Storm Born escrita por esa


Capítulo 2
I


Notas iniciais do capítulo

lembra que eu prometi que ia desconfundir vocês? é, então, não vai acontecer ainda (hehehehe)
bem, o capítulo ficou meio curtinho, mas só porque se eu alongasse mais retornaria para o prólogo e começaria a ficar muito repetitivo
de qualquer forma, espero que vocês gostem



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Cinco horas antes da tempestade

—- Vocês dois se importam em diminuir o... – Teresa começou, do outro lado da ilha da cozinha, junto ao fogão, frigideira em mãos, os cabelos presos em um rabo de cavalo apertado, o moletom felpudo que eu e Jack compramos para ela de aniversário amarrado à cintura.

—- Sim! – resmungamos em uníssono, sentados ao sofá, os olhinhos grudados na tela da televisão enquanto a décima quinta reprise de nosso filme favorito coloria a sala. Teresa bufou ruidosamente enquanto Jack afundava o botão de aumentar o volume, birrento.

O filme já estava nos vinte minutos finais, e movíamos os lábios junto dos personagens. Teresa resmungou algo sobre nos deixar passar fome por uma semana por sermos tão mal educados, mas nada importava naquele momento. Porque era hora da cena final.

Jack começou a mexer as pernas e os braços, embolando e arrancando o cobertor de cima de mim, estapeando a lateral do meu corpo com as mãos enquanto eu gargalhava contidamente – para os meus padrões – tentando não atrapalhar no andamento do filme.

—- A. Cena. Final. – ele praticamente cantarolou, os olhos azuis quase brancos brilhando, o tronco inconscientemente projetado para frente. Será que eu fico assim quando estamos assistindo a algum filme?

—- Jack. – comecei, sorrindo.

—- Sh. – ele empurrou a mão contra meu rosto, me fazendo cair contra o encosto do sofá. Revirei os olhos, seus dedos ainda esmagando meu nariz. Ele cantarolava baixinho a música final, praticamente pulando sentado.

Só quando os créditos finais começaram a subir – assim como a fumaça que subia da frigideira enquanto Teresa fritava o que pelo cheiro parecia ser carne – Jack soltou meu rosto. Empurrei sua mão para longe e puxei o cobertor para o meu colo.

—- Foi um ótimo filme, irmão. – brinquei baixinho para que Teresa não escutasse, impulsionando meu corpo para frente, escorregando pela almofada do assento em direção ao tapete felpudo que compramos semana passada.

—- Não poderia discordar. – ele começou a fazer carinho em minhas costas com a sola do pé esmagado dentro de duas meias, e, por incrível que pareça, ali deitada no chão, sendo pisada por Jack, estava bastante confortável.

—- Será que, agora que eu já não estou mais atrapalhando o filme inédito de vocês, – Teresa zombou, desligou o fogo e levou as mãos aos quadris – os dois poderiam desacomodar-se do sofá e vir jantar?

Não fiz questão de corrigi-la quanto a não estar mais acomodada no sofá – do outro lado da ilha da cozinha, onde ela estava, provavelmente nem me via ali deitada no chão – e levantei com a ajuda de Jack.

Morávamos em uma casa relativamente pequena. Dois quartos, um armário e um banheiro no andar de cima; uma micro sala e uma micro cozinha no andar térreo. Nos mudamos há quatro anos, pouco depois de Harry morrer.

Regra número um estabelecida por Teresa dentro de casa: nos tratávamos por nossos nomes. Com exceção das minhas lembranças dos seis anos, os termos “mãe” e “pai” pareciam uma bizarrice saída de filmes infantis.

—- Antes de sermos uma família, somos pessoas. – ela constantemente lembrava, quando Jack e eu começávamos a provocá-la, chamando-a de mãe. – Por que é que temos de perder nossos nomes para ganharmos rótulos?

Não que eu tivesse qualquer opinião formada sobre o assunto, mas conforme os anos iam passando, aquilo tornara-se absolutamente natural. Sendo sincera, depois de tanto tempo, era muito estranho chamá-la de mãe.

—- Eu gostaria de agradecer pela comida na mesa. – ela cantarolou suavemente quando nos sentamos, os pratos ainda vazios, as travessas cheias de carne e macarrão, o prato favorito de Jack.

—- Eu gostaria de agradecer pela comida na mesa ser macarrão com carne. – ele apertou levemente a mão de Teresa por sobre a mesa, sorrindo e piscando seus olhos em direção a ela, que sorriu. Então, os dois pares de olhos praticamente iguais, se voltaram para mim.

—- Hm. Certo. – eu nunca sabia o que dizer, porque precisava agradecer uma coisa diferente a cada dia, sem trapacear. E eu não era boa em ser criativa. Ou em não trapacear. – Eu gostaria de agradecer... por amanhã ser feriado! – Teresa uniu as sobrancelhas, naquela conhecida expressão de “você pode fazer melhor, Hailee”. – O que permitirá que eu passe mais tempo com minha querida e amada família maravilhosa.

Toquei o ombro dos dois, sorrindo de orelha a orelha enquanto ela revirava os olhos, mas sorria, movimentando o queixo para cima e para baixo em uma suave confirmação silenciosa de “você se saiu bem”.

Regra número dois estabelecida por Teresa dentro de casa: todas as noites, antes de comermos, agradecíamos por alguma coisa. Podia ser qualquer coisa pela qual realmente nos sentíssemos gratos, contanto que Teresa não a considerasse fútil, ou trapaça – da última vez que tentei reordenar as palavras de Jack acabei ficando sem jantar.

Nunca ficou claro para quem exatamente iam nossos obrigados, mas nunca era uma boa ideia contrariar as ideias de Teresa. Portanto, desde que minha memória conseguira registrar, nos sentávamos à mesa e agradecíamos.

—- Eu estou faminto. – Jack segurou os talheres como uma criança de dois anos faria, os olhos meio arregalados mirando a montanha de macarrão com carne em seu prato. Eu já estava com a boca suja de molho quando ele deu seu suspiro final antes de dedicar-se à comida.

O relógio cuco que um dia fora de nossa bisavó cucou as onze da noite. Não costumávamos jantar tão tarde, mas aquela era uma terça-feira especial. Eu nascera em uma terça-feira, era o que Teresa adorava vender, durante uma tempestade – com direito até mesmo a tornados!

Mas não, não se tratava do meu aniversário. Era só uma véspera de feriado que coincidentemente caíra em uma terça-feira. Jantamos em completo silêncio por exceção do som dos garfos raspando o fundo dos pratos – aquele barulho que faz correr um arrepio pela espinha de qualquer um – e quando terminamos, beirava meia noite.

—- Eu vou me deitar. – anunciou Teresa quando estávamos os três encolhidos ao canto do sofá, o barulho da lava louças se sobrepondo ao dos diálogos de um reality show na televisão. – Não levanto cedo amanhã, mas levantei cedo o suficiente hoje para estar caindo de sono.

Jack e eu erguemos nossos rostos para fora do cobertor, piscando nossos olhos em direção à silhueta dela. Teresa se remexeu e levantou, se ajoelhando no espaço entre nós dois e nosso cobertor.

—- Boa noite. – desejei, sorrindo mesmo que a borda do cobertor tapasse todo o meu rosto abaixo do nariz. Jack sorriu, os lábios descobertos. Ela se inclinou e beijou nossas testas, o joelho afundando a almofada do assento por alguns segundos.

—- Eu amo vocês. – ela murmurou ao se levantar, a voz um pouco embargada, as mãos nos bolsos traseiros da calça jeans surrada da época em que rolávamos pela grama do antigo quintal.

—- Também te amamos. – dissemos juntos, e mesmo com a pouca luz, pude notar o canto de seus lábios se erguendo.

Ela se afastou e subiu as escadas, dois degraus por vez. A porta de seu quarto se fechou com um som abafado, e o silêncio dos créditos finais do programa fez com que tudo que se escutasse fosse o zumbido da lava louças e nossa respiração baixinha.

—- Você acha que ela vai sair da cama amanhã? – Jack sussurrou, mesmo que a porta estivesse fechada e o revestimento do teto, as estruturas da casa e o piso de madeira do chão o separassem do alcance dos ouvidos dela.

—- Eu não sei. – sussurrei de volta, sendo o mais sincera possível. O dia seguinte seria aniversário de Harry, e no último destes, Teresa passara o dia trancada no quarto. – Se ela não sair até as dez, talvez devêssemos tentar levar um café da manhã.

—- Ou talvez seja melhor deixá-la sozinha. – Jack aconselhou depois de um tempo, hesitante, e, quando suas sobrancelhas se moveram um pouquinho, franzindo sua testa, eu soube o que ele queria dizer, mas não diria.

—- Longe de mim, você quer dizer. – soltei o ar no que pareceu uma bufada digna da pirraça de uma garotinha de cinco anos. E foi como se o elástico que eu viera esticando por todo o último ano se soltasse com um paft estrondoso.

Senti as bochechas arderem e os olhos marejarem. Deus, Hailee, pare com essa merda!, esbravejava comigo mesma mentalmente enquanto Jack unia as sobrancelhas e se virava para mim, as mãos em meus joelhos.

—- Você sabe que eu não quis dizer isso. – ele esticou minhas pernas e as puxou para seu colo, me puxando para mais perto. – E você sabe também que ninguém jamais te culpou pelo que aconteceu, Lee... Não foi sua culpa, nem de mais ninguém. As coisas sempre acontecem...

—- ...por um motivo. – completei, revirando os olhos quando Jack se transformou em um borrão devido às lágrimas, que rolaram por minhas bochechas no tempo certo para que ele as secasse antes que chegassem ao meu queixo. Ele passou os braços por meus ombros e beijou minha testa. – Eu...

Me esquivei com maestria para longe de seu abraço, escorregando para fora do sofá, os olhos já cheios de lágrimas outra vez. Os sequei com as costas das mãos e as guardei nos bolsos traseiros da calça jeans.

—- Hailee.

—- Eu preciso dar uma volta. – seus olhos brilharam e a boca se transformou em uma linha fininha. – Jack, por favor. – choraminguei, mesmo sabendo que não haveria argumento que me manteria parada ali. – Não torne as coisas mais difíceis.

Ele fechou os olhos e baixou a cabeça em um aceno positivo de rendição. Caminhei até a porta, pronta para abri-la e sair correndo em direção ao nada por tempo o suficiente para clarear meus pensamentos.

—- Deve estar congelando lá fora. – sua voz soou distante, mesmo que a sala não tivesse mais de quatro metros quadrados. – Pelo menos coloque um casaco.

Pesquei a primeira coisa que meus dedos tocaram no cabideiro junto à porta – ironicamente uma camisa de flanela antiga de Harry – e apanhei a mochila surrada de Jack, pendurada em um dos puxadores do aparador.

Meu celular estava sobre o móvel, e o atirei dentro da mochila sem nem mesmo checar se ele ao menos estava ligado ou reparar nas outras coisas que já ocupavam o interior da mochila.

Passei pela porta sem me importar com a garoa fina que se acomodou em meu rosto no segundo exato em que atravessei o batente, me encolhi dentro da camisa – porque estava congelando – e corri para longe.


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Notas finais do capítulo

por enquanto é isso e eu espero que tenham gostado
por favor, por favor, por favorzinho, comentem (sei que é chato etc mas reviews ajudam em muito na motivação para continuar a escrever)
até a próxima ♡



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