Real world escrita por Bi Styles


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Mais um capítulo da fic!
Espero que estejam gostando hihi ♥



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Já tinha acabado a aula. Mas onde Sophia Grace estava? Estava no castigo.

Hoje eles pegaram leve, até. Mandaram eu e o menino (que eu ainda não havia perguntado o nome!) organizar alguns livros na biblioteca. Depois, poderíamos ir para casa. Por sorte, minha mãe não atendeu o telefone, então não sabia que eu estava no castigo. Como ela estava no hospital, não saberia que eu cheguei mais tarde que o normal. Ufa

O menino estava em cima de uma escada, organizando os livros mais altos. Enquanto isso, eu ia lhe dando os livros, conforme a ordem alfabética.

Quando ele ia descendo das escadas, pude ver seus músculos dos braços em contração, e aquilo me deixou um pouquinho sem fôlego.

Ele aterrissou no chão ao meu lado e sorriu.

—Quer que eu te leve pra casa? –perguntou. –Acho que os ônibus já saíram.

—Você tem carro próprio?

—Sim. –ele respondeu. –Você não tirou a carteira ainda?

—Tirei. Só que não comprei um carro ainda. –omitindo o fato de que eu não poderia comprar um.

—Entendo. –ele assentiu e abriu a porta da biblioteca. –Vamos?

—Sim. –respondi, ainda relutante. Se alguém me visse chegando em casa com um menino, diria para minha mãe, o que resultaria em uma surra daquelas.

Que Deus me proteja.

...

Quando estávamos chegando perto da minha rua, eu falei:

—Err.. Você poderia me deixar na esquina?

Ele assentiu, apesar de ver um pouco de confusão nos seus olhos pretos.

Retirei meu cinto e, um pouco envergonhada, agradeci.

—Obrigada, errr... –corei. –Ainda não sei o seu nome.

—Brian. –ele respondeu, sorrindo. –E o prazer foi todo meu, Sophia.

Agradeci e esperei o carro sumir para poder caminhar até minha casa, que ficava á poucos metros do local onde ele me deixara.  Abri a pequena portela que tinha e caminhei até chegar perto da porta. Abri minha bolsa e comecei a procurar minha chave.

—Droga. –resmunguei. Eu não estava com a chave hoje. Merda.

Só restava pedir aos céus que minha avó não estivesse dormindo.

Bati na porta duas vezes. E quando ela se abriu, tive um susto ao ver Pietro me encarando.

—Por que chegou atrasada hoje? –perguntou.

—Trânsito. –menti.

—O ônibus passou nessa rua faz meia hora. Não minta pra mim, Soph.

—Eu fiquei de castigo. –falei e entrei na casa, empurrando ele de leve para sair da frente.

—Por que? –questionou, trancando a porta.

—Porque aquela patricinha nojenta me fez perder um pouco de tempo no chão da escola.

—Ela te empurrou?

—Sim. Então me atrasei para a aula de biologia. E tive que ir pegar permissão. E todas aquelas outras frescuras.

—A mamãe não vai gostar disso. –ele falou e deitou no sofá.

—Ela não atendeu o telefone. Então não vai saber. A menos que um irmão mais velho diga a ela.

—Você sabe que eu nunca te prejudicaria, Soph. Mas vai ter que convencer os gêmeos. –ele explicou e ligou a TV.

—Eles estão em casa?

—Sim e, a propósito, já ligaram para a mamãe para perguntar o por quê do seu atraso.

—O QUÊ? –gritei. –Ah, eles vão se ver comigo. –falei e subi as escadas. Na metade dela, parei e perguntei: -Cadê a vovó?

—Saiu para fazer compras.

—Faz tempo que ela saiu?

—Quando cheguei da faculdade ela não estava em casa.

Então eu corri escada a cima e bati na porta do quarto dos gêmeos.

Ninguém veio abrir.

Abri sem pedir e me deparei com apenas Lydia, que me olhou assustada. Ela estava com fones de ouvido, portanto acho que não ouviu eu bater na porta.

—O que houve? –perguntou, olhando com seus olhos azuis em minha direção e retirando os fones.

—O que houve? Como assim o que houve? Vocês ligaram para a mamãe...

—A ideia foi de Juan, não minha. Além do mais, ele ligou, não foi eu.

—Não quero saber de quem foi a ideia. Vocês... vocês... –eu não sabia o que dizer. –Vocês me pagam.

E saí do quarto. O meu era ao lado, então nem andei muito. Apenas entrei e bati a porta.

Iria aproveitar um pouco da minha privacidade, enquanto Pietro assistia televisão.

E acabei pegando no sono sem perceber.

...

—Hey, acorda! –um travesseiro foi jogado na minha face.

Abri os olhos e vi Pietro me olhando, com seus olhos azuis bem brilhantes.

—Você está dormindo há muito tempo. –ele informou.

—Há quantas horas?

—Há trinta minutos.

—Seu idiota! –falei e joguei o travesseiro que ele havia jogado em mim nele.

—A mamãe quer sua ajuda para fazer o jantar.

—E certamente é um pretexto para me interrogar.

—Deve ser. Tanto faz. –ele deu de ombros. –Sai logo que eu vou me arrumar pra ir trabalhar.

Olhei no relógio do meu celular e vi que eram 6 e 55. É, já estava na hora dele ir trabalhar.

Me levantei e fui para a cozinha, onde uma mãe muito brava me esperava.

Eu abri a boca para falar, mas ela ergueu um dedo e disse:

—Não quero uma palavra, Sophia. Apenas me ajude a fazer o jantar. Só isso.

Quando ela dizia isso, só podia significar duas coisas: a) ela estava MUITO brava ou b) ela não ligou por eu ter me atrasado. Mas, cá entre nós, a primeira opção seria mais provável se tratando da minha mãe.

Vocês devem estar pensando novamente: Ah, porque você simplesmente diz NÃO e não ajuda sua mãe?

A resposta é simples: POR QUE NÃO.

Tudo bem, eu tinha uma avó que poderia ajudar. Mas ela ainda não tinha chegado. E isso me preocupou um pouco.

Também tinha dois irmãos de 14 anos que seriam bastante úteis. Mas eles eram preguiçosos, então esquece.

Ainda teria o Pietro, mas ele iria trabalhar. E sim, ele jantava, mas somente quando chegava do trabalho, ou seja, lá para as 11 da noite.

Eu vi quando ele saiu pela porta da frente. Mamãe olhou para a porta e suspirou. Eu sei que ela era muito rígida conosco, mas eu sabia que ela nos amava mais do que tudo. Sabia que ela não gostava de o fato de Pietro ir trabalhar em uma lanchonete suja, só por causa que o trabalho dela não estava sendo essas coisas. Deveria ser por isso que ela queria que nos formássemos em uma boa profissão.

Falando nisso, meu irmão estava fazendo faculdade de medicina. Não dava pra acreditar. Pietro era do tipo de pessoa que leva tudo na brincadeira. Não conseguia enxergar nele um médico. E que ele nunca saiba disso, senão ele iria ficar magoado. Ele estava em uma boa faculdade que, apesar de pública, era uma das melhores do Reino Unido. Minha mãe estava muito orgulhosa dele.

Eu pensava em fazer faculdade de música, mas minha mãe dizia que não dava futuro. E quando eu disse que a faculdade era em Liverpool, que ficava á mais de 3 horas de Londres, ela enlouqueceu e disse que era para eu tirar o cavalinho da chuva. Então acho que iria fazer jornalismo, em uma faculdade perto da minha casa.

Hoje a janta seria o famoso Bangers and Mash que minha mãe adorava fazer.

Coloquei as batatas para cozinharem e, depois disso, tirei a casca e amassei-as. Misturei o requeijão na mistura e bati tudo no liquidificador. Depois, coloquei para esquentar por alguns minutos. 

Enquanto isso, minha mãe assava as salsichas.

Quando ela terminou, coloquei o purê nos pratos e ela colocou as salsichas. Depois, peguei ervilhas e dividi nos pratos para cada um.

—Chame seus irmãos. –ela ordenou.

—E a vovó?

—Ela ainda não chegou.

—É, deu para perceber. –respondi com ironia. Ainda bem que minha mãe não entendeu. –Mas você não acha isso estranho?

—Sophia, ela saiu para fazer compras. Isso é bom.

—Não é não. Ela saiu faz umas 2 horas. Não tem como alguém demorar tanto em um mercado! –exclamei.

—Vá chamar seus irmãos.

—E quanto á vovó?

—Vou procurar ela. –respondeu minha mãe, já pegando a chave do carro.

Subi as escadas e fui para o quarto dos gêmeos, abrindo a porta sem bater novamente.

—Você não sabe bater, irmãzinha? –questionou Juan, com aquela arrogância típica de adolescentes. Lydia apenas me olhou.

—Não. –respondi. –Venham comer.

Ao chegarmos na cozinha, eles viram que faltavam 2 pessoas.

—Cadê a mamãe? –perguntou Lydia.

—Foi buscar a vovó. –respondi, enquanto me sentava.

—Ela ainda não chegou? –perguntou Juan.

—Você está vendo ela aqui, por acaso? –falei, meio grossa.

—Por que está falando assim comigo? Desculpa por a mamãe te dar bronca! –Juan realmente sabia quando eu estava com raiva.

—Você que ligou pra ela, Juan! Você é um egoísta, que só pensa em si mesmo!

—Eu? Pelo amor de Deus! –ele falou, olhando pra mim. –Eu e a Lydia estávamos com medo, porque a vovó saiu e estava demorando muito!

—E o Pietro?

—Também chegou tarde, Soph. –Lydia interveio, para defender o irmão. –Nós estávamos com medo de ter acontecido algo com a vovó.

—Tudo bem. –falei e suspirei. –Agora comam, está bem?

Eles assentiram e começaram a comer. De vez em quando, Lydia lançava um olhar para mim, me fazendo sentir pena. Eles só estavam assustados, nada demais.

E eu, assim como eles, estava assustada. Da última vez que vimos alguém sair assim de casa, recebemos um telefonema dizendo que esta pessoa estava morta. E eu falo do meu avô.

Olhei para os dois e percebi que eu deveria ser mais paciente com eles. Ambos nasceram em uma época bem difícil. Quando nosso pai nos abandonou, eles ainda não haviam nascido, mas mesmo assim já passaram por cada coisa...

Eles nunca conheceram o papai. A única pessoa que eles puderam chamar de pai foi o nosso avô, e eles também perderam ele. A minha mãe sempre dizia para eu e o Pietro sermos mais atenciosos com os dois, principalmente com Lydia, que logo após da morte do vovô, passou muito tempo doente. De tristeza? Pode ser que sim.

Juan é mais forte, mas acredito que ele ainda tem muito medo. Medo de perder pessoas importantes para ele. Certa vez eu ouvi ele dizendo para Lydia que, enquanto muitas pessoas sentiam raiva dos pais, ele só queria pelo menos um. Isso me deixou muito triste. Depois, eu fui perguntar a ele se ele sentia falta de um pai, e ele disse que não. Digamos que ele só se abria com Lydia. Eu achava isso um pouco irritante, mas ela deveria ser a única pessoa que realmente entendia ele. E vice versa.

Os dois se protegiam tanto que eu tinha medo do dia que eles tiverem de se separar. Não quero pensar nisso. Pelo menos não agora.

Percebi que os dois tinham se levantado, e eu continuava apenas remexendo no meu prato.

Levantei e deixei meu prato dentro do micro-ondas. Poderia pôr pra Pietro comer mais tarde.

Fui para a sala e os dois estavam lá sentados no sofá, com a televisão ligada.

Quando eu sentei no sofá, Lydia olhou para mim e perguntou:

—Você acha que a vovó está bem?

—Ela está bem. A fila no mercado deve estar muito grande. –falei, sem a olhar nos olhos. Não queria ter de encarar ela agora. Poderia ser que ela percebesse que eu estava mentindo.

...

Saí do quarto de Juan e Lydia lentamente. Não queria acordá-los.

Minha mãe ainda não tinha chegado. Pietro chegaria a qualquer momento. E eu estava sozinha, com meus pensamentos.

Eu estava com medo. Muito medo. Medo de perder minha avó.

Respirei fundo pela centésima vez esta noite. Parecia que, a qualquer momento, o telefone iria tocar e um policial iria dizer que minha avó fora encontrada morta. Igual o meu avô.

Ele não deveria ter reagido ao assalto. Não, ele não deveria ter reagido.

Mas, por incrível que pareça, eu não derramei uma lágrima. Era muito difícil eu chorar. A única coisa que ainda me fazia chorar era quando falavam sobre o meu pai. Apesar de tudo o que ele fez com a gente, eu não queria que falassem mal dele. Não queria que dissessem que eu seria igual a ele. E isso machucava tanto... Porém, eu estava ficando forte a cada dia. Pietro sempre diz para eu não ligar pra isso, que ele se foi e pronto. Mas, não é hora de falar sobre isso.

Os gêmeos tinham dormido depois de muito tempo. Eu tive de acariciar o cabelo dos dois para que pegassem no sono. Juan adormeceu primeiro, depois de 10 minutos massageando seus cabelos pretos. Lydia demorou meia hora. 

Olhando os dois dormirem, percebi o quanto eram parecidos. Não os cabelos pretos e a pele clara. Digo parecida a fragilidade. Eles, dormindo, pareciam feitos de porcelana. Tudo bem, que a pele de Juan começava a ter espinhas. Lydia ainda não tinha tantas. E eu ás vezes ficava preocupada, já que ela ainda não tinha sido “moça”.

Suspirei e desci as escadas, e quase tive um troço quando a porta se abriu. Dei um pulo para trás de susto e Pietro sorriu.

—Calma, não vou roubar nada nessa casa. –ele falou e riu.

—São que horas? –perguntei, confusa.

—11 e 15. Cheguei um pouco atrasado, me desculpe. –ele disse. –O que tem para comer? –perguntou já indo para a cozinha.

—No micro-ondas. –respondi e fui até onde ele estava.

Ele apertou nos botões e disse:

—Por que está acordada até agora?

—A mamãe ainda não chegou.

—Pra onde ela foi?

—Procurar a vovó.

Ele balançou a cabeça, entendendo. O bipe do micro-ondas me deu outro susto, e Pietro pegou o prato de lá.

Ele sentou-se em uma cadeira da mesa e eu sentei também.

—Você acha que aconteceu algo com ela? –engoli em seco.

—Não. –ele respondeu, sem hesitar. –O mesmo raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

—Eu sei. –sussurrei, ao mesmo tempo que o telefone do Pietro tocou. Ele engoliu a comida que estava dentro da boca e pegou o telefone. –É a mãe.

—Atende logo! –exclamei.

Ele clicou na tela e disse:

—Alô.

E sua face ficou totalmente sem cor.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Gente, eu queria pedir que comentassem! Acompanhem, favoritem!
E espero que tenham gostado!