O Dono do Hospital escrita por Carol Góes


Capítulo 2
O Dono do Hospital


Notas iniciais do capítulo

Agora começa de verdade a historia. O prologo foi pequeno em compensação o capítulo ta grandinho. A estoria não é movida a comentários mas eles são sempre bem vindos.



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Ephraim
Acordo como sempre. Entediado. Vazio. Por fora aparento ter tudo. Por dentro tenho menos que o mais pobre dos homens.
Formado em Medicina pela PUC, neurocirurgião há três anos. Levanto da cama e vou direto ao banheiro. Deixo a água quente fluir pelos meus cabelos desmanchando por alguns momentos meus cachos. Termino rápido e logo vou para a sede da rede de hospitais que eu comando. Terno, gravata e sapatos caros que ostento sem orgulho. Logo Clara entra em minha sala e repassa meus compromissos do dia:
- Senhor Bennet, tem reunião após o almoço com os acionistas a respeito do novo hospital em Santa Catarina e logo agora a visita ao Hannah Bennet.
- Clara, essa visita é realmente necessária? Digo, Adriano não pode cuidar de tudo já que ele é o diretor de lá?
- Sinto muito senhor. Mas essa visita está agendada há meses e o próprio diretor Adriano a solicitou para que possam discutir a criação da nova ala oncológica.
- Certo. Isso é tudo?
- Sim senhor. Sei que hoje é sexta e...
- OK. - a interrompo e ela sai apressadamente. Infelizmente não sou como meu irmão Adriano que tem o dom de tratar bem seus funcionários. Mas tudo bem. Clara já está acostumada com esse meu jeito. Após ela sair, fico sozinho com meus pensamentos conturbados. Mais um Shabat sem eles.
Ir ao Hannah Bennet dói por vários motivos. Primeiro porque tem o nome de minha mãe, segundo porque eu cresci correndo naqueles corredores e terceiro porque o que eu tinha de mais precioso eu perdi lá. Vocês devem estar se perguntando o porquê de tanto drama. E eu respondo. Perdi na mesma noite meus pais, minha mulher e meu filho. Em um acidente que eu deveria ter morrido, só eu fiquei para trás, e acreditem nada dói mais do que ser culpado pela morte de quem você ama. E eu, o grande Ephraim Bennet, daria tudo o que tenho e o que não tenho para ter morrido junto com minha família naquela maldita noite há três anos atrás.

Lorena
Como sempre, acordei com o despertador estourando meus tímpanos e depois das mesmas coisas de sempre, aqui estou eu, correndo atrás do residente sênior que guia minha turma de especialização. A manhã sempre é mais tranquila e todos nós corremos a anotar apressados em nossos bloquinhos, para que durante a tarde sejamos capazes de cuidar dos pacientes. Continuei caminhando distraída, anotando, olhando para o bloco e nem reparei em quem vinha na frente até esbarrar em alguém com quase duas vezes a minha altura.
- Desculpa moço... - e minha voz morreu ao encarar aquele homem de terno Armani e profundos e tristes olhos azuis a perscrutar meu rosto.
- Tudo bem moça. Aqui está o seu bloquinho. - juro que senti um arrepio bem esquisito quando ele falou. A voz grave, sexy. Opa! Sexy?! Concentra Lorena.
- Obrigada senhor.
- Não. Senhor não. Faz eu me sentir velho. - nesse momento Adriano, o diretor do hospital chega gritando o nome do deus grego a minha frente:
- Ephraim! Aí está você! Ah, olá Lorena!
- Olá Adriano! - meu cérebro então dá um estalo. Ephraim. Oh não! Aquele Ephraim não!
- Como está Lorena? - Adriano aperta minha mão e depois me puxa para um abraço. Esqueci de dizer que ele e eu estudamos juntos. A diferença é que ele foi obrigado pelos pais e irmão a assumir a direção do HB já que a mãe queria se aposentar. Sempre foi meu amigo e foi ele quem me ajudou a conseguir a residência aqui. Uma coisa que eu sempre disse a todos que conheciam Adriano é que mesmo ele sendo milionário, ele possuía a humildade do mais simples pedreiro.
- Eu estou ótima. Mas se não me soltar vou morrer sufocada Adriano.
Ele gargalhou e me soltou e o tal de Ephraim ainda de cara fechada disse:
- Vejo que vocês estão ocupados. Até mais. Foi um prazer Lorena.
- Ephraim! Espera!
Adriano beija meu rosto e sai atrás do apressadinho mal humorado que eu espero que não seja "aquele" Ephraim. Tá. Vou explicar. Quando eu ainda estava na universidade, fomos convidados a conhecer o laboratório de anatomia macroscópica da PUC e um dos alunos de lá que estava junto com os guias derramou um frasco contendo éter em cima de mim. Fiquei com queimaduras horrendas e o filho da mãe nem se dignou a pedir a desculpas. Se não fossem meus amigos a me levar ao pronto socorro, o resultado teria sido bem pior. Mais tarde soube que esse cara se chamava Ephraim e era um dos ricaços que ali estudavam e que também vivia no meio de Adriano e sua família.
A família Bennet é dona da rede de hospitais mais bem equipada, mais cara e mais lucrativa de toda a região Sul e Sudeste. Adriano Bennet é irmão do atual dono dos hospitais, e diretor do Hannah Bennet que é onde eu trabalho como já perceberam. Os pais de Adriano morreram há uns três anos num misterioso acidente de carro, do qual somente o irmão dele saiu vivo. Segundo meu amigo é por isso que o irmão é tão amargurado e recluso, porém Adriano nunca entra em detalhes a respeito disso.
Pois bem, depois do encontro com meu chefe e o amigo dele, continuei com a ronda por toda a manhã e por toda a tarde e ao final desta sou informada que meu plantão começa as seis da manhã de amanhã e termina as seis da tarde do mesmo dia. Doze horas no comando da emergência de um hospital do porte do HB é extremamente estressante e cansativo e depois de bater meu ponto, corro para a quitinete que divido com outra residente que por sinal é minha melhor amiga/irmã.
Faço meu jantar, tomo meu banho, visto meu pijama fofinho, ajusto o despertador para 5:30 a.m. e depois de jantar, vou dormir. Mal encosto a cabeça no travesseiro e pego no sono. Sonho com deuses gregos de olhos azuis e cabelos cacheados e pela primeira vez em muito tempo não retorno àquela favela em meus pesadelos.

Ephraim
Já passava das 11h da noite e eu já estava na minha terceira dose de whisky, entretanto não conseguia esquecer do rosto daquela garota e nem da raiva que senti quando vi meu irmão caçula passar a mão nela. Ficou óbvio, ao menos para mim, o interesse dele para com ela. Muito mais que o interesse de um amigo. Aqueles olhos âmbares me são familiares.
Ela deve ser residente, quase médica. Sei que soa perseguidor, mas pedi a Átila para que puxasse a ficha dela. Analisando-a percebi que ela era do Rio de Janeiro e através do ENEM conseguira a vaga na UFRGS. Está se especializando em pneumologia mora numa quitinete próxima ao seu ambiente de trabalho.
Mais uma vez minha mente retorna àquele encontrão no corredor do hospital. Os olhos de cor ambar, os cabelos negros e a pele morena. Uma combinação rara e bela. Nunca desejei tanto sentir aquele cheiro cítrico novamente. Sinto-me como um adolescente. Porra! Fiquei excitado por causa de um decote! O pensamento passa com rapidez, mas eu o capto: "Se eu a notei, outros também a notarão."
Aperto o copo em minhas mãos ao imaginar outro com minha Lorena. Opa! Minha Lorena?! Calma Ephraim. A garota é jovem, deve ter namorado e principalmente ela não é Sarah. É melhor ficar longe. Ela não precisa de problemas. Termino de beber o conteúdo do copo de cristal em minha mão e depois de um longo banho frio, me enfio debaixo do edredon. Mais uma vez sozinho. Porém essa noite é diferente e pela primeira vez em três longos anos, sonho com outra coisa que não Sarah e meu pequeno Abraão. Sonho com um certo anjo de pele morena e olhos claros. Sonho com minha Lorena.


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Notas finais do capítulo

Tem trechos que deveriam ter ficado em negrito. Mas é so a parte de avisar o ponto de vista da história. Tem o nome antes do paragrafo. É isso.



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