Pov. Vick

 No dia seguinte após a confusão, eu acordei mais cedo, devido a dor de cabeça da festa e toda aquela briga depois dela. Não queria voltar pra faculdade com cara de ressaca, então acordei um pouco mais cedo que todo mundo e fui ate a cozinha.

 Estava tudo uma bagunça e tentei dar uma ajeitada enquanto fazia um café. Minha cabeça estava longe e eu estava agindo mecanicamente. 

 Peguei uma xícara grande de café e fui ate a varanda. A casa tava um silencio tão bom, tao raro. Todo mundo estava dormindo. Lá fora tava um clima ótimo, o sol estava começando a esquentar e iluminar o jardim aos poucos, tinha um vento fraquinho que me fez escorregar na cadeira do jardim e fechar os olhos cansada. Respirei fundo, imaginando como seria ir pra faculdade hoje, ver novamente, todos os alunos olhando pra mim como se eu fosse uma doida. Porque como sempre, temos que começar o ano do jeito mais agitado possível.

—Bom dia - Ouvi uma voz rouca de sono murmurar do meu lado. Abri os olhos e era Jason, ocupando a outra cadeira ao meu lado.

—Bom dia! - Falei, enquanto avaliava seu estado. Seu cabelo estava todo desgrenhado, estava com olheira fundas, ainda de pijama, o rosto todo amassado de quem tinha acabado de levantar e parecia exausto. - Porque não volta a dormir Jason, esta cedo e você parece cansado.

—Estou mesmo - Suspirou ele - Mas vi quando você acordou e vim aqui falar com você. Preciso falar com você!

 Me endireitei na cadeira e encarei seu rosto. O que Jason teria pra falar comigo justo essa hora da manha?

—Aconteceu mais alguma coisa? Porque se tiver acontecido, meu Deus do céu, eu fujo e... 

—Ta tudo bem, calma - Ele sorriu - É só que, conversei com a Jullie ontem e isso me deixou um pouco... Arrasado.

—Quer falar sobre isso? - Perguntei, assustada. Nunca imaginei que Jason quisesse desabafar comigo. Ele não era assim.

—Não, não - respondeu com pressa - Só queria te pedir desculpas. Eu me sinto tao culpado pelo o que aconteceu com você por causa da Jullie e...

—Ah, por favor! - Eu o interrompi enquanto bufava - Não quero ouvir isso de novo. Já discutimos muito sobre isso lembra? Eu só quero esquecer, e você sabe que não foi sua culpa.

—Sim, eu sei. Mas sei também que só não denunciaram Jullie por consideração a mim e por um momento eu tive esperanças de que ela se arrependesse e pedisse desculpas a você. Mas depois de ontem, percebi que ela esta louca e não merece toda a sua gentileza de não ter denunciado ela. Eu sinto muito por isso.

 Pensei por um momento no assunto. Não era algo do que eu gostasse de falar, mas Jason parecia derrotado e ele era meu amigo e aquilo estava me matando.

—Perdoei você Jason, posso perdoa-la também, não faço o tipo de guardar rancor nem nada parecido. 

—Ela não merece seu perdão.

—Sei disso - Suspirei - Mas, o que é dela ta guardado e pode apostar que aquela surra de ontem foi só o começo do que ela vai sofrer na mao de Katy e Lucy. Pode ficar tranquilo quanto a isso! 

 Ele sorriu, assim como eu imaginando o que aquelas loucas estavam planejando.

—Por favor, Jason, não quero mais ouvi-lo se lamentando por isso. Quero esquecer o que aconteceu, se puder esquecer sua irma também. Perdoar não quer dizer que eu tenha amnésia. Me prometa que não vai mais tocar nesse assunto.

—Com uma condição! - pediu ele, abrindo outro sorriso tímido. Eu esperei ansiosa que ele dissesse - Não seja tao dura com Chad, ele ainda sofre. É meu amigo assim como você, não gosto do que vocês estão passando.

 Eu revirei os olhos. Sabia que ele tinha razão, mas eu não estava pronta pra isso. Não agora.

—Talvez eu considere sua condição! 

—Ótimo - ele se levantou caminhando pra dentro de casa - Talvez eu considere não pedir mais desculpas a você! - o ouvi murmurar da sala.

 Bufei de raiva. Se tinha algo que eu não aguentava mais era ouvir lamentações de quem quer que fosse.

 Fui obrigada a escutar Jason durantes meses seguidos, e praticamente todas as ferias, se desculpar por sua irma. A culpa que ele carregava devia pesar uns 10 elefantes juntos, mas nada do que eu dizia fazia ele se sentir melhor. Ele só parou de falar nisso quando gritei com ele. Não quero passar por isso de novo

—Isso não é justo! - Gritei de raiva.

—O que não é justo? 

 Dei um pulo de susto na cadeira derramando todo o café em mim mesma. Olhei pro lado e Chad  riu encostado na parede.

 Também devia ter acordado quase agora, tava com o rosto todo amassado, os cabelos gritando por um pente e seus músculos a mostra precisando de uma camiseta pra cobri-los.

—Não é nada - respondi sua pergunta de mal humor, encarando meu short branco que agora estava preto. Nem me abalei de tanta preguiça e continuei encarando o jardim a minha frente.

—Não quis te assustar, desculpa! - Ele sussurrou.

—Ta tudo bem! 

 Evitei contato visual com ele o maximo que pude, até porque ele estava semi nu e eu não sei se ele tinha consciência disso. 

 Ele se arrastou até a minha frente e se sentou na poltrona me observando, trocando olhares de mim pro meu pijama sujo de café, depois deu de ombros desistindo de alguma pergunta interior.

—O que você estava conversando com Jason, que a fez gritar assim? 

—Te acordei?

—Não. Ele esbarrou em mim na escada rindo da sua cara! 

 Fechei mais a cara ainda. Ótimo, agora Jason vai ficar rindo de mim. Que beleza.

—Ele estava falando sobre o que ele sempre fala. Me pedindo desculpas sobre a Jullie. - revirei os olhos ao dizer.

—É normal ele se sentir culpado! - Eu o encarei confusa. Porque ele tava querendo entrar nesse assunto também? Quando isso ia acabar? - Você não se sentiria? Se sua irma destruisse vidas?

—Já era o tempo dele ter superado, não acha? Já o perdoei, já perdoei ate a Jullie, porque ele ainda insisti em...

 Seu rosto se tornou duro e inexpressivo por um momento, até ele voltar a falar mais ríspido do que antes.

—Elas destruiu vidas, Victoria. Como pode ter perdoado ela? - Aquela pergunta soou mais como uma acusação.

—Vidas? 

"Até onde eu me lembro, fui eu quem ela deixou em coma" essa frase veio em minha cabeça, mas algo me conteve a não dizer.

—Sim, vidas. Você entrou em coma, e todos nos entramos com você também. Jullie não só quase a matou, quase matou a mim também! Eu quase morri, então sim, ela destruiu vidas! - Engoli em seco enquanto sua voz saiu baixa mas cheia de ódio. - Você realmente não existe! - ele balançou a cabeça em negação.

—O que eu fiz agora?

—Você só esta sendo você demais, entendeu? 

—Não.

 Na verdade, Chad só estava conseguindo me deixar mais confusa e irritada do que na noite anterior.

—Você perdoa as pessoas com muita facilidade. Não consegue ficar muito tempo irritada com alguem. Ela quase matou você, e você a perdoou. - Ele se levantou agitado e fitou meu rosto - Porque não pode fazer isso comigo, também?

 Eu me senti náuseada, como se ele tivesse dado um soco no meu estomago. Mais perdida do que antes eu me levantei cambaleando e tentei enfrentrar aquela olhar de acusação.

—Chad... Eu, queria... Eu quero na verdade, que as coisas voltem ao normal mas...

 Eu engasguei no meio da fala com todo aquele olhar dele, meio que me acusando, como se eu o tivesse traido por perdoar Jullie e não ele.

—O que te impede? Você perdoou Jullie! Porque não pode fazer isso por mim também?

 Eu não sei.

—É diferente. Não é que eu não tenha te perdoado, ate porque eu não tenho que te perdoar de nada. Eu só estou cansada. Você já parou pra pensar em como tudo começou com a gente? Ficamos algemados por mais de 24 horas, presos numa ilha deserta, nos casamos em Las Vegas. Não foi assim que eu imaginei me apaixonar por alguem e ter um futuro, não com tanta bagunça, loucura e...

—Tudo bem - ele levantou a mao como se quisesse para o transito - Entendo você. Sei que tem razão, mas me evitar não vai mudar nada.

—Também sei disso. Só não quero ficar lembrando de coisas que quero esquecer. Evitar você é mais fácil do que tentar superar.

—É o que você acha? 

 Não respondi. Porque não era realmente verdade, mas também não era mentira.

 Ele passou por mim sem dizer nada e eu fiquei ali em pé, olhando pro quintal vazio enquanto de repente Vegas passou por mim e começou a correr na grama e destroçar as flores de Cassie por onde passava.

 Desisti de ter uma manha normal e sai dali antes que mais alguem quisesse me pedir desculpas ou voltar com um assunto batido. 

[...] 

Pov. Lucy 

 Tomei no minimo nos últimos minutos umas 3 aspirinas pra conseguir aguentar o tranco de hoje. Fomos de carro pra faculdade então chegamos bem cedo. Todo mundo se diperçou a sair e fazer suas coisas individualmente. Eu nem do carro consegui sair.

 Afundei no banco observando o local onde tinha sido a festa. O chão tava sujo de fuligem da fogueira, algumas luzes de decoração ainda estavam penduradas e ate agora nenhum sinal do carro de David ou Jullie.

— Para com isso - Senti a mao de Nicolas apertar minha perna chamando minha atenção. Voltei meu olhar pra ele que me olhou com desaprovação. - Você não vai arrumar briga hoje, pelo amor de Deus, não vou deixar.

—E amanha?

—Nem amanha, nem depois de amanha e nem depois disso - Ele se aproximou de mim e me beijou de leve num selinho. Ainda com o rosto colado em mim disse - Pelo menos não aqui na faculdade, chega de sermos alunos problemas não acha?

—Não sou aluna problema - Disse enburrada virando o rosto. Ele riu.

—Não, imagina. - ele riu - Serio, o que tivermos que fazer com aqueles dois safados, faremos fora dos portões da faculdade. Me prometa! 

Suspirei, rolando os olhos.

—Não vou prometer algo que não sei se sou capaz de cumprir.

—Vai ser. Porque quando você faz merda, eu acabo fazendo também. Então se controle, se possível! 

—Ah, não me culpe por ser tao idiota quanto eu! - Disse rindo. - Eu não tenho nada haver com sua genética maldita, que fez você ser assim!

Ele ia dizer alguma coisa que me faria bater nele, mas o sinal bateu o impedindo. Me inclinei sobre ele dando um beijo rápido.

 Nicolas segurou minha mao quando saímos do carro e caminhamos devagar pra dentro da faculdade. Ainda estava tentando me acostumar com nosso namoro, era diferente pra mim, que passei tanto tempo fazendo tudo as escondidas pra que ninguém soubesse.

 Ainda me surpreendia quando ele me beijava em publico ou segurava minha mao como agora. Ou quando ele beijava minha bochecha quando eu ficava com vergonha com qualquer uma dessas atitudes. Me pergunto ainda quanto tempo eu vou demorar pra me acostumar com isso.

[...]

Pov. Cassie

 Ir pra faculdade e ser observada por todos os outros alunos não era novidade pra mim, então nem me abalei hoje. Simplesmente ignorei os comentários enquanto passei pelo corredor e as piadinha idiotas na sala de aula. Eu sabia que era apenas questão de tempo pra que todos esquecessem, ou pra que algum de nos fizesse alguma outra merda que viraria novidade.

 Agora na hora do intervalo não tínhamos muito o que falar. E os outros alunos pareciam igual a nos, de ressaca.

—O casal maravilha não parece ter vindo hoje - Comentou Katy.

—David é da minha sala - Tyler bufou - Fiquei sabendo que eles levaram suspensão, não vão aparecer nem hoje e nem amanha! 

—Então temos uma folga por dois dias? Ótimo pra acalmar os ânimos - Eu disse positiva. Não tinha certeza se eles aparecessem hoje, eu mesma me controlaria eu não pularia no pescoço deles.

— Acho um insulto - Falou Lucy jogando a bata com força na bandeja - Quando foi com a gente, no ano passado, levamos dias e dias de advertência e trabalho em dupla. E eles só pegaram dois dias de suspensão. Não achei justo!

—Ainda ta bom demais pra ser verdade. Tem que agradecer do diretor não ter nos punido também - Eu disse. Ela deu de ombros me ignorando e mirando sua revolta na latinha de refri que estava sendo destroçada por ela. Parei pra pensar por um minuto em David por perto todos os dias testando minha sanidade e afundei no banco. - Vai ser um ano terrível! 

—Cade todo aquele otimismo do ano novo? - Ryan brincou ao meu lado, enquanto acariciava meu braço.

—Foi pro lixo!