A Fronteira Maldita escrita por Dama do Poente


Capítulo 9
8 - Pesadelo Real


Notas iniciais do capítulo

E voltamos a programação normal, babies! Muito obrigada a McLancheFeliz, daughter of the sun, e Linhas e vidas pelos comentários no capítulo passado.
Só espero que gostem desse aqui e de tudo que vão aprender nele.



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P. O. V Autora:

A biblioteca que visitaram em nada fez a garota se sentir admirada. Por muito tempo ela convivera em uma tão grande como aquela, ou até mesmo maior, tendo a sua disposição todos os tipos de livros, em idiomas distintos e assuntos também: matemática, ciência, magia, queijo... Ela nunca chegou a entender esse último, mas sempre ouvira falar que era muito importante.

― Nenhum mago em treinamento acredita nos poderes do queijo, Sophia, mas um dia você entenderá! ― seu pai lhe certificara quando ela o questionou sobre.

― Também vou entender porque não posso saber quem é minha mãe? ― ela perguntara, sentando-se em uma das cadeiras no gabinete do pai.

Era raríssimo tê-lo em Paris, por mais que você ele o líder do nomo por ali. Michel Desjardins, o segundo mais poderoso mago da Casa da Vida, tinha suas obrigações no Egito, e por mais que a filha insistisse, ele jamais a levava junto, causando enorme saudade na menina.

 Saudade essa que apenas aumentou quando Michel morreu.

― É perigoso que você saiba quem ela é, Sophia! Ela não é como nós! ― o pai afirma. ― Sua própria existência é perigosa... Se descobrirem a verdade sobre você...

― Por isso me força a chamá-lo pelo nome, como todos os outros magos em treinamento? ― Sophia, embora pudesse ser uma criança carinhosa e bondosa, quando pensava nas injustiças de sua vida se tornava impiedosa. ― Nem mesmo seu sobrenome posso ter!

― É complicado, filha... ― o homem suspira, perdendo toda a sua pose de autoritário.

― Viver com mentiras é mesmo complicado! ― e ela deixa o ambiente sem esperar por mais nada.

Aquela fora sua última conversa com o pai antes de este morrer. Ela não soube muito bem o que aconteceu a ele, e tampouco se importava: os culpados continuavam por aí, vivendo suas vidas, enquanto ela se tornava órfã! E sua mãe? Essa não lhe procurava quando o pai era vivo, e quando Michel morreu, sequer deu as caras.

Sophia ficou por sua própria conta, sabendo que não poderia contar a verdade sobre si para ninguém: todos em seu nomo a odiavam graças a seus poderes e a sua proximidade com o então líder, e quando perdeu a proteção do pai, notou que não poderia permanecer ali. Usando de sua magia, conseguiu manipular a mente de uma humana, fazendo-a acreditar que a estava adotando: Cristina D’Anibale parecia ser uma mulher comum, mas provou ser a melhor mãe que Sophia poderia ter. Ela adoraria poder contar toda a verdade para a mãe adotiva e para seu irmão, porém sabia que tudo isso apenas os magoaria quando percebesse o que ela realmente queria.

E Sophia Dansky queria vingança! E tinha todos os meios para isso!

― Então temos um acordo, minha querida? ― a voz fria e masculina sussurrava em sua mente, fazendo seu pingente pulsar.

― Só quando me disser todas as conseqüências! Posso ser jovem, mas sei muito bem de sua fama, e que tudo nessa vida tem um custo! ― ela murmura, tentando não chamar a atenção de seus colegas.

Estava na entrada da escola, em horário de saída. Lorenzzo, seu irmão, em breve aparecia para levá-la para a casa. Sophia se apegara a ele tão rápido que quase parecia que haviam crescido juntos. Era nele e em Cristina que Sophia pensava enquanto ouvia a proposta tentadora.

― Você quer vingar a morte de seu pai, e de quebra conhecer sua mãe... Pode ter certeza de que isso vai chamar a atenção dela! ― o homem afirma, dando risadas. ― O que você tem a perder afinal de contas?

Ela estava prestes a lhe responder, quando viu o irmão surgir correndo, seguido de perto por três garotas; pareciam estar fugindo de uma multidão feroz. Mal teve tempo de perguntar o que estava acontecendo antes de Lorenzzo lhe gritar instruções.

― Corre, Sophia, corre! ― o italiano berrava a plenos pulmões.

― O que... ― e ela se calou, vendo o que a multidão realmente era. ― Merde! ― praguejou em francês, e talvez em egípcio antigo também, antes de se virar e correr na direção contrária!

― E o nosso acordo, Sophia? ― a voz lhe perguntava em sua mente.

― Não tenho muito tempo para isso agora! Tenho que salvar minha vida antes! ― ela diz em voz alta, esquecendo-se de que estava sozinha. Pôde ouvir seu irmão lhe perguntar algo, mas realmente não prestou atenção: estava mesmo correndo para salvar sua vida.

― Então vou considerar isso um sim! Entrarei em contato depois que se salvar! Au revoir! ― e a voz do mago some, antes que Sophia pudesse contradizê-lo.

Porém, pior do que ter “assinado” um contrato com um lunático era estar encurralada em um beco sem saída com um bando de monstros sanguinários atrás de você!

P. O. V Lorenzzo:

Devo ter ficado mais tempo do que planejado encarando a menina, mas era impossível não ficar boquiaberto diante dela. Mesmo usando roupas simples como calça jeans e camiseta, e estando com o cabelo completamente desfeito, eu a reconhecia: era a menina de meus sonhos, o anjo que me salvava da morte.

E que, de fato, me salvara de algo.

— Pelo visto, está apenas confuso! — ela comenta, pulando do alto da ponte em que estava, e aterrissando bem na minha frente. Levantou-se segurando a flecha em sua mão, levando-a até as costas, onde desapareceu.

— Como você...? Quem é...? Estou sonhando? — eu era bom com palavras; segundo minha mãe, eu tinha um poder de persuasão indescritível, mas no momento me encontrava sem elas.

— Não temos tempo! — a menina-anjo me vira para a multidão e me faz caminhar através dela rapidamente — Não sei de quem é filho, mas preciso te manter seguro!

— Não sabe de quem sou filho? Ora, sou filho de Cristina...

— Sua mãe, não! Seu pai! — ela continua, mudando do inglês para o italiano, como se isso fosse o de menos.

Corríamos pelas ruazinhas de Veneza, com ela me apressando e eu tentando acompanhar seu andar rápido ao mesmo tempo em que tentava manter meu caminho correto — e meus pensamentos sãos. Sophia estava na escola, e não importava que ela fosse completar 13 anos: ainda era meu dever, como irmão mais velho, mantê-la a salvo quando nossa mãe não estivesse por perto.

— Tenho que buscar minha irmã! — solto, esperando que a estranha garota parasse.

— Irmã? — ela me para tão subitamente quanto me fez andar

— Sim, irmã! Mais nova, que está saindo da escola agora... — me encolho um pouco mais no casaco.

O inverno estava rigoroso, mas não nevava naquele ano, o que era quase uma dádiva. Neve em Veneza complicava as coisas.

— Droga! Isso não estava nos planos! — a garota murmura para si própria, andando em círculos, esbarrando nas pessoas.

Aproveitei para observá-la mais atentamente: seus cabelos castanhos voavam com o vento, ricocheteando em seu rosto bronzeado; não parecia ter mais do que 1,65m — o que ao meu lado era ridiculamente baixo, e basicamente a altura da minha irmã de 13 anos —; devia ter no máximo uns 14 ou 15 anos, mas parecia preocupada como uma mulher aos 30. Não precisava olhar para saber que seus olhos eram azuis: eu os conhecia de meus sonhos. Eram eles que costumavam me acalmar quando eu pensava estar perto da morte.

— Está tudo bem! — murmurei, para meu espanto e para o dela. — Quando eu acordar, isso tudo vai acabar!

— Quando você acordar? — ela ergue uma sobrancelha, o que parece dar mais destaque a seus olhos.

— É! Geralmente quando sonho com você nunca estamos em Veneza, mas é até bom uma mudança de cenário: era desesperador vê-la chorando porque eu estou morrendo! E é bom, enfim poder controlar o que estou sonhando, assim posso te livrar dessa agonia! — murmuro, ficando sem graça à medida que um pequeno sorriso se forma nos lábios volumosos da garota.

— Você não pode acordar... — ela faz uma pausa, indicando que eu lhe dissesse meu nome.

— Lorenzzo! — murmuro, estranhando o papo e todo o resto: ela sempre sabia o meu nome.

— Você não pode acordar, Lorenzzo! — ela conclui. — Isso não é um sonho!

E como se para provar isso, ela mais uma vez arma seu arco e o atira sobre minha cabeça, fazendo uma nuvem de pó amarelado cair sobre mim no momento em que duas garotas se juntam a nós.

— Pensei ter deixado claro que era para tirá-lo daqui! — a menina de cabelos escuros grita para a arqueira. Essa era mais alta, mas tinha o mesmo tom de cabelo e formato de rosto.

— E eu pensei que tivesse tudo sobre controle e fosse nos dar cobertura, Claire, mas um monstro quase o engoliu agora! — a menina saída de meus sonhos retruca.

— Olha, não é hora de discutirmos. Vocês duas podem voltar a se odiarem depois que escaparmos daqueles monstros e depois que eu conseguir uma pipoquinha para assistir a esse drama mexicano que é a família de vocês! — a garota loira ao meu lado grita, virando-se para mim — É ele?

— Sim. Foi ele quem eu vi sendo atacado! — minha salvadora concorda, prendendo os longos cabelos com um elástico.

— Então vamos levá-lo para um lugar seguro, e descobrir qual a importância dele! — a loira argumenta, segurando-me com força pelo braço. — Andando, grandão!

Aspetta! — grito, irritado com todo o falatório e o empurra-empurra no meio da calçada estreita. — Quem são vocês? Por que estão em meu sonho?

— Isso não é sonho, Lorenzzo, já disse! — a salvadora me interrompe, e eu lhe lanço meu melhor olhar intimidador... Que parece não ter efeito algum sobre ela.

— Então o que está acontecendo? — dirijo-me para ela, ignorando as outras duas — Eu só a vejo em sonhos. Se isso não é um sonho, o que veio fazer aqui?

Eu me sentia completamente maluco por estar falando daquele jeito, mas quando se tem uma menina bonita demais para ser real, atirando flechas para todas as direções, acho que qualquer um tem o direito de agir como louco.

— Olha, não é minha culpa se você sonha comigo ou alguém parecida comigo, mas estou aqui para salvar sua vida! — ela afirma, erguendo o pescoço para olhar em meus olhos.

— Me salvar de quê? Quem é você? — pergunto ainda mais confuso.

— Eu sou...  Não dá tempo, vamos! A gente pode pegar sua irmã no caminho! — ela volta a me empurrar pela multidão.

— No caminho para onde? — sigo a seu lado, não perdendo a oportunidade de tentar entender o que acontecia.

— Pra qualquer lugar longe daquilo! — ela aponta para trás, onde suas duas amigas tentavam lidar com uma multidão ensandecida.

Vi com horror quando elas desistiram e quase foram arrastadas para o meio de um bando de garotas com cabelos arruivados e pernas... Pernas desiguais: uma de ferro e a outra de algum animal.

— Que porra é aquela?!

— Não faço idéia! Mas não quer a gente vivo, pode ter certeza! Onde que sua irmã estuda?

Olho ao redor, tentando me situar. Percebo que estávamos perto; só não sabia se isso era algo bom ou ruim: se aquelas criaturas não sumissem logo, eu as estaria levando na direção de minha irmãzinha, ao mesmo tempo eu não podia me dar ao luxo de deixá-la na escola sozinha: nossa mãe nos mataria.

— É por ali! — aponto para uma esquina próxima e entramos na mesma, sendo seguidos pelas outras garotas.

— Catarina! — a menina grita por sobre o barulho de nossos passos.

— O quê? — encaro-a enquanto corro, chocado com o tom de seus olhos: eram azuis tão claros, que quase pareciam cinzentos.

— Meu nome é Catarina, idiota! — ela explica, deixando-me um tanto irritado pela ofensa.

— Prazer, Catarina Idiota! — devolvo no mesmo tom de voz, levando-a a sorrir de forma irônica.

Vejo minha irmã se levantar do banco em que sempre ficava me esperando, e sinto meu coração se apertar: eu a estava colocando em perigo, mas não havia outra coisa a se fazer.

— Bonita irmã a sua! Espero que corra tão bem quanto se veste para as aulas! — Catarina comenta, virando-se para atirar outra flecha.

— Também espero, Catarina Idiota! — suspiro, respirando fundo antes de gritar para Sophia — Corre, Sophia, corre!

Felizmente é exatamente o que minha irmã faz após ver o que estava nos perseguindo, infelizmente é a ela que estamos seguindo e acabamos parando em um beco sem saída.

— E agora? — pergunto a Catarina.

— Agora a gente torce por sorte e você fica atrás da gente: chegou a hora de salvarmos a sua vida!

Engulo em seco, na expectativa do que estava por vir.


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Notas finais do capítulo

Assim como a Sophia, nunca vou entender a relação que os magos têm com queijo - talvez seja só coisa do Riordan, né? Mas enfim, o que está por vir? O que Sophia está aprontando?
Me digam o que acharam do capítulo! Estarei aqui lendo e respondendo seus comentários!
Beijoos e até!