Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como vão as coisas na Terra?

MAIS UMA RECOMENDAÇÃO!
Retse, sua perfeição, obrigada!
Sério, fiquei muuuuuuito feliz com o que você escreveu.

Gente, eu pensei seriamente em pular o capítulo dessa semana por causa de alguns problemas pessoais que estou tendo, mas consegui terminar e estou postando porque gostei do resultado :3
Espero que goste também!

Ah, LÊ AS NOTAS FINAIS!
Até lá embaixo o/



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Que seja doloroso, que seja difícil, mas acabo de tomar uma decisão: vou sair daqui. Me recuso a acreditar que foi o último abraço que dei em Rafael, vi o último sorriso de Cibele, sonhei com o último bolo de chocolate de mamãe. Will disse que podemos fazer nosso próprio paraíso, e talvez seja verdade, porém o meu é estar viva com minha família.

E, queira ele ou não, vou tirá-lo daqui comigo.

— William — chamo, procurando nas gavetas por um pedaço de papel e uma caneta. — Vem cá, temos muito a planejar.

Caminho até a sala de jantar e coloco o caderno na mesa de madeira, buscando depois o que restou do brigadeiro e deixando bem ao lado.

Pouco mais de meia hora mais tarde, está escuro lá fora, e nós dois estamos debruçados um à frente do outro na mesa olhando para o desenho mais detalhado do céu que Will conseguiu fazer. É um círculo grande com outros quinze, cada um menor que o anterior e dentro deste. Além disso, todos têm uma pequena abertura, mas elas não estão alinhadas. O resultado final parece um labirinto que eu costumava achar atrás da caixa do Todynho.

— Cada abertura é a porta de saída de um estágio — explica ele, circulando uma delas com a caneta, e posso sentir sua respiração quente na pele enquanto fala. — Encontrando algo errado, você manipula o estágio. Vê esse ponto que eu desenhei? Suponha que você está aqui. Agora imagine todo esse círculo girando e a abertura vindo até você, então você passa e ele gira de novo até a posição inicial. Mas há três jeitos de passar: o primeiro é girar o círculo, o segundo é dar a volta.

Eu sou brasileira, e se tem uma coisa que isso nos ensina é que sempre existe uma maneira mais fácil.

— E se nós pularmos o muro? — Debruço-me mais sobre o desenho dele, tentando visualizar um labirinto de verdade.

— Esse é a terceira forma, mas não é muito usual. Foi exatamente o que a Paula fez por você: te ajudou a pular o muro. Pra isso, você precisa de alguém que tenha poder de manipular a estrutura, assim como ela. Quem pode fazer isso são os anjos, e alguns ceifeiros.

— Você é ceifeiro e tem sangue de anjo — reclamo, rolando os olhos. — Não pode fazer isso?

Em resposta, ele se endireita e vira de costas para mim, colocando as mãos na base de sua camisa. Depois de hesitar por um segundo, puxa para cima o tecido claro lentamente até que suas costas apareçam por completo. Não é a primeira vez na vida que vejo um homem seminu; Jake Collins, o intercambista que tocava violoncelo, na festa beneficente... Longa história. Ainda assim, parece mais próximo e íntimo do que qualquer coisa. Há uma tatuagem cujo desenho não reconheço, parece um símbolo.

— Significa que sou rastreado — diz, antes mesmo que eu pergunte. — Não seria minha primeira tentativa de burlar as leis do céu. Qualquer que seja a próxima... — Outras palavras não são necessárias, porque basta um movimento dele para que várias cicatrizes sejam notadas. Grandes, pequenas, algumas recentes e outras antigas, mas de alguma forma sei que são todas de tortura. Chego a estender a mão para tocar alguma, mas paro no meio do movimento.

Depois disso, ele abaixa a camisa e se vira de novo para me encarar. Há um grande desconforto em olhar pra ele ainda mais de baixo do que o normal, mas tem algo diferente também. Uma pontada de reconhecimento, talvez.

Mas, como eu já disse, sempre tive a imaginação bem fértil.

— O que vamos fazer, então? — Minha voz sai mais baixa do que eu tinha planejado.

— Se conseguir nos levar para o décimo ou o décimo primeiro estágio, eu consigo pular direto pro último — afirma ele, pensando por alguns segundos. — É obrigatório passar por ele antes de sair assim como o estágio inicial. Vai ser bem cansativo, mas com um pouco de adrenalina e talvez uma barra de chocolate eu leve você sem nenhuma parada.

Rio baixinho e ele me lança um olhar confuso. É estranho imaginar uma divindade da morte comendo chocolate.

— E quem vamos chamar para nos ajudar com isso?

— É bem simples — responde, dando de ombros. — Nós vamos raptar um anjo. Não é difícil atrair um, e prendê-lo menos ainda. Só precisamos de alguns ingredientes especiais.

Acho que ele não entende a gravidade do que está me sugerindo. Raptar um anjo! Claro que ele deve entender do assunto, mas uma criatura com tanto poder assim nos vaporizaria num piscar de olhos.

— Ok, gênio, e como vamos fazer isso? Com sangue de unicórnio e uma tesoura sem ponta? — ironizo.

— Claro que não! — diz ele no mesmo tom. — Afinal, onde íamos achar uma tesoura sem ponta? — Demoro cerca de dez segundos para perceber que ele está brincando, e sou obrigada a rir. É, talvez ele seja um pouco engraçado. — Arranje mel, canela e hortelã, o resto pode deixar comigo. — Como ainda estou olhando, ele fica sério. — Não, dessa vez é verdade! Arranje mel, canela e hortelã.

— E isso é um tipo de feitiço? — pergunto, começando a procurar no armário pelo que ele pediu, mas não encontro nada. Tenho que lembrar de ir ao supermercado.

— Mais ou menos, é um charme para atrair anjos. — Ele rabisca alguns itens no caderno e arranca a folha, guardando no bolso do jeans. — Agora, se não quiser ser levada pra um manicômio, sugiro que pare de falar comigo.

— Ué, por quê?

Em resposta, ele aponta para a porta da cozinha, e a maçaneta está girando. Vovó acaba de chegar.

Quase espero que ela entre calmamente como deveria fazer uma senhora de sessenta e dois anos, mas é inútil: ela dá no mínimo dois chutes na antiga porta metálica, e o vitral treme com os golpes. Então, ao mesmo tempo que luta com uma enorme sacola reutilizável cheia de compras, ela entra xingando a mãe de quem fez a porta, de quem fez a sacola, de quem inventou o supermercado e do infeliz que plantou dores nas pernas dela. É, essa é minha avó. Pela cara de Will, consigo entender que agora ele sabe com certeza que ela não é uma velhinha jogadora de bingo.

— Lis! Eu não te esperava aqui tão cedo — diz ela, me abraçando com carinho e bagunçando meu cabelo com seus dedos pequenos, e somos meio amassadas pela sacola. Uma das coisas que mais gosto nela é que consegue até ser menor que eu. Rio, contente por estar com ela de novo, mesmo que não seja... Bom, ela de verdade e sim apenas uma memória. Vovó está viva e forte em sua casa no interior. — Ah, já que está aqui, faça o favor de guardar essas coisinhas pra mim. — O fim de sua frase sai mais marcado do que deveria, o que a faz parecer uma pergunta.

Deus, ela sempre faz isso. No começo eu me irritava muito, mas agora é até fofo.

Ela larga tudo na mesa e para por um momento para conferir se não esqueceu as chaves ou o celular no mercado. Sim, ela tem um celular, que aliás é melhor que o meu, e não só isso: também já me ensinou a fazer várias coisas.

Espera... Quase me esqueci de Will! Fico uns bons instantes preocupada com o que dizer dele, como apresentá-lo, afinal não é todo dia que trago pra casa um rapaz louro e bonito com nome estrangeiro. Porém, logo depois, ela segue pelo corredor, ignorando completamente meu amigo.

— Mas vovó, a senhora não vai dizer um oi para o... — começo, mas Will dá um pulo digno de filme de ação até mim e tapa minha boca antes que eu termine a frase.

— Não levante suspeitas. — Ele tira a mão devagar, arrastando-a para baixo em meu rosto. — Ela não pode me ver.

— O que foi, querida? — Ela está parada no meio do caminho, me olhando com uma expressão estranha. Troco um rápido olhar com Will e balanço a cabeça negativamente para ela, quieta. — Quase achei que seu amigo tivesse voltado. — Assim, sem mais nem menos, ela vai para a sala e se esparrama no sofá. — Ah, e tem bolo na geladeira!

Por mais tentador que seja, não deixo que isso me distraia. Antes de fazer qualquer outra coisa, xereto nas compras dela para encontrar o que preciso, mas não há nada aqui. Bem estranho uma velhinha não comprar canela, mel e hortelã.

Procuro por meu celular e os fones, que incrivelmente estão em cima do armário, e coloco algo agitado pra tocar. O aleatório me sugere I'm So Sorry, do Imagine Dragons, que aceito de braços abertos. Cantarolando junto e fingindo que sei alguma parte além do "I'm so sorry", vou tirando as coisas da sacola e colocando cada qual em seu lugar.

Meu corpo pode até estar aqui — figurativamente falando —, mas minha mente está voando por aí e tentando encontrar uma solução viável pra tudo isso. Podemos até atrair e prender um anjo, mas será que podemos obrigá-lo a ajudar? E se forem todos como Raziel? O melhor agora é seguir as instruções de Will, porque até agora ele é a única forma que vejo de sair ilesa daqui.

— Vó, eu vou ao mercado! — grito, depois de guardar tudo, e espero que ela me escute por cima do volume alto da televisão. "Quando eu vejo minha novela, não quero ouvir nenhum outro som", ela sempre dizia quando eu e Rafa éramos pequenos e fazíamos bagunça durante nossas visitas.

Ela murmura qualquer coisa em resposta, que pode tanto ser um "vá com Deus" quanto um "não use drogas". Conhecendo-a, eu diria que é uma mistura dos dois. Ah, não posso esquecer de perguntar a ela sobre o que disse mais cedo...

— Mas Will, eu tenho que... — Paro de falar ao ver que ele já não está mais por perto. Por isso tudo ficou tão quieto enquanto eu guardava as compras! — Ok, senhor ceifeiro, só... Volte logo, ok? Preciso de você.

Parte de mim sabe que ele não pode ouvir, mas a outra parte tem uma pequena esperança de que ouça.

Mel, canela e hortelã, certo? Ok, vamos fazer isso.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostou?
Sim? Não? Talvez? XD

LINKS ÚTEIS
Esquema do céu que o Will desenhou: http://imgur.com/viGWFUj
Tatuagem do Will: http://imgur.com/34SPq3G

Lembrando que eu inventei o símbolo e uma moça super legal colocou na imagem pra mim :3 Obrigada!

AH!
Você que ainda não mandou tua pergunta, aproveita que é só até amanhã!
Na semana que vem eu coloco aqui nas notas o link do vídeo :3

E era isso, obrigada por ler.
Beijinhos ♡