Odisseia do Zodíaco escrita por SEPTACORE


Capítulo 10
Encubados




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Aquele fora o natal mais eletrizante do Pico do Cristal. Pavês e pudins estavam ali, preparados para serem servidos. Porém, uma pequena atividade suspendeu a festa, o prato principal da noite adentrou voando por sobre a toca.

— Mas que merda é essa? – berra Thiago, afiando suas garras assim como todos os outros escorpianos, que, há tempos, não as mostravam.

Ingrid e Yasmim andavam de um lado a outro lançando chamas em direção aos inúmeros pássaros negros que adentravam a montanha. Um dos pássaros puxou Ingrid pelos cabelos e arrastou-a pelo chão. Yasmim lançou uma enorme bola de fogo sobre ele, fazendo com que as pontas do cabelo de Ingrid queimassem.

— Pra quem ganhou uma queda de braço, você nem precisa me agradecer – brincou Yasmim.

— Agradecer? Olha o que você fez com meu cabelo, sua demônia – respondeu Ingrid.

— Ingrata.

— Não fiz progressiva pro meu cabelo virar churrasco.

Um pássaro passou voando por elas, desviando suas atenções. Ingrid e Yasmim se olharam novamente, prometendo resolver isso mais tarde, e foram ajudar seus colegas.

— EU TENHO MEDO DE POMBO, ME SALVA! – gritava Ney, uma escorpiana novata que fugia do ataque dos pássaros.

— Não são pombos, sua inútil! – exclamou Bruno que, junto com Babi, atacava os pássaros com suas garras e se defendia da maneira que podia.

— São corvos-corax – explica Maiara, em meio à confusão. – São típicos na América do Norte, muito raros por aqui.

— Valeu, Wikipedia, tem algo útil que ajude a acabar com todos eles de uma vez? - ironiza Babi, que enfiara suas garras em dois corvos que a atacavam.

Maiara é impedida de responder, pois se esquiva para fugir de uma corja de corvos que vinha em sua direção. Ivo move um pedaço de madeira com a mente e acerta um deles.

— Você tem que controlar o seu medo – explicava Aminie, uma escorpiana veterana em formação, para uma Ney muito chorosa – e focar em usar o seu atributo para enfrentá-lo. Eu cubro você. Concentre-se.

Aminie deu uns passos à frente, ficando de costas para Ney. Com suas garras, atacava uma infinidade de corvos, que desviavam dela. Ney olhava para as próprias mãos. Ela sentia o metal entranhado em seu corpo, mas ele não saltava de seus dedos. O medo a consumia e lhe tirava sua concentração. Um grupo de corvos a atacou e, com Aminie ocupada, ela gritava. Quando o grito de medo se transformou em grito de raiva pelo ataque, suas unhas começaram a crescer gradativamente. Ela, notando a evolução, se levantou e enfrentou seu medo. Em pouco tempo, suas garras já estavam do tamanho da dos outros escorpianos novatos e ela os atacava como podia.

Mattheus era um dos novatos arianos mais jovens, mas já havia desenvolvido a habilidade de produzir pequenas e poderosas bolas de fogo que lançava nos corvos. Muitos taurinos tentavam, em vão, manipular as aves. O Conselheiro de Touro, Yuri, erguia seus braços, mas nada adiantava, nenhum deles era manipulável. Librianos experientes se transformavam em predadores na cadeia alimentar dos corvos. Outros transformavam seus braços e mãos em pequenas redes para aprisionar a maior quantidade de corvos possível, mas quanto mais os eremitas derrotavam os corvos, mais surgiam pela entrada acima de Daniela.

— É isso! – gritou Triza, no meio dos leoninos que só protegiam a si mesmos. Fugindo ao instinto egocêntrico, ela correu em direção à Daniela, cujo olhar assumia um negro obscuro. Até o branco de seus olhos tinham mudado para um preto fundo. Os corvos atacavam Triza, mas sua resistência leonina era descomunal. Com uma voadora, Triza acerta Daniela bem no meio do peito, fazendo a garota possuída por algum espírito maligno perder o equilíbrio e cair desacordada. No mesmo instante, os corvos que restaram vivos voaram para fora da montanha para o alívio dos eremitas.

— O que diabos foi isso? - perguntou João Pedro, um dos arianos mais experientes depois de Ingrid, mas ainda um veterano em formação.

Depois de o bando inteiro deixar a montanha, os eremitas puderam ter uma noção do que acabaram de presenciar. Muitos corvos mortos no chão. O fedor já começava a subir quando chegaram até Daniela e a levaram para o laboratório dos virginianos. Sem entender nada, todos ficaram apavorados com o que aconteceu e, determinados a descobrir sobre os mistérios que rondam a toca, os eremitas voltaram para suas atividades e treinamentos.

***

Após uma noite que tinha tudo para ser pacífica, os eremitas desistiram da ideia de relaxar, voltando para suas atividades do dia a dia. O movimento no Pico era grande, como sempre, e os piscianos – por serem os responsáveis por investigarem os mistérios que rodeavam a montanha – faziam uma pequena reunião. Deixando um pouco o escritório de Amara, May pediu para que eles começassem a pensar fora da caixinha (ou fora do escritório, como preferiam dizer). A reunião dos piscianos acontecia, agora, no meio do Pico, onde todos passavam apressados para os seus afazeres que nem prestavam atenção no círculo que ali se encontrava – algumas pessoas até mesmo, com a pressa, acabavam esbarrando.

— Como vocês sabem, há meses estamos responsáveis por uma das coisas mais importantes da história do Pico do Cristal. Começamos a investigar e encontrar pistas sobre essa profecia, e não é à toa que estamos morando no escritório dela, mas precisamos ir mais a fundo se quisermos achar algo relevante – May diz, decidida.

— Teremos muito trabalho pela frente – diz Julia, uma veterana em treinamento, completando-a. – E terão momentos que não seremos levados a sério, ainda mais pelos arianos ou capricornianos, que acham que não somos capazes disso. Mas eu sei que somos.

— Hoje iremos até uma enorme sala, que todos pensam ser uma despesa, mas que contém artigos que não podemos ignorar – May se levanta e olha para todos ali presentes. – Lembrem-se que existem pontos cruciais, como uma sombra que apagará o brilho das estrelas, de acordo com Amara. Enfim, alguém tem alguma coisa pra falar?

— Ela disse antes de desmaiar que algumas pessoas consideram essa sombra um simples demônio que tentou trazer a desarmonia ao zodíaco. Não sei se vocês sabem, mas meu pai é astrólogo, quer dizer, era. Ele sempre me contava histórias sobre conflitos que ocorreram no zodíaco há milhares de anos... – Vitor diz.

— Vitor, essas histórias todos os pais contam – André comenta. – Isso é só pra você dormir, estamos falando de coisa séria aqui.

Todos concordam com André, então Vitor decide deixar essa história para lá.

— Vamos ao que interessa – Pedro fala. – Sério, minha bunda tá doendo.

— Hmmm...

— André, seu idiota! Estamos sentados aqui há muito tempo. Não tenho culpa se você não sente mais a sua bunda, se é que você me entende.

— Vamos logo – Vanessa fala para os dois.

Os piscianos andam em conjunto seguindo para um corredor próximo, onde uma pequena biblioteca se localizava, tão minúscula que ninguém notava sua existência.

— Estava pensando em chamarmos um capricorniano para ir conosco – Vanessa diz, mesmo tendo se arrependido de ter dito segundos depois, pois todos os piscianos a encararam. – Qual é, gente? Eles são habilidosos e conseguem lidar com coisas que nunca viram. Pode ser que encontremos um enigma lá, ou algo assim.

— Ela tem razão – Pedro fala. – Odeio admitir isso, mas será até bom ter um capricorniano conosco.

— Eu ouvi direito? – Augusto, que passava ali perto, não pôde deixar de ouvir a palavra “capricorniano” no meio da conversa. – Vocês, piscianos, falando que seria ótimo ter um capricorniano com vocês?

— Não enche, Gut – Vanessa fala. – Precisamos de um pra nos ajudar na procura de provas para a profecia, não é porque seu signo é legal e você é o dono do mundo, mas sim porque seu poder é crucial nesse caso.

— O que eu ganho com isso? – ele pirraça.

— Se você descobrir algo sobre a profecia, o Pico inteiro vai puxar esse teu saco – Pedro fala.

— Opa, estou dentro.

Os quase-todos-piscianos saíram para a missão que tinham estipulado, mas foram parados, mais uma vez, por Giuliana, que precisava falar com May, então a puxou para o canto.

— Giu, não posso falar agora, estou indo para uma missão – May diz.

— Vocês vão sair do Pico? – Giu fala, assustada.

— Não! É aqui mesmo. Só que é muito importante.

— Os sagitarianos só estão treinando junto com os arianos, e fazendo a segurança do Pico. Eu não posso ajudar em nada, e muito menos treinar, por motivos disso – ela levanta seu braço engessado. – Me deixa ir com vocês, eu posso ajudar e, mesmo não podendo treinar realmente, estou aprimorando minha visão... Não sei, pode ser que seja útil.

— Tudo bem, então – diz May, animada. – Se sua visão estiver como eu estou pensando, poderá nos ajudar de uma forma incrível. Vamos.

Enquanto o grupo de piscianos seguia motivado a alcançar o objetivo principal, no laboratório dos virginianos a situação não estava muito favorável.

— Novidades? — perguntou Luisa, adentrando o lugar e verificando os computadores ao lado de prateleiras e camas; uma delas com Daniela deitada, e apesar de estar com os olhos abertos, parecia muito estranha. — Como assim os dados recolhidos não apresentam nada?

Jake, caminhando até ela, entrega alguns papéis cheios de números coloridos e frases pequenas.

— Eu mesmo me certifiquei de dar alguns remédios há uns minutos. Ela simplesmente não “acorda”. — Ele chamou por Rodrigo, que veio correndo, e pegou o lençol que cobria Daniela. Sua expressão de dúvida e curiosidade foi substituída rapidamente por choque. — Talvez seja algo que não...

Rodrigo, que agora segurava o lençol, soltou um gemido baixo.

— Isso... Isso não estava assim! — Ao gritar isso, Jake atraiu todos os olhares da casa, que logo se aproximaram. — Estava cicatrizando.

Com uma expressão de nojo, Luisa tocou com um pano a marca — de repente inflamada, escorrendo pus e sangue, com um roxo enorme cobrindo parte do tornozelo — e pressionou.

— Por que isso? — Rodrigo detém a mão da virginiana. Daniela continua sangrando, inconsciente.

— Estava vendo se ela acordava. — Luisa jogou o pano numa lixeira próxima e passou álcool em gel em suas mãos. Em seguida, pegou os papeis com as poucas informações sobre o estado de Daniela. — VisceraInsomnia... Que raios de cobra endemoniada é essa?

— A espécie identificada não bate com nenhuma cobra da região — afirmou Jake, muito curioso. Sua preocupação com Daniela também o afetava, pois a situação só piorava, principalmente no tornozelo que Hanna e Rodrigo tentavam amenizar, limpando e recolhendo um líquido prata, saído junto do sangue. — Luisa, seria útil contatar alguém que esteve presente no momento e contar tudo?

Após ela pensar por alguns segundos, murmurou um “tudo bem” e Jake saiu do laboratório. Ao subir alguns andares, se apressou a correr para achar os presentes no ataque daquele dia, no entanto tudo que fez foi tropeçar nas portas recém-abertas do elevador. Esbarrou com tudo em Auster, que caiu, amortecendo a queda do virginiano.

— Desculpe — pediu Jake, ainda com o rosto colado no de Auster. Sorriu, disfarçando a situação embaraçosa, mas foi empurrado fortemente para trás segundos depois.

— Cadê ela? — Auster levantou-se, tirando o pó da roupa. Seu rosto exibia algumas lágrimas, provavelmente derramadas minutos antes.

— Obrigado pelo empurrão gentil.

Jake não sabia como explicar o estado de Daniela, afinal nem respostas concretas ele tinha.

***

— Uau – exclama Vitor. – Nunca tinha vindo aqui... Que incrível!

A sala era maior do que se esperava ao analisar por fora, longe de ser um simples quarto da faxina. Poeira se acumulava em cima dos móveis e velas – que foram rapidamente acendidas. Era possível ver papeis espalhados por todos os cantos, junto com estantes repletas de livros e pergaminhos.

— Parece que vamos ficar mil anos procurando – conclui André.

— Comecem logo – Augusto fala, enquanto monta um cubo mágico feito de escama de peixe, que repousava em cima de uma mesa, empoeirado.

Os piscianos se espalharam, alguns decidiram juntar os papeis espalhados pela sala, enquanto outros olhavam livros.

— Se precisarem de mim, vou estar aqui batendo um papo com meus amigos – brinca Augusto, olhando pequenos retratos de ex-eremitas, mas acaba levando bronca de Yngrid.

— Sei que é difícil, Giu – May fala –, mas quando estiver pronta, você pode tentar. Tente ver qualquer coisa, números, línguas diferentes, coisas que tenham a palavra profecia, ou sombra, qualquer coisa suspeita. Isso vai de você.

A garota assentiu e o trabalho dos piscianos seguiu com sucesso. Vinte minutos já havia se passado e eles não encontraram nada que trouxesse uma luz ou pistas sobre a profecia.

— Vai ficar parada aí? – Augusto pergunta para Giu, enquanto estava quase terminando o cubo mágico.

— Não – ela fala, com tom de deboche. – Estou tentando me concentrar, mas você não está ajudando com esse cubo mágico esquisito.

Augusto a ignora e continua fazendo o seu trabalho. Giuliana se levanta, concentrando-se e fechando os olhos. Suas mãos foram até suas fontes e sua visão ativou-se. Conseguia ver determinados papeis onde números eram mais evidentes e importantes, livros falando sobre profecias e coisas que, para ela, eram importantes.

  Ela saiu andando com os olhos em alerta, como se estivesse hipnotizada, passando a mão entre os inúmeros papeis, pegando um pequeno envelope.

Todos na sala pararam o que estavam fazendo, e prestaram atenção na garota, que saiu de um transe rapidamente.

— O que é? – Julia vem correndo, enquanto Giuliana ainda está voltando a si.

— Não sei – ela diz, balançando a cabeça –, mas é algo relevante.

André abre o envelope, vendo uma foto de uma criança loira e atrás havia uma 30/11.

— É o meu aniversário! – exclama Giu.

— Parabéns, depois a gente compra um bolo pra você – responde Augusto, ainda concentrado no cubo.

— Não, seu inútil – Giu retruca. – A foto contém minha data de aniversário.

— Sua e da sua irmã, acredito eu – supõe André.

Giuliana não sabe responder.

Nesse mesmo momento, Augusto termina o cubo, gritando um “YES!” e repousando com toda a força o objeto sobre a mesa. Um barulho alto toma conta da sala silenciosa, e o que costumava ser uma estante, se torna uma passagem secreta e todos os eremitas ali presentes se assustam.

— Era um cubo esquisito, não é? – Augusto repete, resmungando.

— Isso está tão estranho, que se fosse um filme eu poderia dizer que estamos prestes a morrer – Vitor fala.

— Mas quem sabe realmente estamos, não é? – Pedro brinca.

— Ninguém entra – May fala. – Não sabemos o que há lá dentro.

— Eu vou até lá – Yngrid se aproxima, desobedecendo a ordem, e entra na escuridão de um corredor imenso. May revirou os olhos veio logo atrás, com o resto do pessoal. Eles se depararam com uma sala ainda menor, circular e vazia.

Augusto tira uma lanterna do bolso e todos são capazes de observar na parede os únicos elementos da pequena sala: doze quadros com os símbolos referentes a cada signo, um ao lado do outro, acompanhados por uma portinha velha.

— Só isso? – Augusto quebra o silêncio. – Eu achei que ia rolar uma ação.

— O que deve ter atrás dessa porta? – Vitor questiona.

— Provavelmente mais papeis e ideias loucas de antigos eremitas – Vanessa, que já estava desanimada, fala.

— Está trancada – May fala, com raiva, tentando abrir. – Que novidade.

Vanessa respira fundo e, de repente, cai. Augusto e Giuliana tentaram na hora conter a queda da garota, pensando que ela estava passando mal, mas o resto dos piscianos reconhecia abertamente que aquilo era uma projeção.

            Ao sair do corpo, a garota corre, imaginando-se dentro da porta. Um baque forte impressionou-a, quando viu que não era capaz de atravessar aquele objeto trancado. Imediatamente, Vanessa retorna ao corpo.

— E então, o que tem lá dentro? – pergunta André, ajudando a garota a se levantar.

— Não consegui entrar – explica Vanessa, massageando a testa. – Bati de cara com a porta.

— Que bizarro! – comenta Vitor. – Deve estar encantada com algo que não podemos compreender.

— Acho que li algo sobre portas trancadas no escritório da Amara. Bom, vamos voltar – Julia diz, segurando a foto que Giuliana havia lhe entregado. – Talvez essa foto nos dê respostas.

May dispensou Giu, Augusto e os piscianos novatos, pois já estava tarde, e ficou com Julia procurando documentos que tivessem alguma pista sobre a foto que encontraram.

***

O dia seguinte chegou para muitos como uma recuperação pelo que ocorrera na noite anterior. Muitos eremitas se propuseram a tirar o dia de folga para descansar.

Jogados nas cadeiras da copa, Clara e Toni comiam besteiras e preparavam as cartas do UNO enquanto Vittoria voltava do dormitório de fogo. O movimento ali era vago, com algumas pessoas espalhadas ou passeando pelo local.

— Olha quem está vindo – cochichou Clara para Toni. O mesmo olhou, disfarçadamente, para as pessoas que apareciam na copa, vindo sentar em lugares próximos à mesa deles.

Tardelli, cantarolando alguma música, sentou ao lado de Giuliana e Triza, que acenaram para os vizinhos de mesa.

— Será que eles não querem jogar UNO com a gente? – perguntou Toni, e Vittoria chegou ao mesmo momento, com salgadinhos, o assustando. – QUER ME MATAR, É?

Ela e Clara riem, chamando a atenção dos outros, que olham deles para o UNO, e do UNO para os salgadinhos.

— Querem jogar? – Clara chamou, e eles logo levantaram. Virou-se para Vittoria, sentada ao lado de Toni. – Tudo bem entre vocês duas, né?

Vittoria afirmou com a cabeça e, sorridente, afastou a cadeira para mais duas, com Giuliana à sua esquerda e Triza à direita.

— Meu Deus, há quanto tempo não jogo isso! - Triza disse, embaralhando novamente e distribuindo as cartas.

Após algumas jogadas e piadas, o primeiro +2, por parte de Clara, surge, iniciando a famosa retaliação na mente dos outros.

— Elas estão amigáveis e calmas agora – cochichou Tardelli, no ouvido de Toni. – Espera só pelo +4 passando de uma para outra.

Tardelli riu do que disse e Tonioli também não escondeu o riso. Sussurrou de volta para o amigo, ouvindo Clara e Triza reclamarem dos salgadinhos que as irmãs haviam devorado:

— Você não presta. – E riu novamente, mas, dessa vez, fixou seu olhar em Tardelli, e mesmo que estivessem cochichando um com o outro, as garotas notaram a troca de olhares e o clima se iniciando.

— Se beijem logo – Clara disse, empurrado Toni contra Tardelli, embora o mesmo tenha conseguido parar a centímetros da boca dele.

— Para – murmurou Toni, sorrindo. – Today is a good day!

— É verdade – concordou Vittoria, e após isso, Giuliana a olhou com um olhar de pena e riu. - Ah, nã...

— +4.

E a noite se prosseguiu desse jeito, com todos rindo e buscando comida a cada dez minutos. Logo, logo, o Pico do Cristal teria novos eremitas acima do peso.

***

Enquanto muitos eremitas estavam treinando ou até mesmo tentando desvendar os acontecimentos recentes, outros estavam tentando descansar no Cafofo, que ultimamente estava sendo muito pouco usado.

— O que foi, Alexandre? – pergunta Barbara, percebendo a cara de surpresa do sagitariano.

— Acho que alguém está escalando o Pico.

— Como assim alguém tá escalando? Eles não podem escalar o Pico – diz Barbara intrigada.

— É claro que podem Barbara, eles só não podem entrar aqui dentro – Alexandre fala, mas não passa certeza em sua voz.

— Mas Xandy, eles... – Barbara para ao ver o sinal para ela se calar 

— Eles estão parados de frente para a parede de entrada, eles... – Ele se levanta espantado. – A nossa marca, os signos, como assim?

— Do que você esta falando, menino? – Barbara pergunta espantada.

Mas, sem responder, Alexandre sai correndo do Cafofo e Barbara vai a seu alcance. Os dois percorreram quase todo o Pico esbarrando em um ou dois eremitas e os deixando nervosos. Chegaram até o elevador e entraram nele ofegantes.

— Você pode me explicar por que você estava correndo? – Barbara pergunta, segurando a barriga. – E, por Cosmos, por que eu te segui?

— Barbara, precisamos achar o Americo, alguma coisa está acontecendo do lado de fora do Pico, precisamos falar com ele.

— Como assim? – ela pergunta, impaciente.

— Não tem tempo para explicar – ele responde, deixando-a mais nervosa ainda. O elevador abre e eles dão de cara com Brenda e Jay. – Vocês viram o Americo?

— Não, mas ele não está aqui – Brenda responde indiferente, ela passa por eles e entra no elevador.

— Ele está lá na copa, vocês não passaram por lá? – Jay pergunta, olhando para a cara dos dois. – E, por Cosmos, por que você está tão nervoso, Xandy?

— Está acontecendo alguma coisa, eu preciso dele...

Mas antes que ele terminasse a frase, Americo aparece ofegante no topo da escada, ao lado do elevador.

— Porque tem um elevador se não se pode nem usar? – ele pergunta, respirando com dificuldade.

— Americo, eu vi uma coisa, tem gente fora...

— Eu sei, eu vi também, estava atrás da Brenda, cadê ela? – ele pergunta, olhando para as cancerianas que estavam ali.

— Ela acabou de descer, estava indo atrás de você – Jay responde rindo.

— Ah, meu mapa astral! Venham, vocês vão ter que servir – diz ele para Barbara e Jay. Americo se vira para a escada, suspira mais uma vez e começa a descer com os outros eremitas atrás dele.

— Porque você esta rindo, garota? – pergunta Barbara, olhando para Jay, que estava com um sorriso no rosto, enquanto desciam juntas as escadas.

— Você não está sentindo? – ela pergunta como se fosse óbvio. – É engraçado quando os sagitarianos ficam nervosos, eles não sabem sentir isso, aí ficam confusos.

Barbara arregala os olhos e então começa a rir também, como se tivesse acabado de entender o que a amiga estava falando. Os quatro seguem Americo até a entrada do Pico, um lugar que eles estiveram poucas vezes. Americo já estava todo suado quando parou e fez sinal para que ficassem o mais silenciosos possíveis.

— É o seguinte – ele começa sussurrando –, quando eu estava tentando comer algo na copa, eu, sem querer, olhei para fora do Pico, e vi dois casais parados em frente a nossa entrada, até aí tudo bem, muitas pessoas sobem até aqui e logo depois vão embora, mas essas pessoas estão lá fora olhando para o mesmo lugar há muito tempo...

— Sim, elas estão olhando para a nossa entrada, onde surgiu a imagem dos nossos signos, como isso é possível? – Alexandre fala sem conseguir se controlar.

— Eu não sei, mas com tudo que está acontecendo, nada mais faz sentido. Olha, depois falamos dos porquês, agora eu preciso que vocês – ele olha para as meninas, que estavam olhando espantadas para ele – usem o atributos de vocês para manipular a saída deles daqui, os façam sentir medo, saudades de casa... Qualquer coisa que os tirem daqui, para vermos como foi que os signos apareceram.

— Mas nós precisamos vê-los para... – Jay começa a falar, mas é interrompida por Barbara.

— Não, necessariamente. – Ela encara as pedras. – Brenda uma vez me disse que podemos controlar sentimentos através de coisas sólidas, mas é muito complicado e ela só conseguiu uma vez – ela olha concentrada para a pedra e estende as mãos. – Americo onde exatamente eles estão?

Americo segura as mãos de Barbara e aponta na direção onde as pessoas estão do lado de fora, olhando com espanto para os novos desenhos que surgiram na parede da montanha. Barbara começa a ficar vermelha e suas mãos encostam-se às paredes do Pico, ela começa a sentir uma mistura de sentimentos e concentra-se nos que estão do lado de fora. De alguma forma, ela consegue fazer todos do lado de fora sentirem medo. Ela os sente empurrarem-se uns aos outros para irem embora. O mais estranho é que não era diferente dentro do Pico. Alexandre se encolheu no chão, tapando os olhos e pedindo para ir embora, Americo se encostou na parede olhando para todos os lados enquanto Jay se aproximava de Barbara e a puxava para longe da parede. As duas, tremendo, desabam no chão.

— Bar... Barbara, como você conseguiu isso? – Jay pergunta, segurando Barbara, que estava com os olhos vidrados nas paredes do Pico.

— A montanha... ela... ela está com medo – diz ela antes de desmaiar.


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