O CAMALEÃO SIDERADO escrita por MARCELO BRETTON


Capítulo 30
Capítulo 30




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Franco, que ainda estava sentado na mesa quando viu Sérgio levantar as mãos na beira da estrada, pegou a arma que roubara de Godô, guardada debaixo da batina, e entregou para o filho discretamente por entre as pernas sibilando entre dentes – Saia daqui agora! Se precisar descarregue essa merda nesses filhos da puta. Agora, vá! – Enfatizou um pouco mais alto, sem que Selma e Dorotéia se dessem conta do que estava se passando. Diolindo levantou da mesa e pediu silêncio as duas mulheres com o dedo na boca e sumiu atrás do acampamento no meio da noite. A mulata, que roía os ossos do tatu, percebeu que algo de estranho estava acontecendo quando viu Fredson se aproximando com as mãos pra cima junto com Sérgio, seguido por dois homens na sua cola. Ela conhecia os dois. Dorotéia por sua vez demorou um pouco mais pra entender porque o seu homem vinha sendo empurrado por algo nas suas costas enquanto pousava as mãos atrás do pescoço.

— Dorotéia, tenha calma! – Pediu a mulata tentando ela mesma buscar alívio no prenúncio da desgraça.

O grupo que vinha da estrada chegara próximo a mesa que fora montada para o jantar.

— Êita cheiro bom! – Uivava Romeu já recuperado da digestão do cigarro aceso que engolira mais cedo, e apontando a sua garrucha para as costas Fredson.

Godô com o seu faro de sabugueiro resfriado sabia que o aroma era familiar e logo identificou o perfume do tatu que Gemima fazia como ninguém.

 

A gordinha estava nos fundos do acampamento lavando a panela que cozinhara o bicho, quando Diolindo passou por ela avisando que Godô tava armado lá na frente com um comparsa e com reféns. Gemima largou tudo e se embrenhou no mato com ele sabendo que ele tava ali para matar todo mundo. Conhecia aquele bicho frouxo fazia tempo, e ia contra atacar pelas fraquezas que conhecia do seu ex-marido. Temia pela vida do seu coroa, mas para protegê-lo teria que traçar um plano, e viu que Diolindo estava armado.

 

— Dona Selma, mas que prazer ver a senhora! – Bradava Romeu sacudindo a arma e cuspindo no chão ao mesmo tempo.

— Pois eu não tenho nenhum seu verme! – Devolveu as palavras e a cusparada no chão, que gostaria de acerta-lhe na cara, olhando firmemente para Fredson, que estava rendido, esperando algum sinal. Mas dos seus olhos não veio nada já que estavam mirando o chão.

— Num posso dizer o mesmo desse padre de araque – Afirmou Godô tirando a pontaria do seu revólver da cabeça de Sérgio para onde o padre estava sentado.

 

Dorotéia parecia hipnotizada sem entender o que se passava, mas o seu instinto de sobrevivência lhe gritava por dentro que era melhor continuar assim, invisível. Não deixou de pedir a Santa Meredite que lhes tirassem daquela enrascada.

 

— Caiu meu cu depois disso seu cretino. Eu tenho bossa pra entrar e sair de encrencas, mas isso aqui tá parecendo uma chanchada! Vai querer o que, resgate? – Trovejava o velho, sabendo que teria que chamar a atenção daqueles dois para ele, evitando que machucassem alguém.

— Isso não teve graça. Pra você já tenho um plano e num é resgate não – Dizia Godô coçando a barbicha e algemando Sérgio e Fredson, que trazia esses apetrechos no porta luvas do veículo oficial.

— Romeu, leva esses dois lá pra dentro e aproveita essas cordas das barracas e amarra os pés. Eu vou fazer o mesmo com as moças e depois vou preparar um negocinho pro velho que me roubou a mulher, mas acho que ele num dá no couro não! – Gargalhava na cara do seu rival que não se entregava mesmo com uma arma nas fuça.

— Dou no couro sim. Vou descrever a chavasca da minha Gemima. Um agregado de veludo sobre uma geografia ímpar que inclui cânions com um igarapé que daria bem para construir uma hidrelétrica de tanta água que sai dali. Sem contar que a cereja cresce como um nariz gripado toda vez que for beliscada, e o resultado é um arranjo que faria corar qualquer escritor de sacanagem, e mediano, hein!

— Hum? Cale a boca seu padre da boca suja! – E desferiu um golpe com a coronha do revólver fazendo Franco rodopiar e cair desmaiado sobre a mesa para horror das mulheres que eram guiadas para dentro de uma das barracas.

 

Fredson que estava numa barraca amordaçado, algemado e amarrado como Sérgio, sabia que não havia muitas alternativas, já que a sua arma lhe fora tirada e aqueles dois apresentavam um alto grau de psicopatia e burrice, uma combinação letal num cenário em que precisasse negociar. Se perguntava onde estaria Diolindo. Talvez ele fosse uma solução se estivesse por perto. Ou então o estopim sangrento que não desejava. Estava deitado de lado na pequena tenda com o outro homem atrás de si que não sabia quem era, mas algo o estava fazendo ter uma ereção daquelas. Estavam tão próximos que ele podia sentir a respiração dele na sua nuca e a pressão do seu pênis. Mesmo com o que se passava ao redor, era algo que estranhamente o fazia relaxar.

 

Selma e Dorotéia também estavam na mesma situação do policial e do chefe do acampamento católico. Uma das pequenas barracas que seriam desmontadas no dia seguinte fazia-lhes as vezes de cativeiro. Desta feita era Selma quem roçava seu pênis levemente no traseiro de Dorotéia sem que ela entendesse o que lhe coçava o rego da bunda. Podia ser algo que estava entre ela e a linda mulata. Pena que não podiam falar nada por causa da mordaça. Mas continuou na mesma posição achando que assim estava mais protegida e aquecida.

 

Godô pediu que Romeu mantivesse o padre sob mira, mesmo sabendo que o homem não iria muito longe caso corresse, e ficou matutando onde estaria a outra criatura magra e encovada que tinha visto com a mulata no sítio e na estrada e que fazia parte da gangue. Pensou em perguntar ao velho, mas com certeza ele despejaria mais merda que um cu diarréico. O melhor a fazer era procurar a madeira necessária para construir a obra. Romeu que achasse que o seu ricocheteio épico entraria para a história. Que nada, a sua maneira de matar era mais apoteótica.

 

Diolindo e Gemima se esconderam atrás de umas moitas próxima a última barraca onde ficava a cozinha improvisada do acampamento e, ficaram de butuca. Testemunharam toda a movimentação. Para onde os dois homens levaram seus reféns e os fiapos de diálogos entre eles. Que diacho ele queria dizer com procurar madeira para a obra? Coisa boa é que não era. Como Fredson e eles vieram parar ali era uma incógnita quase indecifrável. A vida era mesma uma caixinha de surpresas. Quando pensou na palavra surpresa, sentiu uma mão lhe alisando o pau.

 

— Você é filho do coroa, eu aqui ardendo desde cedo, a situação me deixa ainda mais tensa, e o que me relaxa é fazer ousadia. Entre família não pode ser pecado – Proclamou dando-lhe um beijo por trás na base do pescoço que lhe arrepiou a base da espinha. Quando viu o seu pênis enrijecer sabia que teria que vingar Desirée com a namorada do velho.

 

Foi a trepada mais estranha da sua vida. A gordinha era apertada e gostava de gemer, por isso lhe tapava a boca com força, sofrendo mordidas até sangrar, mas a diaba era quente e remexia como uma onça presa em armadilha. Ao mesmo tempo que metia nela, levantava a cabeça pra ver se havia algum movimento estranho. Sua cabeça de baixo se concentrava na penetração e a de cima na movimentação do acampamento. Quando gozaram juntos, olhou para a sua mão como a conferir se ainda tinha cinco dedos nela. Pela contagem estava ok, mas a cor da pele era vermelha tal a hemorragia. Gemima suava suspirando profundamente tentando evitar fazer barulho, mas estava satisfeita como um condenado a morte que acaba de receber perdão às vésperas de sentar na cadeira elétrica.

 

— Você é filo de Flanco mermo – Falou com sotaque tatibitati e piscando os olhinhos miúdos como se suas pestanas fosse plumas de pavão.

Deu-lhe um longo beijo na boca, chupando-lhe a língua, parando quando o cacete começou a se agitar outra vez. Aquilo acabaria por ali mesmo. O olhar que lançou a mulher não precisou de palavra alguma para que voltassem a se vestir e vigiar o perímetro.

 

Era incrível como esses acampamentos da igreja tinham de tudo. Parece até que estava programada algumas aulas de carpintaria, pensava Godô, imaginando que tinha algo a ver com o pai de Jesus. Encontrara serrote, pregos e martelo. E mesmo com a noite alta terminaria o serviço em pouco tempo. Queria ver o velho amanhecer no seu devido lugar. Depois iria atrás de quem estava faltando, mas a sua raiva maior era dirigido àquela mentira fantasiada de padre. A sua única preocupação foi não ter encontrado Gemima. Ela era a cereja do seu bolo de vísceras.

 

— A verdadeira apoteose é a vaia meu filho, digo isso de cadeira – Discorria Franco tentando manter Romeu atento.

— Eu não entendo nadica do que cê fala vovô, mas que fala bonito isso fala! – Contemplava Romeu sem entender porque Godô implicava tanto com aquele velho gente boa.

— Eu vivo sete domingos por semana pra beber e comer. Uma vez caguei tanto que parecia um parto normal!

Romeu rachava de rir com as bestagens do velho paramentado.

— Isso é doidera padre.

— Os que não batem lá muito bem da cabeça, também são os mais críveis. Jogue um osso e espere que eles abanem o rabo e vá pegá-lo. Isso é certo – Proferiu olhando a cara de retardado da criatura se esfalfar em risos sem saber que estava falando dele.

 

Pensando ter ouvido um barulho dentro da última barraca, a maior de todas, Romeu pediu silêncio ao velho. Amarrou apenas os braços dele na cadeira e foi até a origem do que imaginava ter escutado. Abriu o zíper, e com apenas a luz externa dos lampiões a viu deitada imóvel na cama. Uma doçura de perfeição em forma de gente e vestida de noiva. Ficou com medo de se aproximar e ser uma armadilha. Sacou o seu punhal e caminhou lentamente em direção a cama.

 

Diolindo viu pelo lado de fora a sombra o homem entrando na sua barraca e ficou aflito. Deveria ter levado sua Desirée com ele e Gemima. Viu a figura se aproximar da cama e ficar parado por um momento diante dela. Tinha que fazer alguma coisa para evitar o pior. No seus desespero catou uma pedra de bom tamanho, sob os olhares curiosos da mulher que tinha acabado de comer, e arremessou-a em direção ao teto de lona. A sua interferência piorara o cenário. Teve certeza disso quando a sombra puxou uma pequena faca e a aplicou sobre a barriga da sua mulher. O homem parecia estar assustado demais e quase não parava de esfaqueá-la. Gemima o segurou quando ele levantou para tomar providências, mas ele sabia que já era tarde. Perdera a sua mulher e o seu filho que estava naquele ventre. Começou com um choro tímido, mas em seguida daria início a um debulhar barulhento, quando uma forte convulsão, velha conhecida, lhe atacou e fora a vez de Gemima tapar-lhe a boca e ser ferida nos dedos pelos seus dentes, que gostariam de ter a jugular daquele homem entre eles.


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