Jurassic Park escrita por Cahxx
Mais cedo naquele dia...
O Jeep estava estacionado, mas a luzes permaneceram ligadas; o sol estava para se por. Jessica, dependurada na grade de proteção, vasculhava cada canto da floresta à sua frente. Aceitara passar o dia com o pai no trabalho. Obviamente estava muito mais ali pelos dinossauros do que propriamente pelo veterinário; mas tentaria demonstrar algum entusiasmo pelo responsável paterno.
Gerry sentia seu coração pulsar de alegria por finalmente ter um tempo a sós com ela. Esqueça a ex-esposa, esqueça o novo namorado dela... eram apenas ele e Jessy.
— Sim, é uma vista linda. Mas onde estão os dinossauros? - a garota estava ansiosa.
— Deve ter alguns Triceratops. Às vezes eles são um pouco difíceis de serem vistos.
— Eh?
— Onde você conseguiu isso?
— Os binóculos? Foi um cara que me deu. Seu chefe, John Hammer ou sei lá o que. Ele gostou de mim.
— Isso foi generoso da parte dele - e Gerry pôs a mão na cintura. A filha era única mesmo: sempre lhe surpreendia com suas habilidades infanto-juvenis. Ela parecia estar lidando muito bem com a separação para uma garota de apenas 14 anos. Melhor do que ele, até.
— Eu vejo um monte de árvores, mas nenhum dinos... Espera! Tem um dinossauro sacudindo aquela árvore! - pelo visor ela enxergava a moita sacudindo, mas logo algumas aves saíram de lá - Oh, esquece... São apenas pássaros...
— Continue procurando. Não vai demorar a encontrar um.
— Hum... Nós podemos descer lá e ver alguns dinos de perto?
— Quando eu trabalhava em San Diego, você entrava nas jaulas dos tigres?
— Era totalmente diferente... Além disso, eu tinha apenas sete anos!
À esquerda, mesmo por entre as folhas, era possível identificar uma cerca elétrica.
— Como você acha legal cercar os dinossauros?
— É mais seguro pra eles e pra nós. Os herbívoros podem ser perigosos também.
— Ah! Estou vendo um!!! - era possível identificar apenas sua cauda, mas não por muito tempo - Ele fugiu...
— Na verdade é “ela”. São fêmeas. Onde ela foi?
— Não sei... Estou vendo um carro lá embaixo.
— Deve ser dos convidados de Hammert. Ele chamou alguns paleontólogos para visitar o parque.
— Aposto que ELES veem os dinossauros de perto. Ah, estou vendo ela! - o binoculo ajustou o campo de visão onde vários outros Triceraps se reuniam numa clareira - Oh, não! Estão brigando!
— Não exatamente. É mais uma disputa de território. Você se lembra como Peaches ficou quando você ganhou aquele cachorrinho novo? Bom, Lady Margaret se sente assim também.
— Lady Margaret? É sério isso?
— É. É como a chamamos. Ela é a Alfa. Vê os chifres? Eles têm mais de três metros de comprimento.
— Isso é bom pra quando ela for lutar com o T-Rex, não é? Quando vamos começar a ver isso?
— Espero que nunca. Tenho bastante coisas para fazer, além de ter que ficar gerenciado uma briga de gladiadores - e apertou a filha para junto de si.
— Tipo o que?
— Tenho uma chamada de emergência: alguns Triceratops doentes. Vou deixar você na pousada.
— Sério? Mas já?
— Isso dará mais tempo pra você arrumar suas coisas. Seu barco parte hoje a noite, lembra?
— Eu não tenho nada pra arrumar...
— Bom, pelo menos você viu uma briga de Triceraptops.
— Na verdade, estava mais para um disputa de território.
— Espertinha.
— Anda, vamos lá. E vamos torcer pra que o céu esteja limpo hoje.
XxxxXxxxX
— Eu te disse, Nedry não está aqui! Aquele gordo deve estar preso em uma porta em algum lugar!
A chuva fustigava e piorava ainda mais a visão durante aquela noite. Na plataforma, duas pessoas aguardavam o trajeto: Miles Chadwick - um sujeito de altura mediana, óculos de armação grossa e jaqueta amarela - falava ao telefone. A mulher ao seu lado, Nina Cruz - cabelos escuros e roupa militar - apenas mantinha a tez séria e os braços cruzados:
— Não se preocupe, o plano B está pronto. Ele está bem aqui. Nedry não vai enganar a gente. O dinheiro é muito bom. Não ela não sabe o seu nome. - ele encarou a mulher que devolveu um olhar ameaçador - Ela não sabe nada que não precisa saber. O que você acha que é importante? Ei, adivinha quem está na linha? É o Dodgson! Quer falar com você.
Nina deu de ombros.
— Ela não liga. Ok. Até logo - e desligou - Vamos. Meu contato vai estar aqui em alguns minutos.
Ela sentou-se num caixote enquanto ele ficou em pé, aguardando e assistindo ao ondular do mar. A mulher fitou o brasão no casaco do sujeito.
— A InGen sabe que você roubou essa jaqueta?
— Esta é uma operação secreta. Preciso entrar.
— Sim, então, alguma dica pra mim?
— Apenas faça o que eu disser.
Ela avistou um cartão em seu bolso:
— O que tem na foto? - quis saber.
— Isso? - ele ergueu a foto de uma simples lata de spray - Isso é o que vai nos fazer ricos. Isso é o que viemos buscar.
— Creme de barbear?
Ele soltou uma risada irônica e fez que sim com a cabeça:
— Isso... creme de barbear - repetiu com um estranho sorriso.
Pararam de se falar por um tempo, mas a mulher decidiu manter o diálogo:
— Essa tempestade só vai piorar.
— Apenas acalme-se. Muito provavelmente Nedry vai aparecer a qualquer momento...
— “Todos os passageiros do navio, por favor, a bordo. Vamos partir imediatamente” - anunciou o alto-falante.
— Merda! - o sujeito de óculos se impacientou - Nedry... Desgraçado! Vamos entrar. Só espere eu fazer um telefonema pra um idiota. Não vamos passar sem os cartões de acesso.
Enquanto Miles usava o telefone, Nina seguiu para uma cabine iluminada. Aproximou-se a passos lentos e escorou ao lado da janela: um guarda jogava no celular, distraidamente. Na mesa ao lado, alguns cartões de acesso.
— Ele tem sobrando... se eu conseguir pegar... Mas não vou conseguir com ele desse jeito... Preciso... Ah, mas é claro - e subitamente uma ideia lhe ocorreu: memorizou o telefone da cabine e retornou ao telefone.
— Que foi? Não fique andando por aí! Se te pegarem estamos ferrados!
— Tenho um plano. Ligue para esse número.
— Que? Que merda é es...
— Liga logo, idiota!
— Ok, ok... que mulher irritante...
Miles discou o número e logo começou a falar com o guarda.
— O que eu falo? - ele cochichou.
— Sei lá! Apenas o enrole!
Deixou o sujeito enrolando o vigia e seguiu para a cabine. Aproveitou que o guarda estava de costas para a janela e esticou as mãos, pegando rapidamente dois cartões de acesso.
— Sim, mas há outra coisa... - Miles ainda falava ao telefone, porém Nina apertou o botão do gancho. - Ei! Pensei que você disse pra... - e parou de falar ao ver os cartões nas mãos dela. - Oh... Essa foi boa, mas... Ei! Nina, Nine, seja qual for o seu nome. Você trabalha pra mim, o que significa que...
— Esperem aí! - o guarda estava parado, braços cruzados e sobrancelha erguida - Vocês não podem ir por esse caminho!
— Olá! Eh... Oi. Nós... Nós temos passes!
— Bem, isso é bom. Mas essa é uma tempestade de evacuação. Todo pessoal não-essencial precisa sair da ilha. Vocês precisam entrar naquele barco.
— Ah, sim, claro...! Mas eu tenho... essenciais...
— Quem é você?
— Eu sou... Eh, você não me conhece! Sou novo por aqui.
— E ela?
— Ela, hum... Ela está com... de manutenção. Vá em frente! Diga você a ele!
— Eu faço reparos.
— Nesta tempestade? O que exatamente você está consertando?
— Eu arrumo cercas. Com chuva ou sem chuva elas têm que estar seguras.
— Por que o facão?
Ela apenas revirou os olhos e desferiu um soco na face do guarda. Miles soltou um grito de surpresa enquanto o vigia desabava completamente desacordado.
— Vamos logo.
Miles ainda encarou o guarda por um tempo e então seguiu a mulher:
— Bem, talvez você vale o que estamos te pagando...
— A InGen devia ter pavimentado a ilha - Miles reclamava espantando alguns mosquitos. Já adentravam a densa floresta, escura, assustadora, quente, úmida e... fedida.
Nina virou-se para encarar o homem com as mãos na cintura e o olhar ameaçador:
— InGen nunca deveria ter vindo aqui.
— O que?
— Pra trás, Sr. Chadwick!
— O que? Você não gosta da minha loção pós barba?
— Eu não quero nenhum acidente. - e puxou o facão. Miles deu vários passos para trás e Nina começou a cortar as folhas, abrindo caminho.
Caminharam longos metros até se depararem com uma cerca:
— Mas que merda é essa?! InGen está acabando com a ilha! - ela leu a placa que dizia “Cuidado. 10000 volts”. - É tão importante manter as pessoas afastadas?
— Isso é mais pra manter as coisas lá dentro. Isso é apenas... hum... é tipo um zoológico, entende o que quero dizer?
— Eu sei o que é um zoológico, mas essa cerca... É alta demais.
— Não se preocupe com isso. Não há nada... perigoso, lá dentro. Apenas foque no caminho.
Nima ainda se perguntava porque tamanha voltagem e então notou que as luzes da cerca estavam apagadas:
— Estão apagadas - ela apontou.
— Sim, é, sim! Parece que está desligada. Bom, primeiro as damas - Chadwick indicou com a mão. Nima lhe fuzilou com o olhar e se aproximou da grade. Respirou profundamente e ergueu as mãos. Hesitou alguns segundos e então segurou na grade.
Para seu alívio, nada aconteceu. Ela soltou um gemido de alívio e ambos saltaram a cerca ignorando a inscrição numa placa escondida por entre as moitas:
Dilophosaurus
Ainda caminharam por alguns metros, a chuva provocando sulcos na lama. Nina agachou-se em uma pegada e sentiu arrepios: era diferente de tudo que já tinha visto.
— O que é isso? - Miles preocupou-se.
— É como um pássaro, só que muito maior...
— Eu t-te disse. Um zoológico. Todo tipo de animal... Anda, vamos!
Ruídos e grasnados alarmaram os dois:
— Você ouviu isso?!
— Um animal... do tipo que nunca ouvi antes!
— Ok... ok... Acho que devemos...
— Shh...!
Nina ergueu o facão e analisou as moitas a frente. Cutucou uma delas e uma criatura saltou pra cima dos dois. Miles gritou, mas Nina voltou a respirar quando notou ser apenas um pássaro.
— Aquele animal, eu conheço. Nós o chamamos de Moku-Pa.
— Eu ODEIO essa maldita floresta!
Seguiram por uma estrada mais larga, já aberta por carros. O rastreador de Miles piscava freneticamente:
— É isso aí! Estamos perto!
— Está muito escuro. Preciso de luz. Onde está sua lanterna?
— Você a pegou.
— Certo, certo... - ele tateou os bolsos - Eu a larguei? Você me viu derrubá-la? Droga.
Assim que chegaram a parte mais larga do caminho conseguiram ver um dos carros da ilha parado num morro, quase derrapando. As luzes acesas, mas nem sinal de alguém.
— Ei, Nedry! Você quer ficar preso aí pra sempre? Nedry! Você é surdo?!
Nina já escalava o morro e alcançava o Jeep. Encarou pela janela, mas nada conseguia enxergar deu seu interior. O painel também estava embaçado. Com dificuldade abriu a porta: algo mexia-se lá dentro. Mas o que?
Cerrou os olhos para tentar identificar o que era e, no mesmo instante, a criatura saltou do carro. Nina ainda soltou um grito, caindo de bunda contra o chão e tentou acompanhar o animal se esconder no mato. Miles finalmente chegou ao carro e encarou Nina ali, sentada no chão com a face apavorada:
— Vai ficar aí deitada mesmo? Eu disse pra procurarmos rápido!
Ela pensou em falar sobre o animal, mas seria perda de tempo:
— Cale a boca e olhe dentro do carro!
— Ei, você não me mande calar a boca! Eu sou seu chefe!
— Então olhe logo...!
Miles observou da porta e a cena lhe provocou náuseas:
— Meu deus, isso é nojento!
O corpo de Nedry estava quase irreconhecível, com sangue coagulado por todas as partes e a carne exposta em alguns lugares.
— Tinha alguma coisa... se alimentando dele... Que tipo de zoológico é esse?
— Olha, eu disse pra não esquentar com isso. Apenas procure o frasco e vamos embora daqui.
Miles vasculhou o carro inteiro e nem sinal da lata.
— Merda! Onde está o frasco?! - ele ameaçou Nina.
— E eu lá sei!
— Droga... Dodgson vai me matar! Sabe que não podemos voltar de mãos vazias...!
Nina olhou para baixo do morro e sugeriu procurarem pelo perímetro:
— E o que aconteceria se... aquelas coisas... Ah, esqueça. Procure lá embaixo que eu fico aqui no carro para o caso de... ah, você sabe. Rápido, vamos!
Nina desceu o morro e observou o chão: havia pegadas de botas indo em direção ao mato. A esquerda, um túnel escuro parecia pouco provável de ter sido frequentando por alguém ou pelo frasco. Havia ainda, a direita, uma passagem aberta por entre as árvores com pegadas de aves ou qualquer coisa desse tipo.
— Não está por aqui! - Nina gritou para Miles.
— Mas temos que encontrar! Quero meu pescoço no lugar de sempre...!
Nina revirou os olhos e olhou para o pé do morro: súbita, uma ideia lhe ocorreu. Subiu de volta para perto do Jeep, vasculhou o carro e encontrou uma lata de coca-cola:
— É, isso vai servir.
— O que está fazendo?
— Pensando, Miles.
Soltou a lata na beirada do morro e observou onde ela iria parar. A lata fincou num monte de lama e foi por ali que a mulher começou a vasculhar.
— Eh, isso! - ela comemorou assim que tirou a lata de spray de dentro da lama.
— Oh, baby!!! Eu sabia que te encontraria!!! - Miles gritou tomando a lata de suas mãos e beijando o frasco.
— Você está animado demais com essa embalagem de creme de barbear.
— Sim, é creme de barbear assim como você é “consertadora de cercas”. Dez anos de pesquisa... milhões de investimentos... é a próxima maravilha do mundo - ele abriu a tampa de onde saiu um grupo de pequenos frascos transparentes e os fito como se fossem pedras preciosas.
Nina olhou com certa curiosidade:
— Isso dominará a InGen! - Miles exclamou - Eles perderam o controle sobre seus pertences! São embriões de dinossauros - ele revelou - Ou você realmente achou que fosse apenas creme de barbear?!
— Dinossauros? Eu n-não estou entendendo...
— Você não precisa entender.
Mas a face de Nina mudou de confusão para pavor:
— Que foi? Qual o seu problema...?
— Não... se... mova... - ela murmurou.
Seus olhos se depararam atrás dos ombros de Miles. Este se virou confuso e deu de cara com um pequeno Dilophosaurus.
— Ah, merda...
A criatura abriu a crista e cuspiu uma gosma negra que foi certeira nos óculos de Miles. Este foi obrigado a retirá-los e ergueu uma pistola, atirando contra o animal. Este recuou assustado com os tiros:
— Ele foi embora?! - Nina sentia medo.
— S-sim... Você viu aquilo? Eh, é assim que se faz. É assim que eu faço! Ouviu seu inútil?! - Miles gritou para o animal.
— Melhor irmos embora.
— Ok, certo. Você conhece o plano: voltamos para o barco, entregamos o frasco, somos pagos e vamos pra casa.
— Mas não podemos voltar andando! Não com esses monstros por perto...
— Vamos então com o carro. Eu fico aqui dando cobertura e você desce ele.
Nina o fitou com desgosto e então seguiu para o veículo. Prendeu uma corda retrátil na frente e amarrou numa árvore. A corda começou a puxar o carro que foi derrapando morro abaixo.
Assim que alcançou o chão o carro parou de funcionar. O ruído de novos dinossauros encher o ar. Miles e Nina se aproximaram um do outro, o sujeito gritando apavorado e ela tentando ver alguma coisa:
— As luzes! Não consigo ver nada! Que droga! Está escuro! Não posso ver! O que foi aquilo? Você ouviu isso? Foi um dinossauro?!
— Miles... Miles... Cale a boca!!! - virou-se para ele e lhe acertou um tapa no rosto.
— Que, que foi?
— Faça-me um favor e apenas mantenha a boca fechada!
— Eles podem não ouvir a gente, mas ainda sim sentem nosso cheiro!
— Eu tenho um plano, merda!
— Plano? Que plano?
— Dê-me sua arma.
— Não, isso não!
— Ok... Então ligue o carro pra sairmos daqui.
— O carro? Ah, sim, certo... certo...
Miles girou a chave de ignição, mas não adiantava:
— Que merda, não adianta! E-eu não sei consertar essa porcaria! Não entendo nada de carros!
— Oh, Dios mio! Deixa que eu arrumo isso!
Nina enfiou a mão até alcançar a bateria e tentou religar o fio. A luz começou a piscar até que finalmente encontrou o ponto e girou a chave: o carro ligou com exímio.
— Graças a Deus... - e encarou Miles que tinha o rosto congelado numa expressão de morte - O que foi?
A mão do sujeito se ergueu trêmula, apontando para o outro lado, onde meia dúzia de dinossauros cercavam os dois. Um deles saltou em cima do capô do carro e abriu a coroa, cuspindo contra Nina. Esta conseguiu desviar e correu para o lado oposto. Outro dinossauro surgiu a sua frente, ameaçador, os dentes abertos num grito estridente. Estavam cercados.
— O-o que faremos? - a arma de Miles mirava de um em um.
— Precisamos distraí-los para corremos para o carro...
— Distrair? Certo, certo, é comigo mesmo! - e Miles empurrou Nina pra cima deles. - Olhem amigos! Ora do jantar!
O dinossauro mais a frente saltou por cima de Nina e seguiu em direção ao homem que, ao perceber, tentou correr para o carro. Mas tarde demais: o Dilophosaurus saltou em suas costas e com rápidas mordidas, Miles parou de gritar.
Nina aproveitou que as criaturas estavam em volta do sujeito e correu em direção ao carro. Um dos dinossauros bloqueou seu caminho e saltou em sua direção, mas novamente ela conseguiu desviar. Um segundo estava no capô do carro, gritando e erguendo sua crista. Nina desviou de seu cuspe e alcançou a porta: abriu a lateral, acertando em um terceiro Dilophus que corria em sua direção e entrou no veículo.
Conseguiu fechar a porta antes de ser atingida por uma nova escarrada: esta acabou acertando a janela e a gosma preta bloqueou a visão do vidro. Nina ainda parou para respirar por alguns segundos e então tentou ligar o carro.
No para-brisa, um Dilophus dava cabeçadas no vidro que começava a rachar e Nina, desesperada, tentava dar a partida no motor. Na terceira tentativa ligou. Ela deu a ré, atropelando alguns dos bichos e chocou a traseira contra uma encosta. Perdeu os sentidos por um momento enquanto as luzes do carro tornavam a apagar.
Dessa vez não tinha jeito: desceu do veículo e logo de cara já se deparou com outro predador. Este conseguiu saltar em cima dela, ambos caindo contra o chão. Tentava segurar a cabeça do animal e impedir que ele lhe mordesse. Inexplicavelmente um ruído chamou a atenção dos pequenos predadores e o grupo retornou para dentro da floresta. Nina suspirou de alívio.
Aproximou-se do corpo de Miles, a visão lhe causando repulsa. Tirou a lata de suas mãos e a guardou consigo. Uma criatura nova passou ao seu lado e a cauda de pele grossa rasgou seu braço. Teria que voltar a correr. Seguiu para o mato, a lata de spray em suas mãos e aqueles olhos brilhantes lhe acompanhando pelo caminho.
XxxxXxxxX
— É, definitivamente estamos atrasados - Gerry disse à filha. Dirigiam pela estrada escura: a chuva parecia ter parado. A garota mantinha-se quieta e contrariada: queria ficar mais tempo com o pai.
— Eu já estava pronta quando você me chamou, só não encontrava meus fones...
— Tudo bem querida, eles não vão partir sem nós.
— Nós? Mas você não vai para Dallas... - e a esperança tomou conta dela.
— Vou apenas para o continente. Depois volto quando a tempestade passar. Vou te deixar no aeroporto.
E Jessy voltou a encostar a cabeça na janela, aborrecida.
— Que estranho, as luzes das cercas estão apagadas...
— Isso é muito ruim.
— Deve estar tudo bem, mas precisam ser substituídas rapidamente.
Gerry mexeu no rádio: não havia músicas boas. Tentou manter a conversa amigável:
— E então, como estão as coisas em casa? E na escola?
— Ah, nada... Tem um super teste de Espanhol chegando...
— Peça ajuda a sua mãe: ela sabe um pouco. E olha, depois que o parque abrir você terá outras coisas para ver; poderá fazer mais visitas.
— É, vai ser legal...
Um novo silêncio se instalou no carro. Gerry suspirou e então tocou no assunto:
— Escuta, Jessy, eu trabalhei muito esses dias então não pudemos conversar. Sua mãe me falou sobre... o furto.
— O que?! O que ela disse? Eu só estava brincando! Não levei nada de mais!
— Eu sei que Westlake é chata, mas tem muitas coisas acontecendo em Dallas. Você realmente precisa roubar coisas pra se divertir?
— Não pai! É que eu fui uma idiota...! Droga!
— Não querida, não é isso... Eu só... É só que...
— Pai! Cuidado!
Jessy gritou ao ver uma silhueta parada na frente da estrada. Gerry pisou no freio e o carro derrapou. No último instante a pessoa tentou saltar, mas o carro a acertou. Ambos desceram do carro e se aproximaram da mulher:
— Oh, meu Deus! - Jessy sentia-se assustada - Ela morreu?!
— Não! Ainda está respirando. Consegue me ouvir? - a mulher abriu os olhos, mas logo tornou a fecha-los. - Ela precisa de cuidados médicos. Vou leva-la ao centro de visitantes. Jessy, quando disse que podia dirigir, era verdade?
— Sim, sim! Mamãe não pode saber disso, mas tive aulas com o vovô.
— Ok. Então é só acelerar rápido e tente não me assustar.
Jessy dirigia com o coração apertado: ela não podia morrer.
— Mantenha-se calma e siga as placas. Vou verificar os sinais vitais dela, tudo bem?
— Certo, sem problema... O-o que tem no braço dela?
— Parece que foi mordida.
— Por, tipo, um dinossauro?!
— Não sei dizer ao certo... Tem sinais de toxinas e nem as mordidas dos Dilophosauros e nem dos demais são venenosas.
— Agora eu realmente quero ir embora daqui...
A mulher começou a murmurar coisas em espanhol:
— Está ardendo em febre.
— O que tem nos olhos dela?
— N-não sei... Talvez alguma reação a uma doença parasitária... Toxoplasmose, talvez? Mas isso não explica os outros sintomas...
— N-não... vamos... escapar... - ela murmurava.
— Jessy, tenho que limpar essa ferida. Apenas continue dirigindo com cuidado.
— Ok...
Gerry pegou um frasco de assepsia e tentou apontar para o braço, mas a mulher ficava empurrando sua mão:
— Calma, eu sou... eu sou médico - ele tentou acalmá-la.
— Médico?
— Isso!
— Oh, Dios mio...
Gerry aplicou uma injeção ao lado da ferida e a mulher parou de se mexer:
— Certo, vai mantê-la sedada por um tempo. Tudo bem você continuar dirigindo?
— S-sim. Eu to legal. Apenas diga a mamãe que já posso tirar minha carteira de motorista.
— Ah... Não acho que ela deva saber sobre isso.
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