O Dono do Hospital escrita por Carol Góes


Capítulo 3
Choque de Realidade


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. Tava sem internet e ando sem tempo. Espero que gostem do capítulo. Reviews são sempre bem vindos. :))



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POV Lorena
Sirenes, monitores cardíacos, macas, choros, gritos. Uma cacofonia alta e insana. Bem vindos ao meu mundo. A emergência lotada de pessoas de todos os jeitos e cores, me mantém ocupada a ponto de eu não ter tempo nem ao menos para comer. Fraturas, intoxicações, doenças. Tudo ao mesmo tempo, porém nada tão grave. Pelo menos não até agora. Ouço o barulho da ambulância e reconheço que pela pressa deve ser grave. Enfaixo a cabeça do garotinho que cuidava e digo à sua mãe:
— Aqui está a receita. Em cinco dias traga-o para tirar os pontos e repouso para esse rapaz.
— Obrigada doutora.
— Por nada. - sorrio para o menino e corro para checar o paciente que acaba de chegar. Quando avisto os cabelos cacheados e revoltos, me pego rezando para que esteja enganada, entretanto quando fito o rosto pálido, não tenho dúvidas. Trata-se de Ephraim. Checo os batimentos, examino o pulso e olhos para saber se há ou não concussão. Um dos socorristas me informa que há suspeita de perfuração de um dos pulmões. Súbito, o monitor cardíaco ao seu lado começa a apitar. A pressão dele cai e um dos paramédicos grita:
— Ele vai entrar em choque!
— Levem-no para uma das salas de cirurgia e estabilizem a pressão. Epinefrina deve ajudar. Rápido! E chamem Adriano. Já estou subindo.
— Certo. - corro ao lado da maca e paro no vestiário das médicas para por a túnica cirúrgica. Sigo então correndo para a sala. No caminho encontro Adriano:
— O que houve Lorena? Por que mandou me chamarem com urgência?
— Adriano, não há um jeito fácil de falar. Sabe aquele amigo seu? O que esbarrou em mim ontem?
— Sim. O que tem?
— Ele chegou agora na emergência. E eu tou indo agora fazer uma cirurgia nele. Costelas fraturadas. Uma perfurou o pulmão. Ele quase entrou em choque agora pouco.
— O que?! Meu Deus! Eu vou... Vai pra sala de cirurgia. Vou logo em seguida.
— OK. Não vou mentir Adriano. Ele está bem... Mal.
Adriano passa as mãos nos cabelos num gesto de puro nervosismo e eu corro para a sala cirúrgica. Chegando lá, checo tudo. Saturação de oxigênio, pressão sanguínea, batimentos cardíacos, etc. Quando faço a primeira incisão, Adriano entra na sala e se põe ao meu lado. Corto pelas camadas de músculo e gordura e ao chegar às fraturas logo percebo que a perfuração no pulmão direito está fazendo com se acumule liquido. Faço o melhor que posso e ajeito uma cânula para drenar os líquidos. Começo a suturar, e logo que olho no relógio percebo que há mais de três horas já estava ali, lidando com Ephraim. Sob a luz fria da sala, sua pele parece ainda mais branca e os lábios que ontem eram vermelhos como morangos agora se encontram desprovidos de cor. Peço a Adriano que termine de suturá-lo e volto ao meu posto no plantão. Após varias horas encontro um tempinho para beliscar algo e encontro Alexandra, a residente que divide a quitinete comigo.
— Soube que fez uma grande hoje. - ela me cumprimenta.
— Eita. As notícias correm por aqui.
— Sim. Você não vê TV né Lena?
— O que tem a ver?
— Sabe o cara que você operou? - ela pergunta séria.
— Sim. O que tem ele? Ele é amigo do Adriano né não?
— Sim. E não só amigo. Lorena, você ao menos olhou o prontuário dele para saber o seu nome?
— Não havia tempo. Ele estava morrendo. Falar nisso tenho que dar uma olhada no prontuário. - eu levanto pronta para sair.
— Lorena, espera. Escuta.
— Escutar o que Alexandra?
— Lena, ele é Ephraim Bennet. Ele é mais do que amigo do Adriano. Ele é irmão. - meu queixo cai. Eu salvei a vida do cara mais rico do país! Eu salvei o chefe do meu chefe! O meu súbito ataque catatônico preocupa Alex.
— Lena você ta bem?
— Tou sim. Preciso ver os prontuários e voltar pra emergência.
— Lorena amanhã tou de folga. Vamos sair?
— Não sei. Pode ser. A gente vê amanhã. OK?
— OK. Agora vai lá
Eu saio rapidamente e as horas se passam no pronto socorro. Quando acabo de cuidar do ultimo paciente já passa das sete da noite. Mesmo exausta decido dar uma olhada em Ephraim. Suspiro ao ver Adriano dormindo de mau jeito na cadeira ao lado da cama onde seu irmão jaz.
— Adriano... - sussurro.
— Hum... - ele resmunga.
— Você vai doer a coluna. Ande. - ajudo ele a ir para o sofá que há no quarto e ele volta a dormir. Olho o monitor cardíaco, verifico o fluxo do soro e checo a medicação.
Tudo está normal. Mesmo adormecido, noto que há tristeza no semblante de Ephraim e eu me compadeço daquele rosto tão jovem e sofrido. Acaricio os seus cachos involuntariamente e é nesse momento que percebo que orbes muito verdes me fitam com curiosidade apesar do sono. Sacudo a cabeça e fujo daquele quarto indo direto para minha casinha. E a única pergunta que me faço antes de adormecer é: por que meu coração bateu tão rápido ao perceber que Ephraim me fitava daquela forma?

POV Ephraim
Acordo desorientado. E a primeira coisa que percebo é que existem grandes olhos de uma cor entre o verde e o castanho claro pairando acima do meu rosto. Sinto vontade de acariciar o rosto ao qual esses olhos pertencem, entretanto eles logo somem me fazendo acreditar que talvez eu esteja sonhando. É um bip incessante que me faz acordar de fato. A outra coisa que percebo é que ainda estou vivo. Infelizmente. Talvez achem que foi um acidente. Mas não. Eu me enchi de calmante e estava descendo as escadas quando eles deram efeito. Aí já podem deduzir o que aconteceu. Só que pro meu azar ainda estou aqui. Respirando. Vivo. Sinto um leve desconforto em minhas costelas e ao ver meu tórax enfaixado julgo que as quebrei.
Olho ao meu redor e noto Adriano dormindo num sofá. Logo ele cuidando de mim. A vida toda foi o contrário e agora me vejo nas mãos dele. Do caçula pelo qual eu devia ser responsável. Tento me mover e sinto de imediato uma dor insuportável, e portanto acabo gemendo com a dor, Adriano então se mexe acordando em seguida:
— Onde dói? Quer morfina? Você ta melhor? Sabe quem eu só né? - ele dispara a torrente de perguntas totalmente aflito.
— Calma Adriano. Só doeu quando me mexi. O que houve comigo?
— Você foi encontrado desacordado no pé da escada da sua casa. Pegou uma pancada forte no tórax e fraturou duas costelas. Uma delas perfurou seu pulmão. Seu coração parou no caminho para cá. Você nos deu um susto e tanto. O que houve Ephraim? Você não é descuidado. Não o suficiente pra rolar dois lances de escada.
— Você não é idiota Adriano. Eu tomo antidepressivos. No laudo do exame de sangue deve ter constado um índice anormal de calmante. Some dois mais dois.
— IMBECIL! SEU GRANDE IDIOTA! FAZ IDEIA DO QUE EU SENTI QUANDO TE VI NAQUELA SALA DE CIRURGIA?! FAZ IDEIA?!
— E você? Faz ideia de como me sinto? A dor não passa. Não importa o que eu tente. Eu... Eu não sei mais o que fazer!
— EU TAMBÉM OS PERDI EPHRAIM! EU TAMBÉM PERDI MEUS PAIS, UMA CUNHADA MARAVILHOSA E O MELHOR DOS SOBRINHOS! ACORDA! SUA DOR TAMBÉM É A MINHA! Então para de ser egoísta. Você é a família que me restou. Por favor, não me deixe também. - ele sai me deixando a sós com meus pensamentos.
Tomo consciência pela primeira vez de que sou a única pessoa que restou a Adriano e embora eu odeie admitir, ele também é elo familiar que me restou. Talvez meu maninho esteja certo. Talvez eu tenha sido egocêntrico e egoísta. E talvez, só talvez esteja na hora de eu enterrar meu passado e focar no meu futuro. Eu preciso deixar aqueles que eu amo finalmente descansar em paz.


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