Odisseia do Zodíaco escrita por SEPTACORE


Capítulo 3
Iniciados




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Uma enorme bandeira com detalhes em roxo indicava que à esquerda era o caminho para o local do ritual. Os veteranos estavam animados para conhecer os novatos e pegarem em seus pés. Todos estavam eufóricos, essa era uma das ocasiões mais emocionantes e esperadas por todos.

Sempre acontecia algo diferente e emocionante nesse dia, às vezes alguém conseguia transparecer sua personalidade como se fosse de Libra, mas não sendo, outros ganham atributos, uns até conseguem poderes a mais dos seus próprios – o que não acontecia há muito tempo.

— É bom ter a senhora de volta – Americo fala, feliz pela volta de Amara.

— Senhora? Meu rapaz, me chame só de Amara! – ela diz, sorrindo, e suas ruguinhas apareceram com mais ênfase em seu rosto.

— Os rituais não seriam os mesmos sem você, apesar de que não temos rituais há muito tempo - Ellen diz.

— Essa é a nova era, meus jovens – o sorriso estampado no rosto da velha, de cabelos brancos com mexas em roxo, mostrava que muita coisa estava por vir.

Nesse momento, pessoas se amontoavam no centro do Pico do Cristal, onde um grande e importante evento acontecerá. Veteranos e novatos se reuniam em torno do pequeno palco central, iluminados pela luz da lua cheia.

Por ser baixa, a Sra. Amara não ganhava destaque no meio da multidão. Porém, foi só subir ao palco que todos se calaram, prestando bastante atenção em suas palavras.

— Sejam todos bem-vindos! – Anuncia sua chegada, seguida de aplausos. Não demora muito até o silêncio voltar e Amara continua. – Nesta noite, faremos o ritual de iniciação!

Os tambores começaram a tocar levemente, junto com a melodia no violão que Lucas produzia. As luzes ficaram mais fracas ao mesmo tempo em que o laranja das tochas mudava pra um roxo brilhante.   

— O ritual de iniciação é uma fase importante para todo jovem que ingressa em nossa companhia – retorna Amara. – Esse lugar não é só um acampamento qualquer em cima de uma montanha qualquer, as coisas não são tão fáceis como vocês acham que são. Se estiverem aqui, é porque vocês são importantes. E foram escolhidos.

Os veteranos já haviam passado por aquilo, portanto, estavam relaxados, como normalmente. Em compensação a isso, os novatos se entreolhavam curiosos para saber pelo que foram escolhidos.

— Todos os anos, nessa mesma época, o Cosmo seleciona os mais qualificados através de seus signos e os trazem para cá, normalmente aos quinze anos, porém, muitas vezes ele se “engana” e isso gera alguns atrasos. Mas todos vocês são iguais e, ao mesmo tempo, diferentes. Cada um de vocês carrega uma marca em sua mão, e devem honrá-la, independente de querer ou não. Junto com esta marca, possuem também um significado próprio, algo que os tornam especiais. – A música começa a ficar mais baixa. – Muitos chamam de poderes, porém, preferimos chamar de atributos. Aqui, vocês aperfeiçoarão esses atributos, usando-os em seu favor para tarefas diárias e, principalmente, para proteger uns aos outros do nosso mais novo perigo.

Aquele último comentário deixou os calouros um pouco desconfortáveis. Os novatos, que já estavam com medo, ficaram com mais medo ainda.

— Isso mesmo. Preparem-se. Deem seu máximo! – Amara retorna a falar, dessa vez, acompanhada de alguns murmúrios e comentários assustados. Vendo que aquilo estava gerando uma pequena desordem, retornou a falar da cerimônia. – Voltando para o tema principal dessa noite, o que reúne vocês todos aqui, vamos dar as boas-vindas aos nossos iniciantes!

Os tambores voltaram a tocar com toda a força, gerando certa tensão nas pessoas. Eram batidas graves e lentas, com intervalos longos, deixando o som ecoar por toda a caverna. Lucas retornara a tocar, dessa vez, acompanhado de Michael, e ambos tocavam a mesma melodia.

— Peço para que os veteranos deem um passo para trás, e os novatos, um passo para frente – diz Amara.

A multidão obedece silenciosamente, ao mesmo tempo em que a música para de tocar, deixando cerca de trinta rostos desesperados e ansiosos expostos.

Amara saiu do meio do palco e a estrutura onde estava se abriu como uma porta para os lados e revelou um poço que, para quem estava sentado, parecia ser um buraco. A borda do poço era feita de ouro e ao redor era revestido de mármore. Ela estava com uma cesta, como se estivesse indo para um piquenique, mas de repente seus olhos se fecharam como se um espírito tivesse adentrado seu corpo e ela não fosse mais a mesma. O tempo mudou drasticamente, chamando a atenção dos que não sabiam o que estava acontecendo.

Ela ficou paralisada e, lá de trás, Ellen se levantou, pronta para acalmar os novatos num possível tumulto, caso fosse necessário. Antes que a multidão se desesperasse, a melodia de Radioactive começou a tocar. Amara abre os olhos, revelando um cinza vivo, e volta a falar:

— Caros iniciandos, vos apresento o poço Erroris, sagrado e precioso neste local. É tradição que todos os iniciandos mergulhem até o fundo do poço - alguns não levam as palavras de Amara a sério e começam a rir, talvez para espantar o medo, ou por não acreditarem mesmo - e retirem de lá uma pedra. Um obelisco, um talismã. Ela será seu guia, sua protetora e os marcará como iguais dentro desta fraternidade. Erroris traduzido do latim significa “desilusão”. Recebe esse nome por aprisionar nossas frustrações enquanto guerreiros em prol de um bem comum. Aquele que passar pelas águas de Erroris fica imune a todos os tipos de desilusões até conseguirem dominar suas habilidades. E é pra isso que estão aqui.

Alguns murmúrios tomam conta do salão, como "quero muito banhar nisso".

— Vittoria e Giuliana – anuncia Amara, provocando murmúrios nos veteranos que há tempos não viam Amara anunciar dois nomes simultâneos na iniciação.

Isso só acontecia em um caso: quando os mapas são idênticos. Para surpresa de todos, aquilo procedia. Quando as duas garotas se aproximaram, vindas de lugares diferentes, a semelhança ficou clara. Vittoria e Giuliana eram gêmeas.

Sem dizer uma palavra e possivelmente paralisadas, ambas ignoraram os comentários que diziam “eita, elas são irmãs” ou “quem é quem?”.

— Peguem - Amara entregou-lhes a planta, que comeram em poucos segundos, para que pudessem respirar debaixo d'água.

Vittoria, ansiosa no momento, e Giuliana, com os olhos focados na água, contaram baixinho até que, respectivamente, pulassem uma após a outra na água gélida e limpa. E, apesar da temperatura da água, nem Vittoria e nem Giuliana contestaram, apenas mergulharam mais fundo, lado a lado, observando que a poucos metros havia nada mais, nada menos, que centenas de pedras redondas, brancas e brilhantes.

Ao entrar em contato com as pedras escolhidas, voltaram o mergulho para cima, mesmo que, durante alguns segundos, focassem não no mergulho, mas na mudança de cor que as pedras em suas mãos exibiam. Do branco ao roxo. Leves, redondas. Imagens deturpadas, desfocadas, surgiram nas mentes das gêmeas, mostrando cenas de um futuro possível para as duas. Em uma das cenas, os olhos de Vittoria, numa gigantesca floresta, se concentravam numa mira perfeita que sua faca, segundos depois, conseguiu atingir um tronco longínquo. Giuliana, já quase na superfície, saindo do poço, quase se contorceu ao ver que, em diversas imagens, seus olhos eram capazes de ver coisas extraordinariamente longes em uma escala enorme. Grande futuro. Visões. Mira. Decisões.

Giuliana emergiu, e logo depois saiu Vittoria, e juntas, carregando as pedras roxas, foram à procura de toalhas, ainda lembrando-se das visões e ouvindo aplausos de todos os outros presentes.

— Todos vocês possuirão a mesma cor na pedra, para mostrar que a pedra os une, como um só - Amara voltou a falar, seus olhos estavam cada vez mais acinzentados como se o prazer de sua vida fosse aquilo tudo.

Ela voltou ao transe e Sara se levantou dessa vez, uma moça alta, de cabelos negros e longos, de pele branca e angelical.

— Vittoria e Giuliana - ela anuncia -, vocês pertencem ao Fogo, logo, peço que se juntem aos seus novos amigos, que são do mesmo elemento que vocês! - Ela estava tão animada que todos ficaram animados também, gritando eufóricos.

— NETTO KINGS - Amara anunciou, quase gritando. A euforia foi ao chão e Netto levantou-se, seguindo até o enorme palco. Todos bateram palmas para o geminiano.

— Pegue - Amara oferece a planta e Netto pega, comendo-a em seguida e já pulando no poço. O garoto nadava até as profundezas quando reparou a beleza do poço, ao redor era totalmente espelhado e lá embaixo estavam as inúmeras pedras brancas de diferentes tamanhos.

Sem hesitar, Netto nada até o fundo e, assim como os anteriores, pega uma pedra, e ele se vê através de uma gota.

Via-se falando em um telefone, uma língua que não compreendia, com um pássaro em seu ombro. Andava de lá pra cá e, no fim, desligou o aparelho e assoviou para o pássaro. Não demorou muito até a ave responder e sair voando pelos céus. Ele volta a si no mesmo momento em que o ar da superfície penetra suas narinas.

Não demorou muito, logo o próximo iniciando foi chamado e Jay tomou conta do palco, ela estava nervosa, pois não conhecia o poço e mesmo com a planta, estava com medo de se afogar.

— Pegue, querida - Amara estica a cesta e Jay, tremendo inteiramente, pega a pequena planta e a come em seguida.

Jay senta na beira do poço e mergulha, ela demora um pouco até abrir os olhos lá dentro e olhar em seu redor, logo começa a bater as pernas e seguir até a imensidão de pedras para que aquilo chegasse ao fim logo. A ideia de respirar debaixo d'água era estranha, mas Jay esqueceu isso quando tocou na pedra e viu o dégradé de cores, do branco para o roxo. Logo toda a pedra se tornou uma cor só, e ao segurá-la por completo, submersa e cercada por escuridão, Jay de repente se encontra em outro lugar, e vê-se impedindo dois amigos de brigarem.

— Acalmem-se – diz ela, no alto de uma campina, no meio de dois garotos. Um deles era André. – Agora, apertem as mãos, larguem esse rancor.

Automaticamente, os meninos se abraçam e se desculpam.

A imagem se desfaz e Jay tenta digerir o que acabou de ver, então nada, eufórica, para a superfície.

Todos bateram palma para a morena que ressurgiu do poço, com os cabelos todos em seu rosto, pôde-se ouvir um grito "É A SAMARA", e em seguida, risadas.

— Todos vocês estão carregando um mistério dentro de si ao saírem desse poço, eu não sei, os outros não sabem, só vocês sabem! Espero que pensem com sabedoria em relação a isso e não se deixem levar pela emoção, essa é para os cancerianos de plantão - ela diz, rindo. Ela fecha os olhos rapidamente e os abre, chamando um Augusto para vir até a beirada do poço.

Ele vem sorridente e confiante, com o nariz tão empinado que acertaria a lua se estivesse exposta.

— Pegue - Amara oferece a planta, mas Augusto nega, pulando com classe dentro do poço, que se tornou grande diante de sua magreza.

Ele abre os olhos e vê o seu reflexo no espelho, e em seguida olha para baixo, e desce nadando até lá, apanha uma pedra com um formato quadrado, um pouco diferente das demais, e tem vontade de gritar de animação quando vê que o branco se tornou roxo em segundos, ele roda a pedra, e olha para cima, mas vê que o cenário mudou, ele estava diante de si mesmo, mas em outro corpo, como se estivesse separado, o seu outro eu estava em uma sala de estar, comum, e um diamante flutuava em sua frente, ele o manipulava fazendo com que ficasse de várias cores e formas diferentes, o tornando cada vez mais caro e raro. O cenário mudou novamente e Augusto tomou a superfície, e percebeu que se aquele fosse o seu futuro, que ele chegasse logo de uma vez.

Amara chamou os demais iniciandos e a noite ficava cada vez mais bonita. Ao terminar de chamar todos que ali estavam, Amara e os demais responsáveis, assim como os novatos e os veteranos, estavam tão cansados que só pensavam em ir para os seus dormitórios e dormirem até o próximo milênio.

— Sejam bem-vindos, novos Eremitas do Pico do Cristal! - ela disse, e todos bateram palma. Finalmente tudo estava se completando.

***

Após a cerimônia acabar, os líderes encaminharam o restante dos eremitas para seus dormitórios. Passando por um túnel que acabava em um pátio aberto, sob a luz de milhares de estrelas, Tiago conduzia os iniciandos para o dormitório do Ar, onde ficavam os geminianos, librianos e aquarianos. Depararam-se com um enorme paredão de pedra, cheio de janelas, sacadas e escadas.

— É aqui que dormimos, no andar superior – diz ele, apontando para o alto de uma sacada, em um paredão, que possuía o formato de um prédio. No alto de tudo, havia um enorme cata-vento. – Faz bastante frio lá em cima, então eu sugiro que vocês se acostumem.

O grupo de eremitas do Ar, ansioso, sobe rapidamente degrau por degrau de uma escada em ziguezague, até que se encontram de frente a uma porta circular.

— Só entraremos quando vocês adivinharem a senha – Tico diz isso e todos o encaram perplexos. Após algumas risadas, o garoto gira a maçaneta. – Brincadeira, não tem senha.

Eles adentram a pequena instalação e se depararam com uma sala grande, maior do que parecia por fora, com algumas almofadas e o chão coberto por tapete. No centro do teto, havia uma enorme abertura, exibindo o céu estrelado. Livros e mapas espalhavam-se pelas paredes, exceto na parede atrás deles, onde a janela da sacada deixava o vento frio entrar, e na dos fundos, onde havia três portas.

— Lá se localizam os dormitórios – Tico aponta para o fundo. – Em cada porta há o símbolo do signo que corresponde ao dormitório. É bem fácil de saber qual é o seu, só olhar pra sua mão e comparar com a porta – diz, por fim, ironicamente.

Nesse momento, Eduardo, Ali e Ivo se encaminham para a terceira porta, onde duas ondas diagonais e paralelas se encontravam tanto na porta quanto em suas mãos. Sem hesitar, abrem a porta do dormitório de Aquário e se deparam com um ambiente pouco iluminado por alguns abajures e bem fresco, com figuras de peixes pintadas no teto e cheio de camas e beliches espalhados. Alguns até dormiam em redes.

— Bem-vindos – diz Lucas, um garoto que estava lendo um livro, balançando-se uma rede. – Vocês ficam com as camas do fundo. Façam silêncio e viveremos em paz, obrigado!

Sem responder, os três se dirigem ao fundo do quarto que, assim como a sala, parecia muito menor por fora. Acabaram encontrando um beliche embutido em um armário e uma cama com um baú, feitos de uma madeira bem clara.

Apoderando-se da cama, Ali se deita e tira os sapatos. Eduardo, esperto, escala rapidamente a beliche e se instala na cama de cima. Como só lhe restava uma opção, Ivo abre uma parte do seu novo armário e encontra roupas dobradas e limpas.

— Como sabem o meu tamanho? – diz ele, fechando o zíper de um casaco que lhe servia perfeitamente.

— Não sei nem como aquela velha sabia meu nome – comenta Eduardo. – Descobriremos com o tempo.

Após um “shiu”, que ecoou pelo quarto, fez-se silêncio entre os aquarianos.

***

Já no dormitório de baixo, em vez de silêncio, os eremitas do Fogo faziam bastante barulho. Americo ligou as enormes caixas de som, que ecoavam pelas paredes vermelhas, fazendo parecer que estravam dentro de um baile funk. Nos sofás, pessoas conversavam, comiam, bebiam e, principalmente, se divertiam.

— Hoje temos muito que comemorar! – exclama Alexandre, um veterano de Sagitário, que subira em cima de uma mesa de centro e começou a rebolar.

Isso gerou uma série de risadas – principalmente entre os sagitarianos, que viviam sempre de bem com a vida. Os arianos, a todo gás, dançavam mais ainda, e alguns até arriscaram soltar fogos pela janela.

Já os leoninos, preferiram se acomodar no enorme quarto, cujas paredes tinham um leve tom de rosa. Evelin e João Pedro disputavam pra ver quem ficaria com a parte de cima do beliche.

— Sou mais digno do que você! – diz ele, começando a escalar a escadinha.

— Mas nem ferrando. – Evelin o puxa para baixo, fazendo-o cair no chão.

— Você está fazendo um jogo comigo, garota?

— Jogo não, Monamur, aqui é realidade pura! – A garota joga seus cabelos cor de fogo para o lado. – Essa cama foi feita para mim.

Nesse momento, uma veterana intervém. Natali chega com toda a energia no meio dos dois, e toda a atenção do dormitório se concentra ali.

— Vamos resolver isso de uma maneira justa – diz ela, no meio dos dois. – Thomas, solta o som.

Um garoto que estava do outro lado do quarto liga uma pequena caixa de som e começa a tocar uma música agitada, batida atrás da outra. As pessoas abrem espaço no centro do quarto e então Naty retorna a explicar:

— Vocês vão desfilar pelo quarto. Quem for mais aplaudido, fica com a cama de cima.

— Já ganhei – diz Evelin, adiantando-se.

A garota para em uma posição e, ao sinal de Naty, começa a andar, com um pé na frente do outro, sorrindo e com a mão na cintura. Ela para, sobe em cima de uma cama e começa a fazer poses, sendo bastante aplaudida pelos leoninos. Depois disso, dá meia volta jogando o cabelo, sorrindo para João Pedro, que entra logo atrás dela.

Toni caminha da mesma maneira que ela, só que mais lentamente. Depois, sobe em cima da cama também, agachando-se e cruzando os braços. Arrisca-se, rebolando até o chão, o que o faz ser mais aplaudido que Evelin. No fim, o garoto retorna e Naty anuncia:

— Parece que temos um vencedor – diz, aos risos. – Toni, pode ficar com a cama de cima. 

***

Enquanto Evelin se frustrava por perder para Toni no dormitório do Fogo, algumas pessoas no dormitório da Água estavam bem satisfeitas. Em uma perfeita harmonia, conversavam e bebiam pela sala de entrada. Alguns até se arriscaram a entrar na enorme banheira, que estava instalava no canto da sala. As paredes eram cobertas de pinturas, mandalas e todo o tipo de arte confeccionada pelos eremitas dali.

Os piscianos se reuniam nas bordas da banheira e conversavam, debatiam e se conheciam de todas as maneiras possíveis, enquanto os cancerianos tomavam um canto aconchegante da sala, onde formaram um círculo e falavam sobre “crush”.

— Ele me bloqueou no Facebook! – exclamou Rafaela. – Mas o pior é que ele arranjou outra, acreditam?

— Nossa, que ridículo – diz Barbara, revoltada. – Que tipo de animal faz isso?

— Pois é, fiquei uma semana em casa, assistindo série e comendo chocolate, esquecendo ele.

— Te entendo.

Ambas se abraçam e, enquanto os cancerianos compartilhavam seus sentimentos, os escorpianos compartilhavam suas frustações. Alguns arriscaram brigar por camas dentro do quarto, só que de uma maneira diferente dos leoninos – e até mais agressiva.

— Eu vi primeiro – diz Thiago, ficando de frente para outro menino.

— Eu toquei primeiro – diz Bruno.

— Não vai querer disputar comigo.

— Cai dentro!

— Opa! Opa! Opa! – Babi, a mais antiga escorpiana, intervém. – Não podem brigar dentro do dormitório.

— Será mesmo? – Thiago observa a sua altura. – E como pretende me impedir?

As unhas de Babi de repente crescem, tornando-se garras.

— Você não vai querer descobrir – ela sorri. Nesse momento, Thiago recua, recolhendo suas coisas, dizendo:

— Fico com a outra cama. Mas aguarde, vai ter volta!

***

No dormitório da Água, o clima estava um pouco tenso. Mas isso mudava completamente no dormitório abaixo, onde os eremitas da Terra se instalaram. A organização e a paz estavam bem intensas.

Havia tantas coisas na pequena sala de entrada que não tinha como descrever tudo detalhadamente. No teto, lustres de cristal e outro deixavam o ambiente bem iluminado. Pela sala, sofás eram distribuídos em um semicírculo ao redor de uma enorme TV. Também havia uma mesa de bilhar – que se transformava em mesa de Ping-Pong, de jantar e até de reuniões. Em outro canto, havia um balcão, com uma geladeira cheia de bebidas de todos os tipos e um armário cheio de comida – na qual os taurinos se apoderaram rapidamente.

— Estamos em um paraíso. – Vivaldo passa para Daniela um balde de pão de queijo. – Não quero mais sair daqui.

— Também não – diz Hanna, que arrumava todas as almofadas do sofá no seu devido lugar. – Mas vamos manter a ordem, por favor.

— Com certeza – Jake, que estava de pé, vendo livro por livro em uma enorme estante, exclama. – Isso parece a biblioteca da minha antiga escola, só que melhor.

— Você vai ter tempo pra ler depois – diz Gabriela, com um taco na mão. – Vem jogar com a gente.

Jake desvia os olhos de seu livro por um momento para olhar com desprezo, depois, retorna a atenção para o que estava fazendo.

— Não, obrigado – responde.

— Chato – Victor, que também estava com o taco, diz. – Vamos começar logo.

Ele, Gabriela, Letícia e Felipe se posicionaram em torno de uma mesa de bilhar. Não precisaram de muito tempo para aprender, embora nunca tenham jogado antes. Eram todos capricornianos, então, a cada tacada, um criticava ou ria do outro, sempre tentando fazer o melhor possível.

Enquanto eles jogavam, Erica e Augusto preparavam-se para dormir no quarto de Capricórnio. As camas eram feitas da melhor madeira, revestidas e desenhadas com ouro. Os tecidos de seda faziam parecer que estavam dormindo nas nuvens.  

***

A noite estava espetacular, e o céu tão bonito e limpo que as estrelas pareciam estar próximas. Nos dormitórios, as pessoas se acomodavam e se conheciam. E, enquanto a maioria dos eremitas dormia, alguns se reuniam preocupados, em uma sala pequena, no interior da montanha.

— Chamo-os aqui porque o assunto é grave – diz Amara que, tensa, embora tenha se mostrado despreocupada alguns minutos atrás.

Na pequena sala, só havia duas coisas: uma enorme mesa com todos reunidos e um lustre de velas. O sentimento de preocupação se espalhou com uma enorme rapidez, e isso estava claro no rosto de todos.

— O que você descobriu? – perguntou Ingrid, que precisava controlar a ansiedade para não explodir. – Conta tudo logo!

— Bem, primeiro, quero confirmar de que minhas suspeitas estavam certas. – Amara faz uma pausa e respira fundo. – Tem alguma coisa estranha circulando por aí. Uma força poderosa, e nada boa.

— Você tem ideia do que é? – Bruna tamborila os dedos pela mesa, aflita.

— Não consigo ver nitidamente. Parece o formato de um homem, só que não possuía detalhes. Era algo inteiramente preto.

— Da próxima vez que partir em uma jornada assim, me avise – diz Americo, que possuía a melhor visão ali.

— Sem sombra de dúvidas - Amara sorri.

— É isso - Lucas bate na mesa dando sinais de que descobriu algo valioso.

— Isso o que? - pergunta Ingrid, do outro lado da mesa.

— Uma sombra.

Nesse momento, todos param para refletir.

— É... Talvez seja – diz Amara –, porém, não podemos ter certeza de nada.

— O que mais você viu? – pergunta Ingrid, novamente.

— O brilho das estrelas está ficando, sei lá, mais fraco. Não parece a mesma coisa de antes. Parecem estar lutando.

— Posso estudar isso depois – Erica, que até o momento estava calada e observando tudo, fala.

— Obrigada – responde Amara.

— E quanto a profecia? – Brenda pergunta.

— Não precisamos nos preocupar com ela agora – Naty diz. – Existem coisas mais importantes, tipo essa sombra, ela me dá medo.

Novamente, fez-se silêncio na mesa, onde olhares eram trocados e poucas vezes pessoas cochichavam. Cansada da longa viagem, Amara resolveu terminar a reunião.

— Depois discutimos isso. – Enquanto todos se levantavam, ela dizia. – Não chegaremos a nenhuma conclusão agora. Fiquem de olhos abertos e, principalmente, preparem-se.

Aos poucos, os eremitas passavam pela porta, deixando a pequena sala de reuniões. No fim, sobrou apenas Amara, que apagou as velas do lustre, deixando-se engolir pela completa escuridão.


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