Cold as Stone escrita por BloodMoon


Capítulo 6
Estou aqui


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora!



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Hold on, to me as we go

As we roll down this unfamiliar road

And although this wave is stringing us along

Just know you’re not alone

Cause I’m going to make this place your home

                                 Phillip Phillips - Home

                Eu sempre soube que tinha uma tia e uma prima, mas elas não moravam aqui, mas sim em outro país, nunca fez muita diferença na minha vida, não tinha nem um vínculo e nem me importei de saber mais, tudo que sabia era que mamãe nunca conheceu a sobrinha, ela havia brigado com a irmã antes dela ir embora, já grávida, e nunca mais tiveram contato.

                 Então Hazel apareceu, ela era a garota estranha que não se preocupou em fazer amizades, estava sempre com os fones no ouvido claramente "dizendo" que não queria falar com ninguém, como ela era novata, adoravam comentar sobre ela e eu acabava escutando uma ou outra coisa, mas nunca me importei, estava muito mais preocupada com os ensaios para a apresentação.

                Até que faltando uma semana e meia, como se um imã tivesse sido ligado, nos conhecemos, da pior maneira possível e sobrou para mim - É claro - Em menos de dois dias tive certeza absoluta de que ela era minha prima, mas a mamãe tinha que estragar tudo e agora ela nem estava olhando na minha cara.

                Três dias haviam se passado, ela ia para o ensaio, fazia tão perfeitamente que todos a invejavam, ela chegou até a dar algumas dicas para alguns colegas, no entanto o que mais surpreendeu a todos foi o fato dela saber tocar todos os instrumentos, ou seja, ela simplesmente ajudou pessoas com diferentes instrumentos. E podia-se perceber que nossa maestra estava encantadíssima com ela, acho que era o único momento que via os olhos de Hazel brilharem, ela ficava tão concentrada que parecia ser engolida pela música, era como se ela se tornasse uma parte da melodia, lembro-me de ver alguns colegas pararem de tocar apenas para observá-la.

                Ah como eu sentia falta de tocar, apenas três dias e uma parte de mim havia sido arrancada, era mais doloroso ainda estar sentada assistindo ao ensaio e ver Hazel sem falar comigo. Eu não entendia, quer dizer, não é como se tivesse sido abandonada por minha mãe e deixada com um alcoólatra, é eu definitivamente não conhecia essa sensação, mas eu queria ajudá-la, queria fazer parte da vida dela, só precisava descobrir como fazê-la me deixar entrar.

     - Hazel! Posso falar como você? - Toquei em seu ombro e percebi que ela estava com os fones, quando se virou e viu quem era, me ignorou por completo, caminhado para longe. Aumentei o passo para poder alcançá-la, consegui passar dela e parei com tudo fazendo com que ela esbarrasse em mim, ela tirou os fones e me olhou como seu eu fosso louca

       - O que você quer? Mais alguma coisa que eu não sei?

       - Não é isso. Olha eu sei tanto quanto você, tá legal!? Será que pode ao menos escutar o que tenho a dizer? - Ela revirou os olhos e cruzou os braços, esperando eu falar

      - Se demorar muito, vou desistir!

      - Desculpe-me! Não queria que fosse assim, não tinha ideia que ela ia despejar tudo assim sem mais nem menos, eu não sei como é ter uma vida toda escondida de você, não entendo pelo que você está passando, mas assim como você, até três dias atrás não conhecia minha prima, acha que não estou tão assustada quanto? Olha para muitos isso chega a ser insignificante, mas sei o quanto é importante para você e também é para mim - Percebi que as feições dela começaram a suavizar, então continuei - Você é importante para mim! Eu tenho certeza que você tinha amigas em Londres e deve ter sido bem difícil deixá-las para trás, mas se você quiser, eu estou aqui, deixe-me fazer parte da sua vida! Deixe-me conhecer você! - Ela desviou os olhos para um ponto qualquer, puxei seu rosto em minha direção obrigando-a a olhar para mim.

       - Eu só conheço você há três dias, mas já amo você do fundo do meu coração, você mal chegou e já mudou minha vida sem nem tentar. Então, por favor, me dá uma chance.

       - Não, eu não quero namorar você, olha eu não sou lésbica, você sabe disso não é? Não tenho preconceito nenhum se você é, mas eu não sou, mas se for só para ser minha amiga/prima, tudo bem para mim - Eu não aguentei e acabei caindo na gargalhada e ela me seguiu - Eu estou falando sério! - Ela fez uma cara séria, mas eu ainda estava rindo e aparentemente ela não conseguiu se segurar e voltou a rir também e me deu um abraço.

        - Obrigada por confiar em mim!

        - Está brincando?  Eu que devo agradecer! Não esperava que alguém da minha família fosse fazer algo assim por mim. As únicas pessoas que podia contar eram minhas amigas, foram elas quem me salvaram acredite, sem elas, meu presente seria bem diferente.

    Por um momento parei para pensar em suas palavras, devia ser bem difícil não ter ninguém presente, em um país diferente e sem saber se tinha algum parente vivo, com ninguém para contar. E me imaginei em seu lugar, por extinto, sentindo que ela precisava mais do que qualquer outra coisa, dei um abraço nela, bem apertado e ela retribuiu, aquela foi a melhor maneira que encontrei de mostra-la que estava aqui e tinha certeza que ela havia entendido.

******

   Eu precisava correr, a senhora Hopkins provavelmente só ficaria mais alguns minutos na sala de música e não podia deixar de falar com ela, não a menos de quatro dias do concerto, ela estava saindo da sala, corri até ela, que levou um  pequeno susto.

        - Alyssa? O que está fazendo aqui? Achei tivesse ido embora.

        - Eu sei, na verdade eu tinha, mas tive uma ideia e precisava falar com a senhora.

      - Tudo bem! Se eu puder ajudar!

                Expliquei minha ideia a ela e simplesmente amou, apesar de não ter ficado feliz por não poder contar para mais ninguém até o concerto, mas expliquei as razões e ela compreendeu.

                Agora faltava apenas mais um passo, para que tudo desse certo, só esperava  conseguir ficar de bico calado e não estragar tudo.

******

   "Preciso de ajuda"

   "Algum problema?"

   "Sim! Estou desesperada! Vêm logo para minha casa"

   "Estou indo"

        - O que aconteceu? Você se machucou? - ela estava com uma expressão preocupada, analisou-me de cima a baixo percebendo que eu estava bem. Quando entendi o que ela queria dizer acabei rindo fazendo com que ela ficasse furiosa.

      - Desculpe foi a única forma que encontrei de fazer você vir para minha casa

      - Você é louca garota? Quase me matou de preocupação, tem ideia do que eu estava fazendo antes de você me assustar? - Só então prestei atenção em seu estado, ela estava com uma blusa bem folgada, um short jeans curto e com sandálias, os cabelos um pouco desgrenhados e uma cara de quem tinha sido acordada bruscamente, oh meu Deus ela estava dormindo, o que significava que ela provavelmente queria me matar - Ela me disse alguns duas atrás que uma das coisas que ela mais odiava era ser acordada - Dei um sorriso amarelo para ela que respondeu com uma cara de fúria que daria medo até no diabo.

       - Já disse que eu quero te matar?

       - Não precisa! Sua cara diz tudo. Eu sinto muito, mas realmente preciso da sua ajuda - dei espaço para ela entrar na minha casa e segui para meu quarto com ela logo atrás de mim

      - EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ ME CHAMOU AQUI PARA ISSO!

      - Qual é Hazel, mamãe nem está em casa, preciso de alguém para me ajudar a me arrumar para a apresentação de hoje

      - E porque raios você pensou que eu seria a pessoa mais indicada para fazer algo assim? Por acaso você já me viu com algo além de lápis de olho e delineador?

         - Hã... Não! Mas eu pensei que...

        - Pensou que milagrosamente eu poderia saber me maquiar

        - Foi

  Ela suspirou de maneira pesada e me olhou atentamente, droga eu sabia o que vira a seguir.

       - Quem?

      - Quem o quê? - fiz a cara mais inocente que consegui

      - Ok, vou reformular a pergunta, como você descobriu que eu sei?

      - Sabe o que?

      - Argh! Você conheceu minhas amigas, e nem pensaram em me falar? É serio? É impressão minha ou você adora esconder coisas de mim? - parece que eu consegui estragar tudo de novo

      - Eu ia contar, só... Não agora

      - Eu ainda mato vocês! O que mais elas contaram sobre mim?

      - Nada de mais...

      - Ah é? E por que não me conta?

      - Eu...Eeee... A-a-acho melhor nós falarmos disso depois. Eu vou me atrasar

      - Não pense que nossa conversa acabou - eu me virei de costas para ela fingindo não estar ouvindo mais

      - Deixe-me ver seu vestido!

      - Está pronta! - Ela ficou me encarando por alguns segundos observando seu trabalho e me deu espaço para me olhar no espelho. Eu estava com um vestido preto, um pouco acima do joelho e de manga curta, com uma fenda de cada lado da manga, ela passou uma sombra cor de pêssego e escolheu um batom vermelho, que ficou simplesmente fantástico.

      - Está lindo! Tem algo que você não seja boa?

      - Sou péssima em história e álgebra e morro de vergonha de falar em público - Sério, literalmente começo a gaguejar- deixe-me ver... Estou esquecendo de algo

      - Esqueceu de falar que é péssima em se vestir - ela mostrou a língua mas começou a rir

      - Lembre-me de vestir algo decente antes de me assustar dizendo que o mundo está desabando

      - Com todo prazer. Certo, venha cá, agora é sua vez.

      - Minha vez?

      - Sim, só temos mais uma hora e meia até à apresentação ou você vai desse jeito para a apresentação?

     - Está brincando? Eu não vou

     - Está dizendo que não vai assistir sua querida prima participar de um dos melhores concertos que São Francisco já viu?

     - Acho que alguém está um pouco cheia de sim, aliás quem disse que eu gosto da minha prima? - Ela me lançou um sorriso irônico em forma de desafio

     - Tudo bem! Vai ser assim? - Não esperei sua resposta e me virei de costas, caminhando até meu closet, saindo poucos segundos depois com um vestido em mãos e um sorriso estampado no rosto

    - Ah não, nem pense que irei usar um vestido desses.

    - Imaginei que você iria dizer algo do tipo - Larguei o vestido em cima da cama e caminhei até o meu iPad - Engraçado, eu criei ontem uma conta no YouTube e minhas novas amigas me mandaram uns vídeos bem legais de uma banda que elas conhecem, Echoes se não estou enganada, e me disseram que eu deveria postar. - Cliquei em um vídeo que Camilla tinha me mandado e virei a tela para Hazel ver, ela arregalou os olhos observando o vídeo, e parecia estar tentando acreditar que eu realmente o tinha - Era um cover de Empire do Of monsters and man, que ela e as amigas havia produzido alguns meses atrás, e Hazel estava com os cabelos um pouco mais curtos tocando uma guitarra e parecia realmente animada, não tinha como negar, elas eram muito boas.

      - Como você... Você não faria uma coisa dessas.

      - Não mesmo? - Estava com um sorriso convencido no rosto e ela parecia estar ficando mais pálida que o normal com a ideia de ter um vídeo seu na internet - Qual é o problema? Vocês são realmente muito boas.

     - Não é esse o problema. Eu só... Esses vídeos não podem ir parar no YouTube, você não entende

     - Tudo bem, eu não vou! Eu estava apenas brincando. Só queria que você fosse para a escola comigo e as meninas me deram a ideia de fazer isso, porque já imaginavam que você provavelmente ira se negar, mas não iria postar de verdade - Ela concordou com a cabeça, seu rosto lentamente recuperando a cor normal

     - Está certo eu vou com você! Aliás, onde está sua mãe?

     - Ela vai me encontrar na escola

     - Ah! E não pense que irei com esse vestido

     - Ahhh mas você vai sim!

       - Até parece que vou me apresentar junto com vocês, de tão arrumada que estou - Ela estava com um vestido também preto e de mangas - o que deixava algumas tatuagens à mostra - porém de renda e ele era rodadinho.

      - Ótimo então toda a plateia vai se apresentar também! - Olhei para ela como se fosse óbvio e ela revirou os olhos. Assim que entramos no backstage e olhamos por uma brecha as pessoas na plateia, Hazel entendeu o que eu quis dizer

      - Ok, então... Eu vou me sentar. Boa sorte!

      - Ehh, obrigada. - Comecei instintivamente a olhar em volta do local atrás da senhora Hopkins, mas ela não estava em qualquer lugar. Onde ela havia se metido? Hazel começou a se afastar, quando finalmente senhora Hopkins surgiu do nada e correu até ela e eu claro a segui

      - HAZEL - Ela olhou assustada para trás e quando viu quem a chamava parou onde estava. Por sorte cheguei bem no momento em que Hopkins começou a falar com ela

     - Há um violino a mais no palco e preciso de alguém para tocar, não seria muito interessante ter um violino vago no palco. Então eu pensei que você poderia querer tocar-lo, afinal você sabe a música de olhos fechados, o que você me diz? - Ela olhou para nossa maestra com um misto de surpresa e perplexidade, seus olhos brilhavam mais do que nunca, ela percebeu a minha presença e olhou para mim com dúvida nos olhos e sorri para ela, fazendo um gesto de concordância com a cabeça.

                 Percebi que era tudo que ela mais queria, mas ela simplesmente não conseguia dizer nada, como se algo a impedisse de dar mais um passo em direção ao que ela realmente queria fazer.

       - Eu... Hã...É e-eu a-aceito!


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