– Eu vou atender a porta. - Ele diz se afastando.

– Vou ficar por aqui... Posso ir no seu quarto? - Eu pergunto.

– Claro. Nos beijaremos depois, linda. - Ele dá uma piscadela e desce as escadas do sótão. Eu só fico sorrindo para o nada.

* * *

Ficar uma hora bisbilhotando a casa de Killian até que é legal. Descobri bastante coisas aqui. Tive a chance te ver todos os CDs dele e ainda colocar para tocar alguns. E também pude ver e ler trechos dos livros dele. Eu sei que nem todos estão aqui, porque tem alguns no navio dele. Aliás, já faz tanto tempo que não vou lá...

Acabei de perceber que Moby Dick não é tão ruim. Já faz alguns minutos que estou lendo e é bem legal. Na verdade, tive que ler esse livro no ensino médio mas August conseguiu um bom resumo na internet e me deu. Acabei tirando um 10 no trabalho porque a professora disse que consegui "notar" os mínimos detalhes do livro.

O mundo parece estar parado quando se está deitada na cama do seu namorado que nem se lembra de você; lendo Moby Dick enquanto escuta More Than Words de Extreme. Achei um CD da banda entre outros que estão aqui.

Estou focada no livro quando sinto alguém sentar na cama, na minha frente. Me sento rapidamente e vejo Graham sorrindo.

– Graham? - Pergunto.

– Não, o Papai Noel. - Ele responde com sarcasmo.

– Que bom, eu estava justamente querendo falar com você. Onde está o bebê que eu pedi de Natal aos sete anos? Eu tinha sido uma boa garota.

– Você pediu um bebê de Natal? - Ele ri.

– Eu amava cuidar de bonecas bebês que chega desejei um de verdade. - Ele ficou me olhando por um tempo, depois nós dois caímos na risada. - Onde está Killian?

– Dormindo.

– Dormindo?

– Sim. Eu contei tudo á ele sobre o que aconteceu.

– E como ele reagiu?

– Sem reação. Apenas escutou e falou "mas que droga". Depois se deitou e ficou olhando para o teto até dormir.

– Então quer dizer que...

– Está tudo bem. - Ele me interrompe. - Talvez vocês devessem fazer coisas que faziam antes.

– Por quê?

– Whale disse que se ele fosse nos mesmos lugares que antes poderia se lembrar de algo. Isso também vale para sentimentos e sensações.

– Vou tentar.

– Você está ouvindo More Than Words enquanto lê Moby Dick?

– O que é que tem?

– Esse livro é uma droga para se ouvir com uma música maravilhosa como essa.

– Não é, não. Você nunca leu.

– Deve ser por isso que estou vivo...

– Suas ironias estão até boas, mas preciso pegar Henry na escola e depois ir para casa, cuida de Killian?

– Claro. - Ele responde.

– Obrigada. - Me levanto e saio do quarto.

Quando desço as escadas e vou para a sala, vejo Killian deitado e adormecido no sofá. Dou um beijo em seu rosto e acaricio seu cabelo antes de sair. Ele continua dormindo quando fecho a porta e vou andando para a escola de Henry.

* * *

Consegui! Finalmente estou no nível 6 do jogo no videogame de Henry. Passamos a tarde toda jogando esse jogo irritante. Na realidade, não é irritante, eu que sou péssima. Henry tentou me ajudar, mas não teve muito progresso. Depois de algumas horas eu consegui passar de nível. Evito até olhar o nível de Henry, ele já passou dos 30.

Eu até estou deixando Henry comer porcaria hoje, já que é sexta. Aliás, nem perguntei para ele sobre Violet. Será que ele finalmente falou que gosta dela?

– Henry. - O chamo, sendo que o mesmo está ao meu lado.

– Sim? - Ele pergunta ainda vidrado na tela da televisão e com os dedos em movimento com o controle.

– Você falou para Violet?

– Nop.

– Ué, por que não?

– Sei lá, talvez um dia.

– E se ela sair da escola e você nunca mais ver ela?

– Não pensei nessa possibilidade.

– Uma coisa que aprendi foi em demonstrar e deixar claro seus sentimentos antes do pior acontecer.

– Na prática? - Ele pausa o jogo e se vira para mim.

– Sim. Olha, vai por mim, na prática é pior. Mas talvez você devesse relaxar um pouco. Ainda é uma criança e deve aproveitar isso. Eu sei que o primeiro amor é bom, mas não esqueça que você precisa aproveitar cada momento.

– Está dizendo que sou muito novo para isso?

– Basicamente. Mas o que eu quero dizer é que isso é um grande passo e muito maduro.

– Está dizendo também que não estou pronto?

– Não é isso. Apenas... Aproveite o agora. Talvez daqui há alguns anos você vai entender.

– Eu entendo. E você está certa, mãe. Obrigado. - Ele me abraça forte. Um abraço que me fez perceber no quanto meu filho está crescendo. - Eu te amo.

– Eu também te amo, nunca duvide disso.

A campainha toca atrapalhando nosso abraço.

– Chamou alguém? - Henry pergunta se afastando.

– Não. - Respondo e me levanto. Vou andando até a porta e a abro.

– Oi, Emma. Oi, Henry. - Minha mãe diz entrando na minha casa e sentando no sofá. - O que estão fazendo? Ah, jogando videogame, certo? - Ela olha pra TV.

– Mãe? O que está fazendo aqui? - Fecho a porta e me sento ao lado dela.

– Não tem nada pra fazer. - Ela responde.

– Cadê papai? - Pergunto.

– Sexta de boliche dos garotos. - Henry responde por ela. - Dessa vez, metade dos caras da cidade foram jogar boliche.

Então quer dizer que, talvez, Killian esteja lá também.

– Não sei qual é a graça de jogar boliche a noite toda. - Minha mãe reclama. - Porque... Sinceramente, eu não acho a graça nesses encontros semanais. E não adianta só ele ir, quando ele volta, meia noite ou uma hora da manhã, tem que contar tudo o que aconteceu.

– Isso normalmente acontece quando ele perde. - Respondo.

– Ele te conta também? - Ela pergunta para mim.

– Tudo. - Respondo.

– Eles apostam. - Henry diz.

– Infelizmente eu sei - Mary diz. - Emma, me explica uma coisa? Por que ta tudo bagunçado por aqui? Eu acho que sentei em alguma coisa.

– Deve ter sido um pedaço de pizza que esqueci. - Henry diz. Minha mãe logo se levanta e percebe o pedaço da pizza no sofá. - Pronto. - Ele pega e vai para a cozinha jogar no lixo.

– Hoje é sexta, deixo ele livre. - Digo para minha mãe.

– Então vamos arrumar essa zona. Eu te ensinei á ser organizada. - Ela reclama.

– Você nunca entrava no meu quarto, era bem pior. - Revelo.

– Não consigo imaginar. - Ela responde. - Mas, de qualquer jeito, iremos arrumar tudo isso. E depois vamos curtir.

– Não deveria ser ao contrário? - Henry pergunta.

– Não. - Mary responde com firmeza.

Logo eu fui juntando alguns lixos que encontrava.

* * *

Minha mãe dormiu com a gente. Ficamos conversando, jogamos, comemos, ouvimos música e também bebemos (lógico que Henry não). Nos empolgamos demais e fomos dormir 3:00h da manhã. Até Henry. Só me lembro de acordar na minha cama ás 11:26h da manhã, descer as escadas e ver minha mãe adormecida no sofá. Acho que papai nem notou a ausência dela, talvez.

Neste momento estou na frente do Granny's olhando a placa de entrada ao lado de Henry. Minha mãe já foi para casa, mas provavelmente meu pai esteja na delegacia. Estou mais preocupada com Killian. Ele pareceu tão legal ontem, não sei como ele agirá depois de ter escutado o que aconteceu. Na verdade, o que eu fiz. Se eu não estivesse me achando a "heroína qual ninguém pode controlar", isso não teria acontecido. Olha, deixa para lá. Esses pensamentos estão torturando minha cabeça.

– Não vai entrar? - Henry, que está ao meu lado, pergunta.

– Vou sim. - Seguro a mão dele e entro no Granny's.

Como sempre, meu olhos correm pelo local até pararem em Killian sentado em frente ao balcão e bebendo alguma coisa em uma xícara. Não consigo evitar um pequeno sorriso ao vê-lo. Essa é uma das poucas vezes que o vejo sem nenhuma jaqueta. Ontem foi a mesma coisa.

– Eu vou para o banheiro. - Henry diz para mim e vai andando até os fundos, indo na direção do banheiro. Respiro fundo, vou na direção de Killian e sento ao seu lado.

– Oi, Killian. - Digo sorrindo.

– Oi. - Ele responde meio frio, sem olhar para mim. Ele bebe um enorme gole do líquido na xícara e depois me olha.

– O que foi? - Pergunto.

– Graham me contou o que aconteceu.

– Eu sei. - Suspiro.

– E espero que saiba que o que você fez foi errado.

– Também sei disso. O que ele mais te contou?

– Ele disse que estávamos juntos e nos amávamos. Por que não me contou isso ontem?

– Eu não poderia te dizer. Você tinha acabado de sair do hospital e estava sendo observado por uma enfermeira na própria casa.

– O engraçado foi que eu senti algo por você. Mesmo assim, pensei que seria tudo ilusão ou algo do tipo e agi naturalmente. Bem, mais ou menos. - Ele dá um pequeno sorriso de lado, meio envergonhado.

– Você tenta beijar todas as mulheres que acha bonita?

– Não. Só senti esse enorme desejo por você.

– Entendi.

– Você me ama mesmo, Swan?

E ele me chamou de Swan. Pois é, ele me chamou de Swan. Por quanto tempo fiquei mesmo sem ouvir o seu "Swan"? Porque parece que foi uma eternidade.

– Sim. Eu te amo muito. - Sorrio e coloco minha mão sobre a dele.

– Você parece ser sincera.

– Eu sou.

Ele fica parar e em silêncio, parece estar me analisando.

– Se bem que você faz meu tipo. - Ele pisca para mim.

– Isso é bom ou ruim?

– Ótimo.

– Vou acreditar em você.

– Pode me contar uma vez que estávamos juntos?

– Tem vários momentos, Killian.

– Já te contei a história das sereias?

– Sim. Sim. Várias vezes, não aguento mais ouvir. - Ele ri.

– Como foi no dia em que te contei pela primeira vez?

– Eu joguei ketchup em você.

– Por quê?

– Você me irritou.

– Eu deveria ter aproveitado.

– Você aproveitou tanto que dormiu abraçado comigo.

– Eu queria tanto me lembrar... - Ele desvia o olhar.

– Ei, não é culpa sua. - Coloco a mão em seu rosto e me aproximo olhando em seus olhos. - A culpa foi minha.

– Você me olha de um jeito que faz parecer que tudo está bem.

– E está. - Sorrio.

– O que você está fazendo é tortura psicológica. Por que você é tão linda? E seus olhos são tão... Lindos. Me sinto meio perdido quando te olho.

– Não sei o que dizer.

– Não precisa dizer nada. - Ele sorri e arqueia as sobrancelhas.

– O que quer dizer com isso?

– Olha, tenho que te dar isso. - Ele tira uma carta do bolso e me entrega. - Até mais, Swan. - Ele sorri, se levanta e sai do Granny's.

– O que tem aí? - Henry aparece no meu lado.

– Inventou que iria no banheiro? - Pergunto para ele.

– Um plano infalível. E deu certo. - Ele responde se sentando onde Killian estava.

– Não faça mais isso.

– Lê a carta.

– Depois te digo o que tinha. Quer ir para algum lugar?

– Para a biblioteca. Quero ficar a tarde toda lá, vou entrar no paraíso da leitura.

– Tudo bem. Vamos. - Nos levantamos e saímos.

* * *

– Oi, Belle. - A cumprimento entrando na biblioteca.

– Oi, Belle. - Henry a cumprimenta. Ela levanta o olhar de um livro e nos olha sorrindo.

– Oi, Emma e Henry. - Ela responde se levantando. - Como posso ajudá-los?

– Eu gostaria de ficar a tarde toda viciado em livros. - Henry responde e Belle ri.

– Tudo bem. Fica a vontade. - Ela diz.

– Eu só vim deixá-lo aqui. Pode tomar conta dele? - Pergunto.

– Claro. - Belle me responde e acompanha Henry até a área de livros infantis. Sorrio e vou saindo da biblioteca.

Pego a carta que Killian me deu e a abro.

" Swan,

Ainda não me lembrei de você ou de qualquer coisa que aconteceu. Mas eu gostaria de continuar onde paramos. Sim, eu gostaria de fazer isso. Mas, eu preciso saber se me conhece mais que ninguém. Vou estar te esperando ás 18h em um lugar muito especial. Se você conseguir me encontrar, poderemos ser como antes (vou tentar). Mas, se não, talvez possamos ser apenas amigos. Espero que me encontre porque gostei de você.

Dicas:

– Não é alto.
– Tem uma vista maravilhosa.
– Me acalma.

Espero muito que você saiba que lugar é esse. Até mais, Swan.

Killian Jones"

Então quer dizer que é um desafio? Esqueci de dizer que adoro desafios. E acho que sei bem onde ele está: Na praia. Só pode ser, o mar o acalma. Essa é a minha única chance, não vou desperdiçá-la. Não vou desperdiçar mais nada. Já perdi muito com issso.

E não quero perder Killian outra vez.