O CAMALEÃO SIDERADO escrita por MARCELO BRETTON


Capítulo 25
Capítulo 25




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— Você não acha que ela tá um pouco inchada? - Indagava Diolindo a sua mulata, sem tirar os olhos da barriga de Desirée.

— Agora prestando atenção, acho que sim – Disse a mulata nua ainda arfando pela contenda sexual que ficava cada vez mais inflamada entre eles.

— Será que ela tá grávida?

Selma sem querer criar expectativas preferiu contemplar.

— Tudo pode acontecer Lindinho. Mas se daí sair um neném, será nosso, de nós três – Afirmou tascando-lhe um beijo, fazendo-o pensar que poderia ser dele ou de Selma, já que ela ejaculava até mais que ele.

Selma olhou-o, como decifrando algo que lhe povoava o jardim das dúvidas, emendou.

— Eu também posso engravidar meu amor.

Ele coçou a cabeça lhe dirigindo o olhar mais canhestro que podia.

— Como?

A mulata sabia que devido as cópulas afoitas entre eles, não tivera oportunidade de mostrar o seu segundo sexo, fruto do seu hermafroditismo e da confusão cromossômica durante a sua formação.

— Chegue aqui perto – Pediu, segurando-o pelas mãos e fazendo com que ele abaixasse a sua cabeça e chegasse bem perto do seu pênis. Levantou o órgão vagarosamente com uma mão e com a outra, o saco escrotal. Abaixo deste, revelou-se uma fenda vaginal perfeita.

Os olhos de Diolindo faiscaram com a nova descoberta.

— Quer dizer que....que..

— Sim, tenho útero e posso engravidar normalmente – Revelou puxando-o para perto de si e, já percebendo uma ereção do seu homem, resolveu que era hora de usar o seu órgão sexual feminino. Era a primeira vez que deixavam Desirée fora da brincadeira.

 

Lá fora do acampamento, Gemima tirara os chinelos e desde cedo andava rastejando de quatro pelo terreno situado nos fundos das barracas em busca de uma toca de tatu, para preocupação de Franco que testemunhava a situação com reticências.

 

— Veja Padre, sei que talvez não seja o momento mais adequado para dar-nos conselhos, mas se puder dizer algo para fazer um casamento voltar aos bons dias, agradeceríamos imensamente – Implorava Dorotéia ao ouvir os uivos lascivos provenientes da barraca ao lado e o ronco do seu marido como contraponto, depois do cansaço gerado pelas tentativas fracassadas de copularem.

— Veja minha filha, terei que deixar a erudição de lado e ir direto ao ponto. Como está o sexo entre vocês? – Perguntou o velho safado abrindo uma garrafa de vinho canônico dado pela mulher, e misturando com o resto da garrafa de cachaça que lhe restava.

— Isso não acontece faz um tempinho – Respondeu a mulher franzina envergonhada.

— Vocês precisam trepar de verdade, foder sem pudores. Esse negócio de...por favor querida passe-me a boceta... não tá com nada. Deixe ele gritar que quer lhe usar hoje e pronto! Se entregue ao seu garanhão e fale coisas de baixo calão nos seus ouvidos enquanto ele mete em você.

 

Dorotéia não tinha mais onde enfiar a cara, apesar de estar apreciando os conselhos do padre desbocado e bêbado. Aquilo sim eram conselhos práticos.

— Você já mamou nele?

— Mamou? Sou eu quem tenho seios padre.

— Chupou-lhe a pica, meu poço de ingenuidade.

— Nããããoooo! Ele não deixa nem tocá-lo, que dirá isso aí.

— Já tão começando errado. Escute minha filha, entre quatro paredes tudo pode entre duas pessoas quando se trata de sexo, de trepar, de fazer amor, seja o que for que envolva penetração. O corpo é uma floresta de estímulos pronta pra ser explorada e não deve restar pedra sob pedra nessa excursão rumo aos domínios de Afrodite. Experimente hoje fazer-lhe uma surpresa.

 

A moça finalmente teve coragem de levantar o rosto ruborizado e olhar nos olhos do Padre desbocado e sorriu, como quem afirmando que daria outro uso a sua boca mais tarde. Franco ficou tentado a expiar por um buraco no momento da sacanagem, mas também ficou preocupado demais quando viu sua gorduchinha voltar toda suja de terra com um ser cascudo se debatendo entre as suas mãos. A porra do Nagasaki ia ser servido.

 

###

 

Trocara o cheque caução por outro com todas as despesas do parto e as amenidades de um quarto particular, onde Florinda e o bebê ficariam por mais uma noite. Iria entregar a viatura a Fredson e pedir que ele fosse até o sítio se certificar que estava tudo bem por lá. Com certeza o homem se frustraria, imaginando que os planos da festa surpresa das bodas não ia dar certo sem que ele levasse o velho até lá. Pela reação dele, saberia confirmar as suas desconfianças e poderia ficar mais tranquilo para voltar ao hospital.

 

Resolveu pegar um atalho para alcançar o hospital público com mais rapidez e viu uma movimentação de ambulâncias e carros de polícia fora do normal ao redor do Jóquei Clube. Pegara um engarrafamento e, como não era de bom tom que as autoridades o vissem dirigindo aquele carro, estacionou para esperar o trânsito amenizar. Saiu do veículo e aproximou-se da área cercada. Viu dois sacos contendo o que imaginava ser cadáveres, saindo do panteão das corridas equestres em cima de macas até um rabecão estacionado próximo a ele.

— O que ocorreu? – Perguntou a um funcionário do IML que abria as portas do veículo funesto para por a sua carga pra dentro.

— Dois loucos invadiram a pista durante a corrida e foram atropelados pelos cavalos. Não sobrou muita coisa. Vai ser difícil até identificar os corpos.

 

O homem então pôs no veículo o primeiro saco e na sequência teve dificuldade em dobrar as rodas da maca para carregar o segundo corpo, que num movimento brusco, girou sobre si e caiu no chão estourando o zíper do saco. De dentro, pulou um braço ensanguentado ornado com uma tatuagem que Almeida conhecia muito bem. Instintivamente deu um salto para trás e voltou a se aproximar antes que o funcionário se recompusesse do susto. Ficou de joelhos e confirmou com os seus olhos que a pessoa que estava ali dentro era a sua filha, Clarice. Na pequena tatuagem, pouco acima do pulso, escrita em letras heráldicas, lia-se... CARPE NOCTEM, uma homenagem a sua insônia.

 

Sentindo-se nauseado e imaginando que o outro corpo pudesse ser de Sérgio, implorou ao motorista do veículo que o deixasse seguir com eles até o IML para proceder a identificação dos seus entes queridos.

 

###

 

Vinha dirigindo o caminhão pela estradinha de barro quase as cegas com a baixinha montada no colo dele lhe beijando, e Romeu já metendo na magrela ao seu lado quando houve o baque. Segurou o bichão no freio e o controlou a duras penas até a parada total. Ainda assustados, vestiram as roupas às pressas para ver o que tinham atropelado. Godô desceu primeiro e viu o rastro de sangue. Embaixo do MACK 1951 estavam dois jumentos com as vísceras expostas e ainda agonizando.

— Vixe Minha Nossa Senhora! – Gritou virando o rosto pro outro lado da estrada para evitar ver o sofrimento dos bichos que zurravam de dor, completamente destroçados.

Romeu se juntou a ele e pediu que as mulheres ficassem na cabine.

— Jesus do Céu, Godô, matamos os jumentos de Sêo Gildásio.

— Como cê sabe que são dele?

— Os bichos do velho são ferrados. Expia ali a marca perto do pescoço.

Fazendo um gesto que lhe exigia um tremendo sacrifício, Godô virou-se e confirmou a informação.

 

A magrela que ouvia a conversa da janela do caminhão, deu-lhes uma informação preciosa, que eles já deviam ter obtido há dois dias atrás através de métodos mais ortodoxos.

— Soubemos lá no bar que o velho Gildásio vendeu a carroça com uma parelha de jumentos para um padre velho e uma turma estranha que pegou essa mesma estrada há uns dois dias.

Godô olhou pra cara de Romeu e a vontade que tinha era de estrangulá-lo ali mesmo pra fazer companhia aos jumentos esmagados, que ainda se debatiam.

— Pra você pagar pelo nosso atraso, quem vai a limpar essa sujeirada aí embaixo é tu!

— Godô, vambora e deixa os bicho aí!

— O caminhão não consegue sair do lugar com os bichos no meio das rodas. E também não vai ser eu que vou dar o tiro de misericórdia – Ordenou subindo no caminhão e fechando a porta.

— Tá bom, tá bom – Respondeu um Romeu conformado já puxando a garrucha da cintura.Olhou pra cara dos animais, cujos olhos pareciam pedir clemência, e perdeu a coragem. Iria atirar de olhos fechados, era melhor.

Com a demora em ouvir os estampidos, Godô põe a cabeça pra fora da janela.

— Não temos o dia todo Romeu – Disse calmamente enquanto enrolava um cigarrinho do capeta.

— Eu sei hômi, eu sei, mas é que tô encomendando a alma dos bicho.

— E desde quando você entende disso?

— Meu pai fazia uma oração antes de apagar um infeliz.

— Estamos falando de dois jumentos, mas parece que têm um terceiro querendo se juntar ao bando – E caiu numa risada desajeitada junto com as frentistas.

 

Romeu fez o sinal da cruz, virou de costas e apontou pra onde achava que estava a cabeça do jumento mais próximo. Nesse instante, irritadas com a demora em saírem dali pra fazer coisa melhor, as duas moças descem do caminhão pela porta do carona e recebem um tiro de garrucha, que fez um ricocheteio épico na carroceria do caminhão, numa pedra de fogo no chão, na cabeça do primeiro jumento, na garganta da moça baixinha, no retrovisor, na cabeça do segundo jumento e no ouvido da magrela. Os jumentos pararam de zurrar e as moças que mexiam com gasolina caíram mortas fedendo a pólvora

 

Quando viu o estrago que tinha feito com um só tiro, Romeu pulou de alegria querendo ter uma máquina pra tirar a foto do seu feito. Godô que se encolhera apavorado na cabine, abriu a porta do caminhão com cuidado olhando pro céu, perguntou.

— Ela ainda tá por aí?

— Quem hômi?

— A bala!


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