Odisseia do Zodíaco escrita por SEPTACORE


Capítulo 1
Marcados




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De acordo com algumas pessoas, a primeira vez que respiramos é o momento mais definitivo das nossas vidas. É nele que determinamos todo o nosso característico. Cada decisão que tomamos passa a ter um significado – e é isso que temos que impor.

Nesse exato momento, algumas vidas passam a ter um significado em comum através das estrelas que formam os signos do zodíaco. Cada ser humano possui um, não sendo o único em nenhum dos casos.

Até certo tempo atrás, nenhum significado isso tinha. Mas as pessoas mal sabem o que lhes aguardam a partir de agora.

***

O dia era especial, assim como o lustre no centro do salão com velas aromatizantes e detalhes em lilás. Para Clara, aquele dia estaria marcado em sua vida para sempre. Estava quase tudo pronto, à esquerda, era capaz de se ver muitos quadros com fotos atuais e antigas de Clara, juntamente com uma enorme mesa com todos os tipos de doces que a sua mãe havia encontrado em Ilhéus. Logo ao lado havia o bar, onde todos poderiam criar drinks e batidas diferentes e usufruir os mesmos.

Clara estava nervosa, naquela noite, ela trocaria de vestido três vezes e dançaria com mais de sete pessoas de sua família.

– Você esperou tanto por esse dia - Vittoria, que tentava acalmar a amiga, começou a falar. - Não vai amarelar agora, né?

– Eu estou com medo de dar algo errado - fala Clara, comendo as unhas.

– Não vai dar nada errado! Você está parecendo aquelas garotas patricinhas e mimadas falando desse jeito, nem parece a gótica que há em você.

– Aguarde, Srta. Vittoria! Você não sabe o que a espera, porque até vestido preto tem.

O tão esperado momento chegara. As luzes finalmente se acenderam, as estrelas já começaram a tomar conta do céu e os carros começaram a chegar. Todos tomaram suas mesas, animados para a chegada da aniversariante, que estava mais bonita do que nunca com um vestido com pérolas pretas.

"Wrecking Ball" começara a tocar, e lá de cima, viera a debutante, sendo carregada por duas cordas suspensas ao ar, descendo até o chão.

Antes de aterrissar no chão, foi pega pelo príncipe e "Thinking of Loud" começou a tocar, e os dois começaram a dançar com Clara suspensa ao ar.

Assim que a dança terminou, todos começaram a se servir do banquete e logo a pista de dança se abriu.

– Obrigada por seu meu príncipe gay - fala Clara para Tonioli, que sorria e dançava ao som de "How Deep is Your Love".

– Foi um prazer - ele diz, sorrindo.

– Vamos cantar os parabéns - uma voz anunciou, horas depois. Clara se posicionou ao meio da mesa enquanto era rodeada por muita gente, e Tonioli, juntamente com Vittoria, estava na frente da mesa, sorrindo para ela.

– Preparada, filha? - Sua mãe fala com o fósforo em mãos para acender a grande vela.

– Mais do que nunca.

Então ela ligou a vela, que soltava faíscas acima de um metro. Os parabéns começaram e Clara sorria e encarava a vela e seus amigos. Mas algo estranho aconteceu para os três amigos ali presentes. O fogo se ampliou, liberando imagens que nenhuma pessoa em sua sã consciência conseguiria ver. Vittoria via números, em exatidão, ela enxergava coordenadas, sua visão estava cada vez mais turva, como se estivesse prestes a desmaiar; Tonioli viu uma enorme montanha, que estava cada vez mais perto dele, como se ele estivesse lá e ao mesmo tempo não e Clara viu um nome, não só o viu, mas também o ouviu. Uma voz que ficaria marcada pra sempre na sua cabeça, a voz de um garoto, que dizia: "Pico do Cristal", diversas vezes seguidas.

Não fora fácil ver aquilo tudo em um simples fogo, e Clara não foi como Vittoria, que sua visão só ficou turva, ela não suportou e acabou desmaiando, trazendo o desespero de todos ali presentes. Foi uma correria só, até que Clara acordou, para a alegria de todos, se lembrando de tudo que havia acontecido.

– Está tudo bem - ela fala. - Minha pressão só caiu, mas eu estou bem.

Ela sorri e todos voltam a se animar e curtir a festa, mas mal perceberam eles que agora tinham na palma de suas mãos um símbolo diferente. Clara e João traziam um círculo com uma linha curva e Vittoria trazia algo que parecia ser uma flecha.

***

Enquanto seus amigos conversavam no andar superior de um pequeno Hostel, Netto brincava com um avião de papel no jardim, fazendo-o voar sem parar.

– Eles estão vindo – diz Jhordan, no andar de cima, saindo do batente da janela onde estava apoiado e se direcionando para sua mochila. Por ser um cara alto, não conseguia se apoiar no batente por muito tempo sem causar dores nas costas.

– E como você vê, viado? – pergunta Augusto, que, ao contrário de Jhordan, era um pouco baixo. Levantando-se da sua poltrona confortável, começa a recolher suas coisas.

– Não sei como vocês não conseguem ver. É muito claro!

Há dias, Jhordan e Augusto se encontraram pela primeira vez, em um bar, no meio da Lapa. Ambos se passavam por viajantes, porém, na verdade, compartilhavam duas coisas em comum. A primeira era que não eram apenas viajantes, e sim fugitivos de algo que não sabiam o que era, mas que os assusta muito. E a segunda é simplesmente uma marca na palma da mão, que simboliza seus respectivos signos.

O estranho é que essa marca surgiu de repente, e não era uma tatuagem. Era algo surreal, sem explicação. Por partilharem dessas características, ambos fogem juntos dessa coisa “sem significado”, que é nada mais que a sombra de um homem com uma cobra.

– Não me digam que aconteceu novamente... – Netto surge, acabando de subir a escada. Era incrível a maneira como conseguia ter passos silenciosos, como se nem tocasse o chão.

– Sim, precisamos sair logo! – Jhordan, como possuía poucos pertences, já estava pronto. – Vou ligar o carro.

Poucos dias depois de Jhordan e Augusto se encontrarem, por coincidência, acabaram encontrando Netto também, em outro bar. Porém, diferente dos dois, Netto tinha o objetivo de chegar a um lugar na qual fora convidado através de um sonho.

No seu sonho, Netto vira uma montanha enorme com um céu roxo, cheio de constelações, e dentre elas, uma se destacava, formando uma seta que apontava para o pico. Após algumas semanas, enquanto passavam por um incêndio, Jhordan viu essa mesma imagem sendo produzida nas enormes chamas.

Augusto acabara de descer as escadas quando Netto pula da janela, caindo como uma pena, na sua frente.

– Quer me matar, me dá um tiro – diz Augusto, pulando para trás –, mas não me assusta assim.

– Desculpa – responde Netto, colocando sua mochila e a de Augusto no porta-malas.

– Guut, vem me ajudar! – Jhordan grita, sentado no banco de motorista. Com apenas um olhar e um “sai fora”, Jhordan pula para o banco de carona, deixando Augusto assumir o volante.

– Você é um inútil mesmo, sabe nem ligar o carro – diz o garoto, ligando o carro apenas colocando as mãos no veículo.

– Mas você não tem idade para dirigir.

– Não importa, preciso viver até ser rico.

Augusto precisa esticar seu pé, mas consegue alcançar o acelerador. Por mais que fosse a primeira vez que tenha dirigido, conseguiu sair sem dificuldade do pequeno Hostel em que estavam. Seguiram pela Avenida Brasil, que por um milagre não tinha trânsito parado. No retrovisor, Jhordan não via nenhum sinal da sombra. Estavam seguros.

– Até que enfim, um pouco de paz – diz ele, abrindo a janela para tomar um pouco de ar. – Deixe que eu assumo, Augusto.

– Só um minuto – diz ele, concentrado. – Acho que eu estou vendo uma coisa...

Com as mãos firmes no volante e os olhos vidrados no asfalto, Augusto observava uma série de setas verdes surgindo em sua frente. No mesmo instante, percebeu que deveria segui-las, pois aquilo lhe lembrava muito um mapa.

– Vamos seguir essas setinhas – diz Augusto.

– Que setinhas? – pergunta Netto.

– As que estão no meio do asfalto.

O garoto para o carro no encostamento para trocar de lugar com Jhordan.

– Vocês receberam um sinal há alguns dias, certo? – diz ele, enquanto se acomodava no banco de carona. As setas continuavam nítidas na frente do carro. – Agora é minha vez de brilhar. Jhordan, siga em linha reta!

***

O mar era o seu refúgio. A água se conectava a ele de forma única. André vivia no litoral desde criança e toda a tarde ia para a praia por as ideias no lugar, desestressar. Olhava para o grande oceano à sua frente, minimizado pelo pequeno balneário que banhava sua cidade, quando foi distraído por um tapa amigável em suas costas de uma mão conhecida.

– Vai ficar aí, olhando? - disse Jay, sua grande amiga, que dividia com ele essa experiência única de todos os dias. Ela correu para o mar sem esperar respostas. O corpo esguio e a silhueta por dentro do biquíni adentrava na água por sobre as ondas. André despiu sua camisa, jogou-a na areia e correu para onde Jay o esperava. A água gelada já não os incomodava há tempos.

Um mergulho nas águas calmas e límpidas era o suficiente para os dois esquecerem todos os problemas. André nadava até o fundo e voltava. Encontrou Jay mergulhando ao seu lado e sorrindo para ele. Virou-se novamente para o imenso oceano e, moldada na água azul diante de seus olhos, a misteriosa montanha apareceu. O sorriso que antes havia se formado em seu rosto em resposta a Jay desapareceu e deu lugar a uma carantonha surpresa e indignada. Uma dor lancinante na palma de sua mão esquerda o incomodou, sentiu sua pele ser rasgada. Agitou-se no mar e sentiu-se tonto. Quis gritar, mas não tinha voz e, debaixo d'água, ninguém o ouviria, nem mesmo Jay. Antes de desmaiar, sentiu seu corpo ser içado à superfície.

Quando André abriu os olhos, um flash de várias imagens surgiu em sua mente. Ergueu-se do colo de Jay, que o olhava espantada.

– Você viu, não viu?

– Do que tá falando, Jaimara?

– A montanha, eu sei que você a viu. Eu a vi, também. De novo.

– Como assim "de novo"?

– Ela apareceu pra mim, quando quase morri afogada, há 3 anos. - Ela esticou o braço esquerdo para mostrar-lhe a palma da mão. - Quando ganhei isso.

Ele viu o símbolo na mão dela. Um 6 e um 9 na horizontal um de frente para o outro. O símbolo de Câncer. Sentindo sua mão formigar, ele olhou para a marca em sua palma esquerda. Dois arcos cortados por uma única linha. O símbolo do signo de Peixes.

***

Por uma estrada longe de toda a civilização, dois adolescentes andavam desgovernados. Um deles era Gorran, um garoto de estatura mediana e de pele parda, a outra era Vanessa, uma garota alta e loira dos olhos azuis. Nenhum deles tem seu significado ligado a terra, por isso, não são concretos ao ponto de planejar. Ambos pulam de cabeça em qualquer aventura – e isso trouxe um preço caro.

– Eu estou começando a ficar cansado – Gorran resmunga, ao ver o que ainda tinha pela frente. – Você me arrastou pra esse meio do nada.

– Relaxa, daqui a pouco vamos voltar – diz Vanessa, cujos olhos intimidavam qualquer pessoa.

Porém, por Gorran ser seu melhor amigo, não sofria deste efeito. Ainda mais porque ele tinha controle absoluto sobre si – e sobre os outros.

– Você não vai querer correr até aquela montanha, vai? – pergunta ele, enquanto a amiga começa a dar passos apressados. – E seu cadarço está desamarrado, vai acabar tropeçando!

– Não fale em...

Vanessa mal pôde completar a frase antes de sair rolando, cheia de areia e pedras, causando um pequeno arranhão no joelho.

– Pra que você foi falar? Era só ficar quieto.

– Desculpa. – Gorran se aproxima, ajudando a amiga a se levantar. – Mas também, você é desastrada.

A garota ignora o comentário, amarrando o cadarço e concentrando-se na montanha que fechava o horizonte. Tinha certeza de que era ali, em algum lugar. Viu isso claramente em um poço, onde tinham pegado água, há algumas semanas atrás

– Está começando a escurecer – diz Gorran. – Podemos fazer uma fogueira e dormir.

– É, pode ser. – A garota joga água para limpar o sangue. – Mas vamos acordar bem cedo amanhã.

– Tudo bem.

Gorran costumava ser um cara prático, por isso, não demorou muito para montar o acampamento, que se resumia em dois colchonetes e uma pequena fogueira. Não sabia explicar o porquê, mas tinha certa facilidade com fogo.

– Nossa, mas já? – Vanessa se espanta ao ver o fogo acender.

– Tá tranquilo, tá favorável.

O céu passa por uma transformação rápida. Do azul ao laranja, que vai para o violeta, até assumir o azul escuro e denso. Além da luz da fogueira e da lua, ambos eram iluminados pela luz das estrelas – que era uma luz muito forte, por sinal.

Enquanto Vanessa dormia, Gorran observava atentamente a fogueira. As chamas pararam de dançar e estavam mais “calmas”. De repente, foi capaz de distinguir uma imagem sendo projetada no meio das chamas – era uma montanha, com um céu coberto de estrelas. Poderia ser um espelho, pois mostrava o lugar em que estavam, mas não havia nada na fogueira além de lenha.

De repente, a garota acorda, com o cabelo mais bagunçado do que já é.

– Você está sentindo isso? – pergunta Vanessa, quando a palma da sua mão começa a formigar.

– Sim – diz Gorran, abrindo a mão e exibindo um pequeno círculo com uma onda para o lado esquerdo. – Está coçando.

– Deve ser um sinal.

Nesse momento, uma luz muito forte, de cor roxa, começa a iluminar o céu. Os brilhos de algumas estrelas começam a ficar bem fortes, chegando a formar uma linha. Depois, outra linha, e mais outra, até que formam o desenho perfeito de uma flecha.

– Que caralhos é esse? – pergunta Gorran.

– É uma seta, e aponta para AS MONTANHAS! – Vanessa começa a subir o tom de voz. – EU DISSE! TEM ALGUMA COISA LÁ, VAMOS! – Vanessa se levanta e começa a correr na direção da montanha. Gorran nada poderia fazer, senão segui-la.

***

Ela estava lá, imponente. Com um céu púrpuro e estrelado envolvendo-a. Magnífica, misteriosa, transcendente. Ana parecia observá-la de longe, apesar de tentar correr em sua direção sem nem sair do lugar. A montanha, de superfície lisa e moldes arredondados, era iluminada pela luz negra vinda do céu. Um enorme raio saiu das poucas nuvens que a cobriam e incidiu sobre seu pico. Uma enorme seta surgiu no ar apontando para o centro da montanha. Com o raio, Ana se agitou e acordou. Foi a primeira vez que havia sonhado com a montanha que faria parte de suas noites a partir de agora.

O relógio marcava as primeiras horas de uma madrugada fria do dia 6 de outubro. Acabara de completar 15 anos. Em sua mão, traços rústicos de um símbolo - um ômega com uma linha subscrita - surgiram como uma marca que se perpetuaria pelos próximos anos, simbolizando sua eterna conexão com aquela montanha.

– Você sabe como ela é. Já viu no seu sonho – exclamou Letícia, uma garota alta de cabelos ruivos, bem no momento em que Ana se recordava do dia em que “tudo isso” começou.

– E quem me garante que as setas que você viu vão nos levar até ela? – retrucou Ana para Letícia.

– Não é coincidência demais? – Letícia esticou a palma da mão mostrando a marca que aparecera nas mãos. Gabriela, amiga de Ana e Letícia, não falava uma palavra sequer, mas também se pôs a observar os traços em suas mãos de uma estranha flecha. – Gabriela também viu. Nós vemos as indicações no chão quando mais ninguém vê. Você vê nos seus sonhos. Tudo se encaixa.

– Não sabemos o que tem lá – respondeu Ana.

– E se a montanha quisesse que a gente descobrisse?

Gabriela olhava de Letícia para Ana, não sabendo se concordava com Letícia ou se achava que tudo era uma loucura.

***

– Temos as coordenadas e o nome do lugar. Eles estão nos chamando. – A festa não havia acabado quando Clara reuniu Toni e Vittoria em um cômodo separado e contou o que tinha visto, se arrepiando ao ouvir as versões dos seus amigos da mesma experiência insana que acabaram de vivenciar.

– Mas quem são eles? – perguntou Vittoria.

– E o que querem de nós? – completou Toni.

– Só há um jeito de descobrir – respondeu Clara.

***

– Temos que encontrar essa montanha! – Jay exclamou para André, que voltou a se deitar em seu colo. Sua voz abafada pela brisa do mar chegou baixa aos ouvidos do garoto. De um salto, André de levantou.

– Se isso vai nos trazer respostas, vamos atrás dela.

– Mas como vamos achá-la?

Olhando para o horizonte do oceano, que sempre lhe ajudava a pensar, André respondeu:

– Deve haver outros como nós, não estamos sozinhos. Já temos por onde começar.

***

De diferentes lugares, as marcas de Jay, André, Clara, Toni, Vittoria, Letícia, Gabriela e Ana pulsavam em suas mãos. Guiados por visões e instintos sobrenaturais, eles estavam dispostos a encarar o desconhecido em busca de respostas para aquilo que os une. O Pico do Cristal.


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