Mais um dia começava e mais uma vez eu levantava daquela beliche dividida com minha irmã Laura. Aos poucos, começava a ouvir os sons característicos do lugar onde eu vivia, e logo senti o cheiro do café forte de minha mãe. Corri para o banheiro tentando chegar antes dos meus outros irmãos alcançando assim o meu objetivo. Fiz minha higiene e depois fui para a cozinha. Dei um beijo em mamãe e logo meu pai se juntou a nós.
Tomei meu café preto simples e corri para pegar a mochila ou então não chegaria a tempo no ponto de ônibus. Assim que saí de casa, olhei para o céu e agradeci por mais um dia. Virei para trás e contemplei com amargura o barraco onde morávamos e antes que pudesse ficar triste, empurrei os pensamentos maus pro fundo da cabeça. Eu sairia dali e minha família também. Desci o morro e no caminho fui encontrando vários conhecidos meus. Os soldados que por lá circulavam acenavam com a cabeça e eu os respondia com cuidado. Ao chegar na divisa entre o mundo ao qual eu pertencia e o mundo ao qual eu sonhava em pertencer, olhei para trás e contemplei o morro do Alemão em toda sua gloria.
"Algum dia." - prometi para mim mesma. "Eu vou sair daqui."
Sorri para conservar a esperança e entrei no coletivo que como sempre já estava lotado. Suspirei e me acomodei da melhor forma que pude. O meu caminho era longo.