Honey And The Moon - Terceira Temporada escrita por LastOrder


Capítulo 15
Pão e leite


Notas iniciais do capítulo

"Fechei os olhos e tomei o mais rápido que pude metade do copo. A sensação do leite descendo pela minha garganta era pior coisa que eu já havia sentido. Só perdia para a transformação. Que coisa horrível.

Isaac tinha comido metade do pão."



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PDV Eloise

 

O carro estava estacionado a alguns km de onde estávamos.

 

Da nossa posição, dentre as arvores, tínhamos uma visão de onde estava o grupo de recém criados, deviam ser uns dez, doze no máximo.

 

- Tem certeza de que quer mesmo fazer isso? – Isaac perguntou pela milionésima vez.

 

- Vamos logo com isso. – Respondi sorrindo, há muito tempo eu não entrava numa luta de verdade.

 

Ele suspirou e entramos na clareira, todos os vampiros olharam para nós e logo depois começaram seu ataque.

 

Eram mais rápidos e mais fortes, mas seus ataques eram previsíveis, e assim se tornava fácil desviar de cada golpe, admito que pensei que seria mais difícil, após alguns minutos eu já havia matado quase toda a metade. Não sei o que Isaac via de tão perigosos nisso.

 

Em fim.

 

A outra, era por conta dele, que desaparecia embaixo de esferas brilhantes que surgiam da palma de suas mãos, eu nunca havia visto uma coisa daquelas antes. Os recém criados nem chegavam perto dele. Devia ser por isso que Aro sempre o mandava na maioria das missões.

 

Eu acendi a fogueira, joguei o restava do grande e perigoso exercito nela. Isaac segurava o colarinho do ultimo recém criado.

 

- Você vai me responder tudo o que eu te perguntar. – Ele disse com o mesmo olhar fuzilante que eu só havia visto uma vez, quando ele falou com Jane no corredor.

 

O vampiro assentiu lentamente com a cabeça.

 

- Onde está o líder de vocês?

 

- Numa casa abandonada, no campo. Ao norte.

 

Isso não ajudava muito.

 

- Quem é?

 

- John Roker.

 

Isaac pareceu reagir ao ouvir o nome. Estranho.

 

- Por que ele criou vocês? O que pretende?

 

- Não sei.

 

E o vampiro não podia estar mentindo, Isaac sabia disso. Acho que foi por isso que ele ficou estressado e o matou rapidamente. Quebrando seu pescoço e jogando-o na fogueira.

 

Ele passou as mãos pelos cabelos, parecia nervoso.

 

- O que tem John Roker? – Perguntei.

 

- É um velho conhecido meu, o encontrei pouco tempo após minha transformação, foi antes de eu ter me juntado aos Volturis.

 

- E qual é o problema?

 

Eu ainda não conseguia entender o motivo de tanta frustração.

 

- Não foi à toa que me afastei dele, nunca consegui confiar nele. Roker é inteligente e perigoso. E não consigo imaginar o que o levaria a criar um exercito de recém criados, não tinha nenhuma ambição quando o conheci.

 

Coloquei uma das mãos sobre seus ombros.

 

- Bem, então vamos encontrá-lo e perguntar a ele. – Disse sorrindo.

 

-Você gosta mesmo de se meter em encrencas, não é mesmo?

 

Dei de ombros.

 

- Faz parte da minha vida. – Segurei sua mão e comecei a puxá-lo em direção ao carro. – Vamos acabar logo com isso.

 

 

-------------*--------------

 

O sol já estava começando a nascer no horizonte, estávamos rodando a horas a zona rural de Mendoza e nada da tal casa.

 

Sabe aquelas pessoas que acordam com o galo cantando, pois é, elas já estavam saindo das suas casinhas.

 

Eram sete da manhã.

 

Eu havia tirado um cochilo no carro mesmo e depois cheguei à conclusão de que se isso continuasse não chegaríamos a lugar nenhum.

 

Assim, me limitei a falar.

 

- Isaac, acho que estamos perdidos.

 

Ele não tirou os olhos da estradinha de terra.

 

- Não estamos perdidos.

 

- Mas acho que já passamos por aqui antes.

 

- Eloise, não estamos perdidos.

 

Certo, era hora de partir para a apelação.

 

- Veja, vamos pedir informação numa dessas casas.

 

- Não precisamos de informação, não estamos perdidos.

 

Bufei e revirei os olhos.

 

-Isaac, vocês homens não gostam de pedir informação desde o século dezoito ou essa é uma característica que você pegou com o passar do tempo? – Perguntei sarcástica. Sim, minha paciência estava no limite.

 

- Eloise, eu estou dirigindo e não vamos pedir informação.

 

- O problema é que logo vamos ficar sem gasolina e de um jeito ou de outro vamos ter que pedir informação. Você vai querer sair por ai a pé com o perigo de que o sol saia no meio do dia? Ouvi dizer que o tempo aqui é variável.

 

Poucos segundos depois, o carro parou. Sorri abertamente.

 

- Tudo bem, você venceu.

 

- Legal. Já venho.

 

Sai toda saltitante até uma casinha que tinha vaca e tudo. O tempo nublado favoreceu, mas podia mudar.

 

Então fui logo batendo palmas. Uma senhora de uns cinqüenta e tantos ou sessenta e poucos anos chega na porta.

 

- Quem é?

 

- Olá. Sou Eloise, eu e meu amigo estamos procurando uma casa que dizem estar abandonada, mas estamos meio perdidos, a senhora poderia nos ajudar? – Olhei rapidamente para o céu meio preocupada, tinha medo de que ele se abrisse de repente e eu começasse a brilhar na frente da senhora.

 

- Hmn... A casa é meio longe daqui, acho que eu tenho o mapa em algum lugar, por que não entram e esperam enquanto eu procuro.

 

Concordei com a cabeça e fui até o carro buscar Isaac.

 

- Eloise, não acho que é uma boa idéia...

 

- Vamos logo, que mau ela pode nos fazer? – Cortei-o e o tirei do carro arrastando-o pelo braço.

 

Isaac cumprimentou a velhinha, e ela nos levou para dentro de sua casinha. Nos sentamos nas cadeiras de madeira da cozinha minúscula.

 

- Não era só para pedirmos informação? – Isaac disse baixo o bastante para que só eu ouvisse.

 

- Não reclama. – Rebati.

 

- Então, por que querem chegar à mansão abandonada?– Ela disse de repente, enquanto procurava algo na geladeira.

 

  Tentei pensar numa desculpa o mais rápido possível.

 

- Escrevemos para uma revista de coisas sobrenaturais. E ouvimos coisas estranhas a respeito da casa.

 

Ela se dirigiu ao balcão da cozinha.

 

- Entendo.  Alguns dizem mesmo que é um lugar ruim para se ir, muitas pessoas sumiram lá ultimamente, mas vocês devem estar trabalhando muito nisso. Estão tão pálidos. – Disse vindo na nossa direção com pães e leite. -  Deviam comer alguma coisa. Vocês jovens de hoje não costumam se alimentar direito.

 

Isaac me lançou um olhar do tipo “Eu não disse” misturado com "O que vamos fazer agora?”.

 

- Hã... Na verdade, sou alérgico a lactose. – Ele falou desculpando-se com um sorriso envergonhado.

 

Falso, ele sabia atuar.

 

- Não há problema, o pão é feito com leite de soja. – A humana disse enquanto ia para a sala ao lado procurar alguma coisa nas estantes.

 

Isaac disfarçou uma careta. E eu quase comecei a dar risada.

 

- As damas primeiro. –Ele disse enquanto transformava o pão em migalhas.

 

Ergui a sobrancelha.

 

- Isso é mais um habito da sua época? 

 

- Tecnicamente, sim. Mas foi você quem teve a idéia de vir.

 

Olhei para a sala, e a tal senhora continuava procurando alguma coisa na estante, nem ouvia nossa conversa. Mas não podíamos simplesmente jogar a comida fora, ela estava muito perto.

 

- Se não fosse por mim estaríamos no meio do nada sem gasolina. – Revidei.

 

- Eu não vou comer isso.

 

- Precisamos do mapa. – Lembrei-o.

 

Ele fez uma careta e olhou para o pão.

 

- Ao mesmo tempo? – Perguntou.

 

Olhei para o leite em minhas mãos.

 

- No três. – Falei. – Um.

 

- Dois.

 

- Três. – Dissemos ao mesmo tempo.

 

Fechei os olhos e tomei o mais rápido que pude metade do copo. A sensação do leite descendo pela minha garganta era pior coisa que eu já havia sentido. Só perdia para a transformação. Que coisa horrível.

 

Isaac tinha comido metade do pão.

 

- Essa foi a pior coisa que eu já fiz na minha vida. – Falou.

 

- Concordo. - Esperei que eu não acabasse vomitando.

 

- Espero que ela realmente tenha o mapa.

 

Concordei com a cabeça, sem dizer nada, tinha medo de abrir a boca.

 

- Vejam, aqui está. – Ela disse colocando o mapa sobre a mesa. – Vocês estão aqui – Fez um quadrado com a caneta. – E tem que chegar aqui. – E fez um circulo. – O caminho mais próximo e passando por essa estrada, fica perto daqui.

 

- Certo, obrigada, senhora - Disse me levantando. Isaac se levantou também, devia estar desesperado para ir.

 

- Vocês não vão terminar? – Ela falou assim que me entregou o mapa.

 

Olhei para o copo de leite pela metade.

 

Ahh, que se dane.

 

Peguei o copo e joguei o que restava pra dentro. Segurei a vontade de fazer uma careta e sorri amarelo.

 

- Obrigada.

 

Isaac me olhou surpreso. Pegou o pão deu uma grande mordida e engoliu.

 

- Termino o resto no caminho. – Disse.

 

A velhinha sorriu de orelha a orelha e saímos de lá o mais rápido possível.

 

Entramos no carro e Isaac analisou o mapa por alguns segundos.

 

- Já sabe onde fica? – Perguntei.

 

- Aham, acho que sim. – E ligou o carro, disparamos numa velocidade anormal.

 

A estrada agora era deserta. Só havia alguns matinhos e mais ao longe algumas poucas arvores. O chão ainda era coberto de terra.

 

Ninguém falou nada por vinte minutos, eu não sabia por que Isaac estava tão quieto, mas eu estava sentindo o leite voltar do meu estomago e precisava mesmo vomitar.

 

Isaac parou o carro de repente e saiu, não perguntei nada, a sorte estava do meu lado, sai correndo também.

 

Assim, Isaac e eu estávamos colocando para fora a nossa rápida refeição humana no meio dos matos da margem da estrada.

 

No final, sentamos no chão de terra encostados no carro, um do lado do outro encarando a paisagem. Virei-me para encara-lo e ele me olhava também.

 

E então...

 

Começamos a rir da nossa própria desgraça. Como dois humanos que não tem mais o que fazer da vida e que ficam rindo da vida pensando em como ela poderia ser mais fácil.

 

- Não acredito que fizemos aquilo por um mapa.– Disse entre risos. – Quando você tomou todo aquele leite na frente daquela humana, eu achei que você ia começar a vomitar e que eu ia que te levar para um pronto socorro.

 

- Eu sei, eu fui corajosa não fui? E de onde você foi tirar “alérgico a lactose” tudo isso só pra não tomar leite? – Perguntei lembrando – me, da cara de Isaac ao ver a comida na sua frente.

 

- Não, na verdade, eu sou mesmo alérgico a lactose. – Respirou fundo para falar mais claramente. – Quer dizer, pelo menos eu era quando humano.

 

O fitei incrédula.

 

- Sério?

 

-Aham.

 

- Como você foi se lembrar disso? – Perguntei rindo novamente. Cada coisa que acontecia.

 

- Eu não sei, deve ter sido no momento de desespero. – Respondeu sorrindo.

 

- Será que você teria um choque anafilático se tivesse tomado aquele leite.

 

- Não sei, mas provavelmente fingiria um só para poder sair de lá.

 

 Desatamos a rir novamente, já deviam ser umas oito horas quando nos aclamamos. O sol havia conseguido sair do meio das nuvens, alcançando nossa pele e fazendo-a brilhar.

 

Encostei a cabeça no carro e fiquei olhando para os morros do horizonte.

 

Respirei fundo, aproveitando aquela que as pessoas chamavam de paz do campo.

 

- Temos que ir. – Isaac falou rompendo o silencio depois de algum tempo.

 

O fio de voz que eu ouvi foi uma mistura de receio e angustia. Ele ainda devia achar aquilo tudo perigoso demais pra mim.

 

Encarei seus olhos preocupados, hoje tinham uma cor mais próxima do marrom do que do dourado, e concordei num movimento de cabeça.

 

 

----------*--------------

 

 

PDV Isaac

 

Eram dez horas quando chegamos.

 

A mansão era enorme e passava um sentimento ruim. De morte e sofrimento.

 

Havia começado a chover.

 

- Me sinto num filme de terror aqui. – Eloise comentou assim que descemos do carro.

 

Ela olhava para a casa com os olhos arregalados.

 

- Ainda acho que você devia ficar aqui.

 

Ela me encarou e bufou.

 

- Isaac já discutimos isso. Não vou ficar sozinha no carro enquanto você faz o trabalho todo sozinho, e além do mais, vai saber o que tem lá dentro.

 

- Por isso mesmo. – Rebati.

 

- Não já disse. E se tentar usar seu poder em mim é melhor tomar cuidado, pois quem pode ficar no caro pode ser você.

 

A encarei perplexo, nunca tinha imagino o que aconteceria se Eloise refletisse meu poder contra mim, mas mesmo assim...

 

- Eu nunca usaria meu poder contra você.

 

Ela arqueou as sobrancelhas.

 

- Nunca?

 

- Não, eu não quero te obrigar a fazer nada que você não queira, mas não quero que se arrisque. John Roker é perigoso, ele tem poderes também. Quando entrarmos lá, não teremos mais nossos poderes para nos protegermos, ele consegue anula-los dentro de um raio de vinte metros. E, além disso, pode clonar-se, os clones não são reais pois somem e aparecem de acordo com sua vontade, mas eles podem tocar em você.

 

- Isso quer dizer...

 

- Vai ser uma luta difícil. Ainda quer ir? – Perguntei novamente esperando que dissesse que não.

 

- Agora eu quero mais do que nunca! – Disse dando um pulo e se dirigindo ao portão de entrada da mansão.

 

Suspirei fundo e passei a mão pelos cabelos.

 

Se há pouco tempo eu estava nervoso, agora eu estava quase morrendo de preocupação.

 

 

John Roker


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