Até que a Morte nos Una escrita por Nuwandah


Capítulo 7
De frente com a morte




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        - O que você está fazendo aqui? – Perguntei-o, tentando me afastar, já que ele se aproximava mais. Porém não consegui, outros caras do grupo dele já estavam atrás de mim, me guiando involuntariamente para um local a poucos passos de onde eu estava anteriormente, só que este não tinha visão para ninguém que estava esperando o próximo metrô, já que era entre duas grandes colunas.

        - Sabe, minha namorada me ligou há algumas horas, dizendo que um tal de Uchiha Sasuke tinha tentado agarrá-la. – Acabou vindo à minha mente o momento que a ruiva me deu o tapa no rosto. Aquilo doeu mais por causa de um anel... Seria um anel de compromisso? Que cara de pau usá-lo enquanto tentava me beijar. – E é claro que eu tinha que vir aqui para dar uma lição em você. – Que filha da mãe essa garota. Ela tinha ficado com tanta raiva de mim a ponto de contar uma versão distorcida do que tinha acontecido para o Toya? A vadia estava querendo ver minha cabeça em uma bandeja de prata, é?

        - Eu não tentei agarrar a Karin, Toya. Foi ao contrário: ela que tentou.

        - Como se atreve a dizer isso dela, seu idiota?! – Ele se aproximou de mim rapidamente, e bateu no meu peito com ambas as mãos, me jogando contra uma das colunas. – Nunca mais tente sujar o nome dela com as suas mentiras! – Enquanto dizia a última frase, ele me acertou um poderoso soco no estômago, que me fez curvar com a dor aguda. Minhas pernas estremeceram, lutei para não cair. Tentei recuperar o ar que havia perdido com o golpe, e, mesmo antes que o conseguisse, fechei a mão direita. Ela estava abaixada, aproveitei para dar mais impulso, então, joguei meu braço da esquerda para a direita, acertando em cheio o rosto do Toya com as costas do meu punho cerrado, o que o fez cambalear para o lado.

        - A culpa não é minha se você tem dedo podre pra mulher. Não desconte em mim só porque você é um corno. – Disse ainda sem ar, mas a voz tinha saído tão grossa e ameaçadora quanto eu queria.

        Toya se recompôs, levantou o olhar furioso para mim, enquanto mantinha a mão sobre a área que tinha atingido.

        Abaixei a cabeça um pouco e o encarei de modo ameaçador. Não estava a fim de aturar mais uma palhaçada infantil dele.

        Ele partiu para cima de mim com o punho fechado. Joguei o corpo para o lado, apenas um pouco, o necessário, o que fez o meu movimento parecer um tanto “profissional”. Aquilo não pareceu agradar muito ao Toya, já que ele deve ter se sentido um tanto humilhado.

        Deixá-lo irritado... Isso. Eu poderia ter mais vantagem lutando contra alguém de cabeça quente.

        Levantei a mão direita em direção a ele. A palma estendida para cima. Dobrei e estiquei os dedos algumas vezes, chamando-o para brigar mais. Algo bem provocativo.

        Ainda um pouco de longe, Toya estendeu a perna em um chute na altura na minha cabeça. Defendi com o antebraço e, com a mão livre, segurei seu calcanhar. Ele estava apoiado em apenas uma perna. Perfeito. Com um simples movimento do meu pé por trás do de Toya, fiz seu corpo cair com tudo no chão.

        Ele tentava se levantar com custo. Parecia ter se machucado de verdade nessa última parte. Talvez já tivesse recebido o suficiente...

        Dei meia-volta para ir embora. Andei tranquilamente para a pequena barreira de delinquentes juvenis ao meu redor para atravessá-la, mas, quando ia sair, os dois garotos pelos quais eu passaria pelo meio se juntaram ombro com ombro, obstruindo minha passagem.

        - O que foi? Deveriam ajudar o chefinho de vocês ao invés de continuarem de babaquice pro meu lado. – Disse já sem muita vontade.

        Eles soltaram uma pequena risada de deboche. Franzi o cenho.

        - Qual é a graça?

        Se eles iam me responder, mas não deu tempo, pois, logo que os fiz a última pergunta, algo macio envolveu o meu pescoço e o apertou. Um braço.

        Por reflexo, levei as mãos ao braço que me sufocava, tentando me livrar dele. Era o Toya. Maldito. Não devia ter dado as costas tão cedo. Ele me arrastou para trás, para o meio da roda. Joguei o corpo para os lados, tentando me livrar daquela “gravata”. Não conseguia mais respirar, e minha visão já estava ficando embaçada. Sentia que o sangue não circulava mais tão livremente para a minha cabeça.

        Soltei uma das mãos que inutilmente seguravam Toya. Então, dei a cotovelada nas costelas dele com o resto das minhas forças, omais forte que consegui. Com a dor, ele acabou afrouxando um pouco o braço ao redor do meu pescoço. Dei um impulso forte para frente e me livrei dele.

        Dei mais uns dois passos em direção à linha amarela do chão até parar. Pus uma mão em volta do pescoço, ainda dolorido. Comecei a tossir, forçando a passagem do ar pela traqueia. Respirei fundo algumas vezes, ainda em meio a pequenas tosses. Só quando já estava praticamente restabelecido lembrei-me de Toya.

Um tanto tarde.

Quando me virei, ele já estava no meio do movimento, nem tive como reagir. Seu pé bateu bem no meio do meu peito. Meus pés saíram do solo. Estava em queda livre. Mas eu não bati no chão, ele já tinha passado. Notei isso quando minhas costas estavam prestes a bater contra os trilhos.

Rolei de modo desengonçado, senti minha pele sendo penetrada e rasgada por pequenas coisas que não consegui identificar. Quando finalmente parei, olhei imediatamente para o lado, temendo que o pior estivesse por vir.

E meu medo se concretizou. De dentro do túnel, vinha uma luz que aumentava gradativamente. Era o trem.

Droga, tinha que sair dali logo! Apressei-me em correr para a linha de embarque, mas algo me segurou. Olhei para onde havia sido puxado. A blusa que eu usava por baixo do uniforme estava presa entre um dos parafusos do trilho.

        Peguei a ponta da blusa e a puxei para que se soltasse, mas ela não soltou. Tentei de novo. Em vão. Puxei-a com mais força ainda. Nada.

        Se a blusa não soltava, então, eu tinha que tirá-la, pensei. Na pressa, puxei as duas golas juntas por sobre a minha cabeça, mas não passaram. Ambas as golas eram muito fechadas, não conseguiria tirar as blusas sem que as desabotoasse, mas não tinha tempo para isso.

        Olhei para a cima, na linha de embarque, talvez com a esperança de que alguém – ou até mesmo o Toya ou alguém de sua gangue – estivesse com a intenção de me ajudar, já que estava preso. Mas não achei ninguém, eles haviam fugido.

O metrô estava vindo rapidamente em minha direção, e não tinha como eu sair dali a tempo.

Pensei nos trilhos ao lado. Dava tempo ainda, se eu os escolhesse como rota de fuga. Tentei rolar para cima deles, mas apenas minhas pernas foram. Ainda tinha metade do meu corpo sobre aqueles malditos trilhos presos pela blusa.

O trem estava se aproximando. E rápido. Fatalmente rápido.

No desespero, comecei a empurrar meu corpo para trás, para o lado do outro trilho. Meus braços tremiam... Não sabia se era por causa do grande esforço que eu estava fazendo com eles ou se era pela situação. Minhas costas ardiam com a intensidade que a blusa era pressionada sobre minha pele.

Sem aviso, meu corpo deu um leve balanço para frente, e a força que eu depositava nos braços e nas pernas resultaram em um pequeno vôo. Só conseguia ver manchas marrons e pretas durante o processo. Minhas costas bateram em alguma coisa de ferro, enquanto um forte vento passou pelo meu corpo. Minhas pernas continuaram voando, e acabei rolando para trás, ficando de bruços.

Continuei na mesma posição que havia parado, tentando regularizar minha respiração e pôr em ordem a minha cabeça. Ergui o rosto, o trem estava a minha frente, deslizei o olhar sobre meus braços, - jogados para frente – não estavam em baixo do transporte. Além das costas e do peito, não sentia nenhuma outra dor no corpo. Não conseguia acreditar que tinha conseguido me livrar daquela. A tensão começou a deixar o meu corpo.

Levantei antes que as pessoas que começaram a notar minha presença ali chegassem a mim.

Todas elas e os dois seguranças que foram chamados diziam várias coisas ao mesmo tempo. Conseguia distinguir apenas algumas delas, mas me preocupei apenas em responder os seguranças, que me levavam para fora dos trilhos.

— O que você estava fazendo, garoto?

Não podia dizer o que realmente tinha acontecido, daria muita dor de cabeça. Tinha que inventar uma desculpa aceitável.

— Eu tropecei. Sinto muito pelo transtorno, tomarei mais cuidado daqui pra frente.

— Está acompanhado de algum responsável?

— Não, estou sozinho. Pode deixar que posso ir pra casa sozinho... – Nesse momento, gelei ao olhar para a plataforma de embarque e encontrar um rosto conhecido.

Itachi me olhava com os olhos arregalados, mais assustados do que confusos. A garota que estava de mão dada com ele mantinha a mão livre por sobre a boca, tanto assustada quanto preocupada.

Por que logo ele tinha que estar aqui...?

— Eu ainda me pergunto por que não consigo entender como você foi parar naqueles trilhos. – Itachi começou pela centésima vez quando passamos pela porta de entrada do nosso apartamento.

— Eu já disse um milhão de vezes, Itachi: eu só tropecei. Nada de mais. – Disse, tentando manter a paciência que estava se esgotando.

— Você diz como se quase ser atropelado por um trem fosse normal. Entende que você poderia ter morrido, Sasuke? – Ele me disse, indignado.

Encarei-o com o mesmo sentimento. Tentei pensar onde ele queria chegar com aquelas perguntas repetitivas e óbvias. Cheguei à conclusão que, se eu continuasse “dando corda” a ele, aquela conversa não teria fim. Deixei escapar um suspiro.

— Entendo. – Comecei a andar (estava mais para “rastejar”) rumo ao meu quarto. – Agora só quero descansar, se você me permite. – Falei, referindo-me ao fato dele não calar a boca.

— Nossos pais se foram, Sasuke. Só temos um ao outro agora. Se você não liga mais pra sua vida, dê valor a ela, pelo menos, por mim. – Itachi disse antes que eu adentrasse ao meu quarto.

— Tanto faz. – Falei antes de fechar a porta.

Deslizei os dedos pelo interruptor. A escuridão abandonou o cômodo. Enchi meus pulmões de ar e o soltei lentamente. Pendurei minha mochila na cabeceira da cama e me dirigi ao banheiro. Precisava de um banho quente. E, também, os novos arranhões nas minhas costas e cotovelos que adquiri no metrô precisavam ser limpos.

— Hm... ei... – Uma voz me interrompeu antes que entrasse no banheiro. A televisão estava ligada? Olhei sobre o ombro. Não, não era a TV.

Olhei mais para o lado. Uma garota estava em pé ao lado da minha cama. Virei bruscamente o corpo por reflexo, mas meus pés acabaram se entrelaçando e perdi o equilíbrio.

— Uh! – Deixei escapar um gemido alto ao bater no chão com um som maciço.

Olhei para a garota com urgência. Era mesmo quem eu pensava. Aqueles cabelos com a cor de uma flor de Cerejeira eram inconfundíveis.

A garota morta, Haruno Sakura, estava bem à minha frente.

Continua...


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