Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 13
Parte III — Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como vão as coisas na Terra?

Chegay, postando no recreio da escola porque tem prova de literatura e eu não sei se sobrevivo.

Hoje não temos avisos importantes (É PRA GLORIFICAR DE PÉ), e eu só quero agradecer a vocês por todo esse apoio lindo e divo que estão me dando!

Sem mais delongas, eis o capítulo :3 espero que gostem.
Até lá embaixo o/



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— Grace? — Rio levemente com o que Will me conta, numa tentativa sem sentido de quebrar o clima horrível que se instalou entre nós dois. Meu humor oscila como um monitor cardíaco fazendo bips agudos e rápidos. Estou sentada na ponta de uma cama onde ele está deitado, me olhando. Não sei por que, mas a ligação que sinto com ele está cada vez maior. — Seu sobrenome é Grace?

Depois que Will me encontrou, não aconteceu muito: ele estava fraco e machucado, e de repente aparecemos num quarto que não conheço. Na mesma hora, pálido como um fantasma, ele se jogou na cama e soltou um suspiro baixo. Fechei as cortinas cor de vinho e me aninhei aos pés dele, em meio aos lençóis que faziam par. Depois de pensar muito, decidi que não era uma boa ideia perguntar onde estávamos ainda. Ficamos em silêncio por um longo tempo, mas agora estamos aqui a ponto de fazer trancinhas um no cabelo do outro. Ouvi com atenção a história que ele me contou, e foi um fim bem emocionante.

— É, meu sobrenome é Grace — diz, com um sorrisinho. Parece até um pouco doente, mas seus olhos brilham de relance quando me ouve rir de novo.

— Você sabe que isso é bem irônico, certo? — Ele tenta dar de ombros e reviro os olhos. — Fica quieto, William. Bom, na verdade, não se mexa e termine de contar a sua história.

— O quê? Eu já terminei!

— Não terminou — reclamo. — Você ainda tem que me contar o que houve com a Edlyn.

Seu sorriso de torna triste nesse momento, o que deixa meu coração pesado. Droga, devia ter ficado na minha.

— Ela encontrou seu corpo e voltou a viver — diz. — Em outro lugar, com outro nome, mas sem desistir de "Grace". Alguns anos depois, se casou de novo e teve filhos, que cresceram, casaram e tiveram filhos, que também cresceram, casaram e tiveram os seus. A linhagem continua até hoje. Imagine a seguinte situação: ela teve dois meninos. Se cada um destes teve dois bebês, e cada um desses também teve dois, e de novo, até hoje... É muita gente mesmo.

— Então quer dizer que ainda há descendentes de Raziel por aí? — pergunto. Will não pensa duas vezes antes de responder:

— Milhões deles, e os anjos os caçam todos os dias. É o principal objetivo deles agora — completa, prendendo seu olhar ao meu com uma intensidade que até agora eu não tinha visto. — São perigosos para a existência do céu. Qualquer porcentagem angelical no seu sangue, por menor que seja, te faz ter um poder que nenhum ser humano pode imaginar. Se todas essas gerações descendentes de Raziel tomassem conhecimento de suas raízes e se unissem para lutar, os anjos não teriam força contra esse exército.

As palavras flutuam no ar por tensos momentos, e faço o possível para absorvê-las.

— Tenho só mais uma pergunta — sussurro, tentando em vão organizar as ideias que fluem soltas em minha mente. — Eu sou cristã e acredito em um Deus que não ficaria parado vendo tudo isso acontecer. Então, onde está Ele nisso tudo?

Will suspira, ficando em silêncio por uma pequena eternidade. Quando enfim fala, sua voz vem carregada de dúvida.

— Sabe, Lis, eu te dei uma informação errada — começa ele, e umedece os lábios. — Disse antes que os anjos deixam uma saída de emergência todas as vezes. Mas, se pensar um pouco, vai ver que isso não faz sentido; eles não precisam disso, são anjos. Até mesmo os ceifeiros podem transitar livremente entre os estágios, então por que um anjo não poderia? E, claro, eles não querem que você saia, então por que colocar uma porta de escape? É o mesmo que colocar uma janela baixa e sem grades dando sopa em uma prisão. Entende o que quero dizer? — Balanço a cabeça negativamente. A essa altura, nada faz sentido. — Melissa, os anjos não colocaram o fio solto no tapete da sua mãe, nem o ladrilho fora de lugar no hospital. Você os achou, então quem os colocou lá? Não vou mentir pra você, depois de tudo que já vi, acredito em um Deus, e é porque já vi milagres. Pessoas acordarem de comas, outras terem as conhecidas "experiências de quase morte"... Deus deu de presente aos humanos o poder de escolher.

— E só aqueles que escolhem sair conseguem fazer isso — completo a linha de raciocínio dele, maravilhada e assustada ao mesmo tempo. Como é possível que tudo seja tão incrível e tão amedrontador? — Então está dizendo que Deus colocou as saídas.

— Estou dizendo que acredito que Deus colocou as saídas, para nos dar uma chance de lutar contra essa realidade que os anjos dele construíram.

Uau. Agora sim meu queixo caiu, não consigo mais colocá-lo no lugar e muito menos assimilar tudo isso.

— É difícil de absorver. — Encolho os ombros, colocando os pés em cima da cama e puxando os joelhos até encostarem no peito. — Nunca achei que fosse ser assim... Queria o paraíso, não Alcatraz.

— Sinto muito — responde ele, se sentando na cama. — Não posso fazer muito pra te ajudar.

— Tudo bem — digo, acenando a mão no ar como se não fosse nada. — Então... O que aconteceu com você, Will? Recentemente, quero dizer. O que fez enquanto eu estava na casa do meu namorado de mentirinha?

— Lutei contra um anjo — ele fecha os olhos, suspirando outra vez. — Raziel, mais especificamente. Não podia deixar que ele pegasse você.

Então foi isso que impediu Raziel de me encontrar: Will! Essa deve ter sido a causa do barulho que ouvi enquanto o carro se dirigia pra longe e minha visão de tudo estava bloqueada por um banco. Não evito um sorriso ao entender, e chego a pensar em perguntar de novo por que ele está me ajudando tanto. De qualquer forma, é reconfortante ter alguém que se dispõe a ir à luta por você enquanto há tantas coisas ruins acontecendo ao redor.

Subitamente, algo me ocorre. Sem a menor vergonha do que estou fazendo, pego o pulso dele e o trago para mais perto. Em um toque gentil, ergo a manga que cobre seu braço até a altura do cotovelo. Ele não resiste, apenas fica observando com atenção o que estou prestes a fazer e respirando devagar.

— Suas camisas de mangas compridas são por causa delas? — pergunto, correndo as pontas dos dedos pelas marcas no antebraço de Will. Olhando assim, parecem os reflexos que a luz do sol fazia no mar de manhã.

— São — confirma ele, erguendo o olhar para encontrar o meu. — Você reparou tanto assim nelas?

— Não imagina o quanto. — Por um momento, fico fascinada demais com toda essa história pra dizer alguma coisa. Anjos, nefilins, Deus, tudo se encaixando tão perfeitamente quanto deveria, e se entrelaçando com a minha vida de uma maneira que eu nunca poderia imaginar. — Não devia ter tanta vergonha delas, William. São sua história, parte de você, símbolos da sua luta. Ao invés de escondê-las, eu teria orgulho se fosse você.

— Acho que tem razão — concorda ele. — Mas tenho certeza que também não ia gostar de ver, todo santo dia, essas marcas te lembrando do seu fracasso. Se eu tivesse sido mais forte, ou resistido por mais um momento...

— Não estaríamos aqui agora, não é? — interrompo, dando de ombros. — Tem outra coisa que eu gostaria de saber, também... Essa Liv, de quem você falou. Como ela era?

Ele fecha os olhos, e me arrependo no mesmo instante de ter aberto a boca outra vez. É um assunto delicado, com certeza.

— Se olhe no espelho, Melissa — argumenta. Não usa meu nome inteiro de um jeito rude, ao contrário de muitas pessoas, é quase como se fosse algo carinhoso. — O que vai ver é exatamente o que eu via quando olhava pra ela.

— Uau. Isso quer dizer que eu sou, sei lá, alguma reencarnação dela? Desculpe, não acredito nisso — murmuro, e começo a me sentir ofendida.

— Não, não uma reencarnação. — Ele volta a umedecer os lábios. — É mais como uma descendente direta.

Uma ideia atravessa meu cérebro como outro raio.

— Então é por isso que você me ajuda? Porque me pareço com a sua namorada? — Não consigo evitar que as palavras saiam um pouco irônicas. Isso acabou de quebrar toda a impressão incrível e heroica que eu tinha dele. A imagem de cara bonzinho que ajuda porque é bonzinho e quer o bem de todo mundo se desfaz como papel jogado na água. Ele está mesmo se arriscando tanto assim por causa de meras aparências?

— Não, na verdade não é isso — admite, arregalando os olhos e multiplicando qualquer dúvida minha. Se tem uma coisa que sei é ler a sinceridade das pessoas, mas Will permanece tão indecifrável quanto no primeiro dia em que o vi. — Tenho um motivo de verdade pra estar te ajudando.

Por alguma razão, não pergunto qual é. Talvez seja porque tenho certeza absoluta de que ele não vai responder, ou porque isso não importa mais. Então, do nada, começo a sentir a maior angústia que alguém poderia imaginar.

Só agora a ficha caiu. Estou morta, e posso nunca mais voltar, o que significa nunca mais ver nenhuma das pessoas que mais importam pra mim: minha família, meus amigos. Tudo isso podia ter sido evitado se eu dissesse a Rafa que não queria um café, o que o faria chegar mais rápido lá e sairíamos antes do motorista imprudente que ocasionou toda a batida, ou se tivesse pegado o ônibus pra Porto Alegre e saísse de carona com meu irmão de lá, ou, não sei, escolhido ir embora de avião. Me sinto entorpecida, e por um instante imagino que tudo isso não passa de um sonho muito ruim, que logo irei acordar na minha cama de verdade e ver minha família unida e feliz. Porém, não acordo — o pesadelo é de verdade.

Nesse momento, minha mente vaga até Rafa e Cibele, e penso no que devem estar fazendo agora. Claro, seria demais pedir a meu amigo pra procurar por eles de novo, ainda mais no estado em que ele está. Em vez disso, pra agradecer por tudo e também porque quero algum conforto humano — ou quase —, coloco minha mão sobre a de Will. Ele entrelaça os dedos nos meus e os fecha, bem mais caloroso do que eu esperava.

— Sabe, Lis... — recomeça, e seus lábios se curvam em um pequeno sorriso. — Você tem mais potencial do que imagina.

Tenho certeza que ele disse isso na intenção de me animar, mas não deu certo. Me perdoe, Will.


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Notas finais do capítulo

HALLO
E aí, o que achou?

Me conta, vou responder com muito carinho :3

E era isso. Até logo!
Beijinhos ♡