Primaveras escrita por Melli


Capítulo 9
Capítulo 9




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— Meeelli! – Chamava Lysandre na frente da minha casa.

Logo apareci na porta segurando a minha boneca de pano com uma cara de quem tinha acabado de acordar. E realmente, levantei depois de 2 horas de sono. Costumo dormir de tarde porque vou para a escolinha de manhã e quando volto estou cansada, então tenho que descansar um pouco de tarde.

— Oi... – Eu esfregava meus olhos.

— Pode brincá?

— Vou pedir pra minha mãe, tá?

— Tá.

Entrei para dentro para pedir permissão para minha mãe, enquanto Lysandre ficou lá fora brincando em um balanço que havia em uma árvore. Era um balanço de pneu velho que meu pai havia feito para mim antes de ir para o trabalho, não era nada sofisticado. Poderia ser um símples balanço, mas me divertia demais quando estava nele.

— Lysandre, minha mãe disse que posso brincá.

— Oba! –dizia enquanto balançava.

Leigh estava correndo para lá e para cá procurando o irmão, e quando o achou, acabou ficando interessado pelo balanço amarrado na árvore, e ficou por ali também para brincar com a gente.

— É minha vez Lysandre, deixa eu balançar! –Leigh segurava a corda do balanço, na tentativa de parar o irmão.

— Espera, já vô descê.

Eu decidi me balançar por ultimo, porém, como eu era baixinha, não alcançava meus pés no chão. Tentei ainda me balançar sozinha esticando os pés para frente e para trás, mas todo aquele “mexe e remexe” foi em vão.Percebendo que eu estava tendo um pouco de dificuldade para brincar no balanço, Leigh se dispôs a me ajudar. Puxou para trás as duas cordas que prendiam o balanço á árvore, e quando soltou, balancei tão alto que começava a ficar com medo. Foi então que Leigh me balançou vagarosamente e eu ousei até fechar meus olhos para sentir a brisa fresca tocar meu rosto. Em minha imaginação fantástica, imaginava que estava sobre as asas de um enorme pássaro, sobrevoando um campo de flores multicoloridas e que cada vez mais, o pássaro voava mais e mais alto.

— Olhem! Estamos chegando na montanha do pão doce! – Entusiasmada, eu apontava para um monte de areia, que em minha mente representava a montanha.

— Onde? – Quis saber Lysandre.

— Ali, ó! – Mais uma vez, apontei para o monte de areia.

— Ah! Eu vou ser o gigante da montanha. – Leigh correu para lá.

— Eu...Eu... Eu vou ser o moço que come o pão doce. – Lysandre também correu para lá.

— Espera eu! Me ajuda aqui, eu quero descer! – Eu gritava lá do balanço.

— Eu te ajudo! – Lysandre correu para o balanço.

Após me ajudar a descer, eu e Lysandre corremos para o monte de areia, onde Leigh estava sentado com um graveto em mãos. Ao tentarmos escalar aquele enorme monte de areia, eram lançadas contra nós, bolas de areia feitas pelo próprio Leigh.

— Vocês não vão conseguir subir na minha montanha! – Exclamava Leigh, girando o graveto nos ares.

— Nós vamos! – Eu e Lysandre gritávamos incansávelmente.

A brincadeira estava ficando boa, até que uma bola de areia do Leigh atingiu em cheio a minha cabeça. Na hora saí correndo em direção a minha casa. Não queria mais saber desta brincadeira, por isso, me escondi dentro do armário de panelas da minha avó, na tentativa de não ver mais os dois. A cozinha estava vazia, por isso ninguém me viu entrar por ali. Foi então que minha mãe entrou desesperada na cozinha gritando pelo meu nome.

— MELLI! O que está fazendo aí dentro? – Meu esconderijo acabou sendo descoberto pela minha mãe.

— EU NÃO QUERO MAIS, EU NÃO QUERO...

— Não quer mais o que? Venha cá, vamos conversar.

— Me deixa, eu não quero mais saí daqui... BUÁÁÁ!

— Olha, mas o que é isso! Você está cheia de areia... – Mamãe acabou me tirando dali.

— Buáááá!

— Sente-se aqui e me conte o que aconteceu... – Minha mãe me colocou em uma cadeira.

— O Leigh... BUÁÁÁÁ!

— Pare de chorar primeiro né... Depois você conta, mas o que foi que ele fez?

— Tacô areia em miiiim BUÁÁÁÁ!

— Me leve onde ele está, porque iremos conversar com ele.

Ao saírmos na área, ali estava Leigh, sentado em uma mureta com a cabeça baixa, parecendo estar arrependido pelo que havia feito. Lysandre estava sentado ao lado do irmão, e assim quando nos viu, deu alguns puxões na camisa de Leigh e olhou para ele com um olhar preocupado.  Chegamos por trás dos dois e mamãe foi logo querendo saber o que tinha se passado.

— Então, o que foi que aconteceu?

— O Leigh jogô areia na Melli. – Lysandre dizia para a minah mãe.

— É, eu joguei, mas foi sem querer, eu juro! – Leigh estava quase chorando.

— Então você sabe que isso não se deve fazer, ainda mais quando se trata da sua amiga. Ela é menor que você, Leigh... É muito feio maltratar as criancinhas menores. – Explicava a minha mãe.

— Eu não fiz por mal... – Leigh abaixou a cabeça.

— Você deve se desculpar com a Melli pelo que fez.

— Me desculpe... – Ele me abraçou em meio a um choro sentido.

— Não precisa chorar, Leigh... Podem ir brincar.

Mais que na hora, saímos correndo em direção á árvore do balanço. Desta vez, não iríamos balançar, mas sim, subir nela. Nós três estávamos sentados em um galho baixo e que batia um vento gostoso, mas eu quis mostrar para meus amigos que sabia subir mais alto, então, fui escalando os galhos rumo ao topo da árvore.

— Não vai lá em cima, você vai cair! – Dizia Lysandre, segurando meu pé.

— Eu vou lá em cima, porque lá é mais lega-al.

Estava subindo, e cada vez mais Lysandre e Leigh ficavam abaixo de mim. Não estava muito alto, mas eu começava a sentir medo daquilo e com os olhos fechados, ousava em subir mais,quando de repente, um passo falso foi o suficiente para me fazer escorregar e ir parar no chão.

— AAAAI... AI MEU BRAÇO!

Quando os dois meninos me viram caída no chão, ficaram pasmos me olhando, mas quando deram por sí do que realmente tinha acontecido, os dois pularam da árvore e saíram correndo para chamar minha mãe. Entraram feito um foguete pela cozinha e logo encontraram minha avó, colocando algumas coisas no armário.

— DONA SAVANNAH, A MELLI CAIU! – Leigh desesperava-se.

— OH MEU DEUS! Elizabeth venha aqui, a Melli caiu! – Minha avó berrava em direção as escadas.

— O que? ONDE ELA ESTÁ?

— Em baixo daquela árvore ali, ó. – Lysandre apontou.

Enquanto minha mãe e avó corriam para me socorrer, os dois ficaram ali, admirados com a situação.

— Buáááá meu braço dói, mãe...

— Espere, deixe-me ver... – Mamãe apalpava meu braço.

—NÃÃÃO MEXE... TÁ DOENDO!

— Vamos leva-la para o hospital, Elizabeth! – Vovó correu rapidamente para casa, a fim de pegar as chaves do carro.

— Meninos, vocês terão de ir para suas casas, a Melli vai ter que ir para o hospital. – Dizia minha mãe, enquanto me acudia.

Rapidamente fui colocada dentro do carro. Vovó foi quem dirigiu o carro, e minha mãe foi no banco de trás, tentando me acalmar. Para chegar ao hospital, demoraria 10 minutos, já que não existia nenhum por perto da fazenda onde morávamos. Morar em uma fazenda tinha suas vantagens, mas tudo era inalcasável para nós. Eramos dependentes da cidade para praticamente tudo: escola, roupas, médico e para comprar alguns alimentos que não conseguíamos por meio da fazenda. Embora eu gostasse de morar no casarão da minha avó, meus pais tinham o enorme desejo de um dia conseguir uma casa na cidade. Finalmente chegamos ao hospital e alguns minutos depois, me encaminharam para uma sala estranha, cheias de máquinas. Logo, apareceu na sala uma moça vestida de branco que tirou o raio-x do meu braço e concluiu que ele estava quebrado.

— O braço dela está realmente quebrado, veja aqui. – Dizia a moça de branco mostrando o raio-x para minha mãe.

— Ai meu Deus... Que isso sirva de lição pra você nunca mais subir na árvore, está ecutando Melli? – Minha mãe me bronqueava.

Eu apenas olhei para a minha mãe com uma cara de medo.

— Vamos imobilizar o braço dela com gesso, e ela vai ter que ficar um bom tempo com ele. – Explicava a moça de branco.

— Mas por quanto tempo mais ou menos ela vai ficar com gesso?

— Um mês será suficiente para o osso se recompor.

Após colocarem gesso no meu braço, fomos para casa e eu ficava olhando para aquele gesso branquinho no meu braço. Era pesado e era muito difícil eu movimentar meu braço com ele. Ao mesmo tempo que estava feliz por não estar mais com tanta dor, estava triste por não estar com o braço livre. Quando chegamos em casa, já estava quase anoitecendo, e como vovó ainda não havia feito janta, ela decidiu fazer algo bem rápido e que há muito tempo não fazíamos: assar espigas de milho em volta da fogueira. Vovó chamou Leigh, Lysandre e seus pais para se juntarem a nós, e assim passamos uma parte da nossa noite, em volta da fogueira contando histórias.


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