How do you find me? escrita por April Criatividade Brooke, HeloiseC


Capítulo 23
I keep running for my heart


Notas iniciais do capítulo

OLHA O TREM HICCSTRID CHEGANDO A ESTAÇÃO...



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Capítulo 23 - Continuo correndo pelo meu coração               

 

Passei mais uma noite mal dormida, era terceira vez essa semana.

                Aceito o fato de que não vou conseguir dormir e me levanto, vou até o quarto de Astrid silenciosamente, ela ainda estava bem fraca então eu posso vigiá-la de vez em quando, embora no fundo eu tenha a sensação de que ela vai fugir.

                Ela estava encarando a janela sentada da cama, a luz da lua iluminava seus cobertores e as pernas que ela abraçava. Parecia tão quieta e perdida em pensamentos quanto eu na maioria das noites.

                Seja lá quem ela fosse, era um alguém que passara por muita coisa... E eu queria poder ajudar de alguma forma.

                - Oi, Haddock – Ela murmura sem desviar o olhar.

                Às vezes nem sei como ela consegue notar as pessoas se aproximando, talvez meu pai a tenha treinado realmente firme...

                - Ainda acordada?

                - Eu não durmo noites inteiras a anos – Ela responde dando de ombros – Os ataques de memórias sempre veem a essas horas e estou com medo de dormir.

                - Ataques de memórias?

                Astrid olha pra mim com um sorriso de canto e as sombracelhas juntas.

                - É como eu apelidei as minhas paralisias e visões do passado, são todas memórias e vem de uma vez... Como um ataque, sabe? Eu tenho isso desde que me lembro...

                Ficamos em silêncio por um momento e ela volta o olhar para o vazio sorrindo.

                - Por que você não está dormindo? – Ela pergunta.

                - Insônia – Respondo – Não é nada comparada ao que deve passar...

                Desvio o olhar.

                - Não pense que eu vou ficar com pena de mim, Haddock – Ela ri pra mim – Insônia também é bem chato, embora eu não tenha passado muito por isso... Pode falar.

                Aproximo-me dela sentando numa ponta da cama.

                -Eu não consigo parar de pensar no meu pai agora. Ele esteve tão presente assim, mesmo ausente em Aina...

                Astrid percebe minha expressão e senta ao meu lado.

                - Ele falava muito de você, sabia?

                Dou de ombros.

                - Ele passou a vida toda me treinando para ser um líder, ele me dava muitas aulas por dia... Reclamando mais do que ensinando.

                Ela sorri pra mim.

                - Stoico não parava de te bajular! Eu não aguentava mais ouvir seu nome, eu juro. Era o tempo todo “ele vai ser um grande líder um dia, você vai ver...” ou “Você sabia que ele é fluente em francês? Eu nunca nem ao menos ensinei a ele!”.

                Não posso evitar rir.

                - Eu estou falando sério – Astrid ri junto comigo – Toda vez que estávamos treinando ele tinha que mencionar seu nome, tinha dias que eu quase não aguentava aquele tagarela.

                Ela boceja cobrindo a boca com a mão e deita sua cabeça no meu ombro.

                - Tenha certeza de que te amava muito.

                - Eu tenho, sim – Deito minha cabeça sobre a dela.

                Passamos a noite conversando deitados ali, ela me contava histórias engraçadas de dupla identidade e eu contava das histórias que a minha mãe sempre me contava sobre os dois. Por um momento, até fitamos o teto um pouco, num silêncio bom.

                Foi bom passar a noite assim, antigamente eu mal conversava e agora me faltavam histórias para contar.

Estávamos deitados opostamente, com os pés delas próximos a minha cabeça e vice e versa. Ela parecia meio sonolenta contando a ultima história, as frases iam se silenciando aos poucos em meio a bocejos.

— Tudo bem, acho que já não aguentamos mais por hoje. Devem ser umas duas da manhã, precisamos dormir.

Ela não respondeu, apenas se espreguiçou, ficando confortável na cama.

                Quando me levantei, esqueci de que havia tirado minha prótese da perna e acabei caindo em cima dela. Eu a olhei nos olhos, estávamos corados, mas eu nunca havia visto os olhos azuis dela tão de perto assim e eu estava meio hipnotizado.

                - Soluço... – Ela me chama para a realidade.

                Eu deveria estar pesando, estava com metade do corpo deitado em cima dela.

                - Se for dormir aqui eu sugiro deixar espaço pra mim – Ela comenta afastando-se.

                Realmente dava para nós dois dormimos ali, era a cama do meu pai. Era realmente mais larga que a minha antiga, eu não sei o porquê, mas deitei ao lado dela.

                Eu me sentia tão idiota perto dela, ela era tão amável e chata comigo e eu não entendia aquilo...

                - O que foi? – Ela pergunta olhando para ela.

                Quando virei o rosto para responder, eu quase engasguei, tenho certeza que fiquei ainda mais vermelho. Não por causa de nada do que ela dissera ou fizera, era simplesmente a imagem dela... o jeito que ela olhava pra mim. Com os cabelos soltos tocando os meus, os seus olhos azuis refletindo as luzes e aquele sorrisinho preocupado que me deixa maluco. Minha mente estava apenas “MINHA NOSSA, OLHA PRA ELA, ELA É TÃO FOFA. DEUSES, OLHA PRA ELA! WOW! MINHA NOSSA, WOW!”.

                - E-eu...

                Ela sorri pra mim respirando fundo.

                - A espinha de peixe não consegue dormir, o que fazer?

                Astrid sobe mais um pouco virada pra mim e abraça meus ombros pondo o queixo sobre a minha cabeça e começa a acariciar meus cabelos.

                Sinto meus olhos pesando conforme ela parava pegando no sono também.

***

                Senti a claridade no meu rosto...

                Claridade? Era manhã?

 Abro um dos meus olhos e percebo que realmente havia dormido bem, já deveria ser quase hora do almoço. Eu me sentia bem descansado até notar que dormira com ela...

Eu segurava uma das mãos dela contra minha bochecha, a cabeça dela estava contra minha... era estranho como parecíamos um casal.

 A claridade também a irritava, ela estava apertando os olhos quase os abrindo ao mesmo tempo até que observei seus olhos abrirem por completo.  Ela parecia totalmente perdida, tanto que até sentou-se observando a janela.

— Algum problema? – Pergunto meio acanhado.

— Eu sonhei com... absolutamente nada – Ela cobre os olhos sorrindo feliz – eu realmente não me lembro da última que, não só não tive memórias, mas também acordei depois do sol nascer como hoje – Astrid ria alegre olhando pra mim – Isso é tão legal...

Como uma coisa tão simples assim a fazia tão feliz? Uma garota que poderia ter tudo, apenas queria uma noite inteira de sono... E eu conseguira sem nem ao menos tentar...

— Hoje é o dia de independência da depressão de Aina, temos um dia cheio pela frente, não é, loirinha? – Pergunto ajeitando a headband torta em seus cabelos bagunçados.

— Que preguiça... – Ela reclama tentando deitar, mas eu a puxo fazendo-a sentar de novo – Não quero ter que usar vestido apertado e pesado – Astrid reclama brincando como uma criança – Eu ainda to muito fraquinha.

— Mas ambos nós temos muito que fazer, principalmente, as senhoritas!

Quando tento me levantar caio direto no chão, Astrid ri tanto que cai também e ficamos ali rindo da cara um do outro e meio de si mesmos.

Enquanto fui fazer algumas obrigações matinais, deixei Astrid em casa se recuperando o máximo para os eventos do dia. Dave mandara uma carta dizendo que passariam em casa em alguns minutos para dar uns ajustes no vestido da princesa já que eu insistira em ela ficar conosco até ficar forte de novo. Minha mãe devia estar com Pula Nuvem uma hora dessas, tudo estava bem em paz para falar a verdade, quem diria que ficaria ainda mais...

***

Após alguns afazeres e um voo com Banguela, eu e minha mãe nos encontramos no Grande Salão por volta das duas da tarde ambos acompanhados por nossos amigos dragões.

— Tudo pronto para as comemorações? – Ela me pergunta.

— Tudo sim, mal tive que fazer alguma coisa. Eles fazem todo o trabalho mesmo – Respondo dando o braço para ela – Vamos para casa?

Normalmente não ficamos em casa durante a tarde, nossa casa era bem silenciosa e monótona e, como ambos somos espíritos livres, o lugar passou a se tornar uma espécie de gaiola para nós. Mas, como temos uma doetinha em casa, vamos dar todo o apoio possível.

Ao chegarmos perto de casa era possível ouvir umas risadas e uma cantoria. Eu e minha mãe nos entreolhamos desconfiados, mas sabíamos que Calid e Dave estavam em casa uma hora dessas...

Entramos ouvindo uma voz cantando...

I stared up at Sun…

Subimos as escadas e encontramos  Calid, Dave cantando e dançando ao ritmo da voz de Astrid que estava de costas para a porta paradinha para que os dois tirasse algumas medidas extras. Parecia bem divertido.

Eles nos perceberam e apenas acenaram sem parar aquele espírito alegre de quem acabou de ganhar um presente.

Astrid ainda não nos notara, ela cantava realmente, obviamente deveria ser porque era um dos requisitos de ser princesa.

I stared up, just see…

Of all of the faces, you are the one next to me! – Calid e Dave pareciam animados esboçando em papéis e analisando tecidos. Os três cantavam felizes fazendo bagunça, pareciam uma família feliz… Isso me fez sorrir.

“If I lose myself tonight, it will be by your side… Lose myself tonight! Uuuh

Astrid desce do banquinho onde estava e percebe a nossa presença corando.

— Há quanto tempo vocês estão aí? – Ela parecia realmente tímida como a princesa nessa hora, mas se reformulou – Quero dizer, perdão pelo barulho.

— Vocês são tão alegres! – Minha mãe simplesmente comenta sorrindo – Qual o motivo dessa animação?

— Somos sempre assim com a nossa princesinha – Diz Dave bagunçando os cabelos da Astrid – Sempre nos divertimos mesmo trabalhando quando estamos juntos.

Astrid parecia meio sem graça.

— Tudo bem para as comemorações de hoje? – Ela pergunta dirigindo-se para uma mesinha e bebendo algo de uma xícara.

— Ao que aparenta sim – Respondo – O que está bebendo?

— Café – Ela responde – As festas vão durar até bem tarde, é o único meio de aproveitar acordada...

Faço uma expressão confusa.

— Uh, eu sei! – minha mãe responde a minha curiosidade – Um dos aianos me disse que isso deixa você acordado, não é?

                - Unhum – Astrid confirma com a cabeça.

                - Vamos Astrid, volte pra cá temos que ver que cor vai ser melhor – Chama Calid – Não quero laranja de novo!

                - Mas laranja combina com ela – Questiona Dave.

                - Laranja nem sequer rima com alguma coisa, imagine combinar! – Dave reponde.

                Mesmo aquilo parecendo uma discussão para mim e minha mãe, Astrid intervém.

                - Eu acho que meus grandes estilistas são capazes de fazer com que uma cor que não comine comigo, combine. O que acham?

                - O desafio está aceito! – Ambos dizem mergulhando numa pilha de tecidos. Astrid não conseguia parar de rir quando estava com eles e eu admito: Eles eram realmente um casal bem humorado.

                - Eles são sempre assim – Murmura Astrid para nós – Soluço, se importa de colocar isto na mesinha pra mim, por favor? – Ela estende a xícara.

                - Tudo bem.

 Percebo que o café está quente e que o cheiro é inclusive bom.

                - Pode provar se quiser – Astrid comenta.

                Dou de ombros, não tenho nada a perder. Dou um gole e, embora quente, tinha um gosto doce, mas não é ruim.

                Ela se dirige de volta para o banquinho e percebo que minha mãe já não estava mais do meu lado, Valka e Calid conversavam e ele mostrava alguns desenhos do vestido que queriam fazer para ela.

                Acho que a nossa casa nunca fora tão animada assim.

                - Já pode voltar a cantar, princesinha – Cobra Dave analisando alguns tecidos.

                - Você sabe que eu tenho vergonha na frente de gente... – Ela responde meio tímida.

                Calid balança a cabeça sorrindo, meu pai sempre fazia isso comigo também.

                - Achei que a princesa... quero dizer, você teria que cantar hoje na festa do Rei – Comento dando outro gole no café.

                - Meus piores pesadelos se tornando realidade – Choraminga Astrid brincando – Já é um milagre eu estar indo, mas cantar? Sério? Preciso de tudo, menos atenção quando estou como princesa.

                - Relaxa, não vai levantar suspeita. Vamos por a atenção nesse vestido e é um baile de mascaras mesmo – Diz Dave tranquilo –Ninguém vai suspeitar de nada, se eu estou relaxado não há motivos para estresse. Agora vamos cantar aquela música que o Calid odeia só porque ele me espetou com três agulhas só hoje.

                Astrid respirou fundo.

                - Não, não! Eu já disse que foi um acidente! – Defende Calid – Fica em um pé só e estica a perna de trás, Astrid. Vamos fazer com que você consiga se mexer melhor nesse.

                Ela tenta, mas quase cai. Valka a segura para ajudá-la a não cair.

                - Obrigada.

                - Você já me salvou uma vez, não lembra? – Minha mãe a lembra – Te ajudar nunca vai ser grande coisa comparada ao que você faz pelas pessoas daqui...

                Então a tarde se passou tranquilamente, Astrid finalmente tomara coragem para cantar na nossa frente depois daquilo e ficamos todos nós conversando por horas, rindo com a relação de Calid e Dave enquanto eles escolhiam milhares de músicas para Astrid treinar a voz. Era engraçado, mas parecia que eu tinha nascido para ouvi-la cantar, eu gostaria de poder ouvi-la todos os dias se pudesse...

                Com o tempo eles também voltaram a dançar, bater palmas e fazer palhaçadas. Eu e minha mãe acompanhamos as palmas sentados no chão e Banguela estranhava as palhaçadas dos estilistas, quando percebi, eu e Astrid até dividíamos a xícara de café sem nem ao menos notarmos.

                Calid e Dave falavam sobre a festa de mascaras do Rei, ao que aparenta eles iam juntos, eles formavam um casal cômico e até adorável aos meus olhos.

                - O Rei Leonard vai te acompanhar, Astrid? – Minha mãe pergunta.

                Ela parece lembrar de algo.

                - Ai meus deuses! Eu esqueci que tem que levar acompanhante nesta droga de fresa! Ele vai com a irmã dele.

                - Você indo para uma festa já é um milagre – Calid diz – Não vão te cobrar par, tenho certeza absoluta.

                - Ah, é. Tem esse detalhe – Astrid mexe os ombros – Nesse caso, não, Srta. Valka. Vou só ver o pessoal dançar sentada quietinha como um enfeite de mesa.

                Engasgo.

                - Não me diga que esse é o tipo de festa que te exigem dançar?

                Todos olham para mim.

                - Isso é meio óbvio, carinha – Responde Dave – Mas não esquenta, se sabe valsa básica dá pra acompanhar bem até demais.

                - Acreditem, se Soluço tivesse o outro pé seriam dois esquerdos – Minha mãe brinca – Estou vendo que meus pobres pés vão sofrer.

                - Own, eu fofo, ele vai levar a mãe – Comenta Calid - NEM PENSE EM LEVAR A SUA, DAVE. ELA É A SOGRA MAIS CHATA DO MUNDO.

                Astrid ri no fundo, mas vê minha expressão meio preocupada e desce do banco. Ela chega perto de mim estendendo a mão.

                - Eu também não era muito boa em dança, mas, se quiser, eu posso te ensinar – Ela sorri pra mim.

                Eu fico meio envergonhado.

                - Acho que já temos o que precisamos, podemos continuar o vestido lá em baixo. Mas Valka vai ter que servir um pouco de modelo substituta – Calid pisca pra ela.

                - Com prazer! – Ela diz seguindo eles saindo do quarto com alguns tecidos e papeis.

                Nós os observamos sair e ela volta a estender a mão pra mim. Eu aceito meio acanhado.

                - Tudo bem, você é destro ou canhoto? – Ela me pergunta pondo as mãos na cintura animada.

                - Canhoto – Respondo.

                - Certo.

                Ela põe uma de minhas mãos em sua cintura, a outra ela apenas segura estendendo-a e junta o corpo ao meu. Valsa era uma dança que tinha de se dançar bem de perto, eu sabia, mas na prática dava até para sentir o coração da outra pessoa batendo através da roupa.

                Astrid nota que eu estava com medo e meio envergonhado e tenta me distrair.

                - Calma, não tem ninguém aqui que vá te julgar, ok? Olha aqui pra mim, tem pessoa mais confiável no muno que eu? Admita que apesar de tudo não.

                - Você não de deixaria contrariar mesmo.

                - Eu sei.

                Astrid me ensinou com calma, não era tão difícil quanto parecia, demorei apenas alguns minutos para me acostumar. Ela estava um pouco atrapalhada também por não estar acostumada em ir pela esquerda, então ficamos rindo um da cara do outro e até nos divertíamos quando eu a rodava e ela me rodava também. Astrid me ensinara algumas danças que eu precisaria saber como líder para festas daquele tipo e foi bom ficar ali com ela até nos chamarem para começar a se arrumar. Ao que aparentava, transformar ela na princesa direitinho demorava um pouquinho mais do que se vestir normalmente, mas antes de irmos eu tomei coragem.

                - Ei, loirinha – Eu a chamo. O apelido meio que pegou.

 Astrid estava com a cabeça no meu ombro e meu queixo estava apoiado no ombro dela enquanto dançávamos.

— Huh?

— você acha... Você acha que seria muito estranho ir como minha acompanhante nessa festa, eu me sentiria menos estranho dançando com você.

Ela olha pra mim sorrindo.

— Parece que tenho um acompanhante.

***

                Só vendo mesmo para acreditar que ela realmente era a princesa, os ver prendendo seus cabelos e a enfeitando finalmente dera a certeza absoluta de que aquela história não parecia uma das loucuras que Bocão contava.

                Eu demorara um pouco mais para me vestir do que ela, quando desci ela já estava sentada no sofá frente à lareira conversando com a minha mãe que decidira ir também mesmo depois de Astrid inventar de dizer que foi ela que me convidou para que a minha mãe não ficasse pegando no meu pé.

                Aproximei-me das duas e Astrid sorri pra mim. Ela estava tão bonita, usava um vestido cinza com detalhes coloridos (realmente de todas as cores) que faziam parecer que o cinza era apenas um nada e seus cabelos estavam meio soltos com algumas presilhas os decorando. Quase perdi a fala.

                - Eu disse que estava bonita – Valka diz pegando as máscaras sobre a mesa.

                Eu havia esquecido completamente sobre a máscara até que a loirinha estende uma pra mim.

                - Com os cumprimentos de Calid – Ela dá uma piscadinha.

***

                Deixamos os dragões com bastante comida e descansados cheios de mimos em casa (Banguela nunca fora tão feliz), o palácio flutuante estava mais chamativo do que nunca, as pessoas ia a pé seguindo um tapete vermelho no chão com luzes que o iluminavam dos dois lados pela floresta.

                Como líder, as pessoas me davam passagem e sussurravam conforme íamos passando. Lembrei que as pessoas não conheciam muito bem minha acompanhante e parece que ela também havia se esquecido desse detalhe. Astrid parecia preocupada mesmo debaixo de uma mascara. Ela apertou um pouco meu braço me chamando atenção.

                - Eu acho melhor você ir com a sua mãe, ir comigo só vai te causar uma má impressão para os outros.

                Antes que a princesa tentasse soltar o seu braço entrelaçado ao meu, eu a puxo de volta e falo em seu ouvido.

                - Vai ficar tudo bem, isso não é nada pelo qual eu já não tenha passado um milhão de vezes. Apenas sorria, loirinha, você fica linda quando sorri.

                - Saiba que você também fica linda.

                - Realmente eu sou muito linda – Digo balançando as trancinhas que ela fizera na minha nuca noite passada, eu meio que gostei delas e decidi adotá-las. Afinal, todo mundo usa tranças por aqui.

                Então rimos e seguimos conversando com a minha mãe que estava logo atrás de nós.

***

                O tal Baled recebia as pessoas e as anunciava para os presentes. Eles haviam feito o baile no jardim, cobriram a grama com tapetes enormes, havia tanto espaço para o que eles chamaram de jardim e eles montaram um palco, além de um lugar preferencial para mim e a família real. Havia, também, luzes coloridas por todo o lugar ale da lua crescente e um céu cheio de estrelas.

                A criatividade e o potencial de Aina me surpreendiam cada vez mais.

A festa foi até legal junto com ela, as pessoas pararam muito para conversar conosco e ela deixava as conversas sempre divertidas. Todos os tipos de pessoas estavam ali, até mesmo os jogadores distribuíam autógrafos e conversavam com o pessoal, era um evento bem unido e alegre na verdade.

                Confesso que a parte que mais gostei foi ter dançado sem passar vergonha, mas a que eu menos gostei (nunca mais vou admitir isso) foi ser apresentado ao noivo de Astrid. O Rei Leonard era um conhecido distante, os dois realmente tinham muito em comum e tiveram de dançar por um tempo também. Algumas pessoas acharam que eles não eram um casal que combinava de vista, duas pessoas até me perguntaram se eu estava em algum relacionamento com a princesa.

                Eles cantaram juntos o hino de Aina e a música da libertação (que era a música que representava a liberdade da depressão do povo após a morte de Reyna) e, enfim, Leonard devolvera a minha acompanhante.

                - Eu cantei na frente de gente – Ela dizia ofegante – Meus deuses, que agonia...

                - Pelo menos você não estava sozinho - Não percebo que fui meio frio com a resposta.

                - Algum problema, Soluço? – ela pergunta preocupada – Você parece meio zangado. Se for por causa da minha ausência, eu juro que fui o mais rápida que pude para voltar.

                - Não tem problema nenhum, estou normal.

                - Se você diz...

                As pessoas começam a dançar ao nosso redor, mas ficamos observando por um tempo, ela parecia meio desconfortável e eu não podia bancar o chato mais uma vez. Por que era tão difícil que as cosias ficassem bem entre a gente?

                - Seu noivo parece legal... – Puxo assunto.

                Claramente o assunto lhe deixava triste.

                - Deve ser. Eu não dei muita chance a ele de me conhecer...

                -Por que não?

                - Nunca quis essa história de casamento, mas eles dizem que ele vai me concertar e ele foi bem amigável comigo quando nos conhecemos... Calid e Dave me disseram para desistir dos jogos – Ela revela pra mim – Disseram que ele pode me dar uma vida feliz longe das minhas irmãs postiças, eu até pensei nisso um pouco para que os outros jogadores lutem pelos seus desejos sem que eu seja egoísta, mas...

                - Mas?

                - Eu não sei, não consigo me imaginar um dia amando-o, sabe? Minha mãe acreditava no amor mais do que tudo. Casar com alguém assim me faz sentir contrariar tudo o que ela acredita e que, um dia, me ensinou – Astrid baixa o olhar.

                - Você não pode escolher com quem você vai casar? – Pergunto.

                - Você por acaso pode? Não é assim também por aqui?

                Nego com a cabeça.

                - Eu posso escolher quem eu amo, nunca foi assim por aqui pelo o que eu me lembre, embora meu pai me contasse que meu avô teve que casar pela paz com outra tribo.

                Ela dá um sorrisinho.

                - Você realmente não pode contrariar as coisas? – Pergunto mordendo o lábio inferior.

                - Só se eu estivesse noiva antes do meu aniversário de 21, no ultimo dia dos jogos, que será exatamente quando eu vou me casar se eu não vencer ou desistir como querem.

                Que belo presente de aniversário, um casamento e ser arrastada para o outro lado do oceano para morar com alguém que mal conhece. Cada vez mais consigo entender que a vida de princesa não é um mar de rosas.

                Mas resolvo animá-la a levando para dançar comigo. Ela não hesita ou questiona, apenas me segue mesmo parecendo triste.

                Enquanto dançamos penso em alguma coisa para animá-la, mas os jogos acabariam em algumas semanas e esse triste destino parecia cada vez mais claro aos olhos. O que eu poderia fazer?

                A festa já estava acabando, as pessoas se retiravam e eu não conseguira muitos sorrisos dela nesse meio tempo. Decidimos só ir pra casa.

                Antes de ir, avisamos a minha mãe que já estávamos indo enquanto ela ficava ali conversando com Calid e Dave (ambos muito elegantes), eles pareciam armar alguma coisa. Valka nota a expressão no rosto de Astrid e Calid fala algo em seu ouvido, na mesma hora ela chama a Princesa e lhe entrega algo murmurando em seu ouvido sem que pudesse ouvir.

                Nós dois, então, partimos pelo tapete vermelho.

                - Desculpe não ter ficado muito animada no final da festa, é que estou um pouco assustada com isso tudo...

                - Não tem do que se desculpar, ainda foi divertido. Você foi meio que minha primeira acompanhante sem ser a minha mãe, normalmente eu sempre vou com ela, você sabe, na época em que eu era um pouco frio.

                - Serio? – Ela sorri pra mim – Achei que era a única que não tinha acompanhante nesse tipo de coisa.

                Sorrimos um para o outro.

                - Ah, sua mãe mandou você alguma coisa com isso – Ela entregou uma carta pra mim.

Não estava assinada, mas tinha um risco de tinta que eu reconheci na hora, era a carta que havia escrito para a Sarah após os jogos... Eu não podia fazer isso com ela. Não podia dizer que... eu realmente perdi minha cabeça por ela, estou meio apaixonado sem duvida.

— Posso perguntar o que é isso? – Ela interrompe meus pensamentos.

— É só uma pequena loucura minha, acho que nunca daria certo...

— Se minha mãe estivesse aqui ela diria que nenhuma ideia é uma bobagem ou algo assim – Ela sorri pro nada.

— Não acha que existem exceções?

— Toda ideia pode se tornar algo maior, Soluço. Desde que você siga o que ele te diz – Ela aponta pro meu coração – É aí que realmente importa, afinal só vivemos uma vez, não é? É importante não tomar decisões que nos arrependamos no futuro, é melhor fazer do que desejar ter feito. Riscos sempre existem...

Ficamos em silêncio por um tempo.

Noto que nos aproximamos de um casal que andava abraçado a nossa frente, eu os reconheci, eram dois jogadores dos favoritos. Eles eram adorados por terem uma história juntos... não era nada fingido, dava pra ver que era amor verdadeiro, estavam juntos desde eu tinham de 13 anos, iam se fazer 7 anos.

Ainda estamos atravessando a floresta iluminada pelas luzes coloridas por toda parte, não havia mais ninguém a nossa frente, o casal decidira desviar o caminho e atrás estava vazio. Talvez fosse essa a hora.

— Astrid... – eu a chamo parando.

— Huh? – Ela vira-se pra mim – Algum problema?

Eu apenas nego com a cabeça enquanto a vejo tirar a mascara.

— Você me parece diferente hoje, tem algo te preocupando?

— Na verdade tem...

— Então conta pra mim – Ela pede levando meu rosto para que eu olhasse em seu rosto.

— Eu não sou muito bom com palavras, mas eu queria que soubesse eu perdi a cabeça por você já faz um tempinho...

Astrid arregala aqueles lindos olhos azuis piscando e eu tiro a minha máscara.

— E-eu sei que não seria bom te contar com tudo o que está passan...

Ela me interrompe segurando meu rosto e sinto seus lábios tocarem os meus. Quase não acredito, mas quando me permiti sentir que eu estava apaixonado por Astrid, segurei sua cintura abraçando-a.

Quando nos separamos olhamos bem nos olhos um do outro esperando qualquer reação, mas ambos rimos nem sabendo o porquê. Nos beijamos mais uma vez com alegria e eu senti que tudo o que passei até achá-la valeu a pena.

 

"Soluço ouviu passos, alguém vinha vindo, ele levantou o olhar e... Sinceramente, eu não lembro como isso aconteceu, mas aquele era o momento mais importante, foi a primeira vez que eles se viram. Mas o que eu me lembro era que ambos seguravam os braços um do outro, talvez tenha se esbarrado ou algo assim, os olhos dele encontraram os dela e se arregalaram ao vê-la. Ela o empurrou, por reflexo de proteção, e disse:

            - Oh, are you okay? Did I hurt you? I’m sorry...

(Oh, Você está bem? Eu te machuquei? Desculpe-me...)" (Capítulo 3)

 

"— Eu queria entender porque você não é assim, Haddock – Comentou chamando a atenção dele.

— Assim como?

— Eu consigo ver bondade em você, mas parece que prefere ser frio e rabugento... – Thornado morde o lábio inferior – Por acaso foi o que aconteceu na arena? Você não seria tão orgulhoso assim a ponto de ficar de mau humor só por aquilo..." (Capítulo 7)

 

"a garota o envolveu num semi abraço levando um choque forte nas costas. Estavam tão próximos que os cachos de Sarah encontravam as mechas rebeldes dos cabelos...

A garota levou um choque forte, mas se manteve firme e continuou a luta.

— Esse é o melhor que sabem fazer? – Ela volta a ficar de pé abrindo os braços como um escudo para Soluço – Ninguém vai encostar nele. Podem vir!" (Capítulo 15)

 

"- Você não entenderia! Me desculpa, por favor... Eu sou uma longa história, eu não quero que você se machuque ainda mais se preocupando assim. É melhor eu sumir novamente, eu juro que se eu pudesse... eu ficaria com você... mas eu não posso...

                “Ela sumiu porque se importa comigo...” Pensou Soluço vendo-a partir"(Capítulo 16)

 

"- Essa garota parece um milagre – Dizia Bocão – Temos sorte de a termos por aqui, principalmente você, Soluço...

                - É – ele consegue responder – Eu tenho sim." (capítulo 17)

 

"- Eu não sou quem você pensa que eu sou... - Ela se afasta, tira suas botas ficando mais baixa que ele e solta os cabelos – Na verdade, meu nome não é Sarah Thornado e eu não sou realmente uma heroína... eu sou apenas Astrid Hofferson, a terceira princesa." (capítulo 20)

 

Me lembrei de cada momento desde que nos conhecemos. Como eu a odiei (cara, como os deuses sabem ser irônicos, hein?), como fomos bons amigos por pouco tempo, dos momentos bons que passamos quando os segredos não nos atrapalhavam e de como, desde que eu a conheci de verdade, não brigamos mais... Era possível.

E vê-la sorrir ali pra mim como se estivéssemos juntos há anos me fez sentir tão bem.

— Você nunca vai parar de me surpreender? – Pergunto.

— Quem sabe algum dia...

Sorrio para ela meio acanhado.

— O-o que fazemos agora? Quer dizer... você vai embora em alguns dias e...

Astrid segura a minha mão entrelaçando nossos dedos e beija minha testa me respondendo.

— Estou apenas seguindo meu coração...


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Notas finais do capítulo

O TREM HICCSTRID CHEGOU A ESTAÇÃO E QUEM ESTÁ CONDUZINDO? EU MESMA! A HELOISE ESTÁ RECOLHENDO OS BILHETES, ENTREM ENTREM!

Esse capítulo é valioso, sabe por que? Porque são mais de 5.000 palavras! Demorei umas horas para escrever, mas estou louca para saber o que acharam!
Obrigada pelo apoio e todo o carinho de vocês nos comentários pessoal, vocês são super legais! Não poderiamos ter leitores melhores!



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