - Ela agora viu que gosta de alguém e quer ficar com ele.

         - Quem? Você? - Delsin balançou a cabeça negativamente, rindo. - Eugene?

         - Não! Eugene é como um irmão para ela. Ela gosta do Ben.

         - Ben...

         - Ela tinha ciúmes porque pensava que ele gostava de você.

         - Ben é praticamente meu irmão. E eu... Eu... - ela volta a olhar a paisagem. - Eu gosto de outra pessoa.

         - E você sente falta de alguém?

         - Eu sinto falta do Jonah. - ela colocou a cabeça em cima dos braços e Delsin percebeu que a pergunta havia mexido com Tess. - Lembra daquele condutor que é meu melhor amigo? Da foto? Ele é o Jonathan, mas a gente chama ele de Jonah. Meu ex-namorado.

         - E se vocês ainda gostavam um do outro, porque terminaram?

         - Não tivemos opção. Depois do que aconteceu em Washington, não podíamos mais ficar juntos e... E acabamos terminando.

         - Ele era condutor do que?

         - Vidro. - Delsin nunca tinha conhecido nenhum condutor de vidro.

         - E... E você nunca teve medo que ele te machucasse?

         - Medo? Ele tinha medo de me machucar. Eu era algo tão precioso para ele, que certas vezes ele tinha até medo de me abraçar. Depois que ele perdeu os poderes, até ficou mais fácil.

Delsin parou e pensou se tinha ouvido certo.

         - Ele perdeu... Os poderes? - o condutor parecia não acreditar. - Mas como?

         - Eu... Eu não quero entrar em detalhes, o que você precisa saber é que ele não é mais um condutor.

Novamente, ambos voltaram a olhar para o horizonte e deixaram apenas o som do vento indo e voltando em seus ouvidos. Delsin entende que a garota estava se abrindo aos poucos e decidiu dar um tempo.

         - Ei. - Tess olha para o condutor. - Deita aqui um pouco. Dá para ver no seu rosto que você ainda está assustada de tudo.

Tess riu e foi se aproximando do condutor, deitando em seu ombro. O condutor coloca seu braço ao redor do pescoço da garota e se encosta em sua cabeça. Delsin queria fazer isso há muito tempo e parecia que finalmente ambos poderiam ficar sozinhos, sem outros condutores ou militares.

         - Delsin?

         - Sim?

         - O que você faria se descobrisse que estão todos atrás de você? E que todos os seus amigos também querem te perseguir?

Delsin parou e pensou na pergunta. Havia alguém ou algo atrás de Tess e Nicholas, sendo essa a razão de tantas mudanças ao longo dos anos. O condutor olha para a garota, suspira profundamente e volta a admirar o horizonte.

         - Eu não sei. Mas saiba, se alguém quiser prender você e o Nicholas, eu não vou permitir.

         - Você promete?

         - Sim, eu prometo e juro, Tess Wright.

O neon vai descendo do Obelisco Espacial, caminhando por toda a rua, até que chega no estacionamento do apartamento de Tess e Delsin pára, vendo que a garota continuava agarrada ao seu pescoço. O condutor riu ao lembrar do que havia feito e tira as mãos de Tess de seu pescoço, a colocando no chão.

         - Bom, isso foi divertido! - o condutor ria. - Fazia tempos que eu não me divertia tanto assim! O que achou?

Tess cruzou os braços e olhou feio para Delsin, lembrando do medo que o condutor a havia feito a sentir. Vendo que Delsin não parava de rir, Tess acabou abrindo um sorriso no rosto, vendo que também havia sido engraçado tudo.

         - Ok, eu admito, Delsin. Foi legal e parece que os caras que o Ben chamou já colocaram o vidro. Ainda bem que o pai pagou eles adiantado. - o casal ficou se encarando após a fala da garota, percebendo o quanto aquilo havia os aproximado. - Obrigada por ter me mostrado Seattle e... Por ter me salvado do carro.

         - Eu não podia deixar você ser atropelada e nem ser pega por aquele militar. Seja lá o que ele queria com você. - Tess sorriu para o condutor e foi nesse momento que algo veio a sua cabeça. Ele se virou para o canteiro vizinho e encontrou várias belas rosas vermelhas, tirando uma e entregando a Tess. - Creio que isso pode combinar com seu quarto e ir naquele vaso vazio ao lado da foto da sua mãe.

         - Como você lembrou? - ela perguntou, pegando a rosa.

         - Eu presto atenção nos pequenos detalhes de cada lugar.

Tess observa a bela rosa, tão viva e tendo uma cor tão forte. Não havia mais dúvidas. Ambos gostavam um do outro e demonstravam aos poucos isso. Cada um tinha uma personalidade diferente, mas isso não iria impedir que eles gostassem um do outro. Delsin queria a proteger de tudo que pudesse a ameaçar, não importando se ela contasse ou não seu segredo e Tess nunca tinha tido alguém que a protegesse tanto quanto seu pai e Ben, querendo que ele ficasse ao seu lado sempre. Eles haviam realmente se apaixonado.

         - Obrigada, Delsin. - ambos estavam se olhando, quando alguém aparece atrás do condutor e a garota nota. - Ei! Oi Eugene!

Delsin se virou para trás, vendo Eugene, parecendo preocupado.

         - Ei, Tess! - Eugene se virou para Delsin. - Delsin, precisamos da sua ajuda. Vimos alguns comboios e soldados andando por Seattle. Eles pararam aqui perto do Obelisco.

         - Do Obelisco? - perguntou Delsin, se lembrando de que o casal haviam estado lá não fazia muito. - Mas eu acabei de voltar de lá e não tinha nada. Bom, eu pelo menos não vi nada disso.

         - Ainda sim, não sabemos o que querem. - Eugene olhou para Tess. - Pelo o que Fetch disse, são militares.

Tess pareceu preocupada com o Eugene havia acabado de falar e Delsin notou a mudança repentina do rosto da garota.

         - Ok, eu já vou com você, só... - Delsin pensa em Tess. - Só me dá um minuto.

Eugene se afasta um pouco e deixa o casal a sós. Delsin volta a olhar Tess e suspira negativamente, não querendo ter que se afastar da garota.

         - Me desculpa por isso. - Delsin socou os punhos. - Você vai ficar bem sozinha aqui?

         - Mas é claro, Delsin. E não se preocupa com isso. Te vejo amanhã?

         - É, te vejo amanhã.

Assim que Tess volta a olhar para a rosa, Delsin toma coragem e beija o rosto da garota, que a deixa sem jeito. A garota parecia estar queimando por dentro, uma sensação boa que fazia anos que não sentia. O lugar aonde Jonathan ficava estava sendo substituído por Delsin Rowe e ela iria aceitar na boa. Ela olha Delsin a acenar, enquanto caminhava de costas em direção de Eugene, percebendo que ele também estava sem jeito. Eugene bate o ombro de Delsin, fazendo que o condutor voltasse a realidade e virasse para seu lado.

         - Você gosta dela, não é? - Eugene olha para Tess.

         - É o que parece. - Delsin bate Eugene em suas costas. - Vamos, corrida até o Obelisco, estamos bem perto mesmo. E sem poderes!

         - Mas eu não consigo correr direito!

         - É só andar normalmente, Eugene! Só que mais rápido!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "InFamous: Sombras do Passado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.