Quando Stiles acordou seu pescoço doía e ele sentia como se tivesse levado uma pedrada muito forte na sua cabeça. Latejava tanto.

Ele passou a mão direita ao lado, procurando seus óculos no criado mudo, pois teve a maldita sorte de esquecer as lentes no dormitório da faculdade, mas tudo que conseguiu pegar foi o ar, pra que inferno tinham levado seu criado mudo? Foi então que ele sentou-se e percebeu que seu quarto havia mudado um pouco.

Um pouco não, havia mudado muito. Na verdade aquilo não era nada parecido com seu quarto. Seu quarto nunca teve aquele tamanho imenso, seu quarto nunca teve uma TV tão grande, ele também não tinha uma mesa de centro em frente a ela, e peraí, ele estava deitado num sofá? Sua cabeça doía. Aquilo não era seu quarto. ONDE DIABOS ELE ESTAVA?

Ele levantou com rapidez e se arrependeu amargamente o segundo depois, sua visão estava embaçada agora. Meu deus ele tinha bebido tanto ontem. Maldita Vodca.

 Ele voltou-se a sentar no sofá e tentou raciocinar, mas tudo que sua mente dizia era bebi demais, fui sequestrado, vou morrer, ai meu deus como vou dizer isso pro meu pai? Ah, não vou precisar dizer, eu vou estar morto!

Stiles colocou as mãos sobre a cabeça e continuou agonizando no próprio desespero e só parou quando ouviu um barulho atrás de si, o som de óleo quente na frigideira o fez virar de costas, algo cheirava bem também. Ele se levantou com mais calma e seguiu o cheiro, o levando à um balcão onde apertando os olhos para enxergar melhor, avistou um homem corpulento que, usando um avental, colocava bacon em um prato e voltava a fritar alguma coisa na frigideira. O desespero e confusão voltaram com força para Stiles, meu sequestrador está fritando a droga de um bacon!

O sequestrador então ergueu a cabeça, encontrando os olhos de Stiles, sua barba rala se destacava através dos lábios franzidos e suas sobrancelhas grossas formavam um v sobre sua testa, ele parecia com raiva, e parando pra analisar ele também parecia não está usando camisa nenhuma embaixo do avental.

— Sente-se e coma, depois conversamos. – O sequestrador disse apontando com a espátula em forma de ovo frito que levava em mão para o prato que também continha ovos e uma torrada. Sua voz soou mais limpa que Stiles tinha esperado.

Stiles hesitou por um momento, apenas ficando no mesmo lugar onde parou, mas ao perceber que o outro tinha sentado numa cadeira e começado a comer ele andou lentamente até o balcão e tomou um lugar para si, então levou um pedaço de torrada à boca, após a primeira mordida ele percebeu o quão faminto estava, estabelecendo um ritmo frenético de mordidas e garfadas até esvaziar todo o prato.

— Então, você me sequestrou? – Stiles disse depois de um tempo, quebrando o tenso silêncio que havia entre os dois. Para a surpresa de Stiles o sequestrador o encarou com as sobrancelhas erguidas, olhando-o como se ele tivesse louco.

— O que? De onde diabos você tirou isso? – O outro retrucou incrédulo enquanto recolhia os pratos e andava em direção a cozinha. Ok, talvez Stiles tivesse exagerado na conclusão, mas não era sua culpa! Sua mente apenas sempre imaginava o pior cenário possível por conta própria.

— Ok, sinto muito, apenas descartando possibilidades. –Ele disse de forma simples, seguindo o homem em direção a pia, se apoiando nela enquanto observou-o limpar os pratos. - Então, como eu vim parar aqui? – Ele perguntou finalmente, agradecendo seu cérebro por elaborar uma pergunta normal.

— Você me diz, eu só peguei a parte onde você apareceu apertando minha campainha e caindo sobre minha entrada. – O agora não sequestrador disse, secando as mãos e sentando-se no balcão novamente, onde Stiles também se estabeleceu no local onde estava antes. Era estranho como o homem estava tão confortável e tranquilo com um cara que aparentemente invadiu sua casa. Era estranho também Stiles não se sentir nem um pouco desconfortável também. Ele preferiu não pensar nisso no momento e voltou a falar:

— Então, ontem teve uma despedida de solteiro e então teve essa grande festa na casa de uma amiga e eu acho que eu exagerei na bebida e talvez tenha me perdido na volta? – Sugeriu, nem ele sabendo se era verdade, não se lembrava direito, mas parecia ser a situação mais provável a acontecer. Noção de espaço de Stiles fica péssima quando havia muita vodka envolvida.

— Mas porque você me acolheu? – Stiles perguntou curioso , apoiando os cotovelos no balcão.

— Eu não podia deixa-lo lá fora ao léu. E pareceu muito trabalho te acordar, você parecia muito bêbado pra raciocinar. – Ele disse simples e tudo que Stiles podia fazer era concordar.

— E se eu fosse um ladrão ou coisa do tipo? Eu poderia levar aquela TV, cara. É uma ótima TV.

— Então-

O homem foi interrompido com o som do celular vindo do bolso da sua calça, ele apanhou o aparelho e quando viu Pai no visor e que horas eram todo seu corpo congelou por um momento.

—Merda. Pode me dá um momento? – Ele pediu já com o dedo na tecla verde do aparelho e recebeu do homem apenas um aceno  leve. Stiles levantou e foi para um canto afastado da cozinha, atendendo ao telefone.

—Ei, pai, e aí?  -Ele forçou a voz, tentando parecer simpático.

—Olá Stiles, boa tarde. Só queria saber porque meu filho não avisou que passaria a noite fora e porque nenhum de seus amigos sabem do seu paradeiro. Principalmente hoje. — Seu pai perguntou, soando mais preocupado do que bravo, o que aliviou Stiles.

—Desculpa pai, é que houve um imprevisto e eu acabei não podendo dormir em casa, merda, desculpa, eu tô saindo agora, chego em casa daqui 20 minutos. Merda, desculpa. Merda. – Stiles desligou antes de escutar a resposta do seu pai. Andando apressadamente de volta ao dono da casa.

— Merda, eu tenho que ir, tenho que ir mesmo, você pode me dizer onde é a porta? Ainda estamos em Beacon Hills, certo?  - Ele disse ao homem que já tinha se levantado e o guiava para o que provavelmente seria a saída.

— Se você seguir direto a partir daqui e dobrar a esquerda você chega no cinema, a partir daí acho que você se vira. E sim, ainda estamos em Beacon hills. – Ele disse abrindo o portão de ferro velho, apontando pra onde Stiles deveria ir. Stiles apressadamente saiu e se preparou pra correr como não corria em anos, merda, ele estava tão atrasado.

—Okay, eu tenho que ir. E obrigado por sabe...Não me deixar morrer de frio do lado de fora nem me estuprar ou me vender pro mercado negro. – Ele disse nervosamente, lamentando as escolhas de palavras novamente e apertou o passo tentando se encontrar. Avistou o cinema da cidade e suspirou aliviado, não estava tão longe de casa, se corresse um pouco poderia chegar lá em 10 minutos. 

Enquanto corria para casa lembrou-se do não sequestrador (que agora tava mais pra bonitão desconhecido), da conversa que tiveram, do cheiro de bacon que veio da cozinha, das sobrancelhas franzidas do homem, dos braços fortes, do possível tanquinho por trás do avental e... porra Stiles esse não é o momento. Ele afastou os pensamentos desnecessários e continuou o caminho, já avistando seu Jeep encostado em frente à sua casa. Um pequeno sorriso surgiu no seu rosto ao pensar sobre o quão interessante tinha sido sua manhã e como seria incrível o resto do dia. Seu pai ia se casar!