Arborescente escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 15
Capítulo quinze




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― Deixem-nos sozinhas, por favor ― murmurou Reilly, com o olhar fixo em uma Petal adormecida.

Foi uma visão que pensei que nunca teria que ver.

Quando meu avô morreu, eu tinha cinco anos e ele se negou a ir ao hospital, ele disse que queria morrer em casa. Esse é um dos motivos pelo qual eu nunca mais entrei na casa de meus avós.

― Não é como se tivessem conversa para colocar em dia ― reclamou Karen, já do lado de fora.

― Karen! ― exclamei.

― O que? É a verdade! ― ela defendeu-se, e eu tive que concordar.

Trudie foi a última a sair, fechando a porta.

― Falarei com os médicos. Fiquem aqui, sim? ― pediu, antes de se afastar de nós.

Observamos como ela ia, e vimos alguns estagiários, segurando pranchetas, enquanto eram guiados por uma médica. Entre essas pessoas, Nalla Scott, que acenou para mim, assim que me viu. Acenei de volta, antes de me virar para Karen.

― Karen! ― repreendi.

― O que? ― ela sussurrou, os ouvidos ainda grudados na porta ― Ela não deveria ter nada a esconder! Não entendo como Trudie concordou com isso...

― Talvez se comoveu ― sugeriu Mischa, dando de ombros ― E, como disse, ela está desacordada.

― Mas pessoas confessam com os pacientes em coma ― disse Karen.

― Ela não está em coma! ― eu disse, franzindo o cenho.

― Mas está desacordada ― retrucou Karen.

― Eu acho que sei o que ela tem ― murmurou Pacey, olhando para o chão.

Viramo-nos para ele, olhando curiosos.

― C.A.D ― disse Pacey ― É...

Antes que ele pudesse dizer algo, Mischa levantou-se, pegou pela gola da camiseta e empurrou-o contra a parede.

― Você acha, não tem certeza ― rosnou Mischa ― Entre achar, pessoas inocentes podem ser culpadas por um crime que não cometeram. Não existe “achar” aqui!

― Ei, calma! ― Nolan e Jesse levantaram-se, para afastá-la dele.

― O que é CAD? ― perguntou Karen.

― Não é CAD, é C.A.D ― corrigiu Pacey.

― Desembucha de uma vez! ― cortou Todd, ríspido.

― Célula Auto Degenerativa ― gritou Mischa ― Contentes?

Antes que eu pudesse dizer algo, ela saiu pelo corredor, furiosa. Olhamos para o outro lado, e percebemos algumas estagiárias olhando assustadas para Pacey, que estava sentado no chão, após ter sido soltado por ela.

― O que aconteceu? Ouvi gritos ― Reilly abriu a porta, parecendo assustada.

― Mischa surtou, não se preocupe ― eu disse, e senti o olhar dos outros sobre mim. Aproveitei quando ela voltou, para articular ― Eu não menti!

― Disse para não se preocupar ― observou Nolan.

― Foi o que Mischa disse: não temos certeza. Não vamos nos preocupar à toa ― Karen deu o assunto por encerrado.

― Acham que ela vai demorar a acordar? ― Reilly voltou para perto de nós, apoiada no batente da porta.

― Eu não sei ― respondi.

― Talvez seja o tratamento, que a deixa exausta ― sugeriu Karen.

Trudie não demorou a voltar, mas não disse nada sobre o que os médicos disseram. Aquela situação toda era um grande teste da Franqueza, porque acreditavam... Acreditávamos que é perda de tempo tentar suavizar a verdade e, de certa forma, omissão. Não existe um momento certo para que ela seja dita.

― O que disseram? ― perguntei, esforçando-me para não ter pena de Reilly ou quem quer que fosse.

― Se sabem o que é, não me disseram ― Trudie parecia irritada ― Mas os estagiários pensam que é...

― Não diga CAD ― pediu Karen.

Nossa instrutora olhou repreensiva para ela, por interrompê-la ou porque pediu para mentir. Preferia acreditar que era a primeira opção.

― Eu já volto, vou ao banheiro ― eu disse, antes de sair pela porta aberta do quarto.

― Final do corredor à direita ― ouvi a voz de Trudie.

Segui as instruções dela e, quando entrei no recinto, vi que Mischa estava lá.

― Minha mãe sofreu de C.A.D ― ela sussurrou, ao me ver ali.

― Você não precisa me contar ― interrompi-a, antes que continuasse.

― Se não for agora, será no dia da Revelação Completa ― ela aumentou o tom da voz ― E não há momento melhor que esse. Quero dizer, minha mãe ficou bem. Petal também ficará. Esse termo... “Auto Degenerativo” é bem depressivo.

― Nisso eu tenho que concordar.

Aproximei-me e sentei-me ao seu lado.

― Eles quase a expulsaram, deram-na como se já estivesse morta ― contou ― Eles a tratavam pior, por não poder se mover tanto como antes e, também, por estar mais fraca.

― Deveriam apoiá-la ― eu disse.

― Ela é mulher ― Mischa deixou escapar um som de escárnio.

― Por isso quis sair daquele lugar? ― perguntei.

― Foram vários motivos... ― deu de ombros.

Ficamos em silêncio, mas não era de todo desagradável. A porta do banheiro abriu-se, mas não nos mexemos.

― Ah! Aqui estão vocês! ― disse Karen ― Petal acordou.

― Nós já vamos ― me pronunciei, antes que Mischa pudesse dizer algo.

Minha amiga concordou com a cabeça, antes de sair.

― Sua mãe é uma mulher forte ― eu disse, virando-me para Mischa, novamente ― Se tem uma mulher respeitada naquele lugar, é a sua mãe.

― Você não sabe do que está falando ― ela negou com a cabeça.

― Talvez ela não seja mais tão jovem quanto antes, mas isso não importa ― retruquei ― Ela passou por isso, que não deve ser nada fácil, mas está aí, sem sequelas, vivendo a vida dela.

Ela não disse nada, e eu levantei-me, batendo na minha saia, para tirar a possível poeira que impregnou-se ali.

― Quando as pessoas envelhecessem, não podem continuar na Audácia ― desabafou Mischa.

― Como assim? ― perguntei, confusa.

― Você é muita ingênua, Aeryn... Eles te dão duas opções: ou você vira uma sem facção, ou... ― ela parou de falar ― Eu só não quero estar perto quando isso acontecer, eu não quero me apegar a ela... Porque eu tenho certeza que ela jamais seria uma sem facção.

― Ainda falta tempo para isso ― tentei consolá-la.

― Perfeito! Assim, eu tenho mais tempo para me desapegar ― decretou Mischa.

Embora sua voz fosse firme, eu sabia que ela não estava nem um pouco bem com essa história.

― Não vamos pensar nessa história ― pedi, ajudando-a a se levantar ― Vamos ver Petal.


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