Primaveras escrita por Melli


Capítulo 10
Capítulo 10




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— Convidamos os senhores pais ou responsáveis para juntamente conosco participarem da formatura dos alunos da pré-escola do colégio Red. Roses, a qual será realizada no dia 10 de Dezembro as 08h00min no teatro da escola, onde após a solenidade, será feita uma pequena confraternização em nosso salão de festas. Contamos com a presença de todos! – Mamãe lia o convite com um ar admirado.

— Parece que vai ter bastante gente elegante nesta formatura. – Vovó Savannah dizia ao mesmo tempo em que dirigia.

—Porque acha isso, mãe?

— Porque a maioria das crianças que estudam em colégios particulares são filhos de gente endinheirada.

— Que isso... Basta olhar para nós, e verá que isso nem sempre é verdade.

— Bem... Olhe Elizabeth, estamos chegando. Melli está pronta?

— Amarrarei os laços de fita em seu cabelo e estará. Isso é, se ela deixar... Ei Melli, fique quieta!- Minha mãe tentava me sentar no banco ao seu lado.

Confesso que estava feliz, por isso, pulava de um lado para o outro nos bancos do carro. Eu poderia não ser rica, mas estudava no colégio Red Roses, um dos mais conhecidos na cidade pela qualidade do ensino e pela disciplina aplicada. Embora mamãe e papai quisessem me colocar em uma escola pública, vovó dizia que gostaria de ajudar na minha educação de alguma forma, e ajudar nas mensalidades do colégio foi algo que ela fez, para que eu pudesse receber um bom ensino. Depois que papai conseguiu um emprego, uma boa porção de coisas ficou mais acessível á nós. A mensalidade da escola era muito alta, por isso, consegui ingressar através de um desconto, que deixou a mensalidade razoavelmente baixa. Agora, eu estava prestes a me formar na pré-escola, porém, não dava muita importância para o fato de que seria uma etapa de minha vida deixada para trás. Para mim, importava mesmo era as musicas que eu e meus amiguinhos iríamos cantar. Papai, que estava viajando a trabalho, infelizmente não pode comparecer a minha formatura, mas me sentia feliz porque mamãe e vovó estavam ali. Logo quando chegamos, nos deparamos com milhares de crianças correndo no pátio, e era possível ver algumas mães aflitas com esta atitude.

— Ei, filha, tenha modos! Você está de saia, não pode sair do carro com as pernas abertas. Quer que os meninos vejam sua calcinha? – Minha mãe segurava a porta do carro enquanto eu saía.

— Eu tenho que comportar porque sou mocinha, né?

— Exatamente, agora vamos, porque daqui a alguns instantes sua formatura irá começar.

Apressadamente, minha mãe me puxava pela mão, enquanto vovó ficava admirada com a escola. Depois de me deixar atrás das coxias do teatro, as duas foram sentar-se na quarta fileira de poltronas. O teatro estava enfeitado com uma decoração especial de formatura, com panos e luzes coloridas. Atrás das cortinas, nossa professora esforçava-se para nos organizar, pois muitas crianças estavam correndo, mexendo nas coisas do teatro... Mas eu apenas conversava com outros colegas. Logo, as cortinas se abriram, e com isso, vimos em nossa frente, nossos pais. Uns tiravam fotos, outros apenas olhavam. Depois de algumas palavras da diretora, começamos a cantar algumas musicas, e percebi que neste momento, mamãe acabou se emocionando a certo ponto, que seus olhinhos estavam cheios de lágrimas.

—Neste instante, iniciaremos a entrega dos certificados. - Anunciou a diretora ao público.

Enquanto alguns de nossos colegas recebiam aquela pequena lembrança, nós, que ainda não havíamos recebido, aguardávamos ansiosos sentados em pequenas cadeiras, posicionadas em cima do palco. Uma musica de melodia suave tocava naquele instante, e com uma enorme paciência, a professora anunciava o nome dos alunos.

— Amellie Savannah Hollister.

Levantei meio sem jeito e caminhei até a professora, a qual me deu um forte abraço, e um beijo, que marcou de batom minha bochecha rechonchuda. Depois do beijo, me entregou um envelope branco, enfeitado por uma fita vermelha e com meu nome escrito por uma caneta de tinta dourada. Segurei tal envelope, e logo a professora me pediu para que eu olhasse a frente, na direção de um mocinho que estava com uma câmera fotográfica em mãos. Ao olhar para o moço, vi também que mamãe e vovó estavam naquela direção, e me aplaudiam em grande felicidade. Tomada por um sentimento muito bom, olhei para o moço e dei um sorriso banguela. Como eu já estava com 6 anos, era normal que alguns dos meus dentinhos caíssem, e na noite do dia passado, um dos meus dentes da frente havia caído, e o outro, caiu enquanto eu tomava café da manhã. O moço da câmera parecia ter achado graça do meu sorriso, porque ele também estava rindo.

Depois de entregue todos os certificados, estávamos partindo para o salão, mas vi que Roxy estava sentada em uma cadeira do teatro e parecia estar triste.

—Oi Roxy! Chama seu papai e sua mamãe pra gente ir à festa? - Perguntei.

— Meu papai e minha mamãe moram no céu, Melli... – Uma lágrima escorria de um dos olhos dela.

Minha mãe, percebendo a situação, resolveu conforta-la.

— Venha comemorar conosco! - Estendeu-lhe a mão.

Parece que o ato da minha mãe, animou um pouco a Roxy, porque um pouco depois, ela já não estava mais chorando, e conversava até mesmo com a minha avó.

— Será que tem coxinha? – Quis saber Roxy.

— Adoro coxinha! – Dei um pulo, enquanto segurava a mão da vovó.

Chegamos ao salão, e logo Roxy saiu correndo em direção ás amigas. Talvez ela estivesse acostumada com a ausência dos pais, tanto que não dava muita importância para isso, afinal, ela perdeu os pais quando era apenas um bebê. Desde então, ela vive no orfanato instalado na escola, que destina apenas a cuidar de meninas. Durante a formatura, tudo o que ela mais queria era alguém que vibrasse quando seu nome fosse chamado, alguém que a cobrisse de calorosos abraços desejando-lhe os parabéns por cumprir a etapa da pré-escola. Mamãe, vovó e eu, procurávamos um lugar para nos sentar, em meio aquele enorme salão, que pouco a pouco, enchia de pessoas. Mas, andando através daquele local, acabamos encontrando uma simpática senhorita ruiva, que nos ajudou a encontrar uma mesa ao lado da sua.

— Ei moça... Podem usar esta mesa aqui. – Apontava a gentil senhorita.

—Ah, não irão usa-la?

— Não, pode usar! - Sorriu gentilmente.

 - Eu agradeço, então!

— De nada. Esta aí atrás é sua filha?

— Sim, esta é a Amellie, mas todos chamam ela de Melli! – Minha mãe me tirou de trás dela.

— Meus parabéns pela formatura! Vocês cantaram muito bem!

— Como se diz mesmo, filha?

— Obrigada. – Eu queria fugir em direção à mesa de doces.

— Oh! Então conheci a famosa Melli de quem minha filha tanto fala!

— Ela é mãe de alguma amiga sua? - Mamãe me perguntou.

— Não sei... – Eu ainda queria fugir.

Sagi e Sage apareceram correndo e logo se sentaram na mesa da moça ruiva.

— Oi Melli! – Sagi me cumprimentava com seu jeito animado.

— Oi Sagi! – Respondi.

— Desculpe, esqueci-me de me apresentar. Eu me chamo Sara Yamazaki e estes aqui são meus filhos, Sagi e Sage. – Dizia enquanto envolvia-os em seus braços.

— Prazer em conhecê-la, Sara! Eu sou Elizabeth, e esta aqui é minha mãe, Savannah.

— O prazer é meu! Olá Savannah, prazer em conhecê-la também. – Dizia cumprimentando vovó.

Sara era uma mulher muito elegante. Estava bem vestida em um justo vestido verde escuro, e carregava no pescoço um lindo colar de brilhantes. Divorciara-se do marido há 3 anos atrás, mas não deveria ter dificuldade alguma para encontrar outro companheiro, pois era uma moça muito atraente.

— Se quiser ir brincar com seus amigos, pode ir, filha. – dizia mamãe.

Nem tive tempo de responder, quando Sagi me pegou pela mão e saiu correndo para fora do salão. Sage também foi, e aliás, nunca o tinha visto tão animado quanto naquele dia.

— Meeeelli! O seu dente caiu, que legal! – Sagi parecia gostar do que via.

— Tá feiosa... Parece um espantalho. – Sage debochou.

— Espantalho é você! – Deu um pequeno empurrão no irmão.

— É você! – Retrucou.

—Você!

—Você!

—Vou contar pra mamãe que você coisou a Melli. – Sagi ameaçou sair correndo em direção á mãe.

— NÃO!

— Eu vou se você não parar de irritar ela.

— Parei...

Enquanto os dois discutiam, eu ficava estática logo ao lado, observando tudo.

— Melli, se você  deixar o dentinho em baixo do travesseiro, a fada do dente faz uma visita no seu quarto e deixa uma moedinha! – Sagi explicava, como se já tivesse passado pela situação.

— Não existe fada... – Sage tentava acabar com a nossa graça.

— Existe, porque ela veio na minha casa e levou meu dente e deixou uma moeda beeeeem grandona, que agora minha mãe disse que eu posso comprar doce. - Falei.

— Ééé A fada existe, por que... Você sabe por que, Sage?

— A fada é uma boboca!

— Vou fala pra mãe que você tá irritando. – Dessa vez, Sagi saiu correndo em direção á mesa da mãe.

E eu, fiquei ali sem saber o que fazer. Foi quando vi a Roxy perto da mesa de doces e decidi ir ali com ela, mas não acabei ficando muito tempo por ali, porque logo mamãe me chamou para comer na mesa.  E de cara vi que os gêmeos estavam de cara virada um com o outro, pois um estava sentado a direita da mãe, e o outro á esquerda, acho que deviam estar de castigo, ou sei lá. Devoravam coxinhas e outros salgadinhos com uma expressão bem aborrecida, foi quando de repente, começaram a brigar por um copo de coca-cola que encontrava-se próximo a eles.

— Puxa vida, pelo jeito não posso mais sair com vocês! Toda vez é essa briga. Vamos embora, estão de castigo.

— Mas mãe... – Diziam os dois.

— Até mais Elizabeth e Savannah, foi um prazer conhece-las! Tudo de bom pra vocês! –Pegou os dois pelas mãos.

— Tchau, Melli... – Sagi estava prestes a chorar.

— Tchau... – Eu não sabia ao certo o que estava acontecendo.

— Irão ficar sem TV por 3 dias. – Sara saía do salão com os dois.

Após alguns minutos, vimos algumas nuvens escuras juntando no céu, acho que estavas prestes a cair uma chuva daquelas! Como o caminho até em casa era longo, e vovó não queria pegar chuva na estrada, também fomos embora da festa, porém, o que mais temíamos aconteceu: a chuva nos pegou no meio do caminho. Com o nariz na vidraça do carro, eu tentava observar em vão o que estava se passando lá fora, já que os vidros estavam todos embaçados. Então, comecei a deslizar meus dedos no vidro, fazendo alguns desenhos. Achava aquilo divertido. Não era uma brincadeira das melhores, mas me deixava ocupada no caminho de volta para a fazenda.


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