"Mas eu ainda acordo, eu ainda vejo seu fantasma
Oh, Senhor, eu ainda não estou certo do que eu represento, oh
O que eu represento? O que eu represento?
Na maioria das noites, eu não sei de mais nada"

Some nights - Fun

- Você o conhece? - Não pude segurar minha curiosidade e acabei perguntando para Alyssa sobre o homem que acabara de me cumprimentar e que pareceu ser muito íntimo dela pela forma que a tratou assim que a viu.
- Sim, na verdade ele é o pai do meu amigo, que aliás era de onde eu estava voltado quando alguém se querer me machucou
- Ah...
- Então, mamãe me pediu para que levasse você em nossa casa hoje antes de deixá-la na sua, ela disse que precisava muito conversar com você sobre hoje mais cedo
- O quê? Não precisa, eu não me importo com o que aconteceu, ela estava fazendo apenas o papel dela. - Acabei fazendo uma pequena careta quanto a última frase porém logo me recompus, a quem eu queria enganar? Eu me importava sim, a cena ainda martelava em minha cabeça e essa era a oportunidade perfeita para descobrir, porém não sabia se realmente queria saber a verdade.
- Por favor! Se não aceitar ela vai continuar insistindo e alguma hora você vai ter que ceder, ela sabe ser bem insistente quando quer
- Tudo bem! Dei-me como rendida e entrei no carro não muito feliz com o que poderia estar por vir.

*******
- Mãe? Chegamos!
- Já estou indo!
Era a segunda vez que entrava na casa de Alyssa, mas ao contrário da primeira vez eu observei melhor o que estava à minha frente, os detalhes minimalista da sala, claro era uma garota de boas condições e cada pedaço de sua casa comprovava exatamente isso, fiquei imaginando quanto deveria ter custado algumas peças que decoravam a sala, que apesar de serem pequenos pareciam ostentar um luxo que só existiria em meus sonhos.
Em pouco tempo a senhora... Espera como é mesmo o nome dela? Acho que não perguntei. Enfim, a mãe de Alyssa logo apareceu em nossa frente e parecia um pouco nervosa.
- Olá Hazel!

Dei um leve aceno com a cabeça e um sorriso discreto em sua direção e ela apontou o sofá para nos sentarmos.
- Eu realmente sinto muito por hoje. Eu exagerei, tenho certeza que não era necessário fazer todo aquele escândalo.
- Como eu disse para a Aly, não tem problema algum, você estava apenas agindo como uma mãe, não é isso que as mães fazem? Protegem seus filhos? - Pelo menos na maioria dos casos, acrescentei em minha mente.
- Eu fico feliz em saber que não está com raiva quanto a isso, mas não é bem sobre isso que gostaria de conversar
- Certo... E o que é? - Disse um pouco receosa.
Ela respirou fundo e passou alguns segundos me encarando, que mais pareceram horas, eu pude perceber em seus olhos que ela não tinha certeza se deveria falar, o que quer que ela tivesse que contar, mas enfim pareceu achar a resposta.
- Você sabe me dizer se tem algum parente além de seus pais?
- Não! - Respondi curta e grossa - Nos mudamos a muito tempo para a Inglaterra, meus pais nunca me falaram muito sobre o passado e eu não posso dizer que tínhamos uma boa relação, pais e filha, além do mais, meu pai nunca estava são o suficiente para conversarmos e minha "querida mãe" foi embora tão cedo que nem me lembro mais dela - Eu nem sabia o porque de estar revelando tudo aquilo para uma mulher desconhecida, mas a raiva que vinha sentindo a tanto tempo parecia implorar para sair. A mulher à minha frente não parecia nem um pouco chocada, como se essa fosse uma história já conhecida - Mas porque você quer saber? - E foi ai que as coisas começaram a ficar ruins...
- Eu sou sua tia! Por parte de mãe - Ela simplesmente cuspiu as palavras em minha direção, deixando que eu recebesse aquele baque. Parecia que já não existia chão sobre os meus pés, como se não houvesse nada em que me segurar e eu fiquei ali parada sem conseguir me mexer, meus músculos não obedeciam aos comandos de meu cérebro eu fiquei observando-a, procurando por semelhanças, algo que me lembrasse dela (minha mãe), mas já fazia tanto tempo que não a via que era um trabalho impossível, aquela era apenas mais uma das milhares de partes que eu não sabia sobre minha vida. Alternei meu olhar entre ela e Alyssa e percebi que Alyssa também já sabia, ela tinha um olhar preocupado, provavelmente esperando minha reação assim como sua mãe, imaginei o que mais elas poderiam saber sobre mim, respirei fundo tentando manter a calma e não tremer e me dirigi à Alyssa
- Pode me levar para casa? - Disse controlando meu tom de voz e ela assentiu com a cabeça - Com licença senhora...
- Anna - Ela me lançou um olhar preocupado e abriu a boca para falar algo mais, mas desistiu a fechando logo em seguida.
Abri a porta e me retirei, esperando Alyssa do lado de fora que não demorou muito para se juntar à mim.
Fizemos o percurso de mais ou menos 10 minutos em total silêncio e eu estava estava bem feliz por não ter que abrir a boca, mas ainda precisava saber de uma última coisa e quando finalmente paramos em frente à casa de Elena, reuni todas as minha forças e perguntei.
- Você sabia?
- Mais ou menos...
- Sim ou não?
- No início não, mas quando mamãe reagiu daquela maneira na escola quando tirei minhas próprias conclusões
- Certo... Até amanhã Aly!

Abri a porta da casa e me deparei com Elena me esperando
- Você não tem algo para me contar Hazel? Como por exemplo o que aconteceu ontem?
- Eu? Não! Mas acho que você tem. Como por exemplo, você sabia que eu tenho uma tia? Ou uma prima? - Ela me olhou com espanto e pareceu sair do ar por alguns segundos
- Como você... Quem... Como...
- Vamos lá Elena, o que mais eu não sei? Sabe eu simplesmente estou cansada de saber que todo mundo sabe mais sobre mim, do que eu mesma. Por que você não tenta pelo menos UMA VEZ me dizer a verdade?
- Ainda não é a hora
- E QUANDO ESSA HORA VAI CHEGAR? FAZEM MAIS DE 10 ANOS QUE ELA SIMPLESMENTE SUMIU NO MUNDO E ME DEIXOU SOZINHA, ACHO QUE JÁ ESTÁ MAIS DO QUE NA HORA DE ALGUÉM ME EXPLICAR ALGUMA COISA. -
Eu subi as escadas correndo e bati a porta do quarto com tanta força que até eu mesma levei um pequeno susto, Elena já estava na porta batendo e chamando pelo meu nome, peguei meus fones e botei a primeira música que vi e deixei no modo aleatório, joguei - me na cama e só então as lágrimas vieram e assim eu adormeci, eu não sei em que momento específico mas em algum momento as lágrimas parecem ter se esgotado dando lugar ao sono.