I Never Learn escrita por Laurent


Capítulo 6
My heart cracked


Notas iniciais do capítulo

Oiiii, gente! Em primeiro lugar, queria esclarecer que eu demorei um pouquinho pra postar porque nesse fim de semana eu tive que fazer vestibular. Mas agora vou ter mais tempo e quero escrever muito! Obrigado a todo mundo que continua lendo e acompanhando, espero que gostem :DDD

Esse capítulo é baseado na música Gunshot, da Lykke Li. Vou deixar os links no fim do capítulo. Boa leitura ;)

*My heart cracked = meu coração se quebrou



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Minhas notas estavam péssimas. Com aquele trabalho que tomava quase todo o meu tempo livre, só havia espaço pra estudar nos fins de semana (isso quando eu não estava morto de cansaço). Pensei seriamente em me demitir, mas se fizesse isso eu não teria dinheiro suficiente pra pagar meu apartamento, a não ser que me mudasse pra outro lugar mais barato — e talvez, naquele momento, aquela fosse a coisa mais sensata a se fazer.

— Rafa... — perguntei, certa noite em que ele e eu estávamos comendo em meu apartamento uma pizza que pedíramos por telefone.

— Oi?

— O que você acha de trabalhar na loja?

— É ok.

— E como você tá indo na faculdade?

Ele quase não mastigava os pedaços de tanta fome. Por um instante achei que ele não tivesse ouvido a minha pergunta.

— Ok — respondeu, encarando o resto da sua pizza enquanto pegava mais um pedaço na caixa. Ele realmente se empenhava em comer.

— Sério?

— Aham.

Era mentira, eu sabia muito bem. Peguei mais um pedaço de pizza e ficamos em silêncio.

— Acho que vou mudar minha agenda de trabalho por lá — falei depois de um tempo, enquanto uma nova possibilidade surgia em minha mente. — Vou ver se consigo trabalhar nos fins de semana. Preciso dos dias úteis pra estudar. O que você acha?

Rafa limpou a boca com um guardanapo.

— Parece bom... mas seu salário vai ser menor, não?

— Sim. Mas é que agora pouco eu tava pensando em me demitir pra valer.

— Por quê?

Suspirei, indo até a cozinha e levando o prato até a pia. Rafa trouxe o dele, logo atrás de mim.

— Eu sei que você não tá indo bem na faculdade — falei.

Ele não respondeu.

— É justamente por esse motivo — continuei. — Não adianta nada a gente ter um lugar pra morar se não estamos dando atenção suficiente pro nosso futuro acadêmico.

— Nossa — respondeu ele, abrindo um leve sorriso engraçado. — Quem vê pensa que você é nerd.

— É sério — falei. — A gente poderia fazer isso juntos. Eu e você, trabalhando só nos finais de semana. 

— Vai ficar bem apertado pra mim — ele disse. — Em relação à grana.

— Pra mim também. Mas é o jeito. Não podemos continuar assim.

— A não ser que... — os olhos dele se iluminaram com um súbito interesse, mas logo voltaram a ficar sérios. — Não, esquece.

— Que foi?

— Nada...

— Pode falar.

Rafa pareceu ficar tímido por um instante, meio hesitante.

— Podemos morar juntos. O que você acha?

Por um momento, apenas fiquei olhando para a cara dele, digerindo a informação. Refleti naquela possibilidade de eu e Rafa morando juntos no mesmo apartamento, e, quase que involuntariamente, associei essa situação ao que havia acontecido entre mim e Carol.

— Eu sabia que não devia ter dito isso — disse Rafa, encarando o chão com um olhar chateado.

— Tudo bem — respondi, sem pensar muito se estava realmente tudo bem.

Ele foi até a sala novamente, sentando-se no sofá. Eu o segui e sentei-me ao seu lado. Ficamos um longo tempo sem dizer absolutamente nada.

— O que você sente por mim? — indagou ele, por fim.

Encarei os seus olhos, que agora me analisavam.

— Eu gosto muito de você — respondi, tomando cuidado com as palavras que iria dizer. — Gosto de ficar perto de você. É só que... bem, nós nos conhecemos há pouco mais que dois meses. Digo, tirando a época da escola. Você não acha meio arriscado darmos esse passo tão cedo?

Ele refletiu por um instante.

— Não precisamos morar juntos como amantes — disse ele. — Podemos morar como colegas de quarto.

— Rafa... eu não sei bem o que pensar... — falei, resolvendo ser totalmente honesto com ele. — Você não acha que...

— Nós somos namorados? — perguntou, subitamente. — Sério... o que nós somos?

Engoli em seco, sem saber muito bem o que falar. Nem eu sabia em que etapa de uma relação amorosa estávamos, ou para onde iríamos.

— Tá vendo — disse ele, a voz impregnada de decepção. — Eu não sei se o problema sou eu, Kevin. Mas eu não quero ficar assim pra sempre. Escondendo o que temos das outras pessoas. Andando às escuras, toda hora, sempre aqui, no seu apartamento, como se só pudéssemos nos expressar entre quatro paredes.

— Eu te entendo...

— Kevin — ele me lançou um olhar que misturava tristeza e esperança. — Se você quiser que eu te ajude a encarar a sua sexualidade, que ajude com que você se aceite, eu posso fazer isso. Podemos mostrar pros outros que o que importa é o que sentimos por nós mesmos. A única coisa que não devemos fazer é ficar parados esperando que as coisas aconteçam do nada. Eu sei que o seu término com a Carol te afetou bastante, e eu vejo que você ainda se sente culpado. Mas não vai funcionar se você não falar sobre essas coisas comigo, se você não se abrir pra mim.

— Rafa... — comecei, mas fiquei em silêncio logo depois, procurando por palavras que não encontrava em lugar nenhum.

— Eu preciso que você me diga — falou ele. — O que nós somos?

Se ultimamente eu andava confuso a respeito do que eu sentia, agora eu me deparava com uma barreira entre mim e Rafa. Eu sabia que precisava de alguma definição para nós, mas naquele momento, eu só conseguia pensar que gostava muito dele, e não queria que fosse embora. Mas também sentia medo de nos aproximarmos mais, de ter de enfrentar todos os tabus que viriam como consequência.

— Quer saber — começou ele, levantando-se. — Quando você tiver uma resposta pra isso, voltamos a conversar.

Antes que eu pudesse impedi-lo, ele pegou suas coisas e foi embora.

Naquele momento, eu me senti um perdedor. Ou pior. Começava a me questionar se eu era sequer capaz de estar numa relação com alguém. Senti como se tivesse levado um tiro, e eu mesmo tivesse apertado o gatilho.

Fiquei exatamente no mesmo lugar, pensando, e pensando, e pensando. Tentando encontrar uma resposta para aquilo, mas sobretudo, tentando me encontrar.


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Notas finais do capítulo

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=AIruwzhozTc
Letra: https://www.letras.mus.br/lykke-li/gunshot/traducao.html



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