Primaveras escrita por Melli


Capítulo 46
Capítulo 46


Notas iniciais do capítulo

Enquanto escrevia este capítulo, recebi uma notícia devastadora. Paloma, ou simplesmente Pan, a pessoa por trás dos personagens Sagi, Sage, Saga e Aoi Yamazaki veio a falecer. Todos nós perdemos uma grande amiga, mas antes de partir, Pan deixou uma carta pedindo para que todos os seus personagens nunca morressem. E eles com certeza estarão vivos aqui nesta fanfic, que a partir de hoje, será inteiramente dedicada a ela.
Por um momento, eu perdi minhas forças, perdi o ânimo em escrever, mas por você, minha amiga... Eu terminarei a fanfic que você tanto gostava.



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Era final de janeiro, e a ansiedade já não cabia mais em mim, e naquele dia mamãe me acordou dando uma ótima notícia: Iríamos até a Sweet Amoris para que a minha matrícula fosse feita.  A espera enfim acabou e o dia tão esperado por mim (depois da volta as aulas), havia chegado e lá estávamos nós rumo a nova escola. Eu estava tão agitada, que pelos vidros do carro olhava para todos os lados procurando algum letreiro que pudesse dizer “ Escola Sweet Amoris”, assim como havia no Red Roses, mas minha busca não teve sucesso.

— Abaixe o volume do rádio, filha! – Mamãe tentava dizer sem que sua voz fosse abafada pela música do black eyed peas.

— O que?? – Perguntei, e logo ela desligou o rádio.

— Pra que escutar música tão alto, Melli? Eu disse para você abaixar o volume!

— Desculpa, mãe... É que eu adoro essa música!

— Você diz a mesma coisa sempre que está escutando música... Com os fones no ouvido principalmente. Ainda vai acabar ficando surda... – Depois de estacionar o carro, mamãe pegou sua bolsa e saiu do carro.

— Não exagere né, mãe... – Ao sair do carro, encostei a porta.

— Estou dizendo... E você sabe que mãe tem razão!

— Ok dona Lisa... – Fingi não ligar muito para o que ela dizia. – Agora  a senhora poderia me dizer onde é a escola?

— Sara me disse que é por aqui... Bem, se não encontrarmos podemos perguntar para alguém.

— Então a tia Sara já veio fazer a matrícula do pessoal?

— Sim, ontem mesmo ela esteve na escola, e disse que os meninos gostaram muito!

— Espero que eu também goste...

Ao virarmos a rua, logo encontramos a escola. De fora ela já me encantava. Era grande, não tão grande quanto a Red Roses, mas grande o suficiente para me deixar impressionada. Não sei se eu assim estava por conta do tamanho ou se por estar ali, mas uma coisa era certa: Eu já estava gostando da escola somente vendo a sua fachada. Nada de portões altos os quais pudéssemos comparar a escola com uma prisão, sem muros velhos repletos de buracos. O que se via, era uma escola nova e limpa. Eu não estava querendo exaltar a Sweet Amoris, porque eu tinha em mente que  Red Roses me fora tão importante quanto a minha futura escola. Quando entramos, olhei para cima e não vi milhares de escadarias medonhas, como eu observava na velha escola. Tudo era visualmente limpo e agradável, com instalações novas e convidativas. Juro que fiquei com uma super vontade de entrar em uma das salas e me sentar nas carteiras. Andávamos perdidas pelo corredor, quando passou por nós, um pouco distraído, um rapaz com ar responsável. Usava gravata, então algo me dizia que aquele rapaz era realmente uma pessoa séria.

— Ah, olá senhoritas! – Ele logo voltou atrás de nós.

— Olá rapaz! Estou procurando a secretaria... Saberia me dizer onde se localiza? Minha filha é nova por aqui...

— Vocês vieram fazer a matrícula? – Perguntou o rapaz o qual tinha cabelos louros e olhos amarelados.

— Sim! É... Qual o seu nome, rapaz? – Mamãe perguntou.

— Me chamo Nathaniel e sou o representante do grêmio! Sejam bem vindas a Sweet Amoris!

— Muito prazer, Nathaniel... Eu sou Elizabeth! – Os dois apertavam as mãos de forma amigável.

— E você, como se chama? – Ele olhou diretamente para mim.

— Amellie... – Se eu pudesse sair correndo agora, eu faria isso com toda certeza por conta da vergonha de estar diante de um desconhecido.

— Espero que esteja gostando da escola! – Ele estendeu a mão para que eu a apertasse.

— Obrigada... – Respondi em tom baixo, depois de um aperto de mão.

— Venham comigo! Eu mostrarei a vocês a secretaria.

Seguimos o louro pelos corredores da escola até chegarmos a um local onde uma moça descabelada atendia loucamente aos telefones que tocavam ao mesmo tempo.

— Bem, aqui estamos! Senhora, pode deixar os papéis com a secretária e ela irá realizar a matrícula.

— Tudo bem. Muito obrigada pela ajuda, rapaz!

— Por nada! Ei moça... – Acho que ele se referiu a mim.

— Eu? – Levantei os olhos e olhei para ele.

— Sim! Gostaria de conhecer a escola? Eu posso apresenta-la para você se quiser...

— Mãe, eu posso conhecer a escola?

— Pode sim, mas não se esqueça de voltar aqui quando terminar o passeio. Vou te esperar aqui. – Mamãe apontou para o banco em frente a secretaria.

— Tá, tudo bem.

— Então... Vamos? – Disse o rapaz, e logo em seguida balancei positivamente a cabeça.

O rapaz poderia ser simpático e prestativo, mas algo me deixava com vergonha. Seria o medo de um ambiente e pessoas desconhecidas? Bem, fazer amigos na minha velha escola não era fácil, e não me admira dizer que eu tinha amizade justamente com os alunos considerados isolados dos demais. Tiffany era muito inteligente e notas abaixo da média não faziam parte de seu boletim. Para os outros alunos ela estudava vinte e quatro horas por dia, o que fazia dela uma verdadeira devoradora de livros e apostilas, e tais boatos acabavam por afastar muita gente dela. Porque? Se ela estudasse, isso queria dizer que não saía, não frequentava as baladas, não tinha um namorado... Enfim, os estudos acabavam fazendo dela uma careta intelectual, além também de acharem que ela não tinha outro assunto além de álgebra e leis da física. Os Yamazaki não eram isolados por terem famas de caretas e nem por sua inteligência, mas sim por sua fama de encrenqueiros destruidores de “fuças”. Acho que a maioria do pessoal sentia certo receio de conversar com eles, e embora tivessem alguns amigos, sempre os isolaram pois ninguém gostaria de estar envolvido em problemas com os valentões de cara feia. Só espero que aqui nesta escola não seja como lá na Red Roses, onde as meninas eram valorizadas por aquilo que vestiam e por tudo o que pudessem comprar nas lojas do shopping. Ah! Sem contar o fato de que para ser uma adolescente, não basta apenas ter quinze anos e ganhar uma festa de debutantes. Você precisava ter quinze anos, um corpo de dar inveja a qualquer modelo, ter beijado algum garoto uma vez na vida e mais... Dar uma festa de debutante inesquecível com direito a música eletrônica, buffet e tudo mais que estava na moda no que diz respeito a festas de debutantes.

— Você é quietinha assim sempre? – O rapaz tentava puxar assunto.

— Sim... – Eu mantinha meus olhos no chão.

— Ah... Está com medo? – Acho que ele percebeu algo por meio do meu olhar.

— Não... Eu não diria medo, mas estou um pouco insegura. É tudo novo pra mim...

— Ahá! – Brincou. – Consegui arrancar algumas palavras a mais de você!

— Hahahaha! Eu sou um pouco tímida... Espero que não me interprete mal.

— Não precisa se preocupar! Eu também sou um pouco e... Todo mundo me vê como uma pessoa séria e tudo mais, mas acho que não é bem assim.

— Ah...  Isso é um pouco chato.

— Sim, mas eu não ligo muito.  e desculpe perguntar... Mas em que ano irá estudar? – Perguntou.

— Estou indo para o segundo ano do ensino médio. E você? Estuda aqui, não é mesmo?

— Eu estudo aqui também, e estou indo para o mesmo ano que você!

— Ah, que bom saber! Pelo menos já conheço alguém aqui na escola...

— Espero que possamos estar na mesma sala. Companhias nunca são demais. Hahaha!

— É verdade! É sempre bom fazer amigos novos.

— Exatamente! Bem, vamos por aqui... – O garoto louro continuava me mostrando a escola.

Nathaniel era um rapaz muito legal, e seria muita sorte se pudéssemos estar na mesma sala. Puxa, eu já estava me esquecendo! Os trigêmeos também iriam estudar na Sweet Amoris, mas talvez não pudessem estar na mesma sala que eu. Entretanto, saber que meus amigos estavam juntos de mim na mesma escola me deixava muito feliz, então mesmo que não estudássemos na mesa sala, para mim não iria ter problemas, pois teríamos o intervalo para conversar. Entretanto, sempre estudamos juntos, e nos separar agora seria um pouco... Triste? Diferente? Não sei dizer ao certo. Quando acabamos o nosso “tour” pela escola, eu me sentei no banco onde mamãe pediu para que eu ficasse e ela logo apareceu em minha direção com uma sacola em mãos. Eu toda curiosa, é claro que não pude deixar de perguntar o que era.

— Mãe, o que tem aí dentro? – Me estiquei querendo espiar o que ali havia.

— Em casa você vai ver, mas posso te dizer que é algo que vai te deixar muito feliz!

— Oba! – Dei um pulinho. – E os clubes? Você me matriculou em algum? Diz que sim, vai...

— Sim, te matriculei.

— Em quais?

— Os que você queria, filha... No de jardinagem e o de natação.

— Ah, que boooom!

— Bem, acho que está tudo certo. Podemos ir pra casa?

— Podemos! Tchau Nathaniel, até mais! – Acenei para o garoto, que estava próximo dali.

— Até mais! As aulas estão chegando, hein!

— Hahahaha! Ok!

Rapidamente os dias foram passando e cada vez mais se aproximava a volta as aulas. Imaginem só! Eu não iria ser recepcionada pela Karen me dizendo o quanto o meu cabelo estava arrepiado e que minhas sardas eram feias. Mas só de conhecer Nathaniel, alguma coisa me dizia que ali iria ser diferente, pois com ele também acontecia algo parecido do que aquilo que se passava comigo. As pessoas o julgavam, diziam que ele era totalmente sério e não me pareceu isso quando conversei com ele, mas também pode ser que ele só quis ser agradável. O fato era que eu não o conhecia, mas nosso primeiro contato foi bem agradável. Uma semana antes das aulas começarem, eu e minha mãe fomos até a papelaria comprar o novo material, e como sempre eu ficava completamente apaixonada pelas fofurices que lá encontrava. Cadernos com folhas decoradas, lápis com desenhos, colas coloridas, adesivos fofos, canetas perfumadas e tudo mais que eu quis levar para casa ,mas infelizmente mamãe não deixou. Me disse que era inútil levar tanta coisa sabendo que eu não iria usar e em certo ponto eu concordava com ela, mas diante dos meus olhinhos aquilo era uma tentação. Enfim fui para casa e meu material era inteirinho novo, desde as apostilas, até mesmo a mochila. Eu tinha me esquecido completamente da sacola misteriosa que mamãe tinha levado para a nossa casa no dia da matrícula, e então naquele dia eu pude descobrir o que estava lá dentro. Alvoroçada, corri em direção ao guarda-roupas da minha mãe e tirei de lá a tão falada sacola. Me sentei na cama de mamãe e lá dentro havia um pacote, que segurei nas mãos e depois o rasguei e ali estava o meu mais novo maiô: Era na cor vinho com listras brancas nas laterais. Tão lindo que eu gostaria de coloca-lo naquele mesmo instante. Eu não havia experimentado, mas mamãe tinha certeza de que iria servir.

Passados alguns dias, a enforia do primeiro dia de aula já começava as seis da manhã quando minha mãe resolvera me acordar. Tirava meu cobertor, agitava meus ombros e dizia para que eu me levantasse logo, pois se continuasse dormindo, perderia hora. Ela sempre dizia isso, todos os dias, pois bem, ela conhece a filha que tem, e sabe que eu gosto de dormir mais alguns minutinhos depois que ela me chamava. Entretanto, aquele dia foi diferente. Eu estava tão animada com a ideia de ser meu primeiro dia de aula, que logo joguei o cobertor pro lado e levantei da cama, o que deixou a minha mãe surpresa. Fui ao banheiro, tomei banho e me arrumei com aquela empolgação, imaginando mil coisas que aconteceriam em meu primeiro dia de aula. Eu não me lembro como foi quando eu comecei a estudar na Red Roses, mas certamente na Sweet Amoris eu ficaria um pouco... Não sei dizer, mas quando você ingressa em uma nova escola, se sente um pouco perdido e sem amigos. Assim que acabei de me arrumar, “voei” para a cozinha e o meu propósito era preparar algo diferente para o lanche, mas o que?

— Mamãe, pode me ajudar um instante? – A chamei, lá da cozinha.

— Oi? No que você quer ajuda? – Logo ela apareceu ao meu lado, frente a pia.

— Eu queria levar algo diferente pro lanche de hoje... Mas não faço ideia do que eu posso levar.

— Hm... Tudo o que tem em casa você já levou. Porque não pede para seu pai passar na padaria? Tem uma a caminho da escola...

— Boa ideia!

~ Minutos depois...~

— E aí, filhote... O que você comprou? – Sentado no banco do motorista, papai tentava espiar o que tinha dentro do saquinho que eu trazia em mãos.

— São carolinas recheadas! Quer?

— Mas é claro! Manda aí...

— Toma... – Coloquei uma em sua boca, enquanto ele ligava o carro.

— Valeu! – Disse de boca cheia. – Tá ansiosa né? Eu sei... Sabe onde é sua sala?

— Não... Eu fui até a escola com a mãe, mas sabe que eu nem me toquei de perguntar onde era a minha sala?

— Pois é, cabecinha de vento... Agora vai ter que perguntar para alguém!

— Ah! Eu sei para quem irei perguntar! Quando eu visitei a escola, tinha um rapaz muito gentil nos corredores. Representante de turma! Me mostrou a escola e foi muito atencioso. Por isso, com certeza ele deve saber onde fica!

— Então pergunte a esse rapaz! E nada de se isolar, está me ouvindo?

— Ok, pai... Estou ouvindo.

— Estou falando sério, filha. É bom fazer amizade com as pessoas. Diga bom dia, seja agradável... Sua mãe sempre lhe diz isso, que eu sei... E eu concordo com ela!

— Os trigêmeos estarão aqui também, então acho que não vou ter tanta dificuldade quanto a fazer amizades.

— Faça novas! Amigos nunca são demais. Ah! Já chegamos!

— Chegamos bem rápido! O senhor voou, ou é perto assim mesmo?

— É que não é tão longe de casa. Hahaha!

— Ah tá! Hahahaha. Pai, estou indo... Mas... Vamos comigo até o portão da escola?

— Não sente vergonha em fazer isso?

— Ah pai... Eu não vejo motivos para ter.

— Hmm, continue pensando assim! Hahaha! Vamos lá, eu te levo. Mas só porque é o primeiro dia de aula.

Papai me levava até os portões da escola e algumas pessoas olhavam. Aquilo não me incomodava, aliás eu não estava fazendo nada de mal. Algumas pessoas acham que com quinze anos o pai não deve mais levar a filha até a porta da escola, e até sentem vergonha quando assim fazem, mas eu não me sentia assim. Para mim, vergonha era sair da escola e ir até o parque se esfregar em algum garoto. Ok, é a minha opinião e vocês sabem que minha vergonha é tamanha, que as vezes não tenho coragem de olhar nos olhos do garoto que eu gosto. Enfim... Voltando ao assunto da escola, depois de me abraçar e dizer para que eu prestasse atenção na aula, papai foi embora e eu fiquei ali olhando tudo a minha volta. Jovens correndo, rindo, sentados em bancos ou em meio as famosas “rodinhas”, onde trocavam figurinhas ou fofocavam sobre o novo filme daquele ator gatíssimo. Adentrei a escola e me sentei em um banco, próximo a alguns arbustos, longe do olhar de qualquer aluno. Abri a mochila e retirei de lá a minha agenda. Me lembro que as aulas começariam mais cedo hoje, mas não me lembrava porque. Abri na data do dia em que estávamos e lá estava escrito em canetinha neon: Encontro no clube de jardinagem – 7:30. Olhei para o celular, que marcava 7:25, e então me coloquei a correr pelos corredores. Onde estaria o tal garoto que conhecia a escola toda? Onde eu estaria? Os corredores estavam tão cheios, que eu sequer sabia para onde estava indo. De repente, de tanto correr acabei esbarrando em alguém.

— Opa! – Era uma garota ruiva de cabelos curtos e olhos verdes, a qual me ajudou a pegar alguns dos meus livros que haviam caído no chão. – Nova na escola?

— Sim! Saberia me informar onde fica o clube de jardinagem?

— Ah! Mas é claro que eu sei! Siga em frente e suba as escadas. É a segunda sala a esquerda!

— Obrigada! – E lá fui, correndo a toda velocidade.

Mal tive tempo de me apresentar para a garota, e espero não ter parecido grosseira. Eu esperava encontra-la mais tarde para poder me desculpar por não ter ficado mais um tempo com ela. Bem, parti para a sala que a mocinha dos cabelos vermelhos me indicou e pelo vidro da porta observei um rapaz de cabelos verde piscina falando em frente a sala e meu coração logo queria sair pela boca, pois a aula já havia começado! Coloquei a mão na maçaneta e sem pensar muito, abri a porta.

— Olá, bom dia! – Dizia o rapaz, que vestia um macacão de jardinagem. – Pegue um calendário para acompanhar... – Todo sorridente, ele apontava para a pilha de papéis que havia em cima de sua mesa.

Eu peguei um dos papéis e segui para um lugar o mais longe possível do senhor... É... Eu não sei como ele se chama, e na verdade ele não se parece muito velho para ser chamado de senhor. Na verdade, ele era um rapaz, e julgando por sua carinha, não deveria ser muito mais velho do que eu. Enquanto eu me dirigia a uma carteira vaga, várias pessoas olhavam para o meu rosto e parecia que os novatos logo eram facilmente notados nessa escola. Bem, o mocinho acabou falando um pouco de como as aulas irão funcionar, seguindo o que estava escrito no calendário e não demorou muito em sua explicação, já que dentro de alguns minutos as nossas aulas iriam começar. Ao final da reunião do clube, todos saíam da sala, inclusive eu, entretanto, ouvi o cabelos verdes me chamar.

— Ei mocinha...

— Eu? – Me virei em sua direção.

— Sim! Venha até aqui, por favor...

Caminhei até ele.

— Percebi que chegou atrasada na aula e... Queira me desculpar por não ter lhe dado atenção, mas eu precisava explicar tudo ao pessoal...

Eu não entendi muito bem o que ele quis dizer com “ Não ter lhe dado atenção”, já que ele deveria mesmo estar dando explicações aos outros e não me fazendo companhia, mas sorri e logo disse:

— Não se preocupe, moço... Aliás, eu lhe devo desculpas por chegar atrasada na aula. Acontece que eu sou nova aqui e... – Enquanto eu falava, percebi que ele mirava seus olhões verde água diretamente para mim, e eram um pouco intimidadores.

— Não tem importância... Eu sou Jade, o responsável pelo clube de jardinagem! – O rapaz logo me estendeu a mão.

— Amellie! – Segurei em sua mão e o cumprimentei.

— Lindo nome... - Seus olhos vieram de encontro aos meus e aquilo foi realmente vergonhoso.

— Ei Melli... – Alguém me chamava na porta.

— Hm? – Olhei e era Lysandre.

— Vamos! A aula vai começar! – Ele segurou em minha mão e me puxou para fora, não me dando a possibilidade de me despedir do Jade.

A sala não era muito longe dali, então pudemos chegar a tempo. Lysandre logo se sentou e corri os olhos por ali procurando os trigêmeos, mas não obtive sucesso em minha busca. Por outro lado, a menina ruiva estava ali e eu estava morrendo de vontade de conversar com ela, e com muita vergonha também. Observei uma carteira vaga no fundo da sala e foi onde me sentei e abaixei minha cabeça entre os braços imediatamente, enquanto a sala conversava sem parar. O professor ainda não havia chegado, então acho que eu poderia dormir um pouco.

— Olá, Amellie! – Alguém que havia acabado de se sentar na carteira da frente dizia.

Levantei a cabeça e observei o alegre  senhor representante de turma. Era estranho alguém me chamar pelo nome, pois desde pequena eu fui chamada de Melli, e fizeram isso tantas vezes, que eu acabava adotando este como o meu nome. Não sei de onde minha mãe arranjou esse nome e também nunca cheguei a perguntar para ela, mas eu achava bonito, mesmo que a maioria das pessoas não me chamassem por ele.

— Olá Nathaniel! Que surpresa vê-lo aqui!

— Estamos na mesma sala, que sorte!

— É mesmo! – Eu esticava o pescoço procurando por meus amiguinhos de cabelo vermelho.

— Procura por alguém? – Ele logo quis saber.

— Estava vendo se conseguiria ver meus amigos, mas acho que não estão nessa sala...

— Diga-me seus nomes... Eu sei o de todos os que estão aqui.

— Eles são trigêmeos. Sagi, Saga e Sage Yamazaki.

— Estão nesta sala sim! Pode ficar sossegada. – Sorriu.

— Mas como você sabe o nome de todos os alunos da sala?

— Eu organizo a papelada dos alunos novos, e digamos que alguns colegas que estão aqui já estudaram comigo em anos anteriores...

— Saberia me dizer o nome daquela garota? – Apontei para a menina que esbarrei na hora da entrada.

— Aquela é Caitlin Bennington, também é novata como você!

O professor logo entrou, e atrás dele entraram meus amigos cabelo de fogo. Fazendo bagunça como sempre, se sentaram no fundo da sala, na fileira ao lado da minha, mas sequer notaram a minha presença ali. Digo, depois da dinâmica de apresentação da sala eles já haviam descoberto onde eu estava me sentando, e a partir daí, começaram a me chamar e eu fazia sinal para que não falassem naquele momento. O professor da primeira aula me parecia ser legal, mas a matéria que ministrava eu já não poderia dizer o mesmo. Em nossa primeira aula, é claro que não anotamos quase nada no caderno, já que fizemos uma gincana de apresentação, como era típico do primeiro dia de aula. A escola poderia não ser a mesma, mas o costume seguido nas duas era o mesmo: A apresentação dos alunos por meio de alguma brincadeira, ou com a ajuda do professor. No segundo momento da aula, a conversa foi relacionada  ao sistema de avaliação da disciplina, onde não tínhamos muito o que anotar, já que o professor entregou impresso um cronograma e rapidamente fiz questão de riscar com caneta neon as datas que estavam próximas. As demais aulas seguiram normalmente, e eu pensava em como pudesse ser o intervalo nessa nova escola. Na Red roses, como vocês sabem, assim que soava o sinal, os alunos corriam feito doidos pelos corredores, e quase derrubavam as coitadinhas das freiras, que transitavam pelos corredores. Quando o sinal do intervalo soou, pude então perceber como as coisas funcionavam aqui. Aparentemente, na minha sala ninguém ficou desesperado ou saiu correndo. O que observei foi que a maioria dos alunos calmamente guardava seus materiais em baixo da carteira e pouco a pouco retiravam-se da sala. Caminhei pelos corredores em meio a uma multidão de adolescentes alvoroçados e isso parecia não mudar da minha velha escola para essa. Como eu me sentia? Um pouco perdida, é verdade. Eu observava alguns alunos conversando e me perguntava se um dia também já se sentiram inseguros como eu me sentia naquele instante.

Bem, acabei chegando ao local onde parecia ser o refeitório, e era bem diferente da aparência do refeitório da Red Roses. Lá, o refeitório mais se parecia com o refeitório de um orfanato, com aquelas mesas e bancos enormes. Aqui as mesas eram bem menores, e distribuídas pelo refeitório que me parecia bem maior do que o da minha antiga escola. Assim que encontrei uma mesa, me sentei a fim de avistar meus amigos ou até mesmo encontrar a menina ruiva, ou melhor dizendo... Caitlin.

— Ora, vejamos o que temos por aqui! – Uma voz masculina vinha de trás de mim. – Uma novatinha!

Me virei na direção em que vinha a voz, e observei que era um rapaz de cabelo ruivo, bem vibrante (tanto quanto os dos meus amiguinhos Yamazaki). Usava jaqueta de couro preto e parecia ter saído daqueles filmes de motoqueiros. Deveria ser um roqueiro, ou sei lá.

— O-ola... – Respondi temendo que ele me fizesse algum mal, pois sua expressão era intimidadora.

— Você é a menina do colégio de freiras não é? Escute aqui... Esta mesa aqui é minha e dos meus amigos. Cai fora!

— ... Me... – Quando eu iria terminar a frase, alguém a interrompeu.

— Castiel! – Esse era o nome do garoto ruivo! – Não faça nada a ela... – E lá vinha Lysandre andando em nossa direção.

— Você a conhece? – Perguntou o ruivo.

— Sim! Melli é uma velha amiga... Não fez por mal, ela é nova na escola então não a conhece muito bem.

— Ok... Pode ir, pirralha...

Coloquei minha bolsa nos ombros e sem jeito, tentei arranjar outra mesa e que fosse bem longe do tal Castiel, de preferência.  Logo que encontrei uma mesa vazia, me sentei e cabisbaixa, pensava na possibilidade de a Sweet Amoris se tornar tão insuportável quando minha outra escola. Mesmo que eu não quisesse pensar nesta possibilidade, ela passava por minha cabeça.

— Ih... Está triste? – Alguém se sentou ao meu lado.

Voltei o olhar para cima e o meu dia ficou melhor somente por eu ver o seu rosto. Exagero meu? Eu acho que não...

— Ah, oi Sage... Eu não diria triste... Aconteceu uma coisa bem chata agora de pouco, mas não se preocupe, eu já estou melhor.

— Tem certeza?

— Sim!

— Se tiver alguém te insultando, avise que eu vou até a peste e digo umas coisinhas para ela e nunca mais vai te acontecer nada.

Por um instante parei para pensar... E imaginei uma briga entre o Sage e o Castiel, os dois carinhas mais valentões que eu já conheci. Bem, eu não conheci o Castiel, mas pelo pouco que observei, sua personalidade é um pouco parecida com o do Sage.

— Melli... Você está vendo fantasmas? Está tão assustada...

— Hahahaha! – Voltei de meus pensamentos. – As vezes eu me assusto com os meus pensamentos...

— Pois não fique tão aérea. Tome... – Ele colocou em minha mão um bombom embrulhado em papel cor de rosa brilhante.

— Oh! Mas que...  Bonitinho! Obrigada, Sage!

— De nada. Você adora esse bombom, e quando fui comprar meu lanche eu lembrei de você...

— Ah, não precisava se incomodar... – Segurei a mão dele em baixo da mesa, enquanto ele também segurava a minha. – Vamos repartir o lanche hoje?

— Se você quiser... O que trouxe hoje? – Ele tentava ver o que tinha dentro do saquinho que eu havia acabado de tirar da bolsa.

— São...

— Own, veja Saga... Não são lindinhos juntos? Até sentaram um ao lado do outro hoje... – E lá chegava Sagi com o irmão, zoando da cara do Sage.

— Aff... Vai começar!

— Quando irão se casar, hein? Nos avisem!

— Nós nem namoramos... E parem de dizer besteiras! Ainda mais aqui... Se alguém ouve, já começa a espalhar por aí! – Disse Sage.

— Mas você não gosta dela? – Sagi perguntou ao irmão.

— É claro que eu gosto! Mas não namoramos...

— Enfim... Eu gostaria de dizer que hoje chamei uma colega para passar o intervalo com a gente! – Sagi comunicava a todos. – Ela está vindo aí! Ei, Caitlin! – Sagi se levantava e agitava a mão, para que a menina a encontrasse.

— Bom dia meu povo! Mas que carinha de sono a de vocês! – E na bandeja do lanche ela trazia uma lata de coca cola.

— Sente aí! – Sagi também se acomodava. – Esses dois repetidos são meus irmãos gêmeos. Digo, somos trigêmeos... O Saga e o Sage!

— E aí, garotos! Estou feliz em conhece-los! Curti o cabelo de vocês! E seus piercings também, Saga!

— Hahahaha! Esse é o Sage! Saga não tem piercing! – Sagi alertava.

— Valeu... Faz um tempo que eu tenho...

— E a lady pintinhas, como se chama? Eu te encontrei hoje na hora da entrada, não é?

— Sim, foi isso mesmo! Aliás, eu peço desculpas por não ter conversado mais com você, mas eu estava com pressa. Hahaha! Meu nome é Amellie...

— Acha, não precisa pedir desculpas! Eu percebi que sua aula iria começar... Seu nome é muito bonito, viu?

— Obrigada... – Fiquei um pouco sem graça.

— Todo mundo chama ela de Melli, pra facilitar... Inclusive o namorado dela, né Sage?

Olhei para o rosto do Sage e parecia que cada vez mais ele se enfurecia com as brincadeiras dos irmãos.

— Sério? Vocês dois namoram? Que massa! – Respondeu a menina, admirada.

— Não, eu não namoro com ela. Os dois querem só  tirar uma com a minha cara.

— Os dois se gostam... Mas ainda não assumiram nada sério, entende? – Sagi sussurrou no ouvido da menina.

— Aaaah, mas que meigo! Falando em namorados... O Valentine’s day está chegando! Quem vai enviar cartões fofos para os amigos?

E o silêncio reinou na mesa.

— Cara, me desculpa mas eu não curto isso. – Dizia Sage, repartindo um pedaço do seu bolo para me dar.

— Nem eu... Acho uma perda de tempo.

— Acho graça! Hahahahaha! E é cafona...

Eu ouvia tudo aquilo calada, apenas pensando que a oportunidade de demonstrar ao Sage meus verdadeiros sentimentos fora devastada. Não adiantaria mais nada eu mandar um cartão repleto de flores, corações e sentimentos se ele não curtia aquilo. Acho que se algo do tipo fosse entregue a ele, mesmo que anonimamente, iria ser rasgado e até mesmo queimado, para que nenhum restinho de amor rabiscado em folhas decoradas pudesse existir. Meu coração estava em pedaços e a minha vontade era a de me enfiar no banheiro e chorar. Eu nunca fui boa em dizer o que eu realmente sentia por ele, aliás, eu só fiz isso uma única vez, e acho que ainda não deixei claro o quanto eu o quero, e escrever uma carta anônima seria uma ótima maneira de fazer isso. Deixei duas carolinas ao lado do Sage, me levantei para ir até o banheiro mas ele logo percebeu que eu sairia dali. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas tentei esconder ao máximo isso dele.

— Onde vai? – Perguntou, logo se levantando da cadeira.

Ainda de costas, limpei minhas lágrimas sem que ele percebesse e me virei em sua direção.

— Vou ao banheiro, mas eu volto...

Ele me conhecia muito, e por isso, suspeitava que eu pudesse não estar bem. Seu olhar revelara isso quando me olhou de um jeito como se suspeitasse de algo. Será que está tão evidente assim?

— Vou te acompanhar até lá...

Quando entrei no banheiro, percebi que estava cheio e teria que esperar algum desocupar, entretanto, eu pensava se seria mesmo necessário ficar extremamente triste por conta disso. Nada me impedia de escrever o cartão, somente o fato de ele não gostar daquelas coisas.  Enquanto pensava, as outras meninas deveriam estar me olhando com cara de “essa garota é louca”, pois eu estava parada no meio do banheiro feminino e com certeza estava com uma cara de tonta. Logo saí dali e Sage ainda me esperava, encostado na parede e com aquela carinha de emburrado (que para mim era uma graça), mas logo a desfez quando apareci. Eu estava quieta, perdida em meus pensamentos e ele parecia desconfiar ainda mais de que algo não estava certo.

— Ei Sage... – Cutuquei o braço dele.

— Hm?

— Você acha mesmo o Valentine’s day uma besteira?

— Sim. Seria só mais um motivo para meus irmãos me zoarem.

— Ah... – Voltei meu olhar para o chão.

Permaneci pensativa pelo restante das aulas e ainda bem que eu não teria de prestar muito atenção nos professores, pois tudo o que explicavam estava contido nos cronogramas de cada disciplina. Na hora da saída, meu pai me esperava em frente a escola e o caminho todo eu tentava mudar a minha cara, para que ele não pensasse que eu estava triste e claro, eu não gostaria de jeito nenhum contar o que tinha se passado comigo, porque ele sequer sabia que eu tinha “me declarado” ao Sage.

Meu primeiro dia de aula tinha sido legal, pena que eu não deveria ter ouvido determinadas coisas, ou será que foi bom isso ter acontecido? Eu me sentia feliz por ter conhecido uma amiga nova, mesmo que ainda não tenha tido tempo para conversar com ela. A escola era tão linda, que eu sentia um desejo enorme de estudar! E mal esperava para que as reuniões do clube de natação também começassem! Um dia que não foi tão bom não me deixará triste, pois mais dias virão na escola sweet Amoris!


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