Odisseia do Zodíaco escrita por SEPTACORE


Capítulo 2
Guiados




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Em vários lugares diferentes, pessoas faziam-se as mesmas perguntas. Não eram pessoas comuns e ainda assim possuíam diferenças entre si, sempre mantendo algo que as conectava: uma montanha.

Todos passaram pela mesma estrada, fizeram a mesma trilha e andaram sobre a mesma grama, guiados por alguém relacionado a Terra. No fim, consequentemente, chegaram ao mesmo destino.

— Uma parede! – exclama Daniela, uma garota bonita de cabelos longos e escuros. – Andamos tudo isso por uma parede!

Junto com duas outras meninas que haviam se conhecido pelo destino, Daniela se encontrava perto do topo de uma enorme montanha, chamado Pico do Cristal. Através de uma trilha de listras verdes que apenas ela via no chão, conduziu Triza e Giuliana até aquele local coberto por limo, onde a última listra fora vista.

— De longe, tinha visto esse paredão – diz Giu, que era um pouco mais baixa que Daniela e loira. - Deve ter algo por aqui.

— Vamos manter a calma, sabemos que isso é um sinal – diz Triza, tão baixa quanto Giu. – Vamos ficar aqui e esperar algo acontecer.

Giuliana e ela sentaram-se para observar a paisagem: estavam a centenas de metros acima do chão plano, mas isso não as incomodava. O céu, tão claro e azul como nunca tinham visto. As nuvens estavam na altura delas, por isso viam os bondes de pássaros que migravam para o sul.

Daniela, porém, não conseguia relaxar, mesmo em uma vista dessas. Desacreditada, começa a passar a palma das mãos sobre a pedra, na esperança de algo acontecer e, para sua surpresa, algo advém.

— Ai, meu Deus! – diz ela, quando a marca em sua mão, que era um círculo com dois chifres, começa a brilhar. – VEJAM ISSO.

Uma parte da parede afunda formando uma porta circular, que se abre rapidamente, revelando um túnel.

— Será que devemos entrar? – pergunta Giu.

Uma tocha se acende de cada lado da parede do túnel, iluminando o caminho.

— Isso responde sua pergunta? – diz Triza.

Sem pensar duas vezes, o trio seguiu em frente, adentrando cada vez mais o túnel. Na medida em que andavam, mais tochas se acendiam, enquanto as de trás se apagavam. Sem fazer barulho, a passagem por onde haviam entrado fora fechada. Agora, não tinham escolha a não ser continuar em frente.

— E se isso for uma armadilha? – pergunta Giuliana, de repente. – E se estivermos indo para um ritual satânico?

— Vou amar – ri Daniela, que adorava fazer-se do estilo gótico. – Mas acho que estamos de boa.

Após andarem por minutos em um túnel que parecia não ter fim, de repente, encontram uma parede sólida e curvada. A jornada acabava ali.

— Eu não acredito – diz Daniela, cruzando os braços. – Que tipo de brincadeira é essa?

Giuliana se aproxima da parede e toca a palma de sua mão, marcada por uma flecha. A parede se abre da mesma maneira que a anterior, revelando um lugar aberto.

— Aleluia! – exclama Triza, saindo rapidamente do túnel. – Já estava ficando claustrofóbica.

Ao saírem do túnel, encontra-se em um enorme jardim, quadrado e aberto. Poderia ser uma paisagem qualquer, porém, além do formato do jardim ser perfeito, havia flores, poucos chafarizes e uma placa.

— “Seja bem-vindo ao Pico do Cristal!” – Lê Daniela, em voz alta. – Tá, mas, e agora?

— Acho que precisamos seguir por ali. – Giuliana aponta para uma passagem, localizado na outra parede, com uma placa de estacionamento escrita “entrada”.

As garotas atravessam a passagem rapidamente, chegando até uma pequena sala de recepção, que lembrava à Triza um hotel em que tinha se hospedado. Três bancos estavam posicionados perto da parede, na qual Daniela não hesitou em sentar por alguns minutos. Enquanto isso, Giuliana analisava a mesa em sua frente: havia uma jarra de água e algumas frutas. Entendia o suficiente de química para saber que aquilo era água.

— O que está fazendo? – pergunta Daniela, ao ver a amiga servindo-se em um pequeno copo.

— Não tem cheiro, nem cor, nem gosto – responde ela, virando o copo de uma só vez. – É potável.

Triza resolve fazer o mesmo, depois Daniela. No fim, acabaram até roubando uma laranja, que se encontrava tentadora. Estavam aproveitando o momento para descansar, pois teriam uma montanha inteira para explorar. Não se preocupavam com quem estivesse habitando aquele local, por isso, foram pegas de surpresas quando um ser apareceu.

— Bom dia! – A voz as fez pularem para trás. – Sejam bem-vindas!

Uma porta havia sido aberta e um garoto saíra das sombras. Por sua altura enorme, a primeira impressão que três baixinhas tiveram foi de medo, porém, quando a luz do dia iluminou seu rosto, viram que o sujeito parecia uma pessoa simpática e doce.

— Me chamo Americo – diz o rapaz, apertando a mão de Triza e a abraçando. Depois, fez isso com Dani, até que seus olhos encontraram Giu. – Espere, eu já não te conheço?

— Acho que não – responde Giu, tímida. – Pelo menos, nunca te vi na minha vida.

— Ah, ok. Deve ser um dejavu.

— Desculpa, mas quem é você? – pergunta Triza, arqueando as sobrancelhas.

— Americo, ué! Eu já respondi.

— Quis dizer o que você está fazendo aqui.

Americo serve-se de uma uva, depois, responde:

— Estou aqui para guiá-las através desses túneis, estive observando-as desde que chegaram aqui... – E, ao ver as garotas se entreolhando, Americo rapidamente levanta a palma da mão, revelando uma marca igual à de Giuliana. – Relaxem, sou como vocês!

Giuliana levanta a palma de sua mão, produzindo um sorriso no rosto de Americo.

— Você também é de Sagitário! – diz Americo. – Vai ficar no mesmo lugar que eu.

— Lugar? – Daniela termina de comer sua laranja. – Como assim? Não estou entendendo nada.

— Vocês já vão entender. – O garoto passa pela porta novamente. – Venham comigo.

Enquanto andavam pelos túneis, Americo fazia perguntas sobre eles, do tipo “qual sua cor favorita?” ou “o que mais gosta de comer?” – o que fez com que se perdessem, chegando a becos sem saída.

— Me perdi aqui, desculpem! – diz ele, esgotando a paciência das meninas. – Vamos tentar novamente.

— Consegue ser pior do que eu – comenta Giu, para as meninas, gerando risadas baixas.

Por fim, viraram em outro túnel, e seguiram em linha reta, até que viram uma luz bem forte sendo projetada.

— Aleluia, irmãos! – diz Americo, apertando o passo. – Chegamos.

Ao atravessarem a passagem, as garotas viram um cenário de tirar o fôlego. Era uma enorme caverna, com um terreno plano e um teto que projetava crateras, espetos e uma série de formas. No centro, havia um enorme palco circular, projetando-se para fora do chão, iluminado pela luz do sol através de um buraco. Nas paredes, milhares de pedras preciosas refletiam a luz – e algumas, até emitiam luz própria. Dezenas de pessoas andavam para lá e para cá, saindo e entrando em túneis, ou simplesmente conversando. Algumas seguravam ferramentas, pranchetas e até armas. No fim, não podiam esquecer de notar uma enorme cachoeira, localizada na outra extremidade do local.

— Sem comentários para esse lugar – diz Triza, que precisou tocar na parede para ver se os cristais eram de verdade. – O que é isso, afinal?

— Isso é um refúgio – explica Americo, aproximando-se delas. – Construído para abrigar pessoas como nós, para nos entendermos. Ainda não descobrimos o propósito, mas todos aqui possuem uma marca em sua mão, representando seu signo do zodíaco. Outra coisa em comum é a maneira como somos atraídos.

— Através de listras – comenta Daniela, que guiara as amigas até ali seguindo um mapa imaginário que apenas ela via.

— Ou então vendo imagens projetadas no fogo – diz Americo. – Vi essa montanha em um fogão e fiquei observando. Isso me rendeu um arroz carbonizado.

— Você é bem desastrado, né? – Triza pergunta.

— Às vezes. Mas, chega de falar do passado. – O garoto começa a andar na direção da cachoeira. – Sigam-me.

Interessadas em ver mais de perto, as garotas seguiram Americo, que não saia de vista. No caminho, algumas pessoas acenaram e deram “bom dia”, enquanto outras poucas apenas olharam sem expressão – ou até mesmo com desgosto. Quando chegaram perto da cachoeira, puderam ver que sua beleza só aumentou conforme foram se aproximando. Pararam em cima de uma espécie de laje, que se projetava para fora de um pequeno penhasco, por onde a água corria abaixo.

— Aqui é a copa – explica ele, aproximando-se de um conjunto de mesas bem iluminadas. – É aqui que almoçamos, jantamos e lanchamos.

— E de onde vem a comida? – pergunta Daniela, interessada.

— Da cozinha.

— Sério? – ela ironiza. – E onde fica a cozinha?

— Atrás daquela porta – diz Americo, depois, vira-se para a cachoeira. – Não tem muito que ver aqui, além de um monte de água descendo. Vamos, ainda há muito a ser mostrado.

Enquanto Americo levava Giuliana, Triza e Daniela através das passagens, outros veteranos do local faziam o mesmo com outros grupos de recém-chegados. Um exemplo disso foi Elli, uma garota baixa, de cabelos encaracolados, que possuía ondas, simbolizando o signo de Aquário, na mão e conduzia Eduardo e Rafaela por um túnel largo.

— Aonde estamos indo? – pergunta Eduardo, um garoto mediano de olhos castanhos, que tinha duas ondas em sua mão, simbolizando Aquário.

— Já irão ver – responde Elli, descendo os últimos degraus. – É um dos meus lugares favoritos. – Os três chegaram até um pequeno corredor, com algumas velas e almofadas. Ao lado, uma passagem revelava outro local, aonde Elli os levou.

— Esse é o Cafofo – diz ela, quando entram em uma pequena caverna aconchegante, cheia de almofadas, velas e até uma pequena cascata, que formava um lago com alguns peixes. – Quando vocês quiserem relaxar, dormir ou pegar alguém, esse é um ótimo lugar.

— Posso ficar aqui eternamente? – pergunta Rafaela, que era maior que Eduardo e de longos cabelos avermelhados. Em sua mão, o número 6 e o 9 se encaixavam, representando Câncer.

— Ainda existem lugares melhores – comenta Elli. Após alguns minutos, Rafaela finalmente fora convencida a continuar a “tour”.

***

Os veteranos mais experientes guiavam os recém-chegados pelo local, mostrando e explicando sobre cada área do Pico do Cristal. Enquanto isso, o restante do pessoal continuava suas atividades normalmente.

Pelas estradas abandonadas da montanha, três pessoas apostavam corrida de quadriciclo. Não era uma atividade para qualquer pessoa, pois exigia bastante força e resistência – coisa que Jovana e Maiara tinham de sobra, por serem leoninas, e quase não sentiam câimbra nas coxas. Felipe, por outro lado, não aguentava mais ficar naquela mesma posição, sem falar na sua sede e falta de ar constante. Não era tão resistente quanto suas amigas, porém, por ser de Capricórnio, dirigia melhor do que elas, mesmo sendo sua primeira vez.

Estavam fazendo a última curva quando o quadriciclo de Maia virou. Felipe e Jovana continuaram, com o garoto chegando à garagem primeiro.

— GANHEI! – comemora ele, saindo do veículo de pernas bambas, quase caindo.

Jovana pulou com bastante energia e desceu para ajudar Maiara, porém a mesma já retornava, com um leve arranhão no joelho.

— Você está bem? – pergunta Jô.

— Sim, por que não estaria? – responde Maia.

— Olhe seu joelho – diz Fê, tomando toda a água do seu cantil.

— Nem percebi que estava sangrando. – Maia guarda sua moto. – Depois dou uma passada na toca da Terra e peço para algum virginiano curar isso.

Nesse momento, Luisa aparece na garagem, ofegante.

— Americo pediu para chamar vocês – diz ela, quando seus olhos pousam no joelho de Maia. – Quer que eu...?

— Por favor.

Luisa se aproxima da garota, que se senta em um banco de concreto, e tira um pano de seu bolso. Depois, fecha bem os seus olhos enquanto passa o pano sobre a ferida, enviando pensamentos positivos.

Após alguns segundos, a ferida torna-se apenas uma cicatriz com vestígios de sangue em volta.

— Obrigada! – diz Maia.

Felipe fecha o portão da garagem após o último quadriciclo ser guardado.

— Para que Americo nos chama? – pergunta ele.

— Amara retornou – diz Luisa.


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