Primaveras escrita por Melli


Capítulo 27
Capítulo 27




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Se lembram do Leon do capítulo passado, e o caso com a tia Sara? Irão acreditar se eu disser que deu casamento? Sim! É sobre isso que iremos falar neste capítulo. Finalmente o papai estava em casa para nos acompanhar em uma festa, e naquele dia eu não saía de perto dele.

— Pai, pai! - O cutuquei enquanto ele estava de costas. - Joga videogame comigo?

— Agora não posso, minha querida. Papai está atrasado pra pegar o terno lá na loja! -Ele saiu correndo pela porta da sala.

— Ah... Mãe, joga videogame comigo? -Apareci na porta do quarto dela.

— Eu também não posso, estou arrumando o cabelo. Aliás senhorita, você também tem que se arrumar!

— Mas é só colocar uma roupa bonita e pronto!

— Nada disso! Olhe, todas as pessoas que estarão lá vão estar super bonitas. Você quer chegar lá toda desarrumada?

— Não, eu quero ficar bonita também!

— Então venha. Iremos colocar um vestido...

— Vestido?

— Sim, é o que se usa em festas. Eu também vou de vestido, a Sagi também...

— E o papai, também vai de vestido? Hahahaha - Brinquei.

— Seu pai não, né Melli... Os homens vestem ternos ou camisas sociais com gravata.

— Puuuuxa, eu nunca vi homens vestidos desta forma, a não ser no álbum do seu casamento, mãe. Se bem que naquela época o pessoal usava umas roupas bregas... Hahahaha

— Poxa filha, aquilo que você viu no album era o que estava na moda na época. Imagina que você olhe seu album alguns anos depois de você se casar. Vai concordar comigo.

— Eu não vou me casar! Nem namorar, e nem ter filhos.

— Eu também dizia isso na sua idade, mas alguns anos se passaram e conheci o seu pai.

— É mesmo? E como se conheceram?

— Bem... - Mamãe se sentou na cama.

— Me conte, estou curiosa agora!

— Eu ia praticamente todo final de semana pra praia, lá onde moram sua prima Emily e o seu primo Adrian.

— Sim sim!

— E o seu pai morava lá na praia, como você sabe. Ele gostava muito de surfar, e enquanto ele surfava eu ficava olhando e um dia ele veio conversar comigo e nos tornamos amigos.

— Mas que legal! Você sabia surfar também, mãe?

— Digamos que não, mas quando eu comecei a namorar seu pai ele me ensinou um pouco.

— Ai que engraçado! Gostei da história!

— Qualquer dia peça para seu pai te contar como nos conhecemos. Ele com certeza vai gostar de contar isso pra você, e te garanto que irá contar de uma forma bem engraçada!

— Ah sim, vou pedir. Ei mãe, não vai me arrumar?

— Eu vou só te ajudar. Você já está moça, não acha que pode se arrumar sozinha? Já tem 12 anos!

— Então tá, me ajude por favor!

Parecia que eu e minha mãe não concordávamos em nada! Eu queria ir com meu vestido vermelho xadrez, mas ela disse que era melhor eu usar algo mais delicado, porque aquele vestido servia mais para um passeio no shopping, ou para uma festa de aniversário. Então ela acabou escolhendo um vestido cor de rosa que eu não usava há muito tempo. Ele tinha alguns bordados, ia até o joelho e tinha algumas pregas em seu comprimento. Ah! Ele tinha também os ombros caídos, e uma rosa em um tom mais claro que o vestido, pregada ao lado direito na direção dos ombros. Não era o meu vestido preferido, mas quando o vesti, me senti muito  bonita! Nos pés usei uma sandália aberta, na cor da flor do vestido.

— E agora? O que vamos fazer no cabelo? -Perguntei.

— Hm... Você pode fazer alguns cachos, como estou fazendo no meu.

— Ah, cachos não. Eu queria deixar assim, mas colocar alguma coisa.

— Tiara?

— Tiara uso quase todos os dias...

— E que tal uma presilha?

— Sim, pode ser! Ah, tem aquela que veio com o vestido, eu posso colocar!

— Então coloque!

Desembaracei meu cabelo, ajeitei a franja e prendi a presilha do lado direito da cabeça. No mesmo momento em que eu me arrumava, mamãe fazia cachos em seu cabelo olhando para o espelho do seu quarto. Ela ainda não estava com o vestido que iria usar, porque papai iria busca-lo junto de seu terno.

— Espere aí, não acabou não! -Mamãe se virou para mim.

— O que mais falta?

— Você está muito pálida, passe uma sombra nos olhos. Ah! Uma não muito forte.

Bem, nós ficamos ali falando de maquiagem por uns cinco minutos, que foram o suficiente para a minha mãe me fazer passar batom também, além da sombra. Eu não gostava muito de batom, porque ficava muito chamativo no meu rosto, além do mais, eu tinha doze anos e não queria ser como a Karen que usa muita maquiagem. Passei um gloss e fui para a sala assistir Tv, mas ficava mesmo era pensando no casamento, em todas aquelas pessoas bem vestidas, no salão, na comida e... Ah, no bonitinho do menino dos cabelos de fogo. Só a Tv fazia barulho ali, quando de repente meu pai entrou em casa correndo em direção ao quarto. Só podia ser meu pai mesmo! Sempre ele deixava tudo pra ultima hora. Voltei a pensar no casamento, e agora imginava como estaria a tia Sara. Claro, deveria estar muito feliz de se casar com o Leon! Mas como será que ela estaria vestida? Como a mamãe em seu casamento é que não estaria, porque os vestidos de noiva hoje estão mais modernos e se parecem com os de princesa. Tia Sara é mesmo uma princesa, e não somente ela, mas acho que todas as moças são princesas e os moços são príncipes, daqueles que abrem a porta do carro para as moças entrarem, ou que as recebe em casa com flores.

Acreditem, eu fui pensando nisso desde a minha casa até a igreja! E pensei tanto, que sequer tinha prestado atenção no caminho. Começada a cerimônia, sentada no banco eu tentava achar os gêmeos, mas não os vi em nenhum lugar. Como papai e mamãe estavam lá no altar porque eram padrinhos, eu fiquei sentada lá no banco junto com a Rachel. Eu não ficava muito a vontade ali, porque toda hora ficávamos nos sentando e levantando, sentando e levantando e parecia que aquilo não iria acabar mais! Uma hora, todo mundo se levantou e os olhares se voltaram para o fundo da igreja. Eu não sabia o que acontecia por lá, porque tinha muita gente na minha frente, mas ouvi dizer que eram os gêmeos. Rachel também não viu muito bem, mas mesmo assim ela não quis me mostrar nadinha, então me sentei e esperei a cerimônia terminar. Quando ouvi: "Pode beijar a noiva", me estiquei na ponta dos pés para ver os noivos, mas o que consegui ver foram só meus pais, e  coitadinha da minha mãe... Estava chorando, abraçada ao meu pai. Fiquei feliz de ver os dois juntos, porque momentos como aquele eram raridade, já que papai estava sempre trabalhando, mas não entendia muito o motivo do choro da minha mãe. Talvez a música a emocionou, talvez aquele ambiente bonito, ou a tia Sara e o Leon, mas eu aposto que foi tudo isso e mais um pouquinho!

Depois que tudo terminou, Rachel e eu saímos para fora da igreja a fim de esperar meus pais, que conversavam com os recém casados lá no altar e mais uma vez, eu não vi os gêmeos em lugar algum.

— Rachel, você já tinha ido em outro casamento a não ser esse? -Perguntei.

— Sim, eu já fui em vários. É muito bonito, não é?

— É sim! a Tia Sara está parecendo uma princesa com aquele vestido. E o arranjo do cabelo também é muito lindo.

— Dona Sara tem bom gosto. Tenho certeza que o Leon vai cuidar muito bem dela!

— Rachel...

— Sim?

— Você é casada? - Percebi que ela ficou um pouco constrangida.

— N-não, querida... Sou solteira. Nunca me casei e sou muito nova para me casar.

— E você quer?

— Ah, eu não quero. Gosto de trabalhar na casa da dona Sara, e se eu me casar, vou ter que me mudar de lá. E você, já arranjou algum namoradinho lá na escoola...?

— Eu não quero namorar e nem me casar.

— Hahaha, tudo bem, tudo bem. Percebi que o assunto te deixa constrangida. Olhe, seus pais estão vindo aí, então vou te deixar com eles, tudo bem? Até a festa!

— Tudo bem, até! -Acenei.

— Ei Rachel... -Mamãe a chamou de volta.

— Sim?

— Obrigada por fazer companhia pra Melli.

— De nada! Estavam muito lindos vocês dois!

— Obrigada! - Meus pais agradeciam o elogio.

Agora seguiríamos para a festa, oba! Vamos comer e nos divertir muito! É o que eu espero! Minha esperança ainda era encontrar os gêmeos, mas mesmo assim, isso não fez com que ao chegar ao salão eu desgrudasse dos braços da minha mãe e saísse. Eu poderia ter doze anos, mas sempre fui muito ligada á minha mãe. Éramos (e somos até hoje), como irmãs, ou até mesmo amigas daquelas que não vivem longe da outra. Quando entramos no salão, fiquei perplexa. Não sabia para onde olhava de tão lindo e sofisticado que estava aquele ambiente. Já na entrada do salão, havia uma cascata com luzes e peixes de verdade que nadavam em meio a bolhas feitas por alguma espécie de aparelho que ficava entre as pedras. Na porta do salão, recepcionistas nos aguardavam e assim quando dissemos nossos nomes, um deles nos acompanhou até a nossa mesa, que ficava um pouco distante da mesa dos noivos. Aos meus olhinhos que até agora só tinham visto locais luxuosos nos filmes de princesas, aquilo era realmente como viver em um conto de fadas. Poderia não ser eu que estava me casando aquele dia, mas me senti uma princesa em um palácio reluzente e florido. É meio difícil de descrever cada parte da decoração, mas resumindo em uma palavra, tudo estava explêndido!

— Poxa Melli, desgrude um pouco de mim, pode ir ver seus amigos, eu deixo! -Mamãe me "desgrudava" do braço dela.

— Posso?

— Claro! Vai conversar um pouco, fazer novos amigos... Depois você volta aqui pra mesa.

— Tá! Se eu não encontrar os gêmeos eu volto.

Saí pela multidão a procura de cabelinhos vermelhos, mas mesmo tendo os cabelos vibrantes, não era nada fácil encontra-los. Andei para lá, andei para cá, até entrei no banheiro e fiquei fazendo caretas para no espelho do banheiro enquanto ninguém entrava, e me assustei quando de repente começou a fazer um barulhão lá fora e na hora corri para ver do que se tratava. Pronto! Encontrei os gêmeos. Estavam entrando junto com a tia Sara e o Leon no salão, todos muito lindos e elegantes, do mesmo jeito que estavam no casamento. Poderiam estar maravilhosos, mas meus olhos não conseguiam se fixar em outra coisa, a não ser no Sage. Estava tão bonito, e diferente! Geralmente eu via ele com o cabelo todo espetado, com o casaco do uniforme desabotoado, com os cadarços do sapato desamarrado e com terra na roupa, mas aquele dia a mudança era notória. Era como dizer que um selvagem havia se transformado em um príncipe! Os cabelos, que agora não se apresentavam mais espetados, mas estavam presos para trás em um pequeno rabo de cavalo, já que naquela época o cabelo dele já chegava aos ombros. Estava limpo, sem terra na roupa, sem cadarços desamarrados e mais: Estava de terno e gravata! Vocês devem se perguntar porque eu falo tanto de príncipes, rainhas, princesas e blábláblá. Bem, quando eu era menor, sempre na hora de dormir, minha mãe me contava uma história, e cada noite ela me contava a história de uma princesa diferente. Aparentemente tudo lindo! Mas por trás dessas histórias, a intenção da minha mãe era somente que eu não tivesse pesadelos e que adormecesse rapidamente, já que eu chorava bastante antes de dormir, e sempre ia passar a noite na cama dos meus pais dizendo que estava com medo do bicho papão, e essas histórias me marcaram para o resto da minha vida como uma lembrança muito boa de minha infância. Continuando com o casamento, encostada ali na porta eu sequer me mexia admirada com aquilo tudo. Os gêmeos estavam muito diferentes, e a Sagi até estava usando vestido! Isso me impressionava, porque era uma luta para que ela usasse a saia da escola, já que para ela aquilo impossibilitava que ela pudesse brincar, e até mesmo jogar futebol com os meninos.

Corri para a direção onde estavam a maioria das pessoas aglomeradas para assistirem aos recém casados entrarem no salão e fui me enfiando no meio delas. Ultrapassei várias pessoas até alcançar a frente de todas elas. Em meio a entrada dos noivos, flashes eram disparados de câmeras que eu sequer sabia onde estavam, e poxa... Tia Sara e os outros deveriam ter ficado com arrepio nos olhos com tantos flashes, mas deveriam estar se sentindo como estrelas de Hollywood. Pausadamente percorriam uma trajetória retilínea até o meio do salão, e quando passaram por mim, acenei timidamente para os quatro, mas somente os gêmeos responderam dizendo: Oiiiii!, o que pareceu não deixar a tia Sara muito feliz. Após a entrada, fui para a mesa dos meus pais contar a novidade, e chegando lá me deparei com a Rachel sentada ali.

— Olha quem vai ser nossa companhia essa noite, filha! -Mamãe dizia, enquanto apontava para a Rachel.

— Você vai ficar aqui na nossa mesa? - Me sentei entre meu pai e a Rachel.

— Sim! Eu posso ficar aqui com vocês, não é?

— Claro! Sem problemas. - Papai se esticava na cadeira.

Naquele instante mamãe o fuzilou com um olhar que eu não entendi. Acho que foi porque ele estava se esticando na cadeira, e aquela não era uma postura adequada para aquele local.

— Não entenda mal, Rachel. Queremos muito que você fique! Só o olhei deste jeito porque ele não se senta corretamente na cadeira, fica aí que nem um lagarto tomando sol na praia.

— Hmmm, não me fale em praia... - Agora ele se ajeitou.

— Só nas férias, hein!

Sentada ali na mesa, percebia que só os adultos conversavam, e ninguém me "puxava" para a conversa. Mas as vezes é melhor mesmo que se deixe os adultos conversarem, porque eles se entendem. Aquela conversa começava a me chatear, mas em nenhum momento eu quis intervir para contar da entrada dos noivos, porque minha mãe sempre me disse que "se enfiar" na conversa dos outros era falta de educação, então fiquei ali mesmo, olhando para as rosas vermelhas que estavam decorando a mesa. Eram tão delicadas, que algumas despetalavam com um simples toque, então resolvi manuseá-las com mais delicadeza, e percebi que suas pétalas eram macias.

— Ei filha... - Disse mamãe, posicionando sua mão em meu ombro.

— Oi mãe...

— Conseguiu encontrar seus amigos?

— Consegui, só que agora devem estar junto da mãe e o novo pai deles... -Tristemente abaixei a cabeça.

— Mas não precisa ficar triste! Daqui a pouco eles estão por aí. E olhe, você pode fazer novos amigos nesta festa!

— Mas tenho vergonha...

— Ah minha filha... Deixe esta vergonha de lado, isso não te faz bem! Pode ir dar uma volta pelo salão, mas não vá muito longe.

— Tudo bem, eu vou então.

Percebi que eles queriam conversar entre si, e que a minha cara de tédio começava a preocupar minha mãe. Saí dali e fui dar uma volta pelo salão, sem um rumo específico. O salão era tão grande, que eu tinha um pouco de medo de me perder, mas não era uma coisa que eu tinha de me preocupar muito, porque sabia onde meus pais estavam. Andei entre as mesas até chegar novamente á frente do salão, me abaixei e me sentei no terceiro degrau de uma escada próxima dali. Apoiei meu queixo nas mãos, e me coloquei a observar as pessoas ao meu redor, e vi vir em direção á saída, duas meninas de cabelos alaranjados, que se empurravam para ver quem chegaria primeiro na porta.

— Não, eu vou primeiro, não vou deixar você ganhar, sua cabeça de minhoca! -Dizia a que parecia mais velha.

— Mas é claro que não! Só vai ganhar se eu deixar! Sua cabeça de...de... De ET! -Respondeu a que tinha aparência de mais jovem.

Observando aquela cena, o que eu podia fazer era rir, mesmo sem entender do que se tratava. De repente as duas pararam com a confusão, e começaram a me olhar da porta. Me senti um pouco envergonhada, porque não me sentia confortável com uma pessoa me olhando. Realmente meu rosto queimava de vergonha.

— Ei, olha o que tem ali na escada... - Dizia a mais nova.

— O que?

— Olha ali, sua cega! Não está vendo não?

— Own, que bonitinha, é uma menininha pequeniniiiiiinhaaa...

— Que chuchuzinha, que vontade de apertar essas bochechinhas!

As duas correram em minha direção, e foi aí que me senti ainda mais envergonhada.

— Ei pequenininha!

— E-eu?

— Claro que é você! O que está fazendo aí? se perdeu dos seus pais, é?

— Não, eu só...

— Ah já sei! Você quer ajuda para encontra-los?

— Não, é que... - A todo instante eu era interrompida.

— Quantos aninhos você tem? nós podemos te ajudar!

— Tenho doze anos...

— Nossa! Tem cara de ter uns nove, sério... Ah, não nos apresentamos. Eu me chamo Konan, e essa feia aqui é minha irmã Konata.

— Eii!

— Ei o que? Todos sabem que eu sou mais bonita!

Novamente fiquei ali sem saber o que fazer.

— Eu me chamo Amellie. - Sorri.

— Amellie? Já escutamos esse nome em algum lugar... -Konata debruçava-se sobre os ombros da irmã.

— Sai daí, folgada! ÉÉÉ, verdade! Não foram nossos primos que falaram dela?

— ÉÉÉ! Disseram "A Amellie mora na terra do nunca e vê o Peter Pan todos os dias!"

— Nãão, sua burra! -Konan deu um peteleco na orelha da irmã. - Esse aí são outros! Ela disse que a Amellie morava em uma fazenda e via vacas todos os dias!

Fiquei um pouco assustada com aquelas duas, mas ao mesmo tempo curiosa.

— Então os primos de vocês me conhecem? E quem são os seus primos?-Perguntei.

— Ora, quem... Sagi e Sage!

— Aaaah sim! Eles são meus amigos. E falando deles, vocês duas saberiam me dizer onde eles estão?

— Estão sentados lá na mesa. - As duas apontaram para a direção onde os dois estavam.

— Podem me levar lá, por favor?

— É dez pila, minha filha...

— Que?

— Pára de fazer isso com a menina, Konata! Nós te levamos sim, não liga para o que ela fala, venha!

As duas me agarraram pelo braço  e saíram saltitando pelo salão, até chegar á mesa.

— Ooolááá! -Konan berrou.

— Trouxemos encomenda! Alguém aí pediu um anão de jardim?

— Aff, não é nenhum anão...  -Sage se levantou da mesa.

— Gente, não falem assim dela! É nossa amiga! -Sagi interveio.

— Ah, nos desculpe senhorita. Bem, precisamos ir. Temos uma competição de quem rouba mais doces na mesa. Ops, quero dizer... De quem come o jantar mais rápido!

— Meninas, não façam isso, por favor... - Tia Sara as olhava, desaprovando a situação.

Eu não sabia se ria, ou se achava a situação uma loucura. Depois que as duas saíram correndo, fiquei ali ao lado da mesa sem saber o que fazer, porque me sentia um pouco intrusa ali no meio, já que não tinha sido convidada para se sentar junto deles.

— Não ligue pra elas, são bem doidas. - Dizia Sage.

— Pois é! Não vai chorar por causa disso, não é? - Sagi levantou-se da mesa.

— Hahaha, não vou!

— Ela não vai porque hoje nós vamos... -Sage olhou em direção a Leon e tia Sara, me puxou e sussurrou. -Roubar doces!

— Aaaah eu quero também! -Sagi saltitava e batia palma.

— M-mas... Isso não pode, é errado!

— Melli, Melli... Você é certinha demais! Precisa aprender a viver perigosamente.

— Eu quero ir! -Sagi ainda saltitava.

— E se formos pegos? - Perguntei.

— Ninguém vai saber que fomos nós, porque *caham* somos super discretos.

— Está bem, vou acreditar em você!

— EU TAMBÉM QUEROOOO!

— Táááá, vamos os três!

— Valeu Sage! Você é o melhor irmão de todo o mundo!

— Baah! Podemos ir? Ô MÃÃÃÃE, IREMOS DAR UMA VOLTA!

— Sage meu filho... Não grite aqui! Podem ir, mas antes do jantar quero os dois na mesa!

— Tááá!

Os dois agarraram o meu braço e saíram correndo em direção a mesa de doces. Quando chegamos lá, vi o paraíso dos doces em cima daquela mesa... Oh céus! Tudo o que você pensava que teria em um casamento, tinha ali: bem casados, camafeus, docinhos de chocolate e avelã... Eu não sabia qual pegava primeiro, pois todos pareciam muito apetitosos!

— E que comece o jogo!

— Mas Sage...

— Pegue e disfarçadamente vá para longe.

Corri os olhos rapidamente pela mesa, agarrei um e saí andando até o jardim. Parecia que ninguém estava percebendo o nosso "ato infrator", e realmente ninguém percebeu. No jardim, sentados em uma mureta, nos deliciávamos com os nossos doces, enquanto os noivos estavam na mesa dos meus pais conversando sobre o relacionamento de tia Sara, Leon e os gêmeos.

— No começo os dois não me aceitaram em casa, mas sei como são as crianças. -Dizia Leon.

— Eles tinham ciúme, e aprontavam cada uma... Teve uma vez em que eles colocaram uma lagartixa na cabeça do Leon.

— Nossa! Tudo por ciúme? E como resolveram a situação? - Quis saber mamãe.

— Bem, eu tive uma boa conversa com eles. Foi um pouco difícil no começo, mas hoje eles me aceitam na boa!

Na minha opinião, um papai faria bem aos gêmeos, porque coitada da tia Sara... As vezes não tem tempo de ficar com os gêmeos por causa do trabalho, o que acaba fazendo com que fiquem com a Rachel na maioria do tempo, e sei como eles se sentem, porque comigo não é muito diferente. Papai trabalha, passa meses fora de casa, e volta só quando pode, sendo assim, acabo passando mais tempo com a minha mãe do que com ele, e realmente faz muita falta não ter o papai sempre em casa. Não tenho mais quem brinque de cabaninha comigo, como na infância, não tenho o papai para me aplaudir enquanto danço ballet, não tenho papai para me ajudar nas lições de casa, e mais do que tudo, não tenho papai para limpar minhas lágrimas e me consolar com um abraço na hora em que sinto meu coração apertar por conta da tristeza.

~ enquanto isso, no jardim ~

— Meu, isso aqui é muito bom! Eu comeria uns dez! -Sage lambia os dedos sujos de chocolate.

— Do que é? Deixa eu experimentar? Eu te dou um do meu. -Sagi esticava o braço para o irmão, segurando um doce.

— É de avelã, experimente. - Deu um doce para a irmã.

— Hmmmm...

— Gostou?

— Sim! E o seu Melli, do que era?

— Ah, na verdade eu não sei... Tinha gosto de coco.

Enquanto estávamos ali fora, conversamos muito! Sobre a escola, sobre desenhos animados, e até mesmo sobre o ballet. A Sagi parecia estar bem a vontade de vestido, porque em nenhum momento ouvi ela reclamar e o que me deixava admirada, era que ela corria para lá e para cá mesmo de vestido. Estávamos sentados lá fora, e no mesmo momento em que conversávamos, passou dentro do salão, próximo a porta uma menina que se parecia com a Karen. Oh não, será que até aqui eu teria de atura-la?

— Ei gente... -Me levantei rapidamente da mureta.

— Que foi Melli? está com cara de assustada... -Sage se levantou e se colocou frente a mim.

— Passou um bicho ali? Ah, o Sage mata ele pra você!

— Aff Sagi, fica quieta!

— Eu acho que vi a Karen aqui!

— Ah, ela iria vir mesmo! O pai dela é patrão do Leon, e isso quer dizer que... -Sage fora interrompido pela irmã.

— A enjoada está por aí andando de vestidinho de grife, dizendo para todas que o pai mandou busca-lo na cochinchina, e que hoje ela ficou no spa tendo um dia de rainha e bla bla bla aquelas coisas todas que a Karen diz, e que todo mundo está cansado de saber!

— Que ela e as coisas dela vão para...

— Calma Sage, não se importe com o que ela diz. Ela quer mesmo é chamar a atenção de todos. - Falei.

— É mesmo! A gente deve é aprontar com ela... Mas poxa, se fizermos isso mamãe vai ficar muito brava e triste.

— Tem razão! Pode ser na escola mesmo, e ela vai se arrepender de desprezar você, Melli. Ah se vai... -Sage fechou a cara, e olhava para Karen no salão.

— Não precisa fazer nada com ela, eu não quero que vocês se envolvam em confusão. Já pensou se a diretora fica sabendo? Seria muito chato se vocês fossem para a sala dela assinar o livro de advertências...

— Eu não me importo. Só me importo de ver minha amiga bem. -Sagi me abraçou forte.

— Ah... Obrigada, mas olha... Eu não quero que ela me veja aqui na festa, se não já vai vir com o falatório, então vou ter que entrar escondida.

— Ok, vamos indo por onde tem mais pessoas, assim nos escondemos atrás delas.

Entramos no salão, e tentamos observar onde estava o alvo, que por sorte estava longe. Íamos nos colocando atrás das pessoas e andando rápido para que a Karen não pudesse nos ver. Chegamos até passar bem perto dela, mas ainda bem que ela não nos viu. Bem, chegamos na mesa dos noivos sãos e salvos! Deixei os gêmeos ali e voltei para a minha mesa, me esquivando para que não pudesse ser notada pela Karen. Então, quando estava de volta para meus pais, o jantar fora anunciado. Sentada ali na mesa, senti alguém tocar meus ombros.

— Ei...

Me virei para trás e vi Sage.

— Oi, ainda está vendo a Karen por aí?

— Sim, mas o que vim fazer aqui não tem a ver com ela.

— Então o que é?

— Venha comigo!

O que ele queria comigo? Será que iria me esconder? ou ele queria dizer que eu estava bonita? E se... E se...

— Pronto, chegamos! -Ele mostrava uma mesa com três cadeiras.

— Uh, uma mesa! Muito bonita, mas o que tem aqui?

— Ela é nossa! Minha mãe pediu para que colocassem essa mesa aqui para eu, você e Sagi! Ela pediu que fizessem agora, não sei porque, mas é dahora, né?

— Muito dahora! Talvez porque sei lá... Eles queiram ficar só os dois ali.

— Eheeee, cheguei trazendo notícias! -Sagi saiu de baixo de uma mesa.

— A Karen vai ir embora e vamos poder aproveitar a festa sem problemas? -Sage agarrou os ombros da irmã, entusiasmado.

— Não! Ela ainda está por aí, mas o jantar vai ser servido, aaai que tudo!

— Hahahaha "Ai que tudo" Hahahaha -Sage soltou uma gargalhada. -Você com essas giriazinhas de patricinha é demais!

— Ai Sage, eu só não brigo com você porque hoje não é um dia muito bom para brigar.

— Hahaha Até agora ainda não acredito que você está usando vestido!

— Ela é menina, ué... As meninas usam vestido, e os meninos usam roupas como a sua. - Falei.

— Mas ela não gosta de vestidos...

— Claro que eu gosto! É tão... Lindo, meigo... Só não gosto da saia da escola.

— Olá, boa noite... - Um mocinho de gravata borboleta chegou em nossa mesa.

— Boa noite! É comida o que tem aí? -Sage perguntou, mirando os olhos nas bandejas que o rapaz segurava.

— Sim! Com licença. - O rapaz gentilmente colocava os pratos em cima da mesa.

— Olha, parece estar com uma cara boa! -Sagi arregalava os olhos para os prato em cima da mesa.

O cheiro estava bom, mas eu estava com medo de comer, já que eu não sabia o que era e tinha um certo problema com comida. É, sempre dei trabalho para comer, não era de hoje! Custou para que eu aprendesse a pelo menos comer arroz, e não sei porque isso acontecia. Não sei se por medo, por sei lá o que... Não sei.

— Não vai comer? -Sagi perguntou.

— E-eu vou... Mas o que é isso?

— Ah, é carne. Experimente, você vai gostar.

Um pouco atrapalhada com os talheres, cortei um pedaço e levei á boca.

—Hmm... É bom sim. Meio ardido, meio doce... Gostei!

— Aeee menininha! Agora já pode casar com o...

— Nanananananaão!

— Casar com quem? Está de caso com algum menino, Melli? -Sage perguntou, se aproximando de mim.

— Não não, mas é claro que não estou! Porque acha isso?

— Você e minha irmã ficam de segredinho uma com a outra. Se ela te zoa por causa disso, então ela deve saber de alguma coisa que eu não sei.

— Então ela é quem deve saber de alguma coisa que eu não sei...

— Hahahahaha Um dia vocês vão descobrir!

— Um dia nada! Pode ir falando agora! -Sage puxou a irmã.

— Não! Hahahaha Come a comida ae e fica de boa, Sage.

Não liguei muito para a discussão dos dois, mas queria sabem o que Sagi estava pensando. Eu jamais contei que estava gostando de algum menino para ela, e também nunca tinha contado que achava o irmão dela bonito, então como é que ela desconfiava de alguma coisa? Ah, não sei. Ao mesmo tempo que eu não queria me casar, eu achava o Sage uma gracinha. Pois é, na verdade eu até gostava de um menino, e futuramente gostaria de namorar, mas encobria tudo para que ninguém ficasse usando isso com piadas do tipo: Hum, então já surgiram os namoradinhos! E o casamento, já está marcado? Pra falar a verdade, para mim tudo está sendo muito confuso, e lidar com isso não é fácil. É, eu acho que a adolescência já está chegando, ou será que já chegou? Ai mamãe, socorro! Falando na minha mãe, fui até a mesa dela para ver como estavam as coisas, e mais uma vez, fui me escondendo.

— Ah, oi filha! Você já jantou? -Mamãe disse, enquanto arrumava o meu vestido.

— Sim! E você?

— Se diz "E a senhora?" E o que você fez no vestido? Está amarrotado...

— Deve ter sido porque eu me sentei na mureta lá fora, mas é só arrumar, não é?

— Se comporte, hein! Você já não é mais criança para ficar pulando.

— Tá...

— Convidamos a todos da festa para se acomodarem  ao redor da pista de dança, onde os recém casados irão apresentar sua primeira dança juntos! -Uma voz masculina anunciava a dança do casal.

— Vamos lá Max! Estão chamando para a pista de dança!

— Bora lá, mas é pra dançar?

— É para que possamos ver os noivos dançarem!

— Gostaríamos de comunicar para que os padrinhos também se dirijam a pista de dança a fim de realizarem a valsa dos padrinhos!

— Olha, também vamos dançar! -Mamãe se entusiasmou.

— Xi... Isso não é comigo...

— Vamos!- Mamãe segurou na mão do meu pai, e o levou para a pista de dança rapidamente.

— E eu? -Choraminguei.

— Você vai ficar comigo! Vamos assistir a dança juntas, e vai ver como vais ser lindo! -Rachel se posicionou ao meu lado.

— Mas e minha mãe e meu pai? Eles irão voltar?

— Vão sim, não se preocupe!

— O que eles irão dançar?

— Uma valsa muito bonita, como nos contos de fada!

Todos se aproximaram da pista de dança, e a orquestra contratada para a festa, começou a tocar a valsa do danúbio azul, e os dois recém casados colocaram-se a dançar. Estavam tão felizes e apaixonados, que enquanto dançavam, parecia que o amor que um sentia pelo outro também nos tocava. Ah, que coisa linda... Olhares apaixonados, música clássica e muito amor! Ok, chega de sonhar acordada, Melli.  No momento em que os noivos dançavam, os padrinhos assistiam admirados nas laterais enquanto ainda não tinha iniciado a sua dança. Rachel e eu, diferentemente do que aconteceu na igreja, conseguimos um lugar lá na frente, para que pudéssemos assistir sem que nada nos atrapalhasse. Quando chegou a vez dos padrinhos dançarem, imediatamente olhei para meus pais, que um pouco desajeitados, tentavam entrar no ritmo da valsa. Papai constantemente pisava no vestido da mamãe, que só sabia rir do coitadinho, mas até que era uma coisa bonita de se ver, já que eu nunca os via em momentos de carinho. Foi como ver um casal de adolescentes dançando! Hahaha Mais uma vez eu fiquei encantada com o casamento! Apesar de meu pai ser um pouco atrapalhado, mamãe conseguia o fazer entrar nos eixos. Como a valsa tinha sido coreografada, todos dançavam iguais, até mesmo os atrapalhados dos meus pais. Em um canto, quase imperceptível da pista de dança, Sage e Sagi também arriscavam alguns passos.

— Convidamos a todos os convidados a se juntarem a dança!

— Ei Rachel... - Dei um pequeno puxão na saia dela.

— Oi, pode dizer...

— Vamos dançar também? Por favor...

— Claro!

Fiquei na ponta dos pés para ficar do mesmo tamanho que a Rachel, mas mesmo assim não consegui. Ela era bem mais alta que eu, acho que mais ou menos do tamanho da tia Sara. Segurei nas mãos dela, e começamos a dançar. O mais engraçado, era que as vezes eu acabava dando uns puxões nela e até mesmo pisando no pé dela. Hahaha

— Quando você tiver quinze anos, você vai dançar deste jeito com o seu pai, você sabia?

— Não... Mas porque?

— Os quinze anos é uma data muito especial que marca a vida de uma menina! E nessa data é quando geralmente as meninas fazem uma grande festa, e dançam valsa com o pai.

— Mas que legal! Parece ser muito lindo.

— Sim, é tudo muito lindo!

Quando a valsa terminou, uma multidão correu para a mesa dos doces. Juro que aquilo parecia um formigueiro com formigas doidinhas para atacar açúcar! Eu até poderia ter ido lá, mas preferi ir para a pista de dança, que havia sido aberta também naquele momento. Antes que pudesse correr para lá, fui até a mesa dos meus pais, retirei minhas sandálias e as deixei escondidas debaixo da mesa, atrás da toalha. Naquela hora eu já nem estava mais ligando se a Karen iria me ver ou não, porque eu já tinha me esquecido que ela estava na festa, mas eis que o pior aconteceu:

— Olha quem está aqui! Mas o que está fazendo descalça? - Karen se aproximava da pista de dança.

— Oi, tudo bem? Só tirei para dançar.

— Mas que nojo! Não sabe que nesse chão existem milhões de micróbios? Ah, tinha me esquecido que você vem do lugar onde as pessoas sequer usam sapatos.

— É aí que você se engana. Todos usávamos sapatos...

— Hum compravam com que dinheiro? Com o que sobrava da venda de esterco de vaca?

— Não... Nós não vendemos isso.

— É por isso que você é tão nojenta, garota! Garanto que os cavalos te criaram muito melhor do que o seu pai, não é mesmo?

A olhei furiosa, e me segurava para não chorar e a empurrar de cara no chão.

— Oh, eu me esqueci! Você não tem pai... Ao contrário de mim é claro. Ah, você sabia que eu dancei com o Leon? Ele sabe mesmo como tratar uma dama, é muito bem educado, ao contrário de certas pessoas...

— Você é muito chata! Não é assim que se trata as pessoas... - Não aguentei e comecei a chorar.

— Ei ei ei, o que está acontecendo aqui? -Ufa, Sage apareceu.

— Não é nada, Sage querido...

— Querido o caramba! Você a fez chorar, não é mesmo?

— Ela está chorando porque não sabe onde a mãe dela está, só isso! -Ela afinou a voz como sempre faz pra se passar por vítima.

— É mentira! Ela disse que fui criada com os cavalos, e que sou mal educada.

— Olha que mentirosa... Sabia que o nariz de quem mente cresce?

— Eu não sei porque você implica tanto com ela, Karen... Deixa de pegar no pé da menina! Que merda, meu! Já estou cansado de ver você dizendo essas coisas pra Melli. Se você acha que o seu papaizinho tem dinheiro o suficiente pra comprar o mundo, que bom pra você. Que você pegue todo o dinheiro dele e engula! Ninguém mais te aguenta ficar falando: "Ai meu papai vai comprar isso isso e isso pra mim, morra de inveja porque você não tem" "Ai, porque vou fazer ballet na minha casa com professor particular" "Ai porque nhénhénhénhé" Que saco! E ao invés de ficar julgando as pessoas pelo lugar que elas moram, você deveria tentar conhece-las. E a Melli tem um pai sim! Ele pode não cuidar dela todos os dias, mas pode ter certeza que ele não a compra com uma bolsa de marca, mas sim com o carinho que ele lhe dá!

— Eu não sei porque tanto você a defende, se no jardim de escola você fazia ela comer areia...

— Não importa o que aconteceu no  jardim de infância... Eu não te devo explicação.

— Por um acaso ela é sua namorada? Deve ser né... Você a defende tanto!

— Não é da tua conta, menina. Eu a defendo porque gosto muito dela! Mesmo que eu batia nela, depois disso ela ainda conseguia me olhar nos olhos e me chamar pra brincar junto dela. Bem, eu não vou ficar discutindo com você. Só espero que um dia você arranje amigos verdadeiros, porque aí você vai saber do que estou falando. Vem Melli, vamos lá comer bolo junto com a Sagi.

As palavras da Karen realmente me feriram, porque no momento em que ela disse que fui criada por cavalos, senti como se ela tivesse chamado minha avó e minha mãe de animais, e poxa vida... Se não fosse por causa das duas, eu não estaria nem estudando em uma escola como a Red Roses, e eu não saberia sequer o que seria de mim. E quanto a questão sobre o meu pai, ele pode ser um pouco ausente na minha vida, mas sei que onde quer que ele esteja, com certeza estará pensando em mim, e mesmo que a ausência dele doa as vezes, sei que ele trabalha para que eu, mamãe e ele possamos ter uma vida melhor. Nossa, fiquei muito impressionada com as palavras do Sage. Ele deveria estar muito irritado mesmo, mas fiquei aliviada e feliz, porque aquilo foi a prova de que Sage gosta muito de mim, e que tudo aquilo que se passou no jardim de infância foi superado. Voltamos lá pra nossa mesa, onde com a boca coberta de glacê, Sagi devorava um bolo.

— Que foi, o que aconteceu Melli? -Quis saber.

— Foi a Karen que fez ela chorar... - Sage explicou para a irmã.

— Ah, tinha que ser! O que ela falou pra você?

— Eu não quero lembrar, por favor...

— Ah tá, desculpa. Ó, bolooooo! Pode comer, tem bastante aqui! -Sagi empurrou um prato com bolo para frente de mim.

— Ow, passa um pouco pra cá também, né!

— Pegaê, pode pegar, tem pra todo muuuundo! Não liga não, Melli. A Karen se acha tanto, que um dia vai acabar quebrando a cara. É o que acontece com todas as pessoas que são arrogantes como ela.

Bem, depois de um pedaço de bolo eu já me sentia melhor, e ainda mais: Queria dançar! Enquanto Sage acabava de comer o bolo, eu e Sagi fomos dançar ao som de Village People.

— YYYYYYYMCA!! -Ela pulava e fazia os gestos da música.

— ÊÊÊÊÊ! Vamos pular!

— Da a mão, da a mão!

— Vai me girar?

— Siiim! Preparada?

— Aham!

— E lá vaaaaai! -Segurando uma mão minha, ela me rodopiou.

Pode ser que não sabíamos dançar corretamente, mas estávamos nos divertindo muito. O que aconteceu com a Karen depois de toda a discussão? Implorou para o pai que a levasse embora para casa, pois não aguentava mais ficar ali. Tia Sara e Leon, partiram em lua de mel após a festa. Ai, que romântico! Rachel voltou para a casa dos gêmeos junto com eles e eu, depois de muito dançar, voltei para a minha casa junto de meus pais, esperando para que houvesse logo outra festa como aquela, sem Karen, é claro!


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