O CAMALEÃO SIDERADO escrita por MARCELO BRETTON


Capítulo 35
Capítulo 35




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/673114/chapter/35

Improvisaram uma maca com uma rede e levaram o corpanzil do velho até a carroceria do caminhão. Subiram todos a bordo desejando partirem dali o quanto antes. Diolindo embarcou por último, pois fora enterrar o que sobrara de Desirée. Juntou os membros decepados e colocou dentro de uma caixa de papelão sem conseguir encarar o ventre aberto, de onde achava que sairia uma criança em breve. Tocou o bolso onde estava guardado o diamante e jurou vendê-lo para pagar as prestações que faltava da sua amada. Não saberia mais dizer se o seu pai iria precisar de um advogado ou de um agente funerário.

 

O motorista deu a partida e, conforme fora orientado por Plínio, seguiriam rumo ao posto de saúde do arraial. Gemima vinha com o ouvido encostado no peito do seu coroa para escutar as batidas do coração, que aquela altura estavam cada vez mais fracas. Improvisaram torniquetes com as toalhas das mesas para estancar as hemorragias e Diolindo salvou o resto da garrafa de vinho batizada, cujo líquido embebia num pano e colocava no nariz do pai pra ver se ele reagia com o cheiro do álcool. Nada. Suas pupilas estavam dilatadas e o pulso fraco. O velho estava em choque.

 

— Diolindo me diga que ele vai viver! – Implorava a gordinha em prantos olhando pra ele como se do nada pudesse sacar uma varinha de condão e lhe conceder o pedido.

Almeida vinha abraçado à sua filha, tendo Plínio e Dorotéia segurando cada qual o seu terço na mão e rezando pra Santa Meredite interceder.

 

Tomando o pano das mãos do filho, sob os olhares de estupefação da audiência, a gordinha enfiou-lhe por dentro da calçola e o esfregou nas suas partes íntimas com vigor. Depois, num ato de desespero , encostou no nariz do velho. A princípio nada aconteceu, mas quando em poucos minutos a cor começara a voltar as bochechas de Franco, Diolindo já prenunciava boas notícias. Antes mesmo do caminhão entrar no arraial, o velho começou a tossir e a gritar impropérios, ainda que suas forças não permitissem que ele abusasse.

 

— Quem foi o filho da puta que me jogou em cima desse pau de arara? Vou comer o rabo de quem me enfiou esses pregos nas mãos!

— Calma coroa, eu estou aqui com você

— Gemima? É você? – Perguntou amansando a voz e acostumando com a claridade do dia, cujo sol lhe incidia direto nos olhos.

Diolindo aproximou-se, e se não acreditava em milagres, ali tinha ocorrido um na sua frente. O casal católico agradecia em voz alta a Deus e a nova santa de devoção. Almeida e Selma admiravam a força que o velho tinha.

 

Gemima molhou os lábios do velho com água, sob protestos.

— Água não, minha flor de laranjeira. Cadê a cachacinha?

— Vai ficar pra depois que você recuperar as forças.

— Baby se o mondrongo já tá de pé é porque eu tô bem – Sentenciou segurando o membro meio ereto, pra descobrir que era só tesão de mijo. E ali mesmo deitado, se urinou.

— Seu safado, não toma jeito mermo né? – Corria a mulher na carroceria jogando o resto das toalhas de mesa sobre o filete de xixi que ia na direção dos outros passageiros.

 

Como não havia outra maneira de reagir, todos sorriram diante do comportamento duvidoso da criatura que rapidamente saia da sua condição de moribundo para a de desbocado, e já cometendo um atentado ao pudor na largada da sua ressurreição.

Seguiram em silêncio, cada um perdido nos seus próprios pensamentos enquanto o veículo estacionava em frente ao posto de saúde lotado de gente gemendo.

 

###

 

— A que horas mesmo vocês disseram que o ônibus passa pra capital?

— Porque ir de ônibus se há uma maneira mais excitante de chegar lá? – Interferiu a baixinha que voltava dos fundos do posto balançando uma chave nas mãos – Quando chegamos hoje de manhã pra trabalhar isso aqui tava parado aí no pátio com um vidro quebrado e a chave no contato.

Deram a volta pela lateral do estabelecimento e Fredson viu a sua viatura. A peste do capataz tinha roubado. Mas onde ele havia se metido? Será que faltara gasolina e ele não esperou o posto abrir?

Abriu um sorriso de agradecimento às duas mulheres que lhe pareciam dois querubins meio sujinhos de terra. Se ele gostasse daquela fruta já as teria devorado e cuspido os caroços fora. Mas o caso é que tinha que se mandar dali antes de ser assediado, aí ferrava tudo.

 

Entrou novamente no escritório para pagar pela refeição e pelo combustível que necessitaria.

— Só paga pela gasolina. A comida é por nossa conta – Disse a grandona comendo a carne ensopada junto com a baixinha que mastigava ruidosamente e olhava pra cara dele com a lassidão lhe rondando os olhos. Ficou sem saber se estava saboreando a refeição ou desejando sodomizá-lo.

 

Agradeceu outra vez e deu a volta pela lateral oposta pra chegar na viatura. Num grande balde de lixo, encostado na parede externa do escritório, cheio até a boca e com moscas voando ao redor, pensou ter visto mechas de cabelo saltando pra fora, ou então uma peruca saindo do monturo. Aproximou-se curioso e com a ponta de um pedaço de pau puxou a tampa. Para o seu horror viu a cabeça de Romeu decapitada e com o que pareciam ser vísceras humanas jogadas de qualquer maneira ao seu redor. Sentiu uma ânsia de vômito incontrolável. E com as crescentes contrações estomacais, pôs pra fora os pedaços do homem morto. Tinha certeza que aquele homem lhe fora servido no prato. Não era carne de bicho. Era carne de gente. Ainda dispensando o líquido espesso pela boca, abriu a porta da viatura e entrou buscando o buraco da ignição pra enfiar a chave. Aquele lugar era algum tipo inferno e não queria ir parar dentro de uma panela de jeito nenhum. Arrancou o carro cantando os pneus, que logo furaram ao passar por cima de um sem fim de pregos jogados estrategicamente pela grandona no pátio do posto. Ambas estavam de pé, lado a lado, com os braços cruzados bem em frente ao local onde a viatura parara, palitando os dentes, como se tivessem acabado de comprar no supermercado o almoço do dia seguinte.

 

Fredson estava apavorado e permaneceu ali congelado de medo. Suas pernas não lhe obedeciam e só por isso não abriu a porta e correu. Viu as mulheres se aproximando despreocupadamente. Acharia aquela cena sexy, caso não estivesse se sentindo como gado sendo encaminhado ao matadouro. A grandona abaixou-se para falar com ele, e notou pela primeira vez que ela estava armada.

 

— O que é que a gente faz com você agora, sêo policial?

— Como vocês sabem quem eu sou?

— Tsc, tsc, tsc. Matou o próprio pai – Intrometeu-se a baixinha chegando mais perto da outra.

— Nós somos testemunhas da sua maldade Fredson. Perdemos o nosso maior cliente.

— Cliente? Vocês são prostitutas?

— Claro que não, apesar de ter o talento natural e atributos para ser qualquer coisa que quisermos. Fabricamos a linguiça que ele servia como petisco. Queimava com álcool no balcão e fazia a felicidade de quem estava com fome.

— E imagino qual seja o recheio da tal linguiça.

— Hum, hum. Carne de qualidade, de primeira. Pena que a carne dura do último que nos visitou não servia pra essa finalidade. Estava gostosa?

— O que vocês vão fazer comigo? – Perguntava sentindo a bílis lhe subir pela traqueia.

— Primeiro um teste pra ver se você pode virar linguiça!

E caíram numa risada sinistra, abrindo a porta do carro e levando-o para dentro sob a mira da arma, enquanto a outra manobrava a viatura para os fundos novamente.

 

###

 

— Gemima, eu prefiro ser corno do que esperar alguém me atender aqui nesse antro de zumbis! - Gritava Franco enquanto Diolindo tentava achar um lugar pro velho se sentar, rindo e olhando pra gordinha que não segurou um risinho sacana.

— Calma coroa. Daqui a gente se manda pra onde você quiser.

— Eu já me sinto melhor. Vou ficar ruim se demorar mais um pouco nesse calor do cão. Eu não sou uma pizza pra ser assado desse jeito!

 

Como o homem estava paramentado de religioso, o povo pobre e humilde foi dando a vez pro atendimento ao velho a despeito das próprias dores lhes afligirem cada vez mais.

Quando o médico o recebeu, ainda assim não ficara satisfeito.

— Mas como esse rapazola que mal saiu dos cueiros vai dizer o que eu tenho? – Questionou apontando pro jovem doutor que atendia ali.

 

Almeida e Selma foram em busca de um transporte que pudessem levá-los todos para a capital, enquanto Plínio e Dorotéia se despediam, retornando com o caminhão para desmontar o acampamento, mas não sem antes informar o telefone para receber notícias de Franco. Estavam agoniados por conta da promessa que fizeram, mas seriam sete dias sem sexo, cuja abstinência já se fazia sentir com o pau de Plínio que não amolecia há horas e os os dois absorventes empapados que Dorotéia trocara discretamente desde a manhã. Nem menstruada ela sujava tanto absorvente assim.

 

###

 

Novamente amarrado e amordaçado, desta feita nu em pelo, Fredson temia pela sua vida quando viu a baixinha amolando uma faca num esmeril.

— Só podemos decidir o que fazer com você quando tirarmos uma lasca da batata da sua perna e provarmos, como um bom bife. Dependendo da textura, ou você vira linguiça, ou vira um ensopado. Como o chefe só chega amanhã à noite de viagem podemos desossá-lo aqui. A sua carne iremos levar pra casa, pra moer e temperar. De qualquer maneira amanhã é aniversário da minha irmã e teremos convidados. Gente igual a nós, que gosta de um petisco, digamos, humanamente delicioso! – E ria da mesma forma mórbida de antes, com os olhos bem arregalados.

 

Ele não estava preocupado em ser fatiado, na verdade, para sua surpresa, só imaginava o seu fracasso como pai, abandonando o pequeno João naquele hospital a sua espera. Ele prometera voltar para cuidá-lo, e não gostava nem um pouco de quebrar promessas. Queria buscar o seu filho, nem que lhe faltassem pernas e braços. Se ainda lhe restasse a cabeça e o coração era o que precisava para ser um bom pai. Ela que viesse lhe arrancar um bife da batata da sua perna. Elas que dessem sua festinha canibal. Não, ele não iria virar linguiça de jeito nenhum.

 

Ele buscou na sua mente imagens eróticas que pudessem lhe dar uma ereção, algo difícil de acontecer naturalmente, pior ainda naquela situação. Pensou nas poucas mulheres que tinham deitado com ele. Nada. Pensou nas revistas de homens nus que pagava para os meninos comprarem nas bancas. Nada. Quando pensou no banco da igreja que ia com a sua avó e a sua mão pousada no pênis do seu amiguinho, o seu pinto sem uso tomou a frente da situação e ganhou um tamanho que nem ele acreditava que tinha quando completamente ereto. Grunhiu alto para a baixinha que amolava a faca assoviando qualquer merda de música e, ela se virou para imediatamente se encantar com aquele monumento fálico em riste pronto para uma boa sacanagem. Aquilo seria difícil, mas era a sua vida que estava em jogo. E a promessa que fizera ao seu filho. A mulher esquecera a faca na pia e caminhava para perto dele tirando o macacão de bombeira de maneira sedutora como uma stripper profissional. Ele estava pronto pro sacrifício.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O CAMALEÃO SIDERADO" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.