I Never Learn escrita por Laurent


Capítulo 7
Love me when I fall


Notas iniciais do capítulo

Fala, gente querida ♥ obrigado pelos comentários e pela ajuda :))) Esse capítulo é inspirado em Love Like I'm Not Made of Stone. Links no fim do capítulo. Boa leitura o/
Love me when I fall = me ame quando eu cair



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Quando eu estava no primeiro ano do Ensino Médio, lembro que as primeiras aulas de Filosofia causaram um enorme reboliço na minha sala de aula. Primeiro, o professor nos apresentou aos filósofos da Grécia Antiga: Sócrates, Aristóteles, Platão. Fez uma breve explicação sobre todos eles enquanto ouvíamos, imaginando-os como velhos sábios de barbas gigantes. E de repente, estávamos lá, querendo dar nossa opinião sobre a origem do universo, sobre o que realmente estávamos fazendo aqui.

— Sócrates dizia... — começava o professor de Filosofia, com um olhar curioso que sempre recaía na carteira de cada aluno. — "Conhece-te a ti mesmo". Vocês sabem quem são?  Se eu disser que vocês são alunos, estarei os definindo de forma satisfatória. Correto? Ou não? Se eu lhes chamar pelo nome, ainda assim, estarei os definindo de forma satisfatória? Já fizeram essa pergunta na mente de vocês? O que vocês são?

*

Eu não tinha um pingo de vontade de ir pra aula no dia seguinte. Se ontem eu estivera preocupado com o meu futuro acadêmico, naquele dia queria apenas jogar tudo pro alto e ir embora, mesmo que não pudesse fazer isso. Levantei-me, a cabeça pesada por não ter dormido muito bem. Enquanto tomava meu café da manhã, o silêncio do meu apartamento ficou ainda mais evidente do que o normal. Eu estava sozinho. Mas também me sentia sozinho.

Checando o Facebook, descobri que Carol havia me excluído da sua lista de amigos. A cada dia que passava, ela se tornava uma incógnita maior. Status: solteira. Na foto do perfil, ela exibia uma rosto sorridente e despreocupado, bem diferente da última vez em que a vira. Atirei o celular em cima da mesa, passando as mãos pelo rosto e sentindo raiva.

Mas então o celular vibrou e eu o peguei de volta, ao mesmo tempo em que meu estômago se revirava ao ver o que realmente era: eu tinha recebido uma mensagem.

Uma mensagem da Carol.

Larguei o celular. Fiquei com medo do que poderia estar escrito. Mas logo em seguida, já estava lendo e tentando assimilar tudo o que meus olhos viam:

 

Preciso falar com vc. Que horas a gente marca?


Fiquei atônito. Não me vinha nenhum — realmente nenhum — motivo pelo qual Carol talvez quisesse falar comigo ou sequer olhar na minha cara. Quando vi, estava digitando rapidamente:

A hora que vc quiser

Esperei a resposta, meu coração batendo rapidamente.

 

Dps que você sair do trabalho. Passa aqui.

 

E então ela saiu. Digitei um simples ok e fui escovar os dentes e tomar banho, desejando que o fim do dia chegasse logo para que eu soubesse o que viria pela frente. Fui para a faculdade um pouco atrasado, mas cheguei a tempo de encontrar meu professor de Técnicas Construtivas introduzindo um novo assunto. Na pressa, tinha esquecido minha caneta, então pedi uma emprestada a Paulo, que sentava bem do meu lado.

— Valeu, cara — respondi.

— Ei, Kevin — começou ele, se inclinado pro meu lado. — A gente tava pensando em passar na casa da Gabrielle hoje à noite, pra comemorar o aniversário dela. Você vem?

Uma reunião com meus colegas seria algo bom pra mim, pensei, mas nada podia entrar na frente do compromisso que eu tinha com Carol.

— Não vai dar — falei. — Tô atolado de livros pra ler.

— Larga um pouco de estudar, cara — disse Paulo, rindo. — As provas já passaram.

— Mas eu fui péssimo em muitas delas.

— Uma noite não vai mudar muita coisa.

— Ok — menti. — Vou ver se consigo ir também...

— Isso aê — disse ele. — Você tem carro?

— Não.

— Pode vir comigo então, vou levar a Bárbara e a Tati também.

Depois eu teria que inventar uma mentira pra que Paulo não fosse me buscar, guardei em minha mente. 

O resto da aula passou de forma arrastada, as horas caminhando mais lentamente do que o comum. Além de precisar falar com Carol, eu ainda teria que ver Rafa antes disso, o que acrescentava mais um desafio à minha lista. Quando saí, passei rapidamente em meu apartamento para tomar banho e trocar de roupa. Em seguida, fui de bicicleta para o trabalho.

Quando cheguei, Rafa já estava lá. Ele me cumprimentou normalmente, como se nada tivesse acontecido. Eu também precisava falar com ele. Mas primeiro tinha que saber o que falar. Eu não queria decepcioná-lo de maneira nenhuma, tampouco queria dizer coisas que o magoassem. Mas naquela noite, não tinha a mínima ideia do que dizer. Ei, daqui a pouco eu tô indo falar com minha ex. Se eu também não dissesse nada, seria algo muito idiota da minha parte.

Às oito e meia, meu celular vibrou com uma mensagem de Paulo.

Tudo certo pra te buscar?  

Respondi sem muita enrolação.

Ñ vai dar, foi mal. Os caras do meu trabalho vão fazer um churras que a gente já tá planejando há meses, se eu não for eles me matam kkk 

Não foi uma das melhores desculpas, mas pelo menos me fazia parecer mais ocupado do que a primeira que eu tinha dito durante a aula. 

No fim do turno, eu e meus colegas estávamos fechando a loja quando Rafa me cutucou.

— Ei — disse ele,  a mão atrás da cabeça enquanto abria um leve sorriso. — Sobre ontem... desculpa. Mesmo.

Os outros caras conversavam entre si enquanto saíamos. Não estavam prestando atenção à nossa conversa.

— Não foi nada — falei, automaticamente, mesmo que aquilo tivesse me feito sentir horrível. Retribuí o sorriso, me sentindo um pouco melhor dessa vez. — Eu é que...

— Não — me interrompeu. — Não peça desculpas. Só... vamos pro seu apartamento.

Merda. Minha pele gelou.

— Hoje não dá — falei, nervoso. Felizmente consegui pensar rápido. — Vou no aniversário de uma colega que é amiga minha.

Fiquei refletindo o porquê de estar contando aquilo a ele. Por um lado, depois daquela briga, imaginei que seria extremamente inconveniente sequer mencionar Carol para Rafa (mesmo que ele tivesse pedido desculpas a mim), e seria ainda pior se eu dissesse que ela queria me ver. Provavelmente ele se sentiria em segundo plano e ainda mais chateado comigo. Eu não queria piorar as coisas.

— Ah, sim — disse ele, de um jeito bem diferente do que eu imaginava, muito longe da decepção. — Nos vemos outro dia, então.

Nós nos despedimos dos outros, eu indo em direção à minha bicicleta, Rafa ao ponto de ônibus. Antes, porém, ele me chamou para perto dele e se inclinou, como se fosse me dar um abraço, mas acabou beijando a minha bochecha. Senti algo muito estranho. Realmente não sabia muito bem dizer a razão. Só sei que, ao encarar seus olhos, não conseguia decifrar o que ele pensava.

— Tchau.

— Tchau.

Segui meu caminho, confuso. Fui até o meu apartamento e deixei a bicicleta lá, pegando um ônibus até o bairro de Carol logo em seguida. Cheguei até o prédio, o porteiro a notificou de minha entrada, ao passo que autorizou minha subida. Bati na porta e, sem demora alguma, lá estava ela, bem na minha frente.

— Oi — disse, sem expressar emoção alguma. Carol estava linda, como sempre. Os olhos me analisavam sem esboçar suas intenções, o que me deixou confuso. Não parecia estar triste ou ter chorado ou nada do tipo. Era como se nada tivesse acontecido.

— Oi — respondi. Ela indicou que eu entrasse e sentasse no sofá.

Estava tudo tão quieto. Aquele silêncio me incomodou e me fez ficar ainda mais ansioso sobre o que estava por vir. Carol foi até a cozinha e trouxe um copo d'água — para ela, obviamente. Não perguntou se eu queria alguma coisa pra comer ou beber.

— Kevin — disse ela, e sentou-se na poltrona à minha frente, mesmo que ao meu lado houvesse mais dois lugares. — Precisamos... conversar sobre algumas coisas. Eu vou direto ao ponto...

— Sim — foi só o que respondi.

Carol suspirou, me encarando bem nos olhos.

— Eu pensei melhor sobre tudo o que aconteceu. Por favor. Eu quero que você seja sincero comigo agora, da mesma forma que foi naquele dia. Mesmo que... mesmo que seja doloroso.

Concordei lentamente, me sentindo como se estivesse impregnado de veneno.

— Nenhuma das minhas amigas diz ter visto você com... com alguma garota. Na verdade, eu mesmo não suspeitava... — ela parou por um instante, como se estivesse com dificuldades para continuar. —... não suspeitava disso.

Carol inclinou-se em direção à mesinha de centro e bebeu alguns goles d'água.

— Até que eu conversei com o Christian — disse, dessa vez olhando para o chão. — É, eu sabia que você sempre ia naquele lugar. E antes que você pense que estou me intrometendo, fiz isso porque queria ter certeza. Queria alguma confirmação. E confesso que não tinha coragem de falar com você. Não tinha coragem nem de olhar na sua cara. Por isso resolvi descobrir por conta própria.

Sentia que ela tinha todo o direito de falar aquilo. Sentia que era justo, mesmo que aquilo me ferisse. Eu não queria estar ali, não queria estar tendo aquela conversa, mas era algo que precisava acontecer.

— E o Christian me disse que só tinha visto você com uma única pessoa. Um cara — disse ela. Em seguida, voltou a me encarar seriamente. — Kevin... Você é gay?

E finalmente, chegara a hora de responder aquela pergunta. Aquela pergunta que teria de ser respondida algum dia. Conhece-te a ti mesmo. Foi o que veio na minha cabeça. Quem eu era? Será que, por toda a minha vida, eu sequer cheguei a me definir de maneira satisfatória? Senti que estava mais do que na hora de responder àquela pergunta. Ela merecia uma resposta. Eu merecia ouvi-la da minha própria boca, e Carol merecia ouvi-la também.

Por tudo o que eu fiz a ela.

Por tudo o que eu fiz a mim mesmo.

— Eu sou bissexual. E tive relações com esse cara. Eu te traí e sei que isso foi tremendamente errado da minha parte. Não estou esperando que você me perdoe, Carol. Você não precisa. Talvez nem deva. Só quero que saiba a verdade.

Não mexi um músculo. Senti meu corpo suar. Ela assentiu lentamente, sem sequer me olhar. Carol levou as mãos até os olhos, enxugando lágrimas que eu não podia impedir. Fiquei sentado, sem saber o que fazer, ao mesmo tempo que sabia o que tinha de ser feito. Pedir desculpas, a essa hora, não iria adiantar nada.

— Era isso que eu queria saber — disse ela, ainda encarando o chão, a voz chorosa lutando para se manter firme. — Não sobre a sua sexualidade. Por que não me contou quando terminou comigo? Você acha que faz muita diferença o sexo da pessoa com quem você transou? Acha que eu ia dar mais importância a isso do que ao fato de você ter escondido tudo de mim? Eu só queria ouvir você dizer que me traiu. Que é verdade. Pra eu ter certeza. Bem, agora eu tenho. 

— Carol...

— Não precisa dizer nada. Isso não precisa ser ainda mais doloroso, Kevin. Não têm que ser. Vai embora. Por favor, eu sei que você quer ir. Vai.

Sem opção nenhuma, eu fui. Sem saber o que fazer, sem saber o que pensar.


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Notas finais do capítulo

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=D7iLERCEznI
Letra: https://www.letras.mus.br/lykke-li/love-me-like-im-not-made-of-stones/traducao.html



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