Lost in Love escrita por hummingbird


Capítulo 1
Introdução a Tragédia




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Em uma manhã de domingo, acordei com a cara totalmente borrada de maquiagem por causa da festa de ontem. Uma "pequena reunião" entre alunos do ensino médio resultou em uma ressaca das fortes. Ainda bem que meu melhor amigo, Taylor, me ajudou a não voltar para casa como uma mendiga. Taylor e eu somos amigos desde que me entendo por gente. Sei de todas as coisas que gosta e as que não gosta. Adoro o fato dele ficar bravo toda vez que comparo seus cabelos com os de um astro de rock. 

"Eles não tomam banho sempre, sabia? E nem lavam o cabelo", ele sempre diz. Taylor é alto, esbelto e dono de olhos e cabelos castanhos escuros que estão sempre bagunçados. Suas roupas denunciam o quanto ele adora jogos de vídeo game e rock. Uma memoria veio a mente de ontem quando ele me trouxe para casa. Eu estava dizendo que ele parecia o Julian Casablancas e ele bufou e revirou os olhos.

Chegando em casa eu praticamente desmaiei na cama sem me preocupar com mais nada e hoje, mal consigo me levantar por causa da ressaca e o enjoo, mas preciso me arrumar logo antes que minha mãe...

— Amber, você já acordou? Vem logo tomar café da manhã porque preciso sair! – ela praticamente grita.

Respondo mentalmente e vou em direção ao banheiro. Meu relógio marca 11 horas indicando que estou atrasada, muito atrasada, para a aula. Tiro a roupa e não penso duas vezes antes de enfiar a cabeça embaixo do chuveiro. Hoje é dia de lavar o cabelo, ou seja, tenho licença para demorar um pouco a mais no banho. Enquanto tomo banho, minha viaja e me pego pensando no quanto meu cabelo está desbotado e sem corte. Se eu não gastasse todo o meu dinheiro com besteiras talvez teria como arrumá-lo. Ouço meu celular tocar e vejo que é minha amiga Stacy, ignoro a chamada para poder terminar o banho, pois logo nos encontraremos.

Saio às pressas do banheiro e coloco uma calça de cintura alta e uma blusa estilo cigana de cor branca. Calço uma sapatilha e enquanto desço as escadas correndo, calço a outra.

— Já era hora, mocinha. Sente-se e faça companhia ao Ted enquanto vou à mercearia. Volto já. – disse minha mãe.

Ted é o meu irmão caçula de seis anos. Ele é a cara do meu pai. Todinho. Eu, por outro lado, me pareço muito com a minha mãe: tenho os cabelos claros e compridos iguais aos dela, já o de Ted e o do meu pai são de um castanho escuro. Ted é uma criança super carinhosa...quando estamos com visitas em casa, mas quando estamos a sós as coisas são completamente diferentes.

— Mamãe sabe que você anda saindo pela janela tão tarde pra se encontrar com seus amiguinhos? – diz ele.

— Não é da sua conta, Ted! – respondo.

— E se eu contar pra ela?– disse Ted com os olhos fincados em mim.

— Tenho 17 anos e não caio mais nas suas chantagens, garoto - respondi e ele fez uma careta.

Não tinha percebido no quanto estou com fome, então resolvo levantar para pegar mais leite e mais torradas. Quando olho pela janela me deparo com minha mãe abraçando um homem na frente da minha casa. Quem é ese cara e o que está fazendo aqui? O homem é alto, tem cabelos pretos e sedosos que se destacam em seu corte elegante, não é nem muito gordo, nem muito magro, mas possui um grande porte. Parece um segurança. 

Afasto-me da janela, me sento novamente à mesa e devoro meu segundo café da manhã. Penso na reação do meu pai se visse isso também.  Meu pai é médico e trabalha para uma clínica particular as vezes aqui em Nova York, as vezes em outro estado. Por conta disso ele acaba passando dias ou meses fora. O mais estranho de tudo é que quando está em casa conosco, ele e mamãe não brigam, mas também não demonstram qualquer tipo de afeto.

Quando me levanto, os olhos da minha mãe encontram os meus enquanto ela cruza a sala e percebo que estão com um olhar de cansaço.

— Vai a algum lugar?- pergunta ela pra mim.

— Vou encontrar Jackson e uns amigos no Central Park.

— Ah, não volte muito tarde. Seu pai chega às 18 horas e está louco para ver você – diz ela cabisbaixa.

— Mamãe, qual é o trabalho do papai? – pergunta Ted.

— Ele é médico, querido. Cuida da saúde das pessoas. - respondeu.

Enquanto o pirralho tagarelava sobre o quanto isso deveria ser divertido, peguei minha bolsa dizendo “tchau, mãe” e dei um beijo em seu rosto antes de sair. Embora minha família seja um pouco desunida, eu os amo e acho que minha vida mudaria ao extremo a ponto de se tornar insuportável conviver sem eles.

Caminho até a casa de Taylor por uma rua estreita até que vejo meu namorado e meus dois melhores amigos sorrindo e acenando na minha direção.

— Finalmente, Amber! – Jackson disse e me beija.

— Já íamos sem você, amiga!- completou Stacy.

— Desculpe, dormi demais! – dei de ombros.

Seguimos em linha reta rumo ao parque, caminhando ao som da risada de Stacy entre uma palhaçada ou outra de Taylor. Antes mesmo que eu pudesse compartilhar das risadas momentâneas , Jackson sussurrou algo no meu ouvido que me deu calafrios no pescoço:

— Precisamos conversar! – disse tranquilo, mas mesmo assim me senti desconfortável.

— Tudo bem. Que tal quando chegarmos ao parque? – perguntei.

— Depois.

Fiz que sim com a cabeça e ouvi meu telefone tocar. Era a assistente do meu pai. 

— Oi, Rachel!

—Olá, Amberly! Como está? – perguntou ela.

— Estou bem e você?

Nunca a conheci pessoalmente, mas sabia que era ela quem tratava da agenda profissional do meu pai e, por consequência, da pessoal também. 

— Ótima! Estou ligando para avisar que seu pai irá se atrasar um pouco porque perdeu o voo, mas receio que logo ele estará aí com você e Ted. Tudo bem ?- disse ela.

— Ah, tudo bem! – respondi.

— Ok, até logo, querida. Beijos! - disse e encerrou a chamada.

A cena que vi da minha mãe abraçando outro homem me veio à mente. Provavelmente aquele homem deve ser algum amigo de infância ou algum conhecido do meu pai e ela deve ter passado a notícia que ele chegaria de viagem hoje. Decidi afastar o pensamento porque queria que meu dia permanecesse ótimo.

O sol que invadia meus olhos estava forte levando em conta que estamos no mês de Julho e é considerada a época mais quente do ano no estado de Nova Iorque. Era 14h00 então decidimos nos sentar no gramado enquanto esperávamos Stacy ir comprar refrigerantes para todos. Taylor conversava com Jackson a respeito de alguma banda de rock Norueguesa. Não sei o que ambos têm em comum em relação a musica, mas Jackson parecia muito à vontade na conversa e, já que eu estava excluída da conversa, comecei a observar o parque em si e as pessoas que chegavam com suas famílias, todos alegres.

Minha visão foi preenchida por diversos tons de verde que se estendiam no parque todo. Havia pais brincando com os filhos, mulheres fofocando umas com as outras, homens e mulheres passeando com seus pets. O clima estava agradável e mais pessoas chegavam e se acomodavam em diversos lugares do parque. Quando Stacy voltou, eu ainda estava em meus pensamentos.

Stacy parece uma patricinha deslocada que anda com os antissociais – como eu e Taylor - outrora com os populares. Ela foi presenteada com cabelos ruivos e lisos na altura dos ombros, é magra, mas tem lá suas curvas. Ela é uma garota linda que chama muito a atenção na escola. Ela vive implicando comigo com o fato de não ser popular na escola e namorar o capitão do time de futebol. Na visão dela, isso é totalmente inverossímil. 

— Amber, oi? Planeta Terra chamando. Vai querer de uva ou laranja? – disse ela com um sorriso meio torto.

Vi um sorriso se formar no rosto de Jackson e fiquei com vergonha. Apontei com a cabeça para o sabor de uva e comecei a tomar o refrigerante.

— Nossa, seu cabelo está desbotado. Você não vai pinta-lo não ? – disse Stacy com um ar de preocupação, enquanto os garotos me encaravam.

— Talvez amanhã antes da escola eu dê um jeito nele. – respondi de forma alegre.

— Pra mim continua linda. – Jackson falou sem me olhar nos olhos.

— Obrigada. – Acrescentei.

— Awn, parem vocês dois, por favor. Isso é romântico, mas me faz querer vomitar – disse Stacy.

— Deixe o casal em paz, Stacy. Cadê os dois caras que você está saindo? – Taylor intrometeu-se e revirou os olhos. Taylor tinha uma paixão secreta por Stacy, ele me contara ontem na festa.

— Não sei – disse sorrindo e dando de ombros – Não falo com eles desde um dia antes da festa.

— Caramba, Stacy. DOIS CARAS? Quanto exagero... – disse Jackson incrédulo.

— Vou escolher um, prometo, mas até lá quero aproveitá-los. Que mal tem? – disse ela rindo.

Eu e Jackson emitimos uma risada sarcástica. Ela estava se metendo em uma situação comprometedora e não podia negar de forma alguma que tentamos ajuda-la. Taylor estava triste com o jeito que Stacy brincava com seus sentimentos sem saber, ainda bem que não deixou transparecer tal tristeza.

—“Não faça para o outro o que”... – comecei

— “... Não queira que façam pra você”. Eu sei, eu sei. – disse ela, completando minha frase e dando de ombros.

— Exatamente – concluí.

     Jackson sorriu.

Ele sempre foi inteligente e conquistava as garotas cujo eu sabia que não fazia o tipo dele. Jackson sempre foi famoso na cidade. O pai dele fora um excelente jogador de futebol americano durante o ensino médio. Jackson não ficou atrá: quando tinha 9 anos já conquistou sua primeira medalha na escola.

Ficamos cerca de duas horas e meia falando sobre a festa de ontem e sobre algumas fofocas da escola. Kate, uma tímida aluna do segundo ano que  usava umas roupas que pareciam ser de sua avó na festa estava com aluno do ultimo ano em um quarto. 

O papo estava muito interessante, pois estávamos relembrando momentos nossos pelos quais foram esquecidos conforme os anos. Stacy retirou do "fundo do baú" uma aventura minha com o primo de Taylor, foi constrangedor, mas Jackson pareceu não se importar. 

Dei a mão para Jackson e ele enlaçou seus dedos nos meus.  

Em algum lugar do parque acontecia uma briga e uma multidão corria para fora do local.  Jackson me puxou pelo braço para me tirar do agito que ali estava, enquanto Stacy e Taylor estavam logo atrás. Deixamos o parque e estávamos  decidindo o que fazer agora. Jackson disse que não estava se sentindo muito bem então iria para casa, enquanto meus amigos disseram que queriam procurar uma lanchonete. Olhei para ele com os olhos tristes e perguntei se ele queria conversar sobre algo. Jackson disse que não, me beijou deu tchau para todos e foi embora.

Stacey encontrou uma lanchonete perto da Fifth Avenue e pediu uma porção de batatas fritas, um lanche da altura das minhas duas mãos e as de Stacy sobrepostas. Eu estava morrendo de fome.

— Garota, como você come. – brincou Taylor.

Dei um murro de leve no braço dele e Stacy emitiu um ruído parecido com uma risada humana.

— Estou morrendo de fome. O que posso fazer? – Dei de ombros.

Conversamos e um tempo depois todos nós ficamos olhando através da janela à procura de algo para distrair a mente. Receio que Stacy estaria pensando na sua vida amorosa por causa da sua cara de “O que eu estou fazendo?”. Não pude deixar de sorrir com a situação engraçada que minha amiga se colou. A lanchonete estava calma e mesmo com a tensão que percorria meu corpo, estava em um ambiente muito agradável. A noite caiu de forma rápida que nem percebi que as horas passavam e logo teria que voltar pra casa, então informei a garçonete que passava ao meu lado para embrulhar meu pedido para viagem porque resolvi dar uma passadinha na casa de Jackson para ver como ele estava.

— Aonde você vai? – perguntou Stacy

— Vou ver como Jackson está depois vou pra casa.

— Ah, eu quero ir. Posso? Eu quero pegar minha blusa que você esqueceu lá. Lembra? – Disse ela. Taylor olhava para mim com uma expressão indicando boa sorte. Nós dois sabíamos que Stacy sempre foi de querer estar em certos lugares na hora errada, mas não me importei muito e concordei. 

— Nos vemos depois então, Taylor? – perguntei

— Claro. Vocês duas vão amanhã pra escola?

— Bom, eu vou. Preciso conversar com meus homens- disse Stacy toda empolgada.

Taylor revirou os olhos e dei uma risadinha forçada. Dei um abraço nele e saímos da lanchonete, o deixando comendo grande porção de waffles. A casa de Jackson não ficava muito longe da minha, apenas umas ruas adiante. No caminho fiquei ouvindo Stacy falar sobre os dois garotos.

— Amber, você tinha que ver. Ele é muito perfeito, até demais. Mas aí quando fico com o outro cara sinto a mesma coisa... - Eu não conheço nenhum dos meninos com quem ela tem uma relação então apenas concordo com a cabeça – Ai ai, minha vida amorosa é um tanto complicada não é?

— É sim, quer um conselho? Escolha um. Veja qual deles te faz mais feliz e o que tenha mais a ver com você. – disse

— Ah, mas é complicado. E eu tenho um pouco de dó de dispensar um deles. Os dois são lindos de morrer. – disse ela com risadinhas.

— Sei disso – também ri – Mas mesmo assim, você precisa escolher alguém ou então vai acabar ficando sozinha.

Ela sorriu pra mim e percebi que havia certa tristeza em seu olhar. Chegamos à casa de Jackson e a mãe dele estava no portão conversando com uma mulher. Ignorando Stacy, como sempre fazia, ela ficou surpresa em me ver:

— Olá, Amber– disse ela de forma alegre e me puxou para um abraço - Quanto tempo. Como está sua mãe e seu irmão?

— Oi, Srª Baxter. Estão todos bem. Meu pai chega hoje de viagem e como vai você?- sorri para ela. A mãe de Jackson sempre foi uma boa pessoa, ela sempre foi paciente e aceitou nosso namoro desde o princípio. Já o pai de Jackson morreu quando ele tinha cinco anos em um acidente de carro, na época a mãe sofreu muito.

— Ah, estou bem. – ela passou a mão nos próprios cabelos castanhos e repousou seus olhos claros em mim demonstrando total cansaço.

— Jackson está?

 – Não sei. Acabei de chegar, mas pode entrar.

— Obrigada – respondi suavemente e estávamos caminhando em direção à porta de entrada.

— Ah, fala sério. Essa mulher adora me ignorar- Stacy parecia zangada.

— Deixa isso pra lá – respondi.

A casa da família Baxter era surpreendente delicada. Havia quadros espalhados por ela toda e vasos decorados com símbolos japoneses preenchiam as mesas. Subimos as escadas que levavam para o quarto de Jackson e ouvimos algumas risadas. Pensei que ele estivesse com alguns amigos ou assistindo TV com um volume alto, isso era a cara dele. Batemos na porta e a abrimos.

Não o vi logo que entrei no aposento então olhei em direção a sacada e lá estava ele... Abraçando uma garota. Como se não bastasse o abraço, ele a beijou e ela correspondeu ao beijo.

Meu coração acelerou.


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