A Fronteira Maldita escrita por Dama do Poente


Capítulo 10
9 - Guerra ao Temor


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu demorei (muito), e sinto muito por isso: o final de maio e junho todo foram dedicados a faculdade, e eu fiquei com um bloqueio enorme! Mas eis me aqui, trazendo capítulo novo, e agradecendo a daughter of the sun, Tia Ally Valdez, e Linhas e vidas pelos reviews no capítulo passado.
Espero que gostem desse aqui!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/673107/chapter/10

P. O. V Lorenzzo:

Catarina já havia me dito inúmeras vezes que eu não podia acordar, pois tudo o que estava acontecendo era real, mas uma parte de mm ainda esperava que todos aqueles ataques fizessem parte de algum sonho ou fosse apenas mais um pesadelo.

— Você já fez isso antes? — perguntei a Catarina, vendo o número de monstros aumentarem.

— Podemos dizer que sou uma estagiária nessa vida, mas tudo bem — ela pausa, respirando fundo, e mais parecia que tentava convencer a si mesma do que a mim. —, eu consigo!

— É bom conseguir mesmo, porque são muitas! — a menina loira reaparece, com as mãos carregadas. — Não sei se meu círculo vai funcionar, mas... Grandão, menina nova, espalhem esses...

— Shabits. Deixa comigo! — Sophia interrompe a recém chegada, tomando o que estava nas mãos da garota.

Eu me sentia em uma série policial, quando um personagem é sequestrado porque sua família faz parte da máfia. No momento eu estava descobrindo que meus pesadelos eram mais vívidos do que eu acreditava, e que minha irmã parecia saber disso há muito tempo: ela estava lá, espalhando estatuetas de cera, enquanto a garota loira ligava cada bonequinho ao seguinte traçando um círculo com um misterioso objeto curvo.

— Isso não vai funcionar, maga! — uma garota, parecida com Catarina, mais alta alguns centímetros, se junta a nós. — Esses monstros são gregos, e não egípcios.

— Pode não proteger vocês, mas vai nos proteger! — Sophia retruca, chocando-nos. — Bom, não totalmente a mim, mas acho que isso pode retardá-los um pouco.

Não tive tempo de questionar Sophia, pois tão logo ela terminou de falar, os monstros reapareceram. A garota loira sacou um bastão de madeira, que se estendeu até se transformar em um cajado marfim, que tornou incandescente o círculo traçado quando os dois entraram em contato.

— Fiquem atrás de nós! — Catarina repetiu, já armando seu arco com flechas retiradas de sua mochila. Outra coisa que eu achava bizarro.

Eu não era o tipo de cara que sentia medo, jamais fora. Sempre fui aquele que enfrentava todos os obstáculos e defendia os mais fracos, mas no momento eu estava vulnerável como uma criança; eu me sentia impotente vendo três pessoas me defendendo, porém não havia nada que eu pudesse fazer. As garotas e Catarina lutavam com monstros vistos apenas em meus piores pesadelos, derrubando-os com flechas precisas, lâminas afiadas e magia pura, e eu não tinha nada além da vontade de não estar vivendo aquele momento. Que nada daquilo fosse real.

— Infelizmente, isso é real, Lorenzzo! — a voz de Sophia se ergue por sobre os rangidos metálicos dos oponentes. — Monstros existem, e eles perseguem pessoas como você e eu, semideuses, e nos matam!

Ela disse tudo com naturalidade, como se sempre estivesse esperando pelo momento que vivíamos. Tal pensamento me deixou ainda mais confuso, e talvez até assustado, porém mais uma vez não pude me expressar: fui agarrado por trás e arrastado com força. Garras cravaram-se sobre mim, e a todo custo lutei para me libertar, contudo nada adiantava: eu já sentia meus músculos sendo perfurados.

Numa tentativa final de me manter por ali e evitar minha morte, fui tateando o chão e paredes por onde era arrastado, em busca de qualquer coisa que pudesse me defender. Eu podia ouvir minha irmã gritando e podia ver Catarina se virando e mirando em minha direção, e tudo o que se seguiu ficaria em minha memória para sempre: a flecha passou zunindo por sobre a cabeça de Sophia ao mesmo tempo em que encontrei uma barra de bronze no chão, perto de uma lixeira; em um único movimento, consigo cravá-la na perna peluda da besta, que explodiu em pó dourado sobre mim. Caí arfando, ainda segurando a barra de metal, e vi incrédulo quando os monstros que restavam desapareceram em uma explosão rubra, deixando para trás poeira dourada e um pungente cheiro de enxofre.

— A-acabou? — pergunto esperançoso.

— Nunca acaba! — a garota que se parecia com Catarina afirma pesarosa. — Precisamos continuar, sair daqui antes que mais monstros sejam enviados.

— Podemos ir para nossa casa, não é muito longe... — Sophia oferece, e tudo o que faço é concordar. — É nessa direção. — aponta para o caminho que geralmente tomávamos quando eu estava em casa e ia buscá-la, ao invés de ir me aventurar na casa de uma ficante e ser atacado por monstros gregos.

Estava prestes a segui-la, deixando minha arma improvisada para trás, quando esta se iluminou e estendeu, chamando a atenção das garotas, que pararam para observar. Tentei soltar a barra, mas enquanto brilhava, permaneceu presa em minha mão, e quando se apagou, arrancou um arquejo de surpresa de Sophia e da outra morena além de Catarina.

— A Lança Sangrenta! — ela murmurou, arrancando a dita cuja de minhas mãos. — Isso é péssimo! Temos que sair daqui agora!

Não foi preciso que ela pedisse duas vezes: seguimos Sophia, correndo pelas ruelas cheias de venezianos e turistas. Estávamos mesmo perto de casa, porém a sorte parecia estar há anos luz de distância de nós.

— Ora, ora, se não são semideuses o que vejo... — um rapaz, que aparentava ter minha idade, aparece no nosso caminho, bloqueando nossa passagem.

— Merda! — e foi uma merda mesmo.

P. O. V Autora:

Ele ainda não entendia o porquê de envolver aquela semideusa também, mas se havia algo que Phobos entendia era de coisas irracionais. Sendo ele o deus do medo, não era o mais apto a julgar atos sem sentido, especialmente quando tinha a oportunidade de por seus poderes em ação.

— Eu só preciso que vá observar o que está acontecendo... Finja que esbarrou neles por acaso... — a deusa murmura, olhando para um dos seus muitos troféus congelados.

Todos estavam cientes da missão que uma filha de Apolo deveria cumprir, todos sabiam que aquela missão era mais importante do que qualquer coisa, mas para Quione nada importava além de seus próprios planos, e isso ficava claro na forma como ela pediu que seu comparsa fosse colher informações no meio de toda a ação.

— Isso tudo porque seu irmão negou fogo? — Phobos debocha, embora tentasse entender porque o incesto parecia tão recorrente entre os deuses. 

— Engana-se, meu cara deus do medo. — Quione dá um sorriso mordaz, que deixa seus olhos castanhos ainda mais amedrontadores. — Não tenho interesse algum naquele tolo, apenas no que ele pode me proporcionar.

— Prazer? Porque se for isso, estamos perdendo nosso tempo...

— Poder, Phobos. Ele pode me dar o poder que tanto quero! — ela murmura. — E como ele não quis cooperar do jeito fácil, eu que o tome do jeito difícil.

— E o que eu tenho a ver com tudo isso?

— O medo enfraquece mais do que qualquer outra coisa, e eu os quero tremendo de medo!

— Considere feito! — o deus do medo murmurara, segundos antes de sumir da fortaleza de gelo e reaparecer em Veneza, exatamente no meio do caminho dos jovens heróis.

A idéia era surpreendê-los, contudo foi o próprio deus quem ficou surpreso ao reconhecer uma meia-irmã, uma filha de Afrodite, segurando a arma divina de seu pai, Ares. A Lança Sangrenta era poderosa, capaz de derrubar ou conquistar impérios, e de causar graves danos se caísse em mãos erradas — muito embora, se formos considerar a opinião de todos que forem sensatos, as mãos de Ares já eram erradas, mas não seria sábio dizer isso para o deus. —, como eram as mãos de Phobos.

— Brinquedinho novo, irmãzinha? — ele debocha, tentando reconhecer a garota através dos medos dela.

Algumas filhas de Afrodite possuíam o charme, uma habilidade ótima para persuadir e até mesmo mudar de aparência, mas nem mesmo isso era capaz de anular as habilidades de Phobos. Ele não precisava focar muito para descobrir qual era o medo de cada um por ali, bastava estar em suas presenças e senti-los: havia a morte de entes queridos, o medo de falhar, o medo de ser fraco, o do abandono, e havia o nada.

— Interessante! — o deus murmurou, aproximando de Catarina, que não estremeceu como os demais. — A filha de Apolo nada teme... Como isso é possível?

— Quem é você? — a garota perguntou, soando genuinamente curiosa.

— Eu? Sou Phobos, o deus do medo. — ele se apresenta simplesmente, desprovido de títulos ou atribuições maiores. — Sabe quem são meus pais?

— Afrodite e Ares! — ela responde rapidamente. — Veio para lutar conosco?

O tom de voz tornou-se ameaçador, quase como se ela estivesse preparada para qualquer coisa, mas para aquele deus ela não passava de uma criança despreparada. Vencer um bando de monstros era fácil, coisa básica que qualquer semideus aprendia; desafiar um deus era algo maior, uma peripécia não muito indicada.

— Não, não ainda! — ele dá uma risadinha contida. — Vim por curiosidade: seu nome corre pelos quatro ventos, Catarina de Lyra, e todos estão se perguntando se vencerá nessa ou será esmagada por seus medos antes. No entanto, estando aqui o medo figurado, não encontro sequer uma partícula de temor em você...

— Isso porque não tive escolha: ou salvo o mundo do que vai acontecer, ou todo mundo morre. Não há muito que temer quando se tem a morte como opção! — sabiamente ela afirma, dando de ombros.

Ninguém falava nada ao redor, todos estavam chocados, inclusive o deus. Em seus bons dias, ou talvez os piores, ele a teria mostrado o quão perto a morte oferecida se encontrava; o deus a torturaria com os piores medos, e a deixaria definhar lentamente, deliciando-se com a dor e o sofrimento da bela menina. Porém Phobos, assim como Quione, agora tinha planos maiores do que simplesmente se divertir com seus poderes enquanto a comparsa obtinha o que queria. Agora ele tinha um objetivo.

Se Quione queria poder, Phobos queria deleitar-se com a angústia que imporia a Catarina de Lyra. Se preciso fosse, ele seria capaz de ajudar naquela missão só para ter o prazer de vê-la se contorcer em agonia perante ele.

— Vai aprender que nem sempre a morte é a pior coisa que pode te esperar. — Phobos sorriu novamente, voltando-se para os demais. — Eu fico com isso, Claire Reymond!

— Nem pensar! — a garota trinca a mandíbula, forçando-se a não pensar em seu medo de falhar. — O destino dessa lança está selado assim como o de todos nós, e nem mesmo você pode se impor às Parcas!

— Pelo visto a pequenina e mal amada Claire está crescendo! — ele debocha, continuando a espreitar os demais. — Quanto tempo até todos caírem por terra? Quanto tempo até que o filho de Marte vos abandone?

Sem mais explicações, e deixando para trás apenas um sorriso mordaz, Phobos retorna para o refúgio de Quione, onde a mesma continuava a observa os troféus, acariciando um em especial. A face ali congelada tinha a expressão de puro terror, porém ainda mantinha toda a beleza de sua linhagem real. Era espantoso ver a semelhança.

— E então? — a deusa da neve pergunta, soando um tanto desinteressada.

— Mais que nunca irei te apoiar, Quione! E, talvez, eu até tenha uma idéia que possa te interessar...

—-------------------Ω--------------------

Se por um lado as coisas para os semideuses pareciam piorar, por outro, para aqueles que estavam de fora da missão, ficar as cegas apenas tornava a situação ainda mais inquietante e devastadora. Especialmente para Carter, totalmente desacostumado a ver Sadie partindo em grandes missões sem ele.

Preocupado, sim, ele odiava admitir, mas estava preocupado demais com a irmã. Claro que Carter sabia que Sadie sabia se cuidar, mas nunca estiveram separados em missões ― ok que fizeram pequenas viagens, mas eram para deter deuses menores, não uma parte do senhor do Caos controlada por um mago fantasma.

― Você está com aquela cara de novo, Carter... ― a voz de Zia o chama atenção, tirando-o do estado de torpor para o de nervoso.

Estavam juntos há um bom tempo, mas ele jamais seria insensível àqueles olhos dourados. Quando Zia o olhava, parecia enxergar sua alma, desvendar seus pensamentos e saber a resposta de todas as perguntas.

― Q-que cara? ― e sim, ele ainda gaguejava diante da namorada.

― De que está quase morrendo de preocupação com sua irmã! ― ela sorri, roubando uma batata frita dele.

Era quase uma tradição deles de irem àquela mesma praça de alimentação, pelo menos uma vez por mês ― ou quando as encrencas deixavam ―, para se lembrarem de que tudo começou assim, de forma simples... Não que continuassem simples, mas...

― Sadie daria um rim para me ouvir confessar isso, e eu odeio confessar isso ― o rapaz suspira, encarando os fascinantes olhos da namorada ―, mas eu estou com medo, Zia. Passamos tanto tempo separados, sem intimidade alguma, e então, do nada, ela era tudo o que eu tinha, e por mais que ainda existisse uma distância entre nós, eu ainda me importava com ela.

― E ela com você! ― Zia completa, apertando a mão de Carter. ― Amor, não tem nada de errado em se preocupar com Sadie: ela é sua irmã, sua família! Se fosse minha irmã, eu também me preocuparia! ― a menina sorri, satisfeita com seu mini discurso, até que nota o que dissera ― Não que Sadie esteja em perigo, é só que... Ai, deuses do Egito!

Carter podia não saber, mas desconcertava Zia: ele podia se achar bastante normal com seus olhos e cabelos da mesma cor, mas para ela os castanhos de suas íris lhe tiravam a concentração, e todo o carinho com que ele a tratava era o que mais a conquistava! Se ele sentisse sua falta, não hesitava em procurá-la, se estivessem juntos, não se importava em demonstrar o quanto a amava.

A forma como sorria para ela naquele instante era uma prova disso.

― Eu entendi, amor! Entendi o que quis dizer! ― Carter murmura, rindo, provocando alívio em Zia: preocupar-se é normal, mas isso não significa que ela gostava de ver o namorado naquele estado. ― Só não sei o que fazer... Não posso interferir na missão: já é perigoso estarem em quatro, mais uma pessoa poderia ser algo catastrófico! ― o murmuro se torna sofrido ao se lembrar das regras explicadas a ele.

Zia sabia o que teriam de fazer, tinha certeza absoluta, assim como sabia que se arrependeria amargamente. Afinal, tudo o que ela menos queria no recesso de inverno era deter o caos mais uma vez.

― Nós não precisamos de profecias para viajar pelos Estados Unidos, não é mesmo? ― ela pergunta, levantando-se e o puxando pela mão ― E se bem me lembro, meu namorado está me devendo uma carona...

Carter sorri: havia inúmeros motivos e falta de motivos para justificar seu amor por Zia, e o fato de ela ser uma maga pronta para aventuras era, claramente, um deles.

― Uma viagem de carro com Zia Rashid... Olha, até que não é tão ruim... ― ele a aproxima de si pela cintura, abaixando-se para beijá-la nos lábios.

O fim do mundo estava ali, praticamente batendo à porta, mas nunca seria obstáculo para Carter Kane mostrar que amava Zia Rashid, nunca o impediria de sentir como se estivesse inundado de poder enquanto provava dos lábios dela, o sabor agridoce que eles possuíam, sentindo de perto a fragrância de sândalo; muito menos impediria Zia de corar ao se sentir atraída pelo mais poderoso descendente dos faraós.

― Detesto atrapalhar o casal, realmente adoro vocês, apesar de ainda achar uma tristeza Carter hospedar Hórus, mas... Se vão atrás da Sadie, será que podem me levar também?

Zia e Carter se separam, rindo do desespero na voz daquele que mais se preocuparia com Sadie, mesmo se ela estivesse ao seu lado.

― Uma Road trip com uma maga Elemental e um deus menor, com destino ao fim do mundo... Isso vai ser emocionante. ― Carter murmura, encarando Walt Stone, hospedeiro de Anúbis.

Sadie os mataria assim que os visse, mas valeria à pena: mesmo que ela tivesse o sangue dos faraós, o mais poderoso dos sangues, ainda faltava ter orientação, e Carter sabia. Sua irmã podia ser ótima em muitas coisas, mas jamais fora em decifrar enigmas ou até mesmo ter a sabedoria de ler por detrás das palavras. Além do que, se o fim do mundo estava mesmo próximo, Carter Kane não deixaria que se acabasse sem ter certeza de que sua irmã sabia o que estava fazendo!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? O que Phobos e Quione estão tramando; e esses três no final: vão influenciar ou não na profecia? Digam me tudo o que acharam do capítulo: adoro ler e responder os reviews!
Beijoos e até o próximo!