Pov. Vick

 E la estávamos nos de novo, ouvindo aquele sermão. Me sentia em um daqueles déjà vus, muito estranho. A cena era praticamente igual a do ano passado, a diferença era que continha Jullie e David pra piorar.

 Eu me sentia péssima nessa situação e um pouco culpada também. Não gosto de violencia, apesar de odiar a Jullie e ter ficado travada numa cama por culpa dela durante meses (e estar divorciada também), mas se pudesse evitar eu evitaria até o fim. Agora, Lucy e Katy no caso, pensavam diferente e eu sabia que isso acontecer, só não queria que fosse hoje e nem agora.

–Eu sabia que isso ia acontecer, era uma questão de tempo até vocês repetirem o que fizeram no ano anterior! - Dizia o diretor. Fazia meia hora que ele não parava de falar. - Vocês por acaso me ouviram hoje de manha? 

 Ninguém disse nada. Achamos que não falar seria o certo, já que ano passado pegamos detenção e trabalho em dupla. Estamos tentando evitar esse tipo de coisa esse ano.

–Parece que perderam a fala não é? - ele balançou a cabeça indignado. - Agora começar a ter maturidade vocês não querem. Só dão mal exemplo aos outros alunos da minha escola, estão com notas ruins dos semestres passados. Na verdade não sei nem porque estou discutindo com vocês.

 Eu me sentia na obrigação de consertar aquilo, até porque algo me dizia que ele queria nos expulsar. Eu levantei a mao e ele me olhou.

–Diretor, eu... Peço desculpas em nome de todos os meus amigos. Sei que foi ridículo essa atitude que tivemos e prometo que isso não vai se repetir. E quanto a nossas notas não se preocupe vamos recuperar. No ano anterior aconteceu muitas coisas pessoais que nos deixou um pouco fora do foco - Katy me encarou quando disse "pessoais". Ela não achou que eu fosse contar todas as merdas pro diretor né? Ai que ele ia nos expulsar mesmo. - Não tivemos muito controle de todas as situações, mas posso te garantir que esse ano vai ser diferente. O acontecimento de hoje não passou de um mal entendido, peço desculpas mais uma vez.

 Ele continuou me olhando e depois assentiu.

–Certo, agradeço a atitude senhorita Starks. - ele trocou olhares de nos pra David e Jullie do outro lado da sala. - Espero não ver mais esse tipo de atitude em vocês de novo, sinto que tem potencial ai, só precisam ser menos selvagens. Agora, estão liberados, deixem-me conversar com meus novos alunos. - ele falou encarando os dois.

 Eu sorri aliviada. Ótimo. Tinha faculdade garantida. Obrigada Deus! 

 Saímos da sala as pressas antes que ele mudasse de ideia e deixamos ele sozinho com David e Jullie.

 Cassie estava emburrada e eu a entendia muito bem, se isso era o nosso foco pra tentarmos ser civilizados durante o ano, imagina se não tivéssemos.

 A festa já tinha acabado e então decidimos ir pra casa, descansar pras próximas aulas de amanha.

[...] 

Pov. Jason

 O pessoal foi embora e eu preferi ficar mais um pouco. Não queria ir embora antes de ter uma conversa muita seria com Jullie, ate agora me recusava a acreditar no que estava acontecendo. No que estava acontecendo e no que tinha acontecido. Não entrava na minha cabeça a parte em que a garota que foi criada comigo tinha quase arruinado uma vida, até porque por culpa dela, Victoria poderia estar morta agora.

 Eu não acreditava na pessoa em que minha irma - a pessoa que eu mais gostava antes de realmente ter amigos- tinha se tornada fria e dissimulada. 

 Respirei fundo e aguardei pacientemente enquanto ouvia os gritos do diretor de dentro da sala. Mais meia hora depois ela e David saíram de mãos dadas da sala. Ela me encarou obviamente surpresa por ainda me ver aqui e eu somente olhei pra cara do David.

 Desde quando eles estavam juntos? Desde quando ela conhecia esse cara?

 Acredito que essas perguntas deveriam estar estampadas na minha cara pelo jeito que ela me olhou.

–Pode indo pra casa - ela disse para David - Preciso conversar com meu irmão! 

 Ele assentiu dando um beijo nela. Depois foi embora.

–Jason - ela disse abrindo um sorriso depois que David sumiu de vista. - Você esta com uma cara péssima, ta tudo bem??

–Não, Jullie, não esta tudo bem. 

–Aconteceu alguma coisa? - ela franziu a testa preocupada. 

 Eu ri, indignado por ela ainda ter a coragem de me perguntar.

–Me surpreende você ter essa cara de pau de perguntar. - Eu gritei do nada de tanta raiva. - Jullie, qual é o seu problema? Você veio pra Nova Iorque pra que? Porque? Você tem noção do que fez com a Vick? Você entende que ainda não esta na cadeia porque ninguém quis dar queixa por minha causa, por consideração a mim?

 Eu estava ao berros e ela me olhava assustada. 

–Mas que droga, você perdeu a noção das coisas. Você quase matou uma pessoa, quase me fez ser expulso da faculdade hoje, e esta aqui. Você nunca quis estudar, não entendo o porque de estar na minha frente agora e muito menos de estar com David, você nem conhece ele direito...

 Ela revirou os olhos pra mim.

–Chega, eu não vou ouvir isso - Ela disse levantando as mãos como se fosse parar o transito. - Queria ter uma conversa agradável com você, mas vejo que não quer o mesmo. Me procure quando estiver mais calmo.

 E então ela deu meia volta e começou a andar até o estacionamento. Eu a puxei pelo braço e depois a agarrei pelos ombros violentamente enquanto ela me olhou assustada.

–Você vai me ouvir sim. Então volte para o muquifu de onde você esta hospedada, pegue suas coisas e volte para casa e talvez eu pense em poupar nossos pais de saber sobre a psicopata que você se tornou.

 -Jason, pare com isso... - ela se contorceu toda pra que a solta-se, mas não o fiz.

–Quero você longe do David, você não sabe quem ele é e nem o mal que esta causando por estar aqui. Ju você não tem noção de com quem esta se metendo, você vai arrumar problemas...

–Eu disse chega! - Ela gritou escapando de minhas maos. - Não vou fazer nada do que esta me pedindo, sou maior de idade e faço a merda que quiser. Me deixe em paz porque eu não vou embora de Nova Iorque tao cedo.

–Ótimo! - eu disse - Finja que eu não existo então, não quero que as pessoas saibam que tenho uma maluca como irmã. Fique distante de mim, só me procure quando voltar ao seu normal.

 Dessa vez eu dei as costas a ela. Entrei no meu mais novo carro (já que agora eu tinha dinheiro, não achei necessário continuar andando de ônibus) e voei pelas ruas de Nova Iorque, que pra ajudar tinha começado a chover.

 Eu estava arrasado com Jullie. Mas a ignoraria para o seu próprio bem enquanto eu conseguisse. Algo me dizia que seria um problema te-la por perto.

 Pensando nisso foi que me distrai e quase atropelei uma pessoa. Ela caiu com o susto e eu desci do carro correndo. Sera que eu tinha machucado sem perceber? 

–Eu te machuquei? Você esta bem? Oh droga, me desculpa!

 Me agachei na chuva e vi uma garota me olhar furiosa. Ofereci minha mao pra ela mas ela não aceitou, levantou sozinha num salto.

–Você é louco? - ela avançou em mim, e me deu uma bolsada bem no braço. - Ou é cego? Poderia ter me matado! 

–Me desculpe, foi a chuva... E eu... Eu tava... Me desculpa! 

 Eu me embaralhei no meio das palavras e fitei seu rosto. Ela tava toda molhada o cabelo loiro preso num rabo de cavalo grudado no pescoço, não conseguia ver seus olhos por causa do óculos escorregando pelo nariz.

–Desculpa - Sussurrei de novo. Ela riu - Você esta bem? Eu não machuquei você, machuquei?

–Estou bem - Ela bufou. E deu as costas indo embora.

–Espera - ela se virou me olhando - Eu posso levar você. Quer uma carona? Aonde você mora?

–Não precisa. -Ela disse ríspida. - Alem de quase assassino, você pode muito bem ser um serial killer ou estuprador. Obrigada, mas não.

 Me deu as costas de novo e foi embora antes que eu pudesse dizer algo me deixando sozinho naquela chuva. Suspirei encarando o céu nublado.

 Então, essa deve ter sido a largada pro começo do ano, não é mesmo?